Estar um mês em coma fez com que perdesse várias
coisas. O inicio da época do Marcos no Sporting, o fim da gravidez da Valentina
e os primeiros dias de vida do pequeno Diego.
O ano de 2012 estava a ser, sem dúvida nenhuma, um ano
de mudanças. O Marcos recebeu a proposta do Sporting para jogar no clube nas
próximas 3 épocas e, ao mesmo tempo, o Viola também recebeu uma proposta do
mesmo clube. Os dois aceitaram e viemos para Portugal. A Valentina
engravidou…do pequeno Diego. O bebé nasceu à apenas uma semana, e o que eu dava
para ver aquele pequeno rebento do amor lindo dos Valentinos. O que vale é que
vivemos em frente uns dos outros, assim quando chegar a casa irei conseguir ver
o menino…ser madrinha dele, implica outras responsabilidades.
Já tinha combinado com o Marcos que iria tentar
arranjar algum tipo de trabalho por cá…teria de ajudá-lo de alguma maneira nas
despesas e, mais do que isso, trabalhar, estar activa e não ser apenas a
namorada de um jogador de futebol.
- Daqui a
pouco passa cá a minha mãe com a Micaela e o Valentín… - os meus familiares já tinham saído do hospital. As
visitas eram repartidas por dois turnos e agora no próximo vinham outras
pessoas.
- Quando é
que achas que saiu daqui, gordi? – agarrei a mão dele, puxando-o um pouco para junto de
mim. Os nossos narizes tocavam-se e sentia a respiração do Marcos misturar-se
com a minha.
- Não sei, gordita – os lábios do Marcos tocaram os meus e…estavam
diferentes! Os lábios dele estão diferentes, não eram assim à um mês atrás!
- Os teus
lábios estão diferentes… - quebrei o
beijo, contornando os lábios dele com o dedo indicador da mão direita.
- É…andei a
treinar com o espelho lá de casa, Ania.
- Com o
espelho não digo…mas com uma portuguesa…
- Estás doida…completamente
doida! – ele nada mais disse, já que
me beijou – A minha vida este mês tem
sido de casa para o hospital, do hospital para os treinos, dos treinos para o
hospital e depois, dependendo dos dias, ou ia a casa ou ficava contigo.
- Agora podes
descansar…e eu não estava a duvidar de ti. Apenas a certificar-me que não
tinhas andado a fazer estragos.
- Seria
incapaz de os fazer.
- Fico
completamente descansada em relação a isso – voltei a beijar o Marcos e ficámos ali os dois enquanto não chegava
mais ninguém.
- Não podes
andar tão depressa, querida – ar
fresco, ventinho na cara, apesar de estar chuvoso este dia de Novembro…há ali
um sol escondido. Como é bom sair daquele quarto, sair deste hospital. Foi um
mês de coma, duas semanas de recuperação…mas finalmente tinha chegado o dia de
ir para casa.
- Mãe, eu
estou a andar devagarinho… - era a
minha mãe, a Carina e o Martín que me vinham buscar. O Marcos estava em estágio
com o Sporting na Madeira e já que eles estavam por cá vinham buscar-me. O meu
pai e os meus outros irmãos já haviam voltado a La Plata por causa dos
trabalhos deles. Agora tinha cá a minha mãe, o Martín e a Romina (já que esses
são para ficar mesmo), a Carina e a Micaela que ficam até ao Natal.
- Mas tens
de andar mais devagar, Ania. Os médicos avisaram-te que ainda não podes fazer
grandes esforços – em vez de uma mãe
tinha duas…amo a Carina como se fosse minha tia ou mesmo mãe.
- O carro
está já ali, vamos lá que eu quero ir para minha casa – as duas sorriram e continuamos a caminhar até ao
carro, onde estava encostado o Martín.
Depois de cumprimentar o meu irmão entrámos no carro e
ele conduziu até casa. Percebi que já estava habituado ao caminho e que ia
falando muito animado quando passamos por certos sítios que eu ainda não
conhecia. Chegados a casa…as saudades que eu tinha do meu cantinho, do pequeno
reino que eu e o Marcos estamos a construir.
É certo que quem escolheu a casa foi o antigo agente
dele e nós quando chegamos já tínhamos o sitio escolhido, mas é, de facto, a
nossa cara, a nossa casa, o nosso lar. Está decorado à nossa maneira e
sentimo-nos realmente felizes aqui.
- A
Valentina está cá? – Ainda não tinha saído
do sofá para lado nenhum e já estava a ficar cansada de não ter nada para fazer
(já tinha visto as noticias todas sobre o Marcos e o que ele andava a fazer no
Sporting, já tinha actualizado as redes sociais e já tinha resolvido assuntos
como escolher o jantar de hoje). Precisava de a ver…ela ia lá ao hospital, mas
poucas vezes por causa do Diego…e quero tanto ver o bebé deles!
- É capaz de
estar sim, queres que vá ver? – Perguntou
a Romina, ela estava ao pé de mim assim como o Martín que respondia a alguns
emails. A minha mãe e a Carina estavam na cozinha, preparando o jantar.
- Não,
deixa. Eu ligo-lhe, quero-vos ao pé de mim – sim…estou necessitada de mimo, de companhia…ando a aproveitá-los a
todos da melhor maneira.
Peguei no telemóvel iniciando a chamada com a
Valentina.
- Ania, princesa! Como estás, sempre tiveste alta?
- Olá Vali. Eu
estou bem e sim…já estou em casa!
- Oh meu Deus isso é tão bom! Vou já, já aí com o
Diego! Ele tem de conhecer a tia! – A Valentina estava feliz, eu percebia isso.
- Então
jantas cá. Estás sozinha, certo?
- Sim…o Vi anda lá na Madeira.
- Então está
decidido, jantas cá connosco e vemos o jogo. Assim estou com vocês e o
pequenino habitua-se à tia-madrinha.
- Ania eu não quero dar trabalho…
- Calou. Somos
família e a D. Carina adora-te a ti e ao Vi pelo que percebi.
- É verdade sim…e a tua mãe também é muito querida.
- Então
venham, vá. Venham ver aqui a doente.
- Cinco minutos! – desliguei a chamada mas tinha de avisar a minha mãe.
- Mãe? – chamei por ela, que depressa apareceu na sala.
- Aconteceu
alguma coisa?
- Não…a
Valentina, ela vem cá para eu ver o Diego. Não faz mal jantar cá, pois não?
- Claro que
não! E voltar a ver o pequeno Valentin é bom.
- Todos
dizem que é parecido com o Viola, mas eu acho-o parecido com a Valentina – em fotos já tinha visto o menino e era super parecido
com a Valentina…se bem que todos achem que ele é parecido com o Valentín.
Passaram cinco minutos e o som da campainha soou. A Romina
levantou-se, indo abrir a porta.
- Buenas
noches! – disse a Valentina super
animada. Vinha com a babycoque na mão e um saco de bebé ao ombro. Colocou tudo
no chão e cumprimentou a Romina. Depois retirou o bebé da babycoque…e aquele
momento ficará na minha memória. Via uma Valentina completamente diferente…havia
mais brilho nela, mais amor, mais tudo! Aquele bebé era a extensão dos dois…e
isso percebia-se – Vamos conhecer a tia,
vamos? – Ela começou a caminhar na minha direcção, olhando-me – Estás com boa cara tu.
- Em casa
está-se bem…
- Vá, toma
lá o gordinho que já pesa – ela colocou
o Diego no meu colo, com cuidado, por causa dele e dos meus pontos. Deu-me um
beijo na testa e foi cumprimentar o Martín. E eu apenas olhava o Diego…
É, sem dúvida, a cara chapada dos dois. Dá ares a um,
a outro e é tão lindinho. Super simpático e percebe-se que é super amado por
aqueles dois.
- Não babes
o miúdo que não é preciso! – disse o
Martín, fazendo com que olhasse para ele e a Valentina.
- É tão
lindo, Vali…
- E agora já
tem a madrinha para o tornar ainda mais amado e mimado.
- Ai podes
ter a certeza que tem!
5 dias depois
Estar em casa e quase recuperada era do melhor. Ter o
meu irmão, a minha cunhada e a minha sogrinha, era ainda melhor. Ter o Marcos…era
perfeito. Mesmo com os treinos mais intensos, com menos tempo livre…conseguíamos
ter momentos só nossos.
Sentia-o estranho nos últimos dias…não estava tão “presente”.
O corpo estava, os mimos existiam e faziam-me bem. Mas não era o mesmo Marcos. Aproveitei
o facto de estarmos sozinhos em casa para falar com ele.
- Aconteceu
alguma coisa, Marcos?
- Porque,
Cinderela?
- Sinto-te…diferente.
- Já me
conheces…
- Começo a
conhecer-te cada vez melhor. O que se passa?
- Ania…é que…os
médicos bem…eles esconderam-te uma coisa.
- Eles o
que?
- Sim…eles não
tinham certezas e não te quiseram contar logo. Então…só quando foste lá ao
médico à dois dias…aí é que eles tiveram a certeza.
- Mas…a
certeza de que, Marcos? Estás a assustar-me!
- Ania…não
quero que te assustes. Quero que saibas que eu estou do teu lado,
independentemente do que aconteça. Que não é por causa disto que nos vamos
separar…isto ainda nos vai unir mais, eu tenho a certeza.
- Fala de
uma vez, carajo!
- Sim,
desculpa…mas isto apanhou-me de surpresa e…agora as palavras começam a
faltar-me a mim. Não há forma bonita de se dizer…nem forma mais elaborada. Eu tenho
de te dizer de uma vez.
- É o melhor…mas
fala!
- Não podes
ter filhos.
- Não…o que?
- É isso…não
podes.
E, de um momento para o outro, o chão foge por baixo
dos nossos pés e as lágrimas aparecem como se fossem a única solução.