sexta-feira, 4 de outubro de 2013

13 - "Onde é que eu tinha a cabeça?"

Pela cara que o Francisco tinha quando começou a falar pensei mesmo que viesse algo mau a caminho. Mas, assim que estávamos mais sossegados, um sorriso enorme formou-se nos lábios do meu irmão. 
- A Gloria está grávida. Vamos ser pais - ele estava completamente feliz. Era visível nos seus olhos, nos seus lábios...no corpo do meu irmão. Sempre quis ter um filho com a Gloria e já não era sem tempo que o conseguiam. 
- Meu filho... - a minha mãe começou logo a chorar que nem uma Maria arrependida, mas era compreensível. Iria ser o seu primeiro neto e do filho que mais desejava ser pai - oh meu filho - ela abraçou o meu irmão, dando-lhe um beijo - muitos parabéns, meu querido. 
- Gracias mamacita - ele deu-lhe um beijo na testa, abraçando-a com força. 
O Francisco foi o segundo a nascer. Tem um ano de diferença do Lucas mas, desde que casou com a Gloria, que o desejo dele é ser pai. E o dela ser mãe. São um casal modelo a seguir, sem dúvida. Acho que os vejo com a mesma paixão desde o primeiro dia, são apaixonados todos os dias um pelo outro e demonstram-no a qualquer momento. 
Este bebé...fazia de mim tia! Eu vou ser tia! Ai se for menina vai andar sempre toda lindinha! Mas nada de cor de rosa choque! Ok...já ando aqui a pensar no que vestir à minha sobrinha e ainda nem dei os parabéns ao meu irmão...isto sinceramente.
Aproximei-me do Francisco, metendo-me debaixo do abraço que ele dava à minha mãe, fazendo com que ele me abraçasse também. 
- Parabéns maninho! 
- Conto contigo para ires às compras com a Gloria porque eu e compras só mesmo quando for para o quarto. 
- Com muito gosto! Vou encher a minha sobrinha de coisas da moda. 
- Vai ser um puto! - disse o Martín, abraçando-nos também. 
Ficámos ali os quatro abraçados, simplesmente assim...juntinhos enquanto família. Entretanto, os meus irmão tiveram de ir embora porque tinham de ir trabalhar. Mesmo estando a estudar o Martín já está a fazer estágio. 
Ficou combinado que iriam jantar todos lá a casa. Os meus três irmãos e as minhas cunhadas.
- Mamacita...? - cheguei à cozinha e encostei-me à bancada...queria pedir uma coisa à minha mãe.
- Que é que queres, Ania? 
- Já que é um jantar assim em família...achas que podes contar com o Marcos? 
- Ania! - ela olhou para mim muito espantada.
- Madre... - fui junto dela, dando-lhe um abraço - eu quero apresentá-lo aos manos e às meninas...
- E o teu pai?
- Eu falo com ele. Vou lá ao Estudiantes...agora. 
- Ania...
- Madre...por favor!
- Tudo bem. Mas se o teu pai disser que não, é não! 
- Gracias! - dei-lhe um beijo na bochecha preparando-me para sair da cozinha. 
- Vais já lá?
- Sim.
- Não devias ligar ao psicólogo...?
- Ah sim é verdade! - não era uma coisa que me deixaria menos animada. Teria de falar com ele...até para me encontrar interiormente - Ligo a caminho do Estudiantes. 
- Ligas mesmo? 
- Sim - fui de novo até ela, dando-lhe mais um beijo - eu sei que tenho de falar com ele, pelo menos, duas vezes. 
- Ainda bem que estás a pensar assim...e é impressão minha ou estás animada?
- Quero ir ter com o Marcos! - a verdade é que saber que vou ao Estudiantes é a mesma coisa que ir vê-lo.
- Então não ias falar com o teu pai?
- Junto o útil ao agradável. Besos madre! 
- Vê lá se chegas antes do jantar! Preciso de ajuda! - gritou ela da cozinha, já que eu me tinha pisgado. 
- Claro mãe! Não te preocupes - gritei também e sai de casa. 
Dirigi-me até à paragem do autocarro e em poucos minutos já estava em direcção do centro de treinos do Estudiantes. Aproveitei a viagem para ligar ao meu psicólogo. Tinha o número dele gravado no meu telemóvel e depois de alguns bips ele atendeu. 
- Buenas tardes, Dr. Sanchéz. Quem fala?
- Buenas tardes doutor. É Ania Gottardi. 
- Querida. Não vi que eras tu. Peço desculpa.
- Não tem mal doutor. 
- Como estás? 
- Vou indo...cada dia melhor que o anterior. 
- Isso é que é preciso...e estás a telefonar, porque?
- Por causa das nossas sessões. Talvez fosse melhor marcar algumas...
- Acho que fazes muito bem. Agrada-me que tenhas sido tu a tomar a iniciativa. 
- Sim...tenho de ser eu a tomá-la, eu preciso de me encontrar e de encontrar certas respostas. 
- Estarei ao teu dispor. Sabes que te vou ouvir e tentar que sigas o que deves fazer. 
- Agradeço-lhe muito. 
- Então deixa cá ver... - do outro lado da linha o Dr. Sanchéz fez uma pausa, para de seguida voltar a falar - a minha próxima vaga é para daqui a dois dias. 
- Na sexta?
- Sim. Da parte da tarde, às quatro. Achas muito cedo?
- Não, não...por mim está óptimo. 
- Então fica assim combinada a primeira sessão. Depois combinamos a outra, sim?
- Muito obrigada doutor. 
- De nada querida. Vemo-nos na sexta, então. 
- Vemo-nos sim. Cumprimentos para si e para a sua mulher. 
- Cumprimentos para ti também e para os teus pais.
- Obrigada doutor - desliguei a chamada, metendo o telemóvel na mala. 
O doutor Sanchéz já é conhecido dos meus pais à algum tempo. É um senhor com os seus 50 e poucos anos e trata-me com muito respeito e sem me ver como uma vitima. 
Na próxima paragem: centro de treinos do Estudiantes! Estava a ver que nunca mais chegava. Assim que o autocarro parou e as portas se abriram, fiz o meu caminho até ao portão do centro. Estava lá o segurança que eu já conhecia à imenso tempo.
- Olá menina Gottardi. 
- Boa tarde, Florenzo. 
- Veio ter com o seu pai? 
- Sim...acha que posso entrar?
- Claro. Ele está no treino, mas a menina já conhece os cantos à casa, não é?
- Sim. 
- Então esteja à vontade.
- Muchas gracias - entrei e, a verdade, é que me sentia mesmo à vontade. 
Em pequena lembro-me de que vim para aqui com o meu pai quando não havia escola e os treinos eram mais uma brincadeira para mim. Andar atrás da bola com os jogadores da altura, brincar com os pinos e desmontar o circuito de treino era o melhor. Ninguém ralhava comigo...e eu fazia mais e mais vezes. 
Estava a caminhar pelo corredor que dá acesso ao relvado quando sou puxada para dentro de uma sala...e aquele pânico veio ao de cima. Estava a ser agarrada pelo braço e só me apetecia bater na pessoa mas, ao mesmo tempo, senti-me impotente por não o conseguir fazer. 
- Largue-me! Eu grito! - a gritar já estava eu...mas o pânico..o medo. A minha respiração estava toda descontrolada, o meu coração parecia ir sair pelo peito fora...
- Cinderela, calma. Sou eu - aquela voz...ai... o Marcos meteu-se à minha frente, colocando as suas mãos no meu pescoço. 
- Marcos... - foi impossível não chorar...desfiz-me em lágrimas. 
- Desculpa, desculpa, desculpa. Oh princesa, desculpa - ele abraçou-me e eu deixei a minha cabeça no peito dele, acalmando o meu choro e o meu coração - fui tão parvo...desculpa mesmo princesa. 
- Já passou... - disse...ainda um pouco a tremer, mesmo assim olhando para ele. 
- Onde é que eu tinha a cabeça? Fui tão otário...desculpa mesmo, Ania.
- É tão bom que sejas tu... - voltei a encostar a minha cabeça no peito dele...para acalmar em definitivo. 
- Não te vai acontecer nada igual...eu prometo - ele deu-me um beijo na cabeça e eu voltei a olhar para ele. 
- Já passou...
- Passou mesmo?
- Sim...és tu, eu sei que não me fazes mal. 
- Lá se foram as minhas ideias de te dar uma trinca... - respirei de alivio e consegui rir-me. Ele abraçou-me, levantando-me um bocadinho do chão - minha coisa boa - ele voltou a colocar-me no chão, roçando o nariz dele na minha bochecha. 
- Ainda bem que...me puxas-te para aqui. Eu sei que é estranho...mas assim dás-me a resposta antes de falar com o meu pai. 
- Eu falei com o teu pai.
- Tu o que?
- Sim. Antes do treino, estivemos a falar no relvado sobre ti. 
- E o que é que falaram?
- Isso são coisas nossas...mas o que é que queres falar com o teu pai? 
- Marcos...! Já há segredinhos com o meu pai?
- São coisas nossas. Mas pode ajudar a que ele entenda as coisas mais facilmente. 
- Não estou a perceber nada...mas isso não interessa. Logo à noite há jantar lá em casa. Com todos...irmãos, cunhadas e os meus pais. Queres...ser o meu acompanhante? 
- Q-que?
- Ficaste gago?
- Eu...estar contigo...num jantar de família?
- Sim. Era mesmo importante, Marcos. Só tenho de convencer o meu pai. E tu dizeres que aceitas, claro...mas se não quiseres ir eu entendo.
- Ania - ele colocou as mãos nas minhas bochechas, fazendo-me olhar para ele - é uma honra ir a esse jantar. 
- Serio?
- Sim. Sim. Sim. Isto se o teu pai aceder ao pedido. Se ele não deixar, eu não posso ir. 
- Vou falar com ele...
- Queres que vá contigo?
- Tu estás aqui...mas é melhor eu ir sozinha. Pode ser?
- Claro, cinderela. 
- Agora...quero uma coisa que me faz falta e que me dá força...
- O que? 
- Um beijinho... - ele sorriu, desceu as suas mãos até à minha cintura, puxando-me para ele...ele é subtil no que faz...não sinto que seja um exagero porque ele faz com carinho. Trocámos um beijo também ele envolto em carinho e amor.
- Desejo-te muita sorte - disse ele, interrompendo o beijo. 
- Obrigada príncipe - dei-lhe um beijo curtinho e sai dali. 
Fui em direcção ao relvado, onde estava a equipa técnica, incluindo o meu pai. Ele viu-me e veio na minha direcção. 
- Ania - ele deu-me dois beijinhos - aconteceu alguma coisa?
- Não, não aconteceu nada papi
- Então o que fazes aqui?
- Se lhe disser que o vim ver não acredita, pois não?
- Não...vieste ver o Faustino?
- Também não...quer dizer, também. Mas já o vi. Eu queria falar consigo.
- Diz. 
- Logo à noite vai haver jantar de família. 
- Vai?
- Sim...o Francisco tem uma novidade para contar e quer todos juntos. 
- Cheira-me que já sabes o que é. 
- Sei eu, a mãe e o Martín. 
- E porque é que eu não sei?
- Porque o pai está aqui...mas logo à noite vai saber. 
- Ainda estou para ver o que vai sair daí...
- É bom, pai...é bom. Mas eu quero pedir-lhe uma coisa. 
- Lá porque já sabes, vais jantar connosco na mesma. 
- Sim, sim...não é isso. 
- Então...diz lá. 
- Pai...eu sei que o não tenho garantido...mas... - comecei a ficar completamente sem saber como avançar, mas vi o Marcos por detrás do meu pai já a fazer a corrida com a restante equipa. 
- Fala filha.
- O Marcos pode jantar connosco? Pronto...já está. 
O meu pai nada disse...ficou a olhar para mim até que se lembrou de que existia. Deu-me um beijo na testa e começou a afastar-se. 
- Queres que dê boleia ao rapaz ou ele sabe o caminho?
- Ele sabe o caminho...isso...é...
- É. Mas ajuda a tua mãe a preparar o jantar - maior felicidade que esta? É impossível
Fui a correr ter com o meu pai, abraçando-o. 
- Gracias, gracias, muchas gracias papi! 
- Oh filha - ele abraçou-me dando-me um beijo na cabeça - esse sorriso é a maior recompensa que posso ter. 
- Obrigada, a sério pai - olhei para ele, que me sorria. 
- Vá...tenho de ir treinar o teu Marcos...
- Não seja mauzinho para ele pai...e tome lá conta do seu Faustino - ele riu-se que nem um perdido e foi juntar-se à equipa técnica. 
Eu tinha vontade de ali ficar, mas decidi ir para casa. Tinha de ajudar a minha mãe. Quando há jantares de família há direito a tudo. Entradas, prato de sopa, prato de carne e montes de doces...somos todos super gulosos. 
Passei a tarde toda com a minha mãe na cozinha, entre carne, sopa e doces, ainda rapei os tachos a muita coisa. 
- Ania? - chamou-me a minha mãe, quando estava a por a mesa. 
- Sim mãe?
- Vai-te arranjar filha - ela chegou ao pé de mim já ela tinha tomado banho e trocado de roupa - eu acabo isso. 
- O pai? Já disse alguma coisa?
- Vem a caminho para se arranjar e disse que o Faustino também já foi para casa dele. 
- Sim...o Marcos mandou mensagem a dizer que estava em casa a arranjar-se e que não sabia o que vestir. 
- Homens...
- Mãe...eu vou ter o mesmo problema. 
- Ania, pensa que é um jantar normal.
- Oh...mas é especial mãe...
- Sim. Mas vai arranjar-te porque vais demorar imenso estou a ver. 
- Ok, ok. Eu vou. 
Subi até ao meu quarto e, depois de um duche super rápido, fui até ao meu roupeiro ver o que é que ia vestir...
Peguei numa coisa que nunca pensei usar...mas que era o que me apetecia vestir. Depois de estar toda arranjada (cabelo, maquilhagem simples, creme pelo corpo e a roupa e sapatos no sitio certo) desci até à sala, onde só estava a minha mãe. 
- Mãe...isto é demais, não é? - perguntei, fazendo-a virar para mim. 


- Ania...
- Pronto, já percebi...é demais, vou trocar.
- Ania, nada disso - disse ela, travando-me - tu estás deslumbrante filha. 
- E não é demais para um jantar de família? 
- Não...é um jantar especial, ou não? 
- É...
- Então estás perfeita filha. Estás mesmo muito bonita. 
- Obrigada mamacita - dei-lhe um abraço, sentia-me mais segura com a opinião da minha mãe - o pai? 
- Está a abrir o vinho na sala de jantar. 
- Vou lá ter com ele. 
Fui até à sala onde realmente encontrei o meu pai. 
- Precisa de ajuda? - perguntei. Ele olhou para mim, pousando o vinho na mesa. 
- Não...bem...a minha filha está uma autentica senhora. 
- Pai...acha que é muito exagerado?
- Sinceramente? Estás muito linda Ania. 
- Obrigada pai...também está muito janota! 
- Obrigado filha - nisto tocam à campainha - deve ser um dos teus irmãos. 
- Acho que é o Marcos...ele disse que já estava a chegar. 
- Então vai lá ter com o rapaz. 
Sai da sala indo até ao hall...onde estava a minha mãe a abrir a porta. 
Era o Marcos. Esta noite seria para a família. O Francisco vai revelar a todos que vai ser pai e que a vida dele está melhor que nunca...e eu tenho o Marcos comigo. Vou te-lo no primeiro jantar dele com a minha família. 
Não sei se lhe coloquei demasiada pressão em cima...mas ainda bem que os meus irmão ainda não chegaram...dá-me tempo para falar uma coisa muito, mas muito importante com ele. A forma como o apresento a todos.

4 comentários:

  1. Olá Olá!!
    Adorei!!!
    Será que o casal escondidinho fofinho vai deixar de ter que se esconder?? Era tão bom!!
    Mas agora começando pelo principio...eu disse logo que ele devia ser bom para o teatro e vai mesmo ser pai!! Vem ai bebé! Boa!!
    Ai coitada da Ania quando o Marcos a agarrou :/ Até eu me assustei mas pronto era ele, ainda bem! E depois a conversa com o pai foi pacífica!! Achei engraçada a parte em que o pai dela o chamou de marcos e a Ania é que o chamou de Faustino!!
    Agora a Ania está linda! E espero que o jantar corra super bem e que o Marcos se sinta à vontade e em família!
    Parece-me que o pai dela está a começar a dar o braço a torcer é pela felicidade da filha!! E será que vai dar para saber a conversa que o Marcos teve com o pai dela? Eu quero saber!!
    Quero muito o próximo!
    Besos guapa!

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  2. Olá :)
    Bem eu estou sem palavras a intensidade desta historia é tao grande e é tao sincera que não sei mesmo o que dizer.
    A Ania vai ser ''sobrinha'' :) Eu sabia!
    E de resto o que hei-de dizer? Que AMEI este capitulo e AMO a historia? acho que é pouco.
    Não encontro as palavras certas , porque eles são tipo casal perfeitinho <3
    Quero quero quero o próximo :D
    Beijinhos , * Rita

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  3. Olá!!!
    Ai eu adoro isto! Adoro adoro adoro!! Estes dois deixam-me toda babadinha!
    Bem, a cena no centro de treinos quando o Marcos puxa a Ania para dentro da sala deu bem para ver o medo que ainda a assombra :/ Espero que as consultas no psicologo (que ela - e muito bem - tratou de marcar) e o Marcos sejam a terapia perfeita para ela vencer o passado!
    E o senhor Hugo? uau! Surpreendeu-me! " Queres que dê boleia ao rapaz ou ele sabe o caminho?" Esta eu nao esperava! E até esperava um raspanete pelo vestido da Ania, que lhe mandasse vestir um habito de freira! Sera que vai deixar a Ana sentar-se ao pé do Marcos (isto se o rapaz nao desmaiar ao ver a Ania tao jeitosa. Ui que se eles já aquecem em situaçoes menores imagino como vai ser agora xD)? Quero muito muito muito o proximo!

    Beso
    Ana Santos

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  4. Olá...cada vez amo mais estes dois. Vé-se msm q se adoram *.*
    Até me admirei com o pai da Ania...o homem bateu com a cabeça...só pode :P
    Agora falando a sério...q mudança :O...finalmente o pai da Ania, vé q o Marcos é bom rapaz.
    Fiquei muito contente por a Ania ir ser tia e espero q seja uma menina ;)
    Próximo sff :*

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