segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Mensagem de Natal

Mais um Natal está a chegar. Já se sente o cheirinho, cada vez está mais perto e é aquela altura do ano em que se sente o amor e o carinho entre as pessoas. Esta é a minha mensagem para vocês. Será curtinha, não quero que se cansem de mim, mas quero desejar-vos a todas um santo e feliz natal. Que estejam junto daqueles que mais amam, daqueles que mais vos amam. Que sorriam, que celebrem, que se sintam felizes nesta época tão bonita. Acreditem no Pai Natal, pelo menos amanhã, e sintam a magia deste tempo. A todas, a todas mesmo, um excelente Natal. 
Terminem 2013 da melhor forma: a sorrir, a amar, a apaixonar, a viver! Vivam as vossas vidas, apaixonem-se e sejam felizes. Que 2014 nos traga coisas boas, nos traga mais amor, mais carinho e que nos mantenhamos juntas. 
A cada comentário vosso depois de cada capitulo publicado, sinto como se a família se tivesse reunido. Pouco a pouco criámos aqui uma família que quero que se mantenha para o ano! E que aumente (se for o caso). 

SEJAM FELIZES! Tudo de bom princesas! 

FELIZ NATAL E UM PRÓSPERO ANO NOVO! 


sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

19 - "...agora ando com a piolha atrás por tua causa"

Estela e Marcos terminavam aquele abraço e Ania olhava para o seu namorado, como que esperando uma explicação da parte dele, ou dela. Estava a achar tudo estranho, a maneira como sorriam, a maneira como se tocaram, como deram um beijo...iria jurar que se ela não era ex-namorada dele, era algo muito parecido. 
Marcos olhou para Ania, depois para Matín e Romina, voltando a olhar para Estela. 
- Que é que estás aqui a fazer? - perguntou Estela, colocando a sua mala em cima da cadeira.
- Eu vim almoçar com eles, já vi é que tu também vieste almoçar aqui connosco. 
- Mas porque é que aqui estás?
- Eu...eu namoro com a Ania. 
- A sério?
- Sim...é recente, mas é a verdade. E como era um almoço de família...
- Oh, que lindos! - Estela abraçou Marcos, sussurrando-lhe ao ouvido - a Ania é uma rapariga muito especial, ainda bem que estás com ela. 
Marcos sorriu e os dois sentaram-se à mesa. 
- Podem explicar-nos como é que se conhecem? - perguntou Romina, tentando acabar com todo o suspense. 
- Eu namorei com o irmão do Marcos...é daí que nos conhecemos. Éramos bons cunhados e bons amigos. 
Ania ficara mais aliviada. Afinal, Estela não tinha tido qualquer envolvimento amoroso com Marcos. Tinha, por outro lado, tido uma relação com o irmão dele, aquele que está desaparecido e que Ania pensa saber onde se encontra. 
O almoço decorreu sempre na maior das calmas, todos iam falando sobre o projecto, Marcos ia opinando de acordo com aquilo que ia ouvindo como um espectador que está por fora a ouvir tudo pela primeira vez. Estava, naturalmente, orgulhoso da sua Cinderela. Aquele projecto tinha pernas para andar e, de certeza, que seria bem sucedido. 
Depois de um almoço onde quase só se falava de trabalho, Marcos, Ania, Martín e Romina foram passear. Ania estava a precisar que o seu melhor irmão e o seu namorado começassem a dar-se como dois cunhados que se adoram e que ainda não sabem. 
Foram até um jardim perto da Catedral de La Plata, cada casal caminhava de mão dada e sempre ao mesmo ritmo. Matín percebia o que Ania estava a tentar fazer, pelo que foi o primeiro a puxar um tema de conversa. 
- Agora tenho companheira de bancada nos jogos do Estudiantes? - Ania olhou para o irmão de lado, sorrindo.
- Se essa é para mim...podes crer que tens! - respondeu--lhe com um sorriso enorme nos lábios.
- Até parece que vais sempre sozinho, Matín - Romina acompanha sempre o namorado nos jogos do Estudiantes e tentou meter-se com ele, sem efeito já que ele a puxou contra ele sem dizer nada. 
- Vão todos ao próximo jogo? - Marcos, que até agora se mantinha apenas a observar tudo, meteu-se na conversa. 
- Lá vai ter de ser...agora ando com a piolha atrás por tua causa - Martín tentou parecer duro e rígido, mas no segundo seguinte desmanchou-se a rir - eu nunca pensei que a minha maninha se fosse meter com um jogador da bola...tudo o que o pai não queria ela fez. 
- Martín, eu posso falar contigo? - inquiriu Marcos, querendo falar a sós com Martín. 
- Claro... - Ania e Romina sentaram-se num dos bancos que ali estava perto e Marcos e Martín continuaram a andar, preparando-se para falar - passa-se alguma coisa? - perguntou Martin.
- Não...creio que não. É só que...eu acho que precisávamos de falar. Eu já percebi que a Ania e tu são os que se dão melhor e queria dizer-te que cuidarei dela sempre em primeiro lugar. A Ania é especial, sempre o foi desde o primeiro dia e não quero abdicar dela por nada deste mundo. 
Martín sabia que aquele momento iria chegar, sabia que um dia iria falar com o primeiro namorado da sua irmã depois do que lhe tinha acontecido. 
- Marcos...a Ania não é a rapariga que nós conhecemos, a Ania é ainda mais divertida, todos os dias acordava com um sorriso nos lábios, ficava uma preguiçosa quando tinha de acordar cedo para acompanhar o pai para algum lado...sempre foi a princesa lá de casa. Sempre foi a única menina. Mas... - Martín olhou para Marcos, parando - não coloques demasiada pressão em cima de ti. Vocês são novos, devem é aproveitar para se divertirem, para rirem muito e serem felizes. Não coloques a pressão de que a tens de proteger, de que tens de respeitar o espaço dela. Isso vai acontecer porque vocês já o fazem e será tudo natural. 
Marcos estava surpreendido com o discurso de Martín, tal como ele conseguia falar das coisas sem pensar muito e sem se atrapalhar e tinha dado um grande e importante aviso a Marcos. 
- Obrigado...não quero que penses que te roubei a irmã...
- Era só o que mais faltava! - Martín abraçou Marcos, "ameaçando-o" - ai de ti que o faças! 
Os dois riram e Ania, que observava os comportamentos físicos dos dois, sorriu ao ver tal abraço dos seus dois M's. Passaram o resto da tarde juntos, passearam, riram, Marcos e Martín foram conhecendo-se e acabaram por perceber que tinham o mesmo tipo de saídas, aquelas que saem sem que eles percebam.

Ania devia ter ido ao psicólogo na sexta-feira, mas não o fez. Por muito que os seus pais e Marcos a tenham incentivado a ir ela não o fez. Não queria pensar em certas coisas, não queria ter o médico a olhar para ela e a fazer perguntas. Preferiu ficar com a sua mãe a organizar a sua ida a Buenos Aires. No sábado, Marcos teve um jogo para o campeonato e, como combinado, quando o jogo terminou os dois seguiram viagem até à capital argentina. 
Marcos não contou à sua família o que iria fazer. Não queria criar esperanças em que pudesse ser o seu irmão, disse, por isso, que ia passar dois dias só com Ania para se afastarem um pouco de La Plata e definirem o que seria a relação deles. Em parte, também o iriam fazer.
Chegaram cansados a Buenos Aires, a viagem tinha sido longa e Marcos ainda tinha jogado. Assim que chegaram ao hotel onde iriam ficar hospedados durante as duas possíveis noites, não sabiam se seriam mais, fizeram o check-in, indo até ao quarto que lhes pertencia. Não pensaram muito no que fazer, deitaram-se e acabaram por adormecer.

Ania: 
Não sabia se ter vindo teria sido a melhor ideia...poderia não ser o irmão do Marcos, poderia nem sequer ser parecido, mas eu juro que aquela cara só me fez lembrar a pessoa que trabalha no ginásio. Só não sei como é que a Noelia nunca tinha reparado...porque se ela tivesse visto iria reconhecer o irmão. Mas seria bom estar com o Marcos, assim, só os dois.
Acordei já eram nove e meia, mas ele dormia tão ferrado que não me atrevi em acordá-lo. Fui tomar um duche rápido, vestindo-me já que queria aproveitar o dia para passear com ele, não íamos ficar aqui fechados o dia todo.


Estava imenso calor, mesmo estando no quarto conseguia perceber que estava já imenso calor lá fora. Era...estranho vestir roupa assim, estando com o Marcos...ainda não sou eu completamente, são as minhas roupas de sempre, mas falta-me a confiança para as usar. 
Quando voltei ao quarto, o Marcos continuava a dormir! Tapado! Como é que alguém consegue estar a dormir tapado com este calor? Só ele mesmo...
Sentei-me no meu lado da cama, colocando uma mão por dentro do lençol pousando-a nas costas do Marcos. Comecei a percorre-las com as unhas e ele assustou-se porque o vi ter aquela sensação de quem é acordado quando está a dormir mesmo bem. Tive pena...mas já chega de dormir! 
Acabei por me deitar ao lado dele, abracei-o e dei-lhe um beijo nas costas:
- Buenos dias gordi...
- Buenos dias... - a voz dele saiu-lhe tão baixinha que me arrependi de o ter acordado. 
- Queres dormir mais um bocadinho? 
- Que horas são? 
- Agora já são dez e um quarto - ele virou-se para mim, continuava de olhos fechados e ficou com a cabeça dele encostada no meu peito. Agarrou-se a mim como se fosse um bebé e parecia não querer sair da cama tão cedo. 
- Já estás vestida? 
- Já...já tomei duche e vesti-me...pensei que quisesses passear, mas já percebi que queres é dormir. 
- Não...mas é que estou aqui bem, sabes? 
- Então descansa...ficamos aqui mais um bocadinho. 
- Não - ele afastou a cabeça dele do meu peito e olhou-me. Ao menos já tinha os olhos bem abertos - buenos dias mi vida - a boca dele veio na minha direcção e...estas coisas de manhã fazem-me sentir como se nos conhecêssemos há imenso tempo mas como se estivéssemos a começar a nossa relação.
- Buenos dias mi amor - acabei por interromper o beijo e ficar simplesmente a olhar para ele. 
- Tens alguma coisa em mente para hoje? 
- Não...podemos ir por aí. Eu conheço mais ou menos a zona por causa da faculdade, mas podemos andar por aí. 
- Por mim está perfeito. Vou tomar duche - ele voltou a dar-me um beijo, levantando-se da cama. Enquanto que ele tomou duche eu abri as janelas do quarto e, como tínhamos direito a que nos fizessem a cama, fiquei a apanhar o ar quente (!) que se fazia sentir. 
Não tenho noção de quanto tempo é que o Marcos demorou no banho, mas não foi muito. Saímos do hotel e começamos o nosso dia...por aí. 
Era estranho andar com o Marcos na rua. Ele era abordado por algumas pessoas, a pedirem autógrafos, fotografias, mas, ao mesmo tempo, era como se ele fosse uma pessoa normal. Porque ele agia como tal. Não tentava evitar as pessoas, não tentou evitar ir à praia, ou a um restaurante por ser conhecido. Isso é bom. Dá-nos aquela liberdade para conseguirmos ser nós. 

Nessa noite:
O Marcos não está a conseguir dormir...como é que sei? Ele não pára de se mexer um lado para o outro da cama, tenta fazer pouco barulho a pegar no no telemóvel para ver as horas, mas é impossível dormir assim. Quando percebi que ele estava virado para mim, virei-me para ele: 
- Acordei-te? - perguntou ele, puxando-me para junto do seu corpo. 
- Não Marcos...acho que nenhum de nós ainda dormiu. 
- Desculpa Cinderela...é dos nervos. 
- Oh, eu entendo. Também estou nervosa. 
- Estás?
- Estou...eu sei lá se é mesmo o teu irmão? Sei lá como é que ele vai reagir ao ver-te, se for ele? Como é que tu vais reagir se for ele?
- Vou bater-lhe! Ele que nem pense que vai escapar!
- Vais ter é uma conversa com ele...e com calma Marcos. Ele se quis desaparecer tem os seus motivos. 
- Eu sei disso...mas o que ele nos fez passar...
- Gordi... - coloquei as minhas mãos nas bochechas dele dando-lhe um beijo curtinho - sabes que pode estar tudo a terminar. Se for mesmo o teu irmão podes sempre descansar o teu coração de irmão mais velho, o da tua mãe e das tuas irmãs. Só temos de esperar até amanhã.
- Eu não consigo dormir...
- Nem eu...mas temos de tentar, não?
- Olha lá.
- Diz.
- Não sei se o teu pai te disse...mas eu tenho um problema de ansiedade. 
- Ai é? 
- É...
- Mas é grave? 
- Não...e estou a dizer-te porque vou entrar no estado em que fico...
- Como assim? 
- Vou falar coisas sem sentido, para me tentar distrair, pode ser?
- Vamos passar a noite às gargalhadas,.é isso?
- Olha...podíamos fazer tanta coisa - só uma que lhe saiu da boca para fora ou um desejo? Era só o que faltava: o Marcos falar coisas assim disparadas por causa do problema da ansiedade. 
- E o que é que queres fazer, Marcos?
- O que tu não queres...e, neste momento, estou a dizer aquilo que penso mesmo.
- Marcos...
- Eu sei que é cedo e não vou esperar que aconteça hoje...mas que me estás a dar umas vontades, estás!
- Então acalma lá o objecto não identificado que não é hoje que o conheço...
- Também estás com um problema?
- Porque?
- Porque me estás a responder coisas como no primeiro dia...
- Eu sou assim...só preciso de ir ao sitio, outra vez. 
- Ai que eu podia por tudo no sitio podia...
- Um dia tentamos, sim? Eu prometo-te que serás o primeiro a tentar por tudo no sitio...mas pode demorar. 
- Ania! Que pouca vergonha!
- É...tu é que começas e depois o que eu digo é que é pouca vergonha. Eu sou responsável, sei o que estou a dizer. 
- Olha, tenho eu mais responsabilidade da cintura para baixo do que tu em todo o corpo.
- Isso é tão verdade como eu ser freira, sabes? Mas que raio de conversa é esta?
- É uma conversa que me está a fazer mal! 
- Ai e bom que esteja! 
- Ai é? 
- É sim Marcos! Porque eu também queria muita coisa mas não quero. 
- O que? Ai que agora não apanhei nada. 
- Eu por mim já tínhamos começado a por tudo no sitio, mas é cedo! 
-.Já são duas da manhã.
- Eu esgano-te! - óbvio que...não iria acontecer nada. Não me sinto preparada, não sei estar preparada para ele. Sei que o quero, sei que quero uma noite em que serei dele e ele meu, mas não neste momento. 
Até às quatro da manhã ninguém dormiu. Desde conversas badalhocas, passando pelo futebol, a possibilidade de sairmos do país, bebés, netos, dragões e andorinhas...foi rir até que acabámos por adormecer com o cansaço. 

No dia seguinte: 
Era horrível, horrível, horrível! O Marcos está super nervoso, eu estou super nervosa e ainda estamos à porta. O ginásio já estava aberto, o Marcos andava de um lado para o outro, mentalizando-se. 
- Marcos, tem calma - acabei por me meter à frente dele. Os olhos do meu pequeno estavam brilhantes. Parecia que o sofrimento estava, finalmente, lá. Nunca antes o tinha visto assim. Triste, desamparado. Puxei-o contra mim. Ele baixou-se agarrando-se à minha cintura. 
- E se não for o Franco? - pois...aquela pergunta. 
- Marcos...se não for, iremos procurá-lo. Ele está vivo, só está bem escondido. 
- Tenho medo Ania.
- De que?
- De que ele...não seja o mesmo. 
- Isso só descobrirás quando o encontrares. Queres entrar? - ele afastou-se, arranjou o cabelo e deu-me a mão. 
- Sim...
Entrámos os dois indo até à recepção. Se o Marcos perguntasse pelo nome do irmão, a recepcionista conseguiria dizer-nos se ele estava ou não ali. 
- Bom dia - disse ela. 
- Bom dia - falámos os dois ao mesmo tempo, a senhora riu-se e o Marcos tomou a palavra. 
- Eu gostava de saber se tem aqui algum trabalhador com o nome Franco Rojo. Ele é meu irmão e está desaparecido, mas pensamos que esteja aqui a trabalhar. 
- Sabe...eu não lhe posso dar essa informação. Tenho de chamar a minha superior.
- Claro. 
Mas não era preciso. Não iria ser preciso chamar superior nenhuma, porque aquelas quase certezas que eu tinha desapareceram no momento em que vi o tal rapaz que aqui trabalha.


Boa noite meninas!
Peço imensa desculpa pela demora em publicar mas, como algumas sabem, andei com uma crise de inspiração/vontade de escrever. Mas hoje está tudo de volta: ideias, vontade, liberdade para escrever. Espero que tenham gostado do capitulo e que deixem os vossos comentários que cada dia são mais importantes. Muitos beijinhos.
Ana Patrícia Moreira.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

18 - " (...) Eu tenho de te deixar longe dos meus problemas (...)"

Ania correu na direcção de Marcos, tinha medo, muito medo que alguma coisa de mal estivesse a acontecer, ou tivesse acontecido. Já tinha ouvido imensas histórias de jogadores que morrem em campo, do nada, e até isso lhe passou pela cabeça. 
Marcos tinha todos à sua volta, jogadores, equipa técnica, equipa médica e Ania entrou por entre todos eles, chegando perto de Marcos, ajoelhando-se a seu lado. 
- O que é que se passa? - perguntou ela completamente desesperada. 
- Ele desmaiou - informou um homem que Ania reconhecia. O médico que a tinha ajudado quando lá tinha estado - quebra de tensão, mas como está a demorar muito a acordar vamos levá-lo para o hospital para fazer todos os exames médicos.
- Eu também vou - Ania queria estar com Marcos, não poderia simplesmente virar costas 
Prepararam Marcos, Hugo acompanhou a ambulancia e a filha que só pedia ao pai que conduzisse mais depressa. Sabia que era uma quebra de tensão, mas não conseguia ficar descansada, não conseguia manter o seu coração estável. Só queria que Marcos estivesse bem, que nada lhe tivesse acontecido. 
Ao chegarem ao hospital, Marcos foi levado para observação e Ania (des)esperou. Naquele momento de espera pensou em tudo. Seria falta de comida no estomago? Stress a mais nos últimos dias? Se fosse do stress...seria culpa sua, Ania tinha colocado Marcos naquela situação, ele tinha desmaiado por sua culpa e não conseguia não sentir-se culpada. 
As notícias não demoraram tanto tempo em chegar. Cerca de 45 minutos depois o médico chegou à sala de espera com Marcos a caminhar pelo seu pé. Ania correu na sua direcção, abraçando-o. 
- Como é que tu estás? Tu estás bem? O que é que se passou? - Ania disparava perguntas, Marcos ainda estava um pouco debilitado mas abraçou Ania, dando-lhe um beijo na testa. O médico foi falar com Hugo, por ser responsável por Marcos contando-lhe detalhadamente o que se passou.
Marcos aproveitou esse afastamento para também falar com Ania. 
- Está tudo bem, Cinderela. 
- Mas o que é que aconteceu? - ela olhou para ele, sentindo-se feliz por o ter à sua frente, de pé, sorrindo para ela. 
- Foi uma quebra de tensão. 
- Mas porque? O que é que causou isso?
- Os médicos dizem que é stress a mais. Com o ínicio da época é complicado. 
- E eu. Eu sou um stress ainda maior, eu fui a culpada disto tudo, não fui? Eu sei que fui! Eu tenho de te deixar longe dos meus problemas, tens de descansar - Ania falava tudo depressa e Marcos não queria acreditar no que estava a ouvir. É verdade que tudo o que se tinha passado entre os dois tinha feito com que o stress aumentasse, mas ela não tinha culpa de nada. Se ele não quissesse estar com ela, não estava. Mas ele quer. E está. Calou-a com um beijo, colando a sua testa com a dela. 
- Nunca mais digas isso. A culpa não é de ninguém. Simplesmente aconteceu e agora tenho o resto do dia de folga. Esquece Ania. Ninguém tem culpa.
- Mas Marcos...
- Mas nada princesa. Eu coloquei-me nesta situação, eu estou contigo, eu quero estar sempre contigo e espero que tu também estejas comigo. 
- Claro que estou! Isso nem se põe em causa. Eu tive tanto medo que te tivesse acontecido alguma coisa... - Ana deixou a sua cabeça cair sobre o peito de Marcos, deixando cair uma lágrima mas não queria que ele visse. 
- Fica descansada que não ficas viúva antes de casarmos. 
- Não sejas parvo Marcos.
Ania olhou para o seu namorado e os dois beijaram-se. 
Foram interrompidos por Hugo, que libertou os dois. Marcos não iria para o centro de treinos, teria o dia para descansar, mas no dia seguinte tinha de se apresentar, fazer testes e só depois se via se poderia voltar a treinar. 
Hugo levou os dois até ao centro de treinos e, Marcos e Ania, decidiram ir até casa dele para descansar até à hora de almoço. Marcos queria ir almoçar com Martín e Romina, apesar de Ania achar que ele deveria ficar a descansar. 
Ania tinha a carta, há pouco tempo mas sabia conduzir. O carro de Marcos é que ela não sabia bem como conduzir. Era potente demais para o seu pé...potente demais para a sua cabeça. 
- Marcos, quem é que tem um Ferrari e anda com ele todos os dias?
- Eu não ando com ele todos os dias...hoje foi só porque...calhou. 
- Queria dar nas vistas, é isso.
- Oh não...é só porque eu gosto da velocidade e este dá-me mais pica. 
- E agora quem o vai conduzir sou eu, já que estás proibido.
- Queres ir a pé para casa?
- Não. 
- Então é a única hipótese que temos. Mas ai de ti que me faças algum arranhão no carro.
- Eu dou-me bem com carros, nunca os arranho, já as pessoas é outra coisa... - Ania queria demonstrar a Marcos que está à vontade com ele, queria demonstrar que queria ter uma relação normal, que queria que ele a visse como uma rapariga normal, como qualquer outra que anseia pelo toque mais provocatório do seu namorado. Ania queria esquecer-se do que tinha acontecido, não queria que isso fosse um entrave entre ela e Marcos. Os dois estavam na garagem do centro de treinos, não estava ali ninguém e Ania foi na direcção de Marcos, colocando as suas mãos na cintura dele. 
- Ania?
- Marcos?
- Que é que se passa contigo?
- Quando nos conhecemos...eu estava bem, queria estar contigo e já nem pensava que não me podias tocar. Hoje, passaram 5 dias desde que nos conhecemos e muita coisas aconteceu. Muita volta dei, mas estou na mesma situação. Quero que me toques. Quero que...sejamos normais e não penses no que me aconteceu. Só faz sentido entregar-me a alguém depois do que aconteceu, se for contigo. E temos de chegar a esse ponto...
- Então vais não deixar arranhões no meu carro e deixar arranhões em mim?
- Depende do que me deres. Mas isso não são coisas que se falem aqui. Nem hoje porque posso querer mas não estou preparada. 
- Eu não te ia pedir nada.
- E se eu te desse algo, resistias? - Ania queria imenso despegar-se daquela imagem de menina que foi violada pelo irmão. Levou as suas mãos ao interior da camisola de Marcos, percorrendo as costas dele com as suas unhas, fazendo pouca força.
- Tu estás diferente. 
- Em que sentido?
- Não sei...simplesmente não esperei que estivesses assim. 
- E é mau?
- Não. É surpreendente, é bom, só não quero é que tenhas estes comportamentos e que penses noutras coisas. 
- Não. Nada disso. Só penso em ti, em nós, no almoço com o meu irmão! - Ania exclamou, lembrando-se de que tinham de ir almoçar com eles. 
- Já te tinhas esquecido? Ainda agora falamos nisso, Ania.
- Não...não é isso. Eu esqueci-me é que hoje é o aniversário deles. O Martin e a Romina fazem anos de namoro. Cinco anos completos ao lado um do outro. 
- E querem almoçar contigo? Bem...eu dispenso a presença de qualquer uma das minhas irmãs no dia em que completarmos cinco anos.
- Não sejas parvo. E sim, eles querem a minha companhia porque andamos a tratar de umas coisas. 
- Hum...
- Durante o almoço eu conto-te. 
- Está bem.
Os dois acabaram por ir embora, foram até casa de Marcos apenas para ele tomar um duche e trocar de roupa. Enquanto ele fez isso, Ania andou a ver as imensas fotografias que haviam naquela casa. Eram de Solange, Micaela, Noelia e Carina. Mas havia um rapaz que Ania não conseguia identificar. Era super parecido com Marcos, Ania jurava que era irmão dele, mas nem a Noelia, nem Marcos lhe falaram de um irmão. Noelia tinha falado num irmão que Ania deduz que seja Marcos. Mas ela conhecia aquela cara, já o tinha visto nalgum lado, só lhe faltava descobrir onde.
Quando ele estava pronto, desceu as escadas vendo Ania com a moldura com o tal rapaz na mão. 
- Estou pronto - avisou Marcos. 
- Quem é? - perguntou, de imediato, Ania.
- Isso interessa para agora?
- Se não quiseres falar...não interessa. 
- É complicado Ania...não é que eu não queira contar, mas é uma história complicada. 
- Eu queria ouvir. Eu quero estar dentro de tudo o que te envolva Marcos...somos namorados, estamos a conhecermo-nos, acho que é normal. Mas se não quiseres eu entendo. 
- Temos tempo?
- Sim. Só temos de estar no restaurante daqui a uma hora e em 15 minutos chegamos. 
- Então senta-te, eu conto - Marcos e Ania sentaram-se no sofá, lado-a-lado. Ania mantinha a moldura nas suas mãos e olhava atentamente para o seu namorado. 
- Esse é o Franco. É meu irmão - Marcos esperou uma reacção de Ania, mas ela continuou a olhar para ele, esperando a continuação - não sei se a Noelia te falou nele, mas é provavel que não.
- Não...
- Pois. Esse é o Franco, como já disse. Há um ano, quando o nosso pai morreu, ele entrou por caminhos estranhos, começou a não dormir em casa muitas noites e à cerca de dois meses que desapareceu. 
- Desapareceu?
- Sim. Deixou-nos um bilhete a dizer que precisava de espaço e que queria pensar por ele próprio. 
- Sabes...a cara dele não me é estranha. 
- Oh, isso deve ser por ser parecido comigo. 
- Não...não é isso Marcos. Eu acho que conheço o teu irmão. Eu acho...eu tenho quase a certeza. 
- Tens?
- Sim. Eu costumava ir ao ginásio, de vez em quando, e acho que ele trabalha lá. É que a cara dele é super familiar para mim. 
- Tens a certeza?
- Tenho.
- Onde é que fica esse ginásio? 
- É fora de La Plata. Fica ao pé da faculdade em Buenos Aires. 
- Vais lá comigo?
- Claro. Tens jogo no sábado, verdade?
- Sim. 
- Depois do jogo podemos ir para Buenos Aires, passeamos no domingo e na segunda-feira vamos lá ao ginásio. 
- Gracias mi amor - Marcos abraçou Ania. Queria acreditar que ela tinha razão e que era mesmo o seu irmão. 
- De nada, mi rey. 
Os dois aproveitaram o tempo que ainda lhes restava até à hora de almoço para namorarem e verem algumas fotografias de Marcos e a sua família. Ania riu imenso com as fotografias de Marcos em pequeno. Era rechonchudo, originando a nova forma de Ania tratar Marcos "mi gordi". Era um diminutivo carinhoso, nada de o envergonhar, muito pelo contrário.
Voltaram a sair de casa, Ania pedinchou a Marcos que a deixasse conduzir o carro, de novo. Tinha adorado a experiência e nesta segunda vez deixou que o seu pé carrega-se mais no acelerador. Marcos não ficou nervoso. Confiava na forma como Ania conduzia, na forma como Ania mexia no volante. Podia ter a carta à pouco tempo, mas ela sabia o que fazer. 
Quando chegaram ao restaurante, Martín e Romina já estavam à espera deles, na mesa que tinham reservado. Todos se cumprimentaram e acabaram por se sentar. 
- Vem mais uma pessoa, hemana - disse Martín.
- Quem?
- A irmã da Romina. 
- Ah está bem - a irmã de Romina, Estela, também os estava a ajudar no projecto deles. Ania, o irmão, Romina e Estela iam abrir um negócio. Um atelier de pastelaria, onde as pessoas podem ir aprender a fazer bolos e comprá-los também. Romina e Estela são as "professoras", Martín será quem está por dentro da organização das aulas, da gestão financeira do local e Ania irá tratar do marketing e do atendimento ao cliente. O negócio será no café dos seus pais e tudo surgiu como uma forma de ajudar os pais com a gestão do café. 
Depois de explicarem tudo a Marcos, Estela entra no restaurante. Ania, como estava de frente para a porta conseguiu vê-la, fazendo-lhe sinal. A irmã de Romina aproximou-se e quando Marcos olhou para ela...foi como se regressa-se ao passado.
- Estela? 
- Faustino? - também ela estava surpreendida e Ania ainda mais. 
- Vocês conhecem-se? 
Marcos olhou para Ania e voltou a olhar para Estela. Estava feliz, um sorriso formou-se nos lábios dele e Estela fez o mesmo. Marcos levantou-se e abraçou-a. Ania não estava a perceber nada. Nem Martín ou Romina. Esperavam uma explicação que tardava em chegar.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

17 - "Já enfrentas-te o monstro, não?"

Ania, 5 segundos depois de dizer o que disse, caiu na realidade e só queria cavar um buraco e esconder-se lá. Noelia sabia que Ania era assim, mas nem ela nem Marcos estavam à espera que tivesse uma saída daquelas. 
Foi "salva" por Carina (Cari) que chegava à sala com gelado para todos, chamaram Solage e Micaela e acabaram por passar meia hora juntos que deu para se rirem e conversar muito. 
Estava a ficar tarde e Marcos levou Ania a casa. Quando estavam à porta de casa dela foi quando ele teve a iniciativa de falar sobre o que tinha acontecido em sua casa.
- O que é que se passou lá em casa contigo?
- Nada...
- Nada não, tu falaste em alto e bom som que se eu não parasse me saltavas para cima. 
- Marcos...há coisas que andas a despertar em mim que eu não sei o que são. A maneira como me tocas faz com que eu fique a pensar se é contigo que vou perder...certos medos. Eu sei que tu compreendes que eu estou um bocado instável, não sei o que se passa, mas também não estou a tentar perceber, só quero que...aconteça quando tiver de acontecer.
- Eu não tenho pressa para que aconteça alguma coisa. Respeito o teu espaço e só quero que sejas tu que tomes a iniciativa quando estiveres preparada. 
- Eu vou estar preparada, eu sei disso, não sei quando, mas vou. Mas...o teu toque deixa-me estranha. É perfeito, dás-me segurança e um porto seguro, mas deixas-me com necessidades de...mulher - Ania estava, de certa forma, envergonhada por se estar a expor desta maneira a Marcos, mas tinha jurado a ele e a ela própria que seria sempre sincera nesta relação - quero fazer o meu dia-a-dia normalmente contigo, quero ter momentos de namorados contigo. Aquelas coisas românticas e tal...e quero ser tua, quero que chegue esse momento que nos una ainda mais.
- Iremos ter isso tudo. E seremos ainda mais nós do que somos hoje. Com calma, mas seremos. 
- Obrigada por tudo Marcos, a sério. 
- Não me tens de agradecer nada. Esse sorriso depois de tudo é a melhor coisa que podia pedir. 
- Oh...
- É a verdade - Marcos aproximou-se de Ania, colocando as suas mãos na cintura dela, ele, cada vez que toca nela, sente-se bem. Porque, apesar daquilo que sabe de Ania, é com ele que ela conseguiu recuperar certa parte do seu encanto, da sua magia, da vontade de estar junto de rapazes. Marcos beijou-a. Sem pedir licença, sem receio, sem medo. A partir de agora seria assim. Cada vez que o quissesse fazer, fazia. Sem pensar que Ania tinha medo. Porque ele sabe que dele, ela não tem medo. 
Foi um beijo calmo, prolongado, mas doce e suave. Eles não se atreviam a mexer muito mais as mãos. Não precisavam de tocar noutras partes do corpo quando estavam unidos pelos lábios e só aquela parte lhes transmitia todos os sentimentos que sentiam.
Marcos acabou por interromper o beijo. Tinha uma proposta a fazer a Ania:
- Porque é que amanhã não vais para o treino com o teu pai?
- Estão a precisar de roupeiro, outra vez? - Ania recordou o primeiro dia que tinha ido para o centro de treinos com o seu pai como treinador adjunto. Tinha desmaiado e começara então a falar com Marcos. 
- Não, acho que não. Mas podias ir. Vias o treino e depois iamos almoçar.
- Parecia um plano tão perfeito. 
- Parecia? - perguntou Marcos confuso. 
- Eu vou almoçar com o Martín e a Romina, não te lembras? - durante o jantar, Ania tinha combinado com o irmão e a cunhada irem almoçar juntos. 
- Pois é...mas podes ir ao treino na mesma.
- Sim, claro. E vou. E tu...podes ir almoçar comigo na mesma. Ficas a conhecer melhor o meu Martín. 
- Oh...não sei. Eu falei mais com o Francisco, acho que o Martín não vai lá muito à bola comigo. 
- Hã? O Martín adora-te! Está é naquela fase de irmão ciumento. Por isso era bom estarem os dois juntos. Pode ser?
- Bem...eu tenho de almoçar e quero faze-lo contigo...sim, almoçamos os quatro. 
- Já enfrentas-te o monstro, não?
- Já...
- Então...o Martín é só meu irmão. 
- Só...
- Ai que o meu menino está com medinho - Ania, por estar em cima do degrau, conseguiu colocar os seus braços em torno do pescoço de Marcos dando-lhe um beijo - esquece todo o mundo, sim? 
- Vou tentar. 
- Vá...e eu vou entrando. Estou cansada...
- Foi um dia comprido.
- Bastante. 
- Dorme bem princesa. 
- Vou sonhar contigo. 
- Ai sim?
- Sim, quero muito sonhar contigo. 
- Então sonha comigo que eu sonho contigo também - os dois voltaram a beijar-se, despedindo-se. 
Ania entrou em casa e Marcos voltou para a sua. Na sala, Hugo e Ortencia estavam a assistir televisão. 
- Cheguei - avisou Ania, sentando-se ao lado do pai. 
- E como correu? - perguntou Ortencia, curiosa.
- Correu bem...descobri que uma das irmãs do Marcos andou comigo na faculdade. 
- A serio? 
- Sim. A Noelia. 
- Ela não foi quem te ajudou naquele dia? - inquiriu Hugo.
- Foi sim, papi.
- A família do meu genro é toda prestável para a minha menina. Estás bem entregue. 
- Oh... - Ania não disse nada, apenas abraçou o pai. 
Os três ficaram a ver televisão enquanto não chegava o sono. Ania acabou por adormecer no sofá e Hugo teve de a levar para o quarto ao colo. Não a deitou no seu quarto, deixou-a no que era de Martín porque já não conseguia levá-la para mais lado nenhum. Tinham combinado tudo para o outro dia: Ania iria com Hugo para o treino. 

- Ania...filha? - Ortencia chamava Ania, que teimava em não querer sair da cama - o teu pai já está despachado e diz que se não te metes lá em baixo dentro de 10 minutos, vai sem ti - ao ouvir aquilo, Ania levantou-se num ápice.
- Eu vou despachar-me mas diz a ele que espere - Ania correu até ao seu quarto. Tomou um duche rápido e vestiu-se ainda mais depressa. Não pensou muito naquilo que ia vestir porque não estava com cabeça e queria era despachar-se.


Desceu as escadas indo até à cozinha, onde estavam Hugo e Ortencia.
- Buenos dias! Estou despachada!
- Bom dia, filha - começou Hugo - agora senta-te a tomar o pequeno-almoço. 
- Então mas não estavas com pressa?
- Se dissesse que ainda tinhas tempo, irias demorar demasiado tempo. Assim tens tempo para tomar o pequeno-almoço com calma. 
- Ai papi...e eu andei à pressa, nem me arranjei como deve ser. 
- Ai não? Mas estás bonita assim, filha - comentou Ortencia. 
- Achas?
- Acho. 
- Então pronto. 
Ania tomou o pequeno-almoço com os pais, com calma, e quando ela e Hugo estavam despachados começaram a sair de casa. Ania ainda lembrou a mãe de que não ia almoçar a casa e rumaram, finalmente, ao centro de treinos do Estudiantes. 
Hugo conduzia com calma...e Ania estava ansiosa por estar com Marcos, por estar no centro de treino do seu clube, por ir estar lá com aquela equipa que tantas alegrias lhe dá. 
Por um lado, não gostava de ir com o pai. Chegava sempre demasiado cedo. Ainda não estava ninguém por ali, a não ser mesmo a equipa técnica. Como não consegue estar quieta um segundo, pediu autorização ao seu pai para ir até ao campo dar um toques na bola. 
Hugo lembrou-se de quando Ania era pequena e ia para os treinos com ele. Acabava sempre por ir correr atrás da bola, marcar golos e festejar como se fosse um golo muito importante. Ania gostava de futebol. De ver, de jogar, de ir ao estádio, de estar no meio dos adeptos, ser parte de la pincha (adeptos dos Estudiantes). 
Tanto o pai, como os outros membros da equipa técnica, deram-lhe a autorização para ela ia para campo. Ania deixou a sua mala junto das coisas do pai e foi até ao relvado. Pegou numa bola e retirou as sandálias começando a correr e a dar toques na bola. 
Ela gosta disto. De se sentir feliz, de se sentir criança, de senti a relva nos seus pés, de marcar golos, mesmo que a baliza esteja sem guarda-redes.
Marcos tinham chegado e via o que Ania estava a fazer. Ria com a festa que ela fazia por ter marcado um golo e foi então que decidiu meter-se com ela:
- Sua batoteira! - Marcos gritou e Ania olhou para ele, tentando recuperar o fôlego. Ele ia na direcção dela e voltou a falar - Se fosse assim tão fácil marcar golos, eu tinha muitos mais na minha lista. 
- Os guarda-redes fogem de mim o que é que queres? - quando estavam suficientemente perto um do outro, Ania coloca as suas mãos na face de Marcos beijando-o. Foi um beijo de bons-dias, curtinho porque Ania estava cansada e ficou sem ar muito depressa.
- Que é que já andas aqui a fazer a estas horas? 
- O meu pai vem cedo...e eu vim logo. Entretanto fui dando uns toques. 
- Eu estava a ver. 
- E que tal? Posso candidatar-me ao Estudiantes feminino?
- Era preciso que houvesse uma equipa de futebol feminino. 
- Posso sempre criá-la...
- Olha, e assim trabalhávamos juntos.
- Na...a minha cena com o futebol é bonita, mas não. Prefiro ver, jogar de vez em quando e tal. 
- Queres jogar comigo?
- Queres?
- Sim. 
- Anda lá - os dois começaram numa disputa de bola, mas que acabou por não dar em nada. Quando Ania estava a tentar sair com a bola em sua posse, Marcos derrubou-a e caíram os dois no relvado. Marcos ficou em cima dela e desmancharam-se a rir. 
- Fazes destas num jogo e és expulso!
- Mas tu não me expulsas, pois não.
- Não. Eu quero-te ainda mais - Ania puxou Marcos para si e os dois iniciaram ali uma troca de beijos mais intensa. 
- Que poucas vergonhas... - Ania assustou-se, por momento pensou que podia ser o seu pai, mas não era. Marcos apenas se riu, levantou-se e ajudou Ania a colocar-se de pé também. 
- Enzo...podias ter demorado mais a vir para aqui - era o seu companheiro de equipa Enzo Pérez. Os dois davam-se muito bem, o que fez com que Marcos apresentasse Ania como sua namorada. 
Entretanto começam a entrar mais jogadores e Ania encaminha-se para as bancadas, onde iria assistir ao treino. 

Os jogadores já estavam a terminar o jogo-treino, quando Marcos cai redondo no chão. Do nada. Estava sozinho, sem nenhum companheiro que lhe pudesse fazer uma falta, mas ele simplesmente caiu no chão sem qualquer motivo aparente. 
Ania entrou em pânico, os companheiros do Marcos aproximaram-se dele e ela correu na direcção do seu namorado. Naqueles segundos que demorou a chegar a ele, montes de perguntas iam-lhe na cabeça "estará ele bem?", "será que é alguma coisa grave?", "porque é que ele caiu sozinho?". Ania queria acreditar que estava tudo bem, mas aquele pâncio tomava conta do seu coração. 

Olá meninas! Espero que tenham gostado e estou à espera dos vossos comentários.
Hoje, por ser o dia em que a minha hemanita comemora o seu aniversário, é mais uma prendinha para ela. Muitos, muitos parabéns Ana Rita Pereira. Te quiero guapa!
Beijinhos a todas!

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

16 - "O amor é o sentimento mais difícil de explicar...ele sente-se e não se sabe bem porque."

Marcos sentia-se intimidado, sabia que iria ser sincero no que ia dizer, mas ter a família toda de Ania à sua frente era intimidador. Agarrou a mão de Ania, entrelaçando os seus dedos com os dela. Aquilo dava-lhe confiança, dava-lhe a perspectiva de um futuro com ela, um futuro a dois.
- Conhecemo-nos à pouco tempo, talvez insuficiente para vocês compreenderem aquilo que nos une. Mas, desde o momento em que eu vi a Ania, eu soube que tinha de a conhecer, que tinha de meter conversa com ela. Nunca pensei que as coisas fossem ser sérias, sou sincero. Quando a vi desmaiar no centro de treinos percebi que ela era importante, ela não podia simplesmente ficar sozinha e fomos conhecendo-nos...e então tudo encaixou. Foi aí que percebi o porque de o Hugo nunca a levar ao futebol como leva os seus filhos. Queria proteger a sua menina, a sua única filha rapariga - Marcos falava directamente para Hugo, era a ele que tinha de demonstrar o que realmente sentia, era ao pai de Ania que Marcos tinha de demonstrar o quanto ama a filha dele - com tudo o que aconteceu entretanto...foi-se tornando tudo muito mais intenso, mais especial, mais forte...e eu amo a sua filha como nunca amei ninguém na minha vida. Juro-lhe pelo meu pai que, se fosse vivo, iria ser o primeiro a aprovar a minha relação com a Ania - Marcos ficou um pouco incomodado a falar do pai...ainda lhe custava, ainda sentia a falta dele...sempre foi mais ligado ao pai por ser o único filho dele homem - por isso, por amar a sua filha e sei que você também a ama tanto ou mais que eu, eu peço-lhe a sua bênção para que o nosso namoro seja real. Para não termos de andar às escondidas e que possamos ir crescendo com o seu consentimento.
Ania sabia que Marcos era capaz de falar assim sem qualquer problema. Fica surpreendida por ele ser assim, sempre pensou que os rapazes fossem mais complicados que as raparigas no que toca a expor os sentimentos, mas com Marcos é totalmente ao contrário: é Ania quem tem mais dificuldades em assumir o que sente. 
Os irmãos e cunhadas de Ania, sorriam. Martín tinha piscado o olho à irmã, sabia que aquele amor era verdadeiro...porque sabia o que a irmã sentia só olhando para os olhos dela. Sempre se conheceram bem e sabem os problemas um do outro detrás para a frente. 
Ortencia estava embevecida com o discurso de Marcos, o relacionamento dele com a filha fazia-lhe lembrar o dela com Hugo. Conheceram-se na rua, olharam-se e não descansaram enquanto não se conheceram melhor. Tiveram 4 filhos maravilhosos (apesar do que aconteceu com Lucas) e um casamento sempre apaixonado, com romance e com declarações de amor constantes. 
Hugo olhava Marcos e Ania...muita coisa lhe passou pela cabeça, mas depressa começou um pequeno discurso: 
- O amor é o sentimento mais difícil de explicar...ele sente-se e não se sabe bem porque. Eu vejo amor em vocês. Vocês são novos, têm a vida pela frente, fico feliz por a minha filha te confiar coisas que ela tanta dificuldade tem de partilhar. A ideia de te perder, Ania, é assustadora. Queria que fosses eternamente pequena, que passasses horas a ver a Cinderela na televisão e a imitá-la...serás sempre a minha pequenina, apesar de hoje seres uma grande mulher. Se...o vosso namoro passar a ser casamento, passar a ser uma família...eu só espero que nunca se esqueçam do dia em que se conheceram, do dia em que se apaixonaram um pelo outro. E tu...Faustino...tens de tratar dela como se fosse a tua vida! Como se fosse de vidro. Se algum dia magoares a Ania, nesse mesmo dia acabo contigo - Hugo tentava assustar Marcos, mas acabou por sorrir com o que acabara de dizer - quando deixares o Estudiantes...eu sei que esse dia vai chegar, se estiveres com a Ania...ela vai querer ir contigo. Nunca quis isso para a minha filha, mas vejo que ela é feliz e que vai ser ainda mais se eu vos der a minha bênção em relação a este namoro. 
Hugo levantou-se e Ania e Marcos fizeram o mesmo. Nada daquilo tinha sido pensado, nada tinha sido ensaiado. Era tudo automático, impulsivo...era tudo feito do fundo do coração. Hugo aproximou-se de Ania, beijando-lhe a testa, para de seguida se dirigir a Marcos: 
- Antes de eu dizer algo em relação ao namoro, promete-me uma coisa Marcos. 
- Diga. 
- Promete-me que serás sincero, como sei que és. Promete-me que a vais respeitar, que a vais entender, que lhe vais dar tempo antes de avançarem com outras coisas. 
- Pai! - Ania percebeu onde é que Hugo queria chegar, por isso interveio. 
- Pai nada. Ele tem de ouvir isto. Consegues prometer-me isso, Marcos? 
- Prometo-lhe pela saúde de todos os que amo e pela alma do meu pai. 
- Ele tem muito orgulho em ti. Desde que te conheci soube que eras um bom menino, o menino que é o orgulho dos pais. Quando te fiquei a conhecer melhor e soube o sofrimento que passavas pela morte do teu pai, afeiçoei-me a ti. Chamo-te Faustino, não pela brincadeira como os teus colegas, mas por respeito e para te lembrar todos os dias o grande homem que era o teu pai - Marcos estava surpreendido com Hugo, chorava, o que fez todas as mulheres presentes chorar. Ver o homem chorar deixava qualquer mulher mais sensível  com vontade de lhe dar colinho - Faustino Rojo...tens a minha bênção para namorar com a minha filha. 
Hugo abraçou Marcos, que não poderia estar mais feliz. 
Ania juntou-se a eles. Precisava de se juntar a eles. Precisava de um abraço dos dois homens da vida dela.

Ainda era, relativamente, cedo. 22:30h era cedo. O ambiente em casa de Ania era de celebração. Pelo facto de o namoro ser respeitado e abençoado por Hugo e todos os presentes e pela vinda do bebé de Francisco e Gloria. 
Marcos começou a falar com os irmãos de Ania e, pouco tempo depois, já se davam como já se conhecessem à imenso tempo. Tinham estado juntos umas quantas vezes mas nunca tinham falado. 
O casal estava sentado lado a lado no sofá, enquanto os restantes estavam a falar sobre o bebé: 
- Achas que posso tornar este dia ainda mais feliz? - perguntou Marcos, interrompendo o pensamento de Ania (pensamento de tia que vai mimar o sobrinho ou sobrinha que vai nascer). 
- Não sei como...ele já está mais que feliz, Marcos.
- E se aproveitássemos que ainda é cedo e fossemos até minha casa? Também quero que conheças as minhas mulheres lá de casa.
- Não será tarde? Sobretudo para a Micaela? 
- Não...elas ainda estão acordadas. 
- Por mim...vou só avisá-los e vamos.
- A sério?
- Claro...pensavas que ia dizer que não? 
- Não sabia que resposta darias...
- É um sim - Ania deu um beijo a Marcos antes de irem ter com os seus familiares e lhe anunciarem a ausência. 
Saíram de casa, indo em direcção ao carro de Marcos. Assim que começou a conduzir Ania nem deu conta do quão depressa ele conduzia. Sempre gostou de velocidade nos carros...sentia a adrenalina a correr-lhe pelas veias e só queria começar a conduzir para ela ter também aquele poder. 
Cerca de 20 minutos depois estavam a estacionar em frente da moradia de Marcos. Ania já lá tinha estado, já tinha conhecido Micaela mas não conhecia mais ninguém da família de Marcos. A ideia de ir conhecer todas as mulheres que constituíam a família do seu...namorado, não a deixava assustada. Pensou se a iam aceitar, mas já tinha tido um primeiro contacto com Micaela que a deixou confiante...e se elas forem como o Marcos, Ania tem a certeza que terá mais meninas com quem partilhar momentos de raparigas. 
Entraram em casa e, na sala, estava a mãe de Marcos. Uma senhora encantadora à primeira vista. Via-se no seu rosto que era feliz, que tinha uma vida confortável apesar do sofrimento que deveria ter com a perda do seu marido. 
- Buenas noches, madre - Marcos falou, fazendo com que a mãe olhasse para ele...e para Ania. A senhora sorriu-lhes, levantando-se. 
- É a nossa Ania? - para surpresa de Marcos, a mãe já sabia o nome da sua namorada...Micaela deveria ter feito algum comentário durante o dia de hoje. Marcos já tinha dito à mãe, tinha dito que ia jantar a casa da namorada, só não lhe tinha dado grandes pormenores sobre Ania. 
- É a minha Ania - respondeu Marcos.
- Ciumento. Deixa estar que eu não te roubo a princesa - a senhora dirigiu-se a Ania, colocando as suas mãos nos braços dela - fico muito feliz que nos tenhas vindo conhecer. Eu sou a mãe deste rapazeco, sou a Cari e podes ter a certeza que fico mesmo muito feliz que metas um sorriso no lábios do meu filho e juízo naquela cabeça - Cari, mãe de Marcos, abraçou Ania que se sentiu tão amada naquele momento. O abraço de Cari fazia-a sentir-se ainda mais confortada.
- Eu também estou muito feliz por a conhecer - o abraço entre as duas foi longo, mas ambas se sentiam bem naquele abraço. 
- As meninas? - perguntou Marcos, quando elas se afastaram uma da outra naquele abraço. 
- A Micaela e a Solange estão lá em cima no quarto delas, a Noelia foi ao lixo, mas já deve estar a chegar. 
- Bichas!? - Marcos gritou pelas escadas, deixando Ania confusa. 
- Ele trata as irmãs mais novinhas por bichas. É doido o rapaz - explicou Cari, rindo-se juntamente com Ania. 
Pouco tempo depois duas meninas desciam as escadas. Micaela, que Ania já conhecia, a mais nova e uma outra menina pouco mais velha que Micaela. 
- É a Ania? - perguntou aquela que Ania ainda não conhecia. 
- Mas como é que vocês já sabem o nome dela? - inquiriu Marcos. 
- Foi a Mica - respondeu Cari - mas foi porque eu insisti. 
- E ameaçaram-me que me iam tirar os posters do Justin da parede! - Micaela era fã de Justin Bieber e quando alguém lá de casa queria que ela falasse ou que fizesse alguma coisa "ameaçavam-na" com os posters. 
- Sim, é a Ania. Ania, é a Micaela que já conheces-te, e a Solange. Meninas, é a Ania - as duas foram abraçar e cumprimentar com dois beijinhos Ania. 
- Vocês são muito parecidas - comentou Ania - e parecidas com a vossa mãe. 
- É...as raparigas são parecidas com a mãe e o rapaz é com o pai.
- Têm uma boa genética então. Têm pais muito lindos e muito orgulhosos de vocês, tenho a certeza - Ania agarrou-se a Cari. Já sentia uma grande empatia por aquela senhora, sentia-se bem com ela. 
- O nosso pai morreu - disse Solange. 
- Sim...eu sei. Mas é certamente um homem feliz por ver os filhos que tem - Marcos, Micaela e Solange sorriram para Ania. As meninas abraçaram Ania e Cari, fazendo Ania sorrir e abraçá-las. 
- Tens aqui uma menina muito especial, Marcos - afirmou Cari. 
- Lo se madre...
Marcos juntou-se a elas, beijando Ania...que ficou um pouco envergonhada, mas descansada porque nenhuma delas comentou nada. 
- A Noe? - perguntou Solange. 
- Ela foi ao lixo, deve estar a chegar. 
- A Noelia é a mais velha das raparigas - informou Marcos. 
- Esse nome não me é estranho...tinha uma colega na faculdade com esse nome - constatou Ania. 
- A Noe anda na faculdade... - disse Cari. 
- Será que é a mesma que tu conheces? - perguntou Marcos, agarrando-se à cintura de Ania. 
- Não sei...era coincidência a mais - naquele momento, ouvem a porta de casa abrir-se e todos olham para a porta. Era Noelia. 
Ania olhava-a com expectativa e quando Noelia se virou para eles teve um clique na sua cabeça. Era a sua colega da faculdade. Aquela com quem partilhava o quarto, aquela com quem fazia os trabalhos, aquela com quem partilhou momentos felizes e outros nem tanto. 
- Noe!? 
- Eu não acredito! És mesmo tu!? - Noelia também estava surpreendia, tinha ficado a pensar se a Ania, namorada do seu irmão era a sua Ania. E agora tinha a confirmação: era mesmo a sua Ania. 
As duas foram na direcção uma da outra abraçando-se fortemente. 
- Ai! Eu não acredito que tu és irmã do Marcos!
- Eu às vezes também não acredito, mas sou - as duas desmancharam-se a rir, olhando uma para a outra. 
- Tinha tantas saudades tuas... - disse Ania. 
- E eu tuas pequi. Estás tão guapa! 
- Oh...olha quem fala - as duas voltaram a abraçar-se. 
Marcos estava surpreendido. A sua irmã e a sua namorada tinham sido colegas de faculdade e davam-se muito bem, pelo que percebia. 
- Sempre estás a ajudar os teus pais? - perguntou Noelia. 
- Sim...e tu continuas na faculdade não é?
- Sim. E...como é que está o resto? - Noelia sabia de tudo.
- Está tudo bem...agora está tudo bem, há muita coisa que aconteceu esta semana que envolve esse momento. 
- Tu sabes? - perguntou Marcos. 
- Sei? 
- Ele sabe - disse Ania esclarecendo Noelia. 
- Sim, sei Marcos...eu encontrei a Ania depois. Eu estava com ela. tínhamos ido sair as duas mais umas amigas. 
- Calma! A Ania é aquela rapariga? - perguntou Cari. 
- É melhor...esclarecer tudo. A Ania era a minha amiga da faculdade que naquela noite...vocês sabem - todos já sabiam daquela história...Ania sentia-se estranha, não sabia o que dizer ou o que fazer...Marcos simplesmente a amparou, beijando-lhe a testa. 
Cari pediu a Solange e a Micaela que fossem para o quarto e ficaram só os quatro na sala. Sentaram-se no sofá e Ania acabou por contar tudo o que tinha acontecido: o aborto e o descobrir quem tinha sido. 
- Que hijo da... - Noelia controlou-se antes de terminar a frase...Ania olhou-a e as duas gargalharam. 
- Bem...eu nem sei o que dizer - disse Cari. 
- Não tem de dizer nada, Cari...já passou e agora está a ficar tudo melhor aos pouquinhos. 
- Podes contar connosco para o que precisares. 
- Muchas gracias. 
- Querem comer alguma coisa? Um biscoito? - perguntou Cari. 
- Madre, gelado! - Noelia pediu e Cari foi até à cozinha. 
Os três ficaram ali na sala a falar sobre como é que ia a faculdade. Ania tinha saudades, mas ao mesmo tempo não queria voltar para lá tão depressa. Queria estar com o seu Marcos, aproveitar para o conhecer por completo e ser dele. 
Enquanto falavam com Noelia, Ania tinha a mão de Marcos nas suas costas...e algo nela desejava o corpo dele de uma maneira assustadora. Marcos sentia-a tensa, tentava acalmá-la com movimentos circulares nas costas, mas Ania sentia-se cada vez mais...com apetites. 
- Marcos pára quieto...estás a deixar-me com ganas de te saltar para cima! - Ania não se controlou e acabou por dizê lo em voz alta. Noelia desmanchou-se a rir e Marcos ficou boquiaberto com o que a sua namorada acabara de dizer, em plena sala com a sua irmã presente. 

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

15 - "Eu só me quero divertir"

- Como assim...sabes tudo? Lucas...o que é que estás a dizer?
- Sei que vais deixar de me ver como irmão, vais sair daqui a correr quando te contar, mas eu não aguento mais um dia a viver com isto. 
- Lucas...
- Naquela noite...naquela noite eu tinha ido à mesma discoteca que tu.

*Recordação ON - Lucas*
Lucas tinha tido um dia para esquecer. O trabalho estava a dar cabo dele, era imenso, era bom, mas chegava ao fim do dia cansado como se tivesse a correr uma maratona. As coisas com a mulher também não estavam bem...sempre foram um casal unido mas as coisas estavam diferentes desde que ela foi trabalhar para a sua área: moda. Lucas passou a ser mais ciumento e a ter menos a presença da sua mulher em casa. 
Naquele dia, decidiu ir dar uma volta com uns amigos. Foram até uma discoteca no centro de La Plata e beberam a noite toda. Dançaram com algumas raparigas, mas o forte daquela noite foi mesmo a bebida. Quando estavam a sair da discoteca, Lucas e os amigos vêm uma rapariga, na casa dos 20 anos, sozinha e é então que um dos amigos de Lucas o desafia: 
- Porque é que não vais meter-te com aquela? Esquecias um bocado a outra e sempre te divertias...
- Vai lá! - incentivou um outro amigo, empurrando Lucas. Os amigos dele foram embora e Lucas foi ter com a tal rapariga. Estava muito escuro no sitio onde estavam quase nem dava para ver a cara dela, mas sabia que ela estava a falar ao telemóvel.
- Desculpa? - disse ele, colocando a mão no ombro dela.
- Pode levar tudo! - a rapariga, pensado que era um assalto começou a entregar-lhe tudo o que tinha.
- Eu só me quero divertir - Lucas não pensou duas vezes, encostou a rapariga à parede e sem dó nem piedade fez dela o que quis. Teve o prazer que quis, sem pensar nas lágrimas que escorriam na cara da rapariga. Ela tentou afastá-lo, mas não o conseguiu fazer. Ele tinha demasiada força para que ela se conseguisse soltar. Quedou-se em silêncio, chorou, mordeu-o, mordeu-se mas ele conseguiu o que queria. 
Quando Lucas se sentiu satisfeito, simplesmente deixou a rapariga no chão, arrumando-se. Não queria saber quem ela era, sabia que o que tinha feito não era o correcto, mas que lhe tinha sabido muito bem, lá isso tinha. 
- Socorro! - a rapariga tinha tido a força de gritar, de pedir ajuda e naquele momento, ouvindo aquele sofrimento, ouvindo aquela voz, Lucas soube quem era a rapariga. Naquele momento soube que tinha violado a sua própria irmã.
Saiu dali a correr, sentia nojo de si próprio. Como é que iria viver com aquilo na consciência? 
*Recordação OFF*

Ania não conseguia acreditar naquilo que Lucas lhe acabara de contar. Reviveu cada momento como se estivesse a acontecer outra vez. Com um agravante...sabia a cara da pessoa que lhe tinha feito aquilo. 
- Nunca na vida me vais ver como irmão outra vez, mas eu tinha de o dizer.
- Mais valia não o teres feito - as lágrimas que Ania tinha a escorrerem-lhe pelas bochechas eram grossas, ela quase que tinha vontade de as arrancar com as mãos, por mais que ela chorasse tinha sempre vontade de chorar mais. 
Mas não o queria fazer em frente de Lucas. Saiu da cozinha a correr indo para a rua, correu, correu o mais que conseguiu, já tinha tirado os sapatos e só quando chegou à Catedral de La Plata é que parou. 

Marcos: 
Estava a falar com o Hugo quando a Ania saiu disparada de casa.
- Que é que se passou? - perguntou o Hugo, levantando-se. Ficámos todos alerta, levantei-me também, para segundos depois aparecer o Lucas. 
- Lucas, o que é que aconteceu com a tua irmã? - a Ortencia foi até junto do Lucas que chorava.
- Ela soube...ela soube que fui eu que a violei - é nestes momentos que não sabemos o que pensar. Só vêm palavras soltas e vontades de lhe partir aquela boca toda. O Martín foi mais rápido que eu...era o Martín que se dava melhor com a Ania e simplesmente deu um murro ao Lucas fazendo-o ir ao chão. 
- Como é que tens coragem de olhar para nós todos os dias? - o Martín estava completamente revoltado e deu mais um murro ao irmão. 
- Eu vou atrás da Ania - acabei por dizer. Era impossível ficar ali sem saber nada dela, sem saber onde é que ela estava, sem a conseguir confortar. 
- Eu vou contigo - prontificou-se o Hugo e saímos os dois de casa. Fomos no meu carro visto que o Hugo estava muito alterado para conduzir. Eu também o estava mas conseguia controlar-me para a procurar. 
O Hugo foi-me dizendo o sítios que a Ania costumava frequentar. Fomos a todos. Não falhamos um. E ela? Não estava em nenhum. Simplesmente tinha evaporado. 
- Onde é que ela poderá estar Marcos? - perguntou o Hugo, já desesperando completamente. 
- Eu não sei...já fomos a todos os sítios que me disse. E ela foi a pé é difícil que tenha ido muito longe. Mas...será que...
- O que? 
- Será que ela foi para a Catedral?
- A Catedral?
- Sim. Ela foi para lá! Venha - voltámos a entrar os dois no carro e tive de carregar no acelerador com mais força. Tínhamos de estar com ela o mais depressa possível.
Quando lá chegámos ela estava sentada no banco mesmo em frente da porta da Catedral. Como é que ela tinha andado até à Catedral a pé? São 20 minutos de carro desde casa dela e a Ania tinha vindo a pé.
- Vou lá - o Hugo saiu do carro indo directamente ter com ela. Eu fiquei...queria ver a reacção dela. Como esperava...afastou-se do pai. E o Hugo voltou para trás entrando no carro - tenta tu. 
Sinceramente, tenho medo que nem comigo ela consiga interagir. Sai do carro indo até junto dela. Não me sentei ao lado dela, apenas fiquei atrás dela, olhando a Catedral. 
- No que precisares estou aqui - o choro dela intensificou-se. Tinha vontade de a confortar, tinha vontade de a ter nos meus braços e garantir-lhe que ia ficar tudo bem. 
- Ele...era meu irmão Marcos...os irmão não fazem isto! - ela levantou-se, estava descalça e começou a caminhar. Eu ia mantendo uma distância entre mim e ela.
- Podes falar tudo o que quiseres agora... 
- Eu nem sei o que dizer...isto é tudo tão horrível  Eu tenho tanto nojo dele! Ele por mim podia morrer que eu iria ficar feliz por aquele monte de merda ter desaparecido da minha vida! - ela virou-se para mim...por causa da maquilhagem estava toda esborratada - Marcos, eu quero que o Lucas morra! Eu quero que ele desapareça da minha vida. Será que ele o fez a mais alguém!? Que nojo! Eu tenho nojo dele! Eu estive grávida dele! - ela sentou-se no chão, chorando ainda mais. Aquele sofrimento estava a dar comigo em doido! 
Ajoelhei-me junto dela que, automaticamente, se deixou cair no meu peito, agarrou-me com força continuando a chorar. 
- Eu estou aqui Cinderela. Tu agora tens de seguir com a tua vida...tens de o esquecer e contar com aqueles que te querem ajudar. 
- Marcos... - ela olhou para mim - ainda não parei de chorar porque...aquele nojo voltou...conhecer a cara da pessoa que me violou é horrível mas saber que foi ele...a pessoa que me viu crescer! Aquele a quem chamava de irmão! Mas eu estou feliz! 
- Como é que podes estar feliz? Vê-se tão bem que estás a sofrer Ania. Não me tentes esconder isso. 
- Sim, eu estou, não te vou esconder nada. Esse sofrimento é o de saber a verdade...mas essa verdade fez-me ter a certeza de tanta coisa. Marcos, eu quero ser feliz! Eu acho que mereço...nem que seja pouquinha felicidade, mas mereço-a. Não quero ir a psicólogo nenhum...
- Não...isso tens de ir.
- Não Marcos! Eu não quero...eu sei que posso falar disto com aqueles que se preocupam, sei que posso falar comigo...porque eu voltei a encontrar-me. Estou ali sentada à quase 25 minutos...passa-me o Lucas pela cabeça, mas eu encontrei-me ali. Eu só quero tomar um banho...ficar com o meu cheiro normal, ter o teu pertinho de mim e esquecer-me de tudo o resto. Marcos, se eu te estiver a pressionar tens de mo dizer, mas eu só quero ficar agarrada a ti, ganhar o teu cheiro e ser tua namorada até que te fartes de mim. 
- Eu não sei se acredito no que estás a dizer. Por muito que queira que seja verdade, o que tu acabaste de descobrir é horrível e eu não quero que te refugies em mim e depois quebres a qualquer momento - tinha de ser sincero com ela. Ela precisava daquele abanão. 
- Eu estou a ser sincera Marcos. Eu quero ser tua para todo o sempre, eu amo-te como nunca amei um rapaz, tinha medo mesmo de me estar a refugiar em ti, mas eu sei que não. Eu sei que esta necessidade de estar contigo, de te beijar, de te abraçar...esta necessidade existe porque eu te amo, porque eu quero ficar contigo independentemente de tudo. Yo te amo! 
Se ainda à pouco não sabia o que pensar por motivos completamente horríveis  neste momento não sei o que pensar por a Ania se estar a declarar a mim. Sorri, sei que fiz isso porque aquilo que ela dizia fazia-me sorrir. Ela esperava uma resposta minha...ou um "Eu também te amo" ou um "Tens de te ir tratar". Eu sabia o que lhe responder...sempre soube.
Coloquei as minhas mãos na cara dela, limpando-a. Aquelas lágrimas teriam de secar, aquela maquilhagem esborratada dava-lhe um ar de menina...aquele ar pelo qual eu me apaixonei. 
- Yo te amo Cinderela! - beijei-a, sem medos, sem receio. Fi-lo e ela aceitou-o e correspondeu. 

Ania e Marcos beijavam-se mesmo em frente da porta da Catedral de La Plata e com Hugo a vê-los, mas mesmo isso não fez com que Marcos se apressa-se em terminar o momento. 
Terminou-o quando ele achou que tinha de ser e pediu a Ania que regressa-se com ele e com o seu pai para casa. Ania fê-lo, só porque Marcos lhe garantiu que Lucas não iria estar lá em casa. 
Foram para o carro e Hugo já estava no banco de trás, fazendo com Ania e Marcos fossem no banco da frente. 
- Papi...obrigada - Ania olhou para o pai e Hugo não sabia ao certo porque é que a filha lhe agradecia - obrigada por ter vindo com ele. 
- Não tens nada que agradecer filha - Hugo beijou a mão da filha e Marcos começou a conduzir. Ania aproximou-se de Marcos, roçando o nariz na bochecha do Marcos e aconchegou-se nele.


Cerca de vinte minutos depois estavam em casa, Hugo tinha ligado à mulher que lhe garantiu que Hugo já não estava lá em casa. 
Quando entraram em casa, ficaram todos a olhar para Ania, que lhes sorriu.
- Desculpem lá ter saído sem jantar...mas ainda vamos a tempo - disse Ania, fazendo com que a mãe, os seus dois irmãos e as suas cunhadas a abraçassem. 
Todos foram jantar e Francisco anunciou que Gloria estava grávida. Aquela noticia animou Ania que, apesar de já saber dessa notícia, sentiu-se melhor e mais feliz por ter ali todos da sua família. 
Depois de um jantar calmo e quentinho no que toca a encher o coração de Ania, todos foram para a sala. Ania estava sentada ao lado de Marcos, encostada no peito dele pensativa. Marcos deu-lhe um beijo na testa, despertando-a.


- Em que é que pensas?
- Que ainda não disse quem eras aos meus irmãos. 
- Disseste...
- Mas a esse não interessa e não lhe contei quem és a sério. 
- Como assim? 
Ania desencostou-se de Marcos e olhou para o pai. 
- Que se passa Ania? - perguntou Hugo. 
- Há uma coisa que tem de ser dita. 
- O que? - voltou a interrogar Hugo. 
- O Marcos é meu namorado. Pai, quer tu queiras quer não, é o que ele é. Hoje eu tenho essa certeza e eu sei que aceitas a minha felicidade. Por isso se eu sou feliz, tu aceitas o Marcos como meu namorado?
- Ania...eu é que tenho de fazer esse discurso - Marcos...que não sabia que Ania estava a pensar em apresentá-lo com namorado, decidiu tomar a iniciativa e ser ele a falar para a família da sua namorada.