quarta-feira, 16 de abril de 2014

25 - “A tua Cinderela fica…um mês?”

Marcos poderia esperar qualquer pessoa ali menos a que tinha na sua frente. Podia ter sido o presidente do clube a estar ali, o seu treinador, algum amigo…qualquer uma destas hipóteses era válida. Mas não...
Contrariamente ao esperado, a pessoa que tinha na sua frente era a única que ele não esperava ter…ter Ania na sua frente fez o seu mundo dar uma volta de 180º, fez com que o seu coração disparasse, fez com que o chão parecesse querer fugir…mas nada disso aconteceu. Não aconteceu nada porque ela estava ali e o abraçou, unindo os seus lábios com os dele…matando um pouco aquela saudade que os consumia.


- O que é que tu estás aqui a fazer? – Foi um beijo demorado, carregado de saudade e amor. Aquele amor que lhes é tão característico. Marcos encostou Ania à parede, fechando a porta.
- Olha as malas… - Ania riu-se, voltando a abrir a porta para colocar as duas malas que trazia, dentro de casa. Rodeou a cintura de Marcos com os seus braços, voltando a beijá-lo – Surpresa de namorada cheia de saudades…
- É surpresa mesmo…Ania, passou uma semana e já estás aqui…
- É assim tão mau? Está aqui alguma russa, é isso? – Ania começou a espreitar para dentro da casa, mas Marcos colocou as suas mãos no pescoço de Ania, fazendo com que os olhos de ambos ficassem num contacto permanente.
- Eu tinha tantas saudades tuas…
- Por eu ter mais saudades ainda é que aqui estou.
- Eu não estou a acreditar…eu vou puder adormecer mesmo contigo?
- Vais. Vais adormecer comigo, acordar comigo, almoçar comigo…fazer tudo comigo.
- Tudo…
- Tudo meu amor – Ania voltou a beijar Marcos, percorrendo as costas dele com as suas mãos.
- E como é que está tudo por lá?
- Tudo normal…a tua mãe está óptima, as meninas estão na escola. Tudo cheio de saudades tuas, mas…há mais surpresas Marcos.
- Elas também vieram?
- Não gordi…elas têm as coisas delas para fazer, mas em Março há duas semanas de férias e aí sim elas vêm. Aliás, todos. As meninas, a tua mãe, o Franco…e eu. É essa a surpresa…mas é só em Março…perto dos teus anos.
- Ai…mas eu tenho-te aqui – Marcos apertou Ania mais para junto de si, roçando com o seu nariz no dela.
- Tens…tens-me aqui só para ti durante…quanto tempo?
- Uma semana?
- Chega para ti?
- Chegar não…mas já era muito bom.
- A tua Cinderela fica…um mês?
- Um mês?! – Marcos estava estupefacto com o que Ania lhe acabara de dizer.
- É muito…? Se quiseres eu fico menos tempo.
- Não sejas parva! Não estava era nada à espera disso…
- Eu sei que está a ser difícil para ti esta semana e como este mês todo ficas por cá…a Ania fica contigo. Depois em Fevereiro tens o estágio, eu volto para La Plata e em Março estou cá de novo.
- Para ficar? – Marcos queria, imenso, que a sua Ania ficasse a viver com ele, ali em Moscovo.
- Não sei, não sei gordi…mas agora ficamos assim, está bem?
- E já é tão bom! – Marcos pegou em Ania ao colo, rodopiando com ela nos seus braços.

Depois de mostrar o apartamento a Ania e de ela comer um pequeno lanche com o seu namorado, os dois foram até ao quarto, onde Ania viu a vista que Marcos tinha daquele apartamento.
- Acho que é a segunda vez que vejo neve na minha vida – comentou ela, mirando o que estava do outro lado do vidro. O sol estava a pôr-se e estava a ganhar uma cor diferente.


Ania estava com imenso sono…a viagem tinha sido longa e a diferença horária estava a fazer-lhe confusão.
- Por aqui é só o que se vê – Marcos chegou perto dela, rodeando a cintura com os seus braços. Ania deixou a sua cabeça encostada em Marcos e sentiu o seu corpo relaxar.
- Estou com sono…
- Dorme, então, princesa.
- Ainda agora cheguei e já vou dormir?
- A viagem é longa, Ania…anda lá – Marcos começou a andar com Ania nos seus braços, até que chegou à cama. Ania deitou-se e Marcos fez o mesmo, ficando bem agarradinho a ela – dorme o tempo que precisares.
- Acorda-me à tua hora de jantar…tenho de ficar com as horas de cá – Ania colocou a sua mão por dentro da camisola de Marcos, encostando completamente o seu corpo no dele.
- És a melhor namorada do mundo…e estares aqui…é um sonho.
- Não, não é Marcos…estamos os dois acordados e nenhum está a sonhar – Ania deu-lhe um beijo para, de seguida, esconder a sua cara no peito do namorado e adormecer.
Marcos, durante a pequena hora que Ania dormiu, andou a trocar o olhar entre ela e a televisão. Quando a fome começou a apertar, decidiu acordar a sua namorada (tal como ela tinha pedido). Ele não o queria fazer…mas era melhor ela habituar-se ao horário novo.
Colocou a sua mão dentro da camisola de Ania, começando a roçar o seu nariz no dela.
- Marcos…deixa-me dormir mais um bocadinho – Ania colocou a sua mão em cima da cara de Marcos, afastando-a um pouco.
- Cinderela…já é hora de jantar.
- Mesmo assim, só mais uns minutinhos – Ania colocou a sua perna por cima da de Marcos, aninhando-se nele.
- Minha bebé… - Marcos começou a percorrer as costas da namorada – vá…Ania, temos de falar.
- E não podemos falar depois?
- Não – Marcos queria parecer que o assunto era importante, mas acabou por se rir – até podíamos…mas depois já é tarde.
- Tarde?
- Sim…bom, há um argentino do clube. É o Nico…Nico Pareja.
- Desconheço, Marcos.
- Eu também desconhecia…ele tem sido o meu grande amigo por aqui…e ele é casado.
- Sim…
- Bom e ele tem uma filha, a Salomé.
- Que nome bonito!
- É…e ela é linda. Bom e eles andam a precisar de estar os dois…e eu não pensava que tu ias estar aqui hoje…a Salomé vem cá para casa, dentro de 40 minutos.
- Marcos…tu ias tomar conta da menina sozinho?
- Ia…
- Esse Nico não deve mesmo saber quem tu és…
- Ania!
- Nunca te vi com uma criança…a Salomé tem que idade?
- 14 Meses.
- Vamos ser babysitters hoje – Ania adorava crianças. A pureza com que eles olham as pessoas, o carinho que lhes dão sem ser preciso um abraço, a inocência que têm, a protecção que precisam…Ania queria muito ser mãe, pelo menos antes de tudo ter acontecido.
- Que brilho é esse?
- Qual brilho?
- Nesses olhos…
- Não sei, será que é dos ares de Moscovo? – Ania decidiu brincar com a situação, sabia que Marcos iria falar das crianças.
- Olha…não é dos ares não. É mesmo das crianças.
- Isso não é assunto para agora.
- Porque?
- Porque…nunca mais falei sobre isso.
- Filhos?
- Sim…depois de tudo, nunca mais pensei como pensava – Marcos olhava para Ania, esperando a continuação do raciocínio da namorada. Mas parecia que não iria sair nada daquela boca.
- E…como é que pensavas?
- Que, quando tivesse a certeza de que tinha um homem a sério, ia começar a pensar em filhos…sempre quis ser mãe, mas não sei se agora quero, entendes?
- Mas por causa do que aconteceu?
- Não…porque nunca mais pensei nisso…
- Eu quero ser pai. Uma menina e um menino para começar.
- A sério…?
- Sim, mas queria ter quatro filhos. Com a vida que tenho é complicado…mas adorava que assim fosse. Casa cheia, filhos únicos não.
- Acho que é por termos muitos irmãos…sempre pensei em ter mais do que um, também…
- Ania…posso ser o pai dos teus filhos? – Marcos estava a ter a conversa que sempre quis ter com Ania. O sonho dele é constituir família, ter filhos a quem passar os seus valores, casar com a mãe deles…e viver a maior felicidade que conseguir.
Ele tem Ania, a única rapariga que é capaz de o fazer sentir assim: ser capaz de ter uma família, de ser feliz e viver essa felicidade com ela.
- Podes…mas não agora, sim? A Salomé deve estar a chegar e… - Marcos não deixou que Ania acabasse o seu raciocínio e beijou-a. Tinha a certeza que ela tinha respondido conforme aquilo que lhe passava pela cabeça e pelo coração. Marcos sabia que ela tinha respondido de impulso…mas quando Ania pensa e responde assim é quando tudo faz mais sentido.
- Quero duas meninas e dois meninos, a primeira podia ser uma meninas…assim tinha só princesas em casa.
- Acalma lá os cavalos, Marcos Rojo, que eu não vou ser mãe nos próximos meses!
- Sim…não convém porque eu quero acompanhar a gravidez toda, o parto e nos próximos meses é complicado…mas olha quando vieres viver para cá…podíamos começar a treinar…a testar o produto… - Marcos começou a percorrer as costas de Ania com a sua mão e ela desmanchou-se a rir.
- Acho que, quando eu engravidar, vais dar em louco Marcos.
- Não…vou ser ainda mais apaixonado por ti – Marcos envolveu-se num beijo carregado de amor e, ainda, saudade, parando só quando já sentia alguma falta de ar – e que nomes vamos dar aos nossos filhos?
- Marcos…eu sei lá.
- Podemos fazer uma aposta?
- Apostas? Sobre o nome dos nossos filhos?
- Sim…
- Eu vou arrepender-me disto…mas sim, podemos.
- Se o primeiro for uma meninas, sou eu que escolho.
- Se for menino escolho eu?
- Sim.
- Feito – os dois apertaram a mão um do outro e Ania perdeu-se nos olhos do namorado.
Via que ele estava cansado, um pouco abatido mas, sobre tudo isso, via uma felicidade enorme, um brilho naqueles olhos que nem sabia descrever. Apenas o abraçou, até que a campainha tocou.
- São eles! Anda – os dois levantaram-se, Ania ajeitou o cabelo e a roupa e foram até à porta. Marcos abriu-a e, do outro lado, estava um rapaz de cabelo moreno, uma rapariga muito bonita e um carrinho de bebé.
- Boas noites – Marcos cumprimentou-os aos dois, apresentando Ania – é a Ania, a minha namorada. Ania é o Nico e a Lola, os pais da Salomé.
- Encantada – Ania cumprimentou os dois e voltou a ficar ao lado de Marcos.
- Tiveste surpresa da namorada tu… - comentou Nico – e agora ficam com a menina…nem pensar.
- Não, não, a Salomé fica – disse logo Ania, com um sorriso contagiante.
- Mas, não queremos atrapalhar – Lola falou com uma voz completamente doce.
- Não atrapalham em nada…ele quer ser pai, nada melhor do que isto para começar a treinar – o riso foi geral e acabaram por receber algumas indicações sobre o que fazer.
Depois de Nico e Lola saírem, Ania foi aquecer o biberão para Salomé. Já estava na hora de o tomar e assim não iria ter uma bebé rabugenta. Depois de aquecer o leite para a menina, voltou à sala onde estava Marcos com Salomé.
- Mas o que é que tu estás a fazer!?

domingo, 6 de abril de 2014

24 - “Desistir de ti seria estar a desistir da minha própria vida.”

- Fui eu que convidei o Lucas, papiHugo olhou para Ania e o espanto no seu semblante era bastante visível. Ania sabia que o seu pai não estaria à espera daquela afirmação da própria filha…não depois de tudo o que se passou.
- Que é que estás para aí a dizer?
- Sim…o Lucas precisa da nossa ajuda. Somos a sua família, apesar de tudo…somos família, pai. Sempre me ensinou que devemos ficar os seis juntos em qualquer que seja a circunstância – Ania aproximou-se do pai e do irmão. Mantinha, junto a si, a moldura com a fotografia que tinha acabado de mostrar à sua mãe. Ania recordava-se de quando era pequena…daquilo que o seu pai lhe dizia – o pai sempre quis que nos aceitássemos uns aos outros como somos. Sempre quis que eu e os manos fossemos mais que irmãos, sempre quis que fossemos amigos. Eu tenho uma ligação especial com cada um deles…ser a única rapariga entre eles é complicado…mas com aquilo que nos dizia sempre, eu amo cada um deles à sua maneira.
- Como é que tu…consegues estar assim? Depois de tudo o que ele te fez, Ania… - Hugo estava visivelmente atordoado, sem saber como é que a sua filha estava a falar daquela maneira.
- Pai…eu estou em terapia à três meses, tem sido tão bom que nem eu lhe sei explicar. A ideia da Ania coitadinha que foi violada pelo irmão, já não vive comigo. Nem devia viver com nenhum de vocês – Ania olhou para os seus pais e para Lucas – ele destruiu a Ania que existia…mas fez com que a Ania de hoje nascesse. Eu sinto-me tão feliz…como nunca antes tinha estado. É claro que não esqueço…não consigo esquecer aquela noite, aqueles toques, os cheiros…mas passei a dar mais importância ao que tenho de bom. À minha relação com o Marcos, ao facto de discutir menos com os meus pais… - Hugo e Ortencia riram-se, Ania discutia algumas vezes com os pais por divergências de opiniões, mas já há imenso tempo que não o fazem – Eu sou feliz…e deveríamos todos ser. O Lucas está a separar-se da mulher…ele precisa de nós, de um sítio para ficar. Vocês são pais dele, ele foi o vosso primeiro filho…duvido que lhe neguem ajuda.
Ortencia olhou a filha e foi inevitável não deixar uma lágrima escorrer-lhe pela face. O discurso de Ania tinha mexido em imensa coisa…era o recordar, para todos, do mês que se seguiu à violação, era mexer em memórias que se tentavam apagar, era mexer nas memórias dos tempos em que os quatro irmãos eram pequenos.
Já Hugo…Hugo permanecia estático, imóvel, parecia ter congelado no sítio onde estava. Mas aquilo que a filha lhe tinha acabado de dizer tinha mexido com o seu ponto fraco: os filhos. Para Hugo, qualquer um dos quatro, é o motivo porque se mantém vivo. Foram os seus quatro filhos que lhe deram toda a felicidade que Hugo pensava ter.
- Parece que foi ontem que nasceste…mas já passaram 20 anos…
- Pai, eu ainda tenho 19…sempre a acrescentar mais um!
- Estás quase nos 20, Ania.
- Só os faço em Junho do próximo ano, pai!
- Adiante! De facto, tu cresceste…sobretudo nestes últimos tempos. Cada dia que passa, tanto eu como a vossa mãe temos certezas que vos educámos da melhor maneira possível. Vocês cometem erros – Hugo olhou nos olhos de Lucas, que olhava o pai, para de seguida olhar para Ania – mas vocês sabem resolvê-los sozinhos. São três homens e uma mulher que…me enchem de orgulho – Hugo voltou a olhar para Lucas, aproximando-se um pouco dele – eu não sei como é que a Ania continua aqui ao pé de nós…naqueles tempos, eu pensei que fosse perder a minha única filha. Mas ela está aqui…graças a todo o esforço que ela sozinha fez. Ela passou horas, horas, a chorar, a esconder-se de tudo e todos. Mas ela sobreviveu, eu vejo a felicidade dela todos os dias naquele rosto. Eu ajudo-te no que precisares…mas tens de me dar mais tempo a mim para te olhar sem me lembrar que quase mataste a minha filha – Lucas conseguia ver nos olhos do seu pai que a raiva era muita…mas teria de aproveitar aquela oportunidade que lhe estavam a dar…e iria faze-lo da melhor maneira.
- Sei que pedir desculpa nunca irá resolver nada…eu falei com a Ania à tarde e percebi que ela estava totalmente diferente. Ela deixou de ser aquela princesinha frágil que nós tínhamos cá em casa…ela passou a ser a rainha da sua própria vida. Não há desculpa possível para aquilo que eu fiz..nem perdão.
- Lucas…um dia tudo voltará ao normal – Ania falou, agarrando na mão do irmão – o Lucas só precisa de um teto…de um lugar para viver. E esta será sempre a nossa casa…nós os quatro sabemos que poderemos voltar para aqui quando precisarmos.
- Claro que podem – desta vez foi Ortencia quem falou – podem e devem! Esta será sempre a vossa casa, independentemente de tudo – Ortencia beijou a face dos seus dois filhos – vamos jantar? – Perguntou, olhando para o marido.
- Claro… - Hugo respondeu, fechou a porta que ainda mantinha aberta, e os quatro dirigiram-se para a sala de refeições para jantarem.

O fim do ano tinha chegado mais depressa do que qualquer um pudesse esperar. Marcos e Ania tinham ido viver juntos no inicio de mês de Dezembro: um apartamento era o que tinham escolhido. Ficava situado a meia distância entre as casas dos seus pais e a pouco mais de 15 minutos do centro de treinos do Estudiantes. Como era uma situação temporária…chegava.
A ida de Marcos para Moscovo aproximava-se a olhos visto. Tinha de estar na capital russa a 6 de Janeiro, seria a última semana no seu país, na sua cidade, em sua casa. Seria a última semana com a sua família, com a sua Ania.
A passagem de ano, essa seria para aproveitar! Para se divertirem, para esquecerem que dia 4 Marcos embarcaria para Moscovo. Tinham organizado tudo em casa da família de Marcos. Carina tinha insistido, todos concordaram e todos estavam presentes.
- Ania!? – Todos estavam no exterior da casa, excepto Micaela que agora chamava a cunhada.
Ania saiu do colo de Marcos, dando-lhe um beijo nos lábios, e foi ter com Micaela ao interior da casa.
- Que pasa, guapa?
- É só que…preciso de conselhos de alguém que não seja meu irmão.
- Tens aqui a tua cunhada…em que te posso ajudar? – as duas sentaram-se no sofá da sala, lado a lado.
- É que…eu gosto de um rapaz…
- Ui! Namorado?
- Não! Ele nem sabe que eu existo…
- Então Mica?
- Ele é da escola…é super giro e eu descobri agora o facebook dele.
- Sim…
- A Noe e a Sol disseram para eu falar com ele primeiro na escola…e o Marcos, o Marcos disse para eu me atirar a ele de qualquer maneira.
- O teu irmão…oh minha nossa.
- Ainda bem que o levaste daqui!
- Mica…
- É verdade, ele é um chato e dar conselhos não sabe…só os sabe pedir.
- Vocês amam-se um ao outro. Isso sim!
- Adelante…o que é que eu faço?
- Mica, olha eu sempre preferi as coisas cara-a-cara…mas a partir da semana que vem vou ter de me orientar com todas as redes sociais e tecnologias por causa do teu irmão – Marcos e Ania já tinham decidido criar contas em tudo o que é redes sociais (facebook, twitter, instagram e skype) para conseguirem falar sempre um com o outros – porque não começares 2011 com os primeiros contactos?
- Estás a dizer para eu avançar com conversas no facebook?
- Sim…
- Obrigada Ania! – Micaela abraçou a cunhada e as duas regressaram ao exterior da casa.
Ania voltou para o colo do seu namorado, ficando a olhar para ele.
- A minha irmã já te chateou tudo o que queria chatear?
- Faustino! – Ania falou num tom que só ele ouviu e Marcos sorriu.
- Muito gostas tu de me chamar Faustino quando digo mentiras, não é?
- Vês como tu sabes, amor?
- O que é que eu vou fazer sem ti…lá?
- Brincar sozinho com a mão.
- Joder!Marcos elevou um pouco a voz, fazendo com que a sua mãe e a mãe de Ania olhassem para eles. As duas senhoras riram-se e depois voltaram a conversar – eu estava a falar a sério, Ania…
- E eu também…ai de ti que brinques com alguma russa de lá!
- Então é isso…
- Isso o que?
- Estás a conservar o teu namorado… - Marcos rodeou a cintura de Ania com os seus braços, beijando-lhe o beijo descoberto graças ao decote do seu ousado vestido branco.


- Marcos…olha o meu pai!
- Ele está ali longe…
- Mas as nossas mães estão aqui perto – Ania agarrou na cara de Marcos, fazendo-o olhar para ela – quando chegarmos à nossa casinha, a tua rainha será só tua.
- É?
- Sou…eu serei sempre tua, só tua e de mais ninguém.
- Podemos ir já para casa?
- Oh seu tarado! Ainda falta uma hora para a meia-noite e não podes ir logo embora.
- Pronto…ganhaste – Marcos não argumentou mais, deixou a sua cabeça cair sobre o peito de Ania e puxá-la mais para sim – mas quem te mandou vir com esse vestido?
- Foste tu que o escolheste, por isso callate! – Ania meteu a sua mão por dentro da camisola de Marcos e os dois ficaram ali a conversar com todos.
A passagem do ano velho para o ano novo foi repleta de tudo o que já era habitual naquelas duas (quase uma) famílias. Amor, carinho, amizade, juras de amor e saúde.

O pior dia do ano que ainda agora começava tinha chegado. O dia das despedidas. O dia do embarque. O dia do até já. Ninguém iria dizer adeus…seria só um até já.
Ania e Marcos tinham passado a noite juntos, entregaram-se um ao outro como nunca antes tinham feito. Não dormiram…tiveram de aproveitar todos os segundos da última noite juntos: a falar, a tocarem-se, a beijarem-se. Tinham de aproveitar apenas isso.
A manhã parecia apenas mais uma: levantaram-se, tomaram o pequeno-almoço e despacharam-se, não para ir trabalhar, mas para o até já.
- Cinderela? – Marcos estava no quarto e chamava Ania que estava na sala. A rapariga, ao ouvir o seu namorado chamá-la foi ter com ele.
- Diz, meu príncipe?
- Senta-te aqui – Marcos sentou-se no fundo da cama, colocando a mão sobre a cama do seu lado. Ania sentou-se ao lado de Marcos, que lhe agarrou a mão direita – queria falar contigo…antes de irmos para o aeroporto.
- Marcos…é mesmo necessário?
- É…
- Mas porque?
- Porque eu preciso. Preciso mesmo…
- Então, começa.
- Estes tempos que vamos ficar…longe não vão mudar nada, pois não?
- Não Marcos…nada vai mudar.
- Não vais desistir de nós, pois não?
- Ei… - Ania colocou as suas mãos nas bochechas de Marcos – desistir de ti seria estar a desistir da minha própria vida. Tu és aquela metade que eu procurava, és o amor da minha vida…e não são quilómetros e quilómetros de distância que vão separar os nossos corações. Lembra-te: eu sou tu, serei sempre tua, para o resto das nossas vidas.
- Eu amo-te tanto!
- E eu amo-te ainda mais.

- Vais ter comigo?
- Vou…quando puder, eu vou Marcos.
- És a mulher da minha vida, sabes disso?
- Vou sabendo…a cada dia, a cada noite que passo do teu lado.

- Como é que eu vou adormecer sem ti? – Marcos foi o primeiro a derramar lágrimas…não tardou para que estivessem os dois envoltos num sufocante e descontrolado choro.
- Não vais ter de adormecer sem mim… - Ania olhou nos olhos de Marcos – lá são mais sete horas…quando tu estiveres para ir dormir cá é de tarde, mas ligas-me e eu fico contigo até adormeceres.
- Fazias isso?
- Faço. Faço e vamos fazer isso, sim?
- Sim… - os dois trocaram um intenso e apaixonado beijo enquanto as lágrimas lhes continuavam a cair pelo rosto.

No aeroporto…houve mais do mesmo. A família de Marcos despedia-se dele, era difícil para todos, custava imenso. Marcos deixou Ania para último.
- Olha por elas… - pediu Marcos.
- Não te preocupes com nada…elas ficam bem e não tarda nada estamos todos juntos outra vez – Marcos retirou um dos brincos que tinha postos colocando-o na mão de Ania.
- Fica com este…e depois entregas-mo.
- Vou usá-lo…todos os dias.
- Te amo, tanto mi amor!
- Y yo te amo a ti! – os dois trocaram mais um beijo super apaixonado e novamente choraram.
O até já foi dito…ninguém disse adeus. Era apenas um até já.

Em casa, Ania não conseguia parar de chorar…e só de olhar para a última fotografia deles isso ainda era pior. Tinha-a colocado nas redes sociais…era a primeira e aquela que mais significava.

Agora...agora é que se percebe o que e o amor. Eres mi vida!
Chorou, chorou toda a noite…e nos seus sonhos…nos seus sonhos apareceu Marcos.

1 Semana depois:

Marcos sozinho em Moscovo, sem conhecer quase ninguém estava a ser horrível. Era mais um dia em que chegava a casa e a vontade de chorar estava lá. Todos os dias chorava…de saudade, de tristeza. Mas quando entrava em contacto com as suas irmãs, a mãe…e Ania, tudo mudava. Elas davam-lhe a coragem para todos os dias lutar para se integrar no grupo.
Ia pegar no computador para ver se encontrava alguém de La Plata online, quando a campainha tocou. Só poderia ser alguém do clube eram as únicas pessoas que ele conhecia ali.
Apressou-se a abrir a porta deparando-se com a silhueta que lhe era familiar. Já começava a conhecer pessoas em Moscovo, mas aquela que tinha na sua frente era, sem dúvida, a pessoa com quem ele se consegue relacionar mais.
- Aqui…? Tu?