- Fui eu que
convidei o Lucas, papi – Hugo olhou para
Ania e o espanto no seu semblante era bastante visível. Ania sabia que o seu
pai não estaria à espera daquela afirmação da própria filha…não depois de tudo
o que se passou.
- Que é que
estás para aí a dizer?
- Sim…o Lucas
precisa da nossa ajuda. Somos a sua família, apesar de tudo…somos família, pai.
Sempre me ensinou que devemos ficar os seis juntos em qualquer que seja a circunstância
– Ania
aproximou-se do pai e do irmão. Mantinha, junto a si, a moldura com a
fotografia que tinha acabado de mostrar à sua mãe. Ania recordava-se de quando
era pequena…daquilo que o seu pai lhe dizia – o pai sempre quis que nos aceitássemos uns aos outros como somos.
Sempre quis que eu e os manos fossemos mais que irmãos, sempre quis que
fossemos amigos. Eu tenho uma ligação especial com cada um deles…ser a única
rapariga entre eles é complicado…mas com aquilo que nos dizia sempre, eu amo
cada um deles à sua maneira.
- Como é que tu…consegues
estar assim? Depois de tudo o que ele te fez, Ania… - Hugo estava
visivelmente atordoado, sem saber como é que a sua filha estava a falar daquela
maneira.
- Pai…eu estou
em terapia à três meses, tem sido tão bom que nem eu lhe sei explicar. A ideia
da Ania coitadinha que foi violada pelo irmão, já não vive comigo. Nem devia
viver com nenhum de vocês – Ania olhou para os seus pais e para
Lucas – ele destruiu a Ania que existia…mas
fez com que a Ania de hoje nascesse. Eu sinto-me tão feliz…como nunca antes
tinha estado. É claro que não esqueço…não consigo esquecer aquela noite,
aqueles toques, os cheiros…mas passei a dar mais importância ao que tenho de
bom. À minha relação com o Marcos, ao facto de discutir menos com os meus pais…
- Hugo e Ortencia riram-se, Ania discutia algumas vezes com os pais por divergências
de opiniões, mas já há imenso tempo que não o fazem – Eu sou feliz…e deveríamos todos ser. O Lucas está a separar-se da
mulher…ele precisa de nós, de um sítio para ficar. Vocês são pais dele, ele foi
o vosso primeiro filho…duvido que lhe neguem ajuda.
Ortencia
olhou a filha e foi inevitável não deixar uma lágrima escorrer-lhe pela face. O
discurso de Ania tinha mexido em imensa coisa…era o recordar, para todos, do mês
que se seguiu à violação, era mexer em memórias que se tentavam apagar, era
mexer nas memórias dos tempos em que os quatro irmãos eram pequenos.
Já
Hugo…Hugo permanecia estático, imóvel, parecia ter congelado no sítio onde
estava. Mas aquilo que a filha lhe tinha acabado de dizer tinha mexido com o
seu ponto fraco: os filhos. Para Hugo, qualquer um dos quatro, é o motivo
porque se mantém vivo. Foram os seus quatro filhos que lhe deram toda a
felicidade que Hugo pensava ter.
- Parece que foi
ontem que nasceste…mas já passaram 20 anos…
- Pai, eu ainda
tenho 19…sempre a acrescentar mais um!
- Estás quase
nos 20, Ania.
- Só os faço em
Junho do próximo ano, pai!
- Adiante! De
facto, tu cresceste…sobretudo nestes últimos tempos. Cada dia que passa, tanto
eu como a vossa mãe temos certezas que vos educámos da melhor maneira possível.
Vocês cometem erros – Hugo olhou nos olhos de Lucas, que olhava o pai,
para de seguida olhar para Ania – mas vocês
sabem resolvê-los sozinhos. São três homens e uma mulher que…me enchem de
orgulho – Hugo voltou a olhar para Lucas, aproximando-se um pouco dele – eu não sei como é que a Ania continua
aqui ao pé de nós…naqueles tempos, eu pensei que fosse perder a minha única
filha. Mas ela está aqui…graças a todo o esforço que ela sozinha fez. Ela
passou horas, horas, a chorar, a esconder-se de tudo e todos. Mas ela
sobreviveu, eu vejo a felicidade dela todos os dias naquele rosto. Eu ajudo-te
no que precisares…mas tens de me dar mais tempo a mim para te olhar sem me
lembrar que quase mataste a minha filha – Lucas conseguia ver nos olhos do
seu pai que a raiva era muita…mas teria de aproveitar aquela oportunidade que
lhe estavam a dar…e iria faze-lo da melhor maneira.
- Sei que pedir
desculpa nunca irá resolver nada…eu falei com a Ania à tarde e percebi que ela
estava totalmente diferente. Ela deixou de ser aquela princesinha frágil que
nós tínhamos cá em casa…ela passou a ser a rainha da sua própria vida. Não há
desculpa possível para aquilo que eu fiz..nem perdão.
- Lucas…um dia
tudo voltará ao normal – Ania falou, agarrando na mão do irmão – o Lucas só precisa de um teto…de um lugar
para viver. E esta será sempre a nossa casa…nós os quatro sabemos que poderemos
voltar para aqui quando precisarmos.
- Claro que
podem – desta
vez foi Ortencia quem falou – podem e
devem! Esta será sempre a vossa casa, independentemente de tudo – Ortencia beijou
a face dos seus dois filhos – vamos jantar?
– Perguntou, olhando para o marido.
- Claro… - Hugo respondeu,
fechou a porta que ainda mantinha aberta, e os quatro dirigiram-se para a sala
de refeições para jantarem.
O
fim do ano tinha chegado mais depressa do que qualquer um pudesse esperar.
Marcos e Ania tinham ido viver juntos no inicio de mês de Dezembro: um
apartamento era o que tinham escolhido. Ficava situado a meia distância entre
as casas dos seus pais e a pouco mais de 15 minutos do centro de treinos do
Estudiantes. Como era uma situação temporária…chegava.
A
ida de Marcos para Moscovo aproximava-se a olhos visto. Tinha de estar na
capital russa a 6 de Janeiro, seria a última semana no seu país, na sua cidade,
em sua casa. Seria a última semana com a sua família, com a sua Ania.
A
passagem de ano, essa seria para aproveitar! Para se divertirem, para
esquecerem que dia 4 Marcos embarcaria para Moscovo. Tinham organizado tudo em
casa da família de Marcos. Carina tinha insistido, todos concordaram e todos
estavam presentes.
- Ania!? – Todos estavam no
exterior da casa, excepto Micaela que agora chamava a cunhada.
Ania
saiu do colo de Marcos, dando-lhe um beijo nos lábios, e foi ter com Micaela ao
interior da casa.
- Que pasa, guapa?
- É só que…preciso
de conselhos de alguém que não seja meu irmão.
- Tens aqui a
tua cunhada…em que te posso ajudar? – as duas sentaram-se no sofá da sala,
lado a lado.
- É que…eu gosto
de um rapaz…
- Ui! Namorado?
- Não! Ele nem
sabe que eu existo…
- Então Mica?
- Ele é da
escola…é super giro e eu descobri agora o facebook dele.
- Sim…
- A Noe e a Sol
disseram para eu falar com ele primeiro na escola…e o Marcos, o Marcos disse
para eu me atirar a ele de qualquer maneira.
- O teu irmão…oh
minha nossa.
- Ainda bem que
o levaste daqui!
- Mica…
- É verdade, ele
é um chato e dar conselhos não sabe…só os sabe pedir.
- Vocês amam-se
um ao outro. Isso sim!
- Adelante…o
que é que eu faço?
- Mica, olha eu
sempre preferi as coisas cara-a-cara…mas a partir da semana que vem vou ter de
me orientar com todas as redes sociais e tecnologias por causa do teu irmão – Marcos e Ania já
tinham decidido criar contas em tudo o que é redes sociais (facebook, twitter,
instagram e skype) para conseguirem falar sempre um com o outros – porque não começares 2011 com os
primeiros contactos?
- Estás a dizer
para eu avançar com conversas no facebook?
- Sim…
- Obrigada Ania!
– Micaela
abraçou a cunhada e as duas regressaram ao exterior da casa.
Ania
voltou para o colo do seu namorado, ficando a olhar para ele.
- A minha irmã já
te chateou tudo o que queria chatear?
- Faustino! – Ania falou num
tom que só ele ouviu e Marcos sorriu.
- Muito gostas
tu de me chamar Faustino quando digo mentiras, não é?
- Vês como tu
sabes, amor?
- O que é que eu
vou fazer sem ti…lá?
- Brincar
sozinho com a mão.
- Joder! – Marcos elevou um
pouco a voz, fazendo com que a sua mãe e a mãe de Ania olhassem para eles. As
duas senhoras riram-se e depois voltaram a conversar – eu estava a falar a sério, Ania…
- E eu também…ai
de ti que brinques com alguma russa de lá!
- Então é isso…
- Isso o que?
- Estás a conservar o teu namorado… - Marcos rodeou a cintura
de Ania com os seus braços, beijando-lhe o beijo descoberto graças ao decote do
seu ousado vestido branco.
- Marcos…olha o
meu pai!
- Ele está ali
longe…
- Mas as nossas
mães estão aqui perto – Ania agarrou na cara de Marcos, fazendo-o olhar para
ela – quando chegarmos à nossa casinha,
a tua rainha será só tua.
- É?
- Sou…eu serei
sempre tua, só tua e de mais ninguém.
- Podemos ir já
para casa?
- Oh seu tarado!
Ainda falta uma hora para a meia-noite e não podes ir logo embora.
- Pronto…ganhaste
– Marcos
não argumentou mais, deixou a sua cabeça cair sobre o peito de Ania e puxá-la
mais para sim – mas quem te mandou vir
com esse vestido?
- Foste tu que o
escolheste, por isso callate! – Ania meteu a sua mão por dentro da
camisola de Marcos e os dois ficaram ali a conversar com todos.
A
passagem do ano velho para o ano novo foi repleta de tudo o que já era habitual
naquelas duas (quase uma) famílias. Amor, carinho, amizade, juras de amor e
saúde.
O
pior dia do ano que ainda agora começava tinha chegado. O dia das despedidas. O
dia do embarque. O dia do até já. Ninguém iria dizer adeus…seria só um até já.
Ania
e Marcos tinham passado a noite juntos, entregaram-se um ao outro como nunca
antes tinham feito. Não dormiram…tiveram de aproveitar todos os segundos da
última noite juntos: a falar, a tocarem-se, a beijarem-se. Tinham de aproveitar
apenas isso.
A
manhã parecia apenas mais uma: levantaram-se, tomaram o pequeno-almoço e
despacharam-se, não para ir trabalhar, mas para o até já.
- Cinderela? – Marcos estava no
quarto e chamava Ania que estava na sala. A rapariga, ao ouvir o seu namorado
chamá-la foi ter com ele.
- Diz, meu príncipe?
- Senta-te aqui –
Marcos
sentou-se no fundo da cama, colocando a mão sobre a cama do seu lado. Ania
sentou-se ao lado de Marcos, que lhe agarrou a mão direita – queria falar contigo…antes de irmos para o aeroporto.
- Marcos…é mesmo
necessário?
- É…
- Mas porque?
- Porque eu
preciso. Preciso mesmo…
- Então, começa.
- Estes tempos
que vamos ficar…longe não vão mudar nada, pois não?
- Não Marcos…nada
vai mudar.
- Não vais
desistir de nós, pois não?
- Ei… - Ania colocou as
suas mãos nas bochechas de Marcos – desistir
de ti seria estar a desistir da minha própria vida. Tu és aquela metade que eu
procurava, és o amor da minha vida…e não são quilómetros e quilómetros de distância
que vão separar os nossos corações. Lembra-te: eu sou tu, serei sempre tua,
para o resto das nossas vidas.
- Eu amo-te
tanto!
- E eu amo-te ainda mais.
- Vais ter
comigo?
- Vou…quando
puder, eu vou Marcos.
- És a mulher da
minha vida, sabes disso?
- Vou sabendo…a cada dia, a cada noite que passo do teu lado.
- Como é que eu
vou adormecer sem ti? – Marcos foi o primeiro a derramar lágrimas…não tardou
para que estivessem os dois envoltos num sufocante e descontrolado choro.
- Não vais ter
de adormecer sem mim… - Ania olhou nos olhos de Marcos – lá são mais sete horas…quando tu estiveres para ir dormir cá é de
tarde, mas ligas-me e eu fico contigo até adormeceres.
- Fazias isso?
- Faço. Faço e
vamos fazer isso, sim?
- Sim… - os dois trocaram
um intenso e apaixonado beijo enquanto as lágrimas lhes continuavam a cair pelo
rosto.
No
aeroporto…houve mais do mesmo. A família de Marcos despedia-se dele, era difícil
para todos, custava imenso. Marcos deixou Ania para último.
- Olha por elas…
- pediu
Marcos.
- Não te
preocupes com nada…elas ficam bem e não tarda nada estamos todos juntos outra
vez – Marcos
retirou um dos brincos que tinha postos colocando-o na mão de Ania.
- Fica com este…e
depois entregas-mo.
- Vou usá-lo…todos
os dias.
- Te amo, tanto
mi amor!
- Y yo te amo a
ti! – os
dois trocaram mais um beijo super apaixonado e novamente choraram.
O
até já foi dito…ninguém disse adeus. Era apenas um até já.
Em casa, Ania não
conseguia parar de chorar…e só de olhar para a última fotografia deles isso
ainda era pior. Tinha-a colocado nas redes sociais…era a primeira e aquela que
mais significava.
Agora...agora é que se percebe o que e o amor. Eres mi vida! |
Chorou,
chorou toda a noite…e nos seus sonhos…nos seus sonhos apareceu Marcos.
1 Semana depois:
Marcos
sozinho em Moscovo, sem conhecer quase ninguém estava a ser horrível. Era mais
um dia em que chegava a casa e a vontade de chorar estava lá. Todos os dias
chorava…de saudade, de tristeza. Mas quando entrava em contacto com as suas
irmãs, a mãe…e Ania, tudo mudava. Elas davam-lhe a coragem para todos os dias
lutar para se integrar no grupo.
Ia
pegar no computador para ver se encontrava alguém de La Plata online, quando a
campainha tocou. Só poderia ser alguém do clube eram as únicas pessoas que ele
conhecia ali.
Apressou-se
a abrir a porta deparando-se com a silhueta que lhe era familiar. Já começava a
conhecer pessoas em Moscovo, mas aquela que tinha na sua frente era, sem dúvida,
a pessoa com quem ele se consegue relacionar mais.
- Aqui…? Tu?
Olá :)
ResponderEliminarOh meu Deus, oh meu Deus mas oh meu Deus.
Há palavras? Não há palavras!!! Mas é que não há mesmo, por isso fica já de aviso que neste comentário não vou dizer metade do que achei do capitulo porque não há mesmo palavras.
Oh meu Deus ! Mas oh meu Deus isto está tão perfeito.
Parte Conversa do jantar? Linda linda linda, deixou de ser princesa e é rainha oh meu Deus *.*
Todas mas mesmo todas as conversas deles conseguem ter aquela perfeição à Marcos e Ania não é?
Oh meu Deus, não há coisa mais linda pois não? Era impossível!
Ele foice embora e mesmo na despedida a chorarem baba e ranho conseguem ser perfeitos.
OH pá e agora? E agora? é ELA! TE; DE SER ELA!
Quero o próximo rapidamente
Beijinhosss *Rita
Olá. Adorei este capitulo :)
ResponderEliminarGostei muito da conversa que aconteceu entre os Gottardi...e acho que o pai da Ania ainda vai perdoar o filho ;)
A sério que o Marcos tinha que se ir embora?...não gostei :(
Espero que a pessoa que esteja á porta seja a Ania ;)
Espero pelo próximo sff bjs :*
Olá!!
ResponderEliminarAmeeiii e no fim "odiei" o que escreveste e a ti! Puseste-me a chora pa!
Mas bem...quando ao capítulo mesmo...amei o inicio foi lindo o pai aceitar que o Lucas jantasse e ficasse lá em casa!
A passagem de ano foi linda! A ligação que a Ania já tem com a família do Marcos é do melhor *_*
Agora despedidas? Conversas sobre como vai ser com a distância? Meteram-me logo a chorar! Isto não se faz! Não quero eles afastados! Só de pensar o que eles sobrem longe um do outro :/ :( :`(
Agora quero é saber qien está do outro lado da porta!
Próxximmoooo!!
Besos,
Sofia
P.S.:Muchas gracias por escreveres tãooo bem. São poucas as pessoas que escrevem tão bem como tu ao ponto dos sentimentos passarem muito bem para este lado e me fazerem chorar. Continua!
Eu odeio despedidas, separações, distâncias e tudo o resto!
ResponderEliminarE agora que eles estavam tão bem! Espero que a distância não traga infidelidade! É...eu sou um bocadinho pessimista! Mas se houver infidelidade então este casal acabou para mim (no sentido que já não os vou querer juntos outra vez!) é...sou um bocadinho radical e drástica quando há traições pelo meio!
Espero o próximo!
Ana Santos
Olá
ResponderEliminarAdoreiii *_* E agora tem de ser a Ania , sim ?
Beijinhos
Catarina