quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

45º Capitulo: “Mas, Ania, tu já passaste por tanto numa gravidez...”

Ania olhava há muito tempo para a mesma fotografia. Aquela que tinha como fundo do seu telemóvel e que havia sido tirada há dois dias quando Marcos levou Morena para o jogo de apresentação da época. 


Morena dormia sossegada a seu lado no sofá e Marcos tinha chegado há pouco tempo do treino. Ania não deixava de pensar no seu irmão Martín e em Romina. Todos os tratamentos não tinham dado resultado nenhum e as únicas opções deles seriam: uma barriga de aluguer ou a adopção. Ania queria, de todas as formas possíveis e imaginárias, ajudá-los...apenas não sabe qual é o próximo passo a dar.
- Estás bem? – questionou Marcos, chegando à sala.
- Sim.
- Que carita é essa? – Marcos sentou-se em cima das pernas de Ania, agarrando-lhe o pescoço – estás aí há tanto tempo calada e só a olhar para a nossa fotografia...
- Queria que o meu irmão tivesse uma igual. Uma fotografia assim, onde fosse visível todo o amor dele pela filha...eles não merecem isto. Eles, mais do que qualquer pessoa, têm ajudado em tudo e todos, têm vivido a vida ao máximo e...eles não pediram nada de especial, apenas um filho.
- Ania...
- Eu sinto que vou fazer qualquer coisa por eles. Ainda não sei o que é mas eu quero mesmo.
- Não há nada que possas fazer. Não és médica, não consegues solucionar o problema deles...
- Daqui a pouco vamos buscá-los – Martín e Romina iriam passar os próximos dias em Portugal já que dentro de três dias, Morena iria completar o seu primeiro ano de vida – e eu quero falar com eles, perceber o que é que posso fazer.
- Continuas com aquelas ideias na cabeça?
- São apenas ideias – Ania desviou o seu olhar de Marcos, depositando-o agora em Morena – ninguém iria aceitar tal coisa.
- Ia ser complicado – Marcos sentou-se ao lado de Ania que, naquele momento, teve a confirmação que não poderia colocar aquela sua ideia como uma hipótese para ajudar o irmão – mas podes tentar.
- Posso? – voltou a olhá-lo, estranhando aquela afirmação de Marcos – tu próprio acabaste de dizer que seria complicado. Isto não seria uma coisa que só eu decido...
- Não. Teria de ser decidido a quatro.
- E qual é que seria a tua posição no assunto? – virou ligeiramente o seu corpo para Marcos, olhando-o.
- Não faço ideia.
- Enquanto tu não me deres a tua opinião eu nunca poderei avançar com a proposta ao Martín e a Romina.
- Dá-me tempo, por favor.
- Claro – Ania deitou a sua cabeça sobre o peito de Marcos, sentindo os braços do marido envolverem-lhe o corpo – independentemente de qualquer coisa, é bom saber que estás disponível a pensar no assunto.
- Estarei sempre disponível a pensar sobre tudo o que te envolva a ti e a nós enquanto casal.


- Onde é que eles se meteram?
- Acho que estão lá fora com a More – depois de responder a Ania, Marcos puxou-a para si chocando o seu corpo com o da mulher – parabéns, mamã.
- Parabéns é a ti que há um ano fazias de mãe e pai para ela. E ainda o fazes hoje.
- Temos conseguido fazer um bom trabalho, não temos?
- Eu acho que sim. Creio que nunca vi uma criança tão feliz como a nossa filha.
- E ela também será feliz com todos os primos da vida dela.
- Já o é com o Diego, com os futuros filhos das tuas irmãs e, ainda, aqueles que os meus irmãos tenham para dar. A nossa família será sempre enorme, tens noção disso?
- Se tenho! – Marcos abraçou a mulher, encostando os seus lábios ao pescoço de Ania – quando estiveres pronta, podemos falar com o Martín e a Romina – Ania não sabia muito bem o que Marcos queria dizer com aquilo...aquele assunto tinha caído no esquecimento desde que o seu irmão e a cunhada tinham chegado a Lisboa.
Olhou o marido, sentindo as mãos de Marcos chegarem-lhe ao pescoço.
- Como assim?
- Eu não sei quando o queres fazer, nem como o queres fazer mas eu estarei a teu lado.
- Vai ser estranho, não vai?
- Possivelmente – os dois foram surpreendidos pela chegada de Iara à sala.
- Ai desculpem seus pombinhos, não queria interromper o momento dos pais da aniversariante!
- Não interrompeste nada... – começou Ania.
- Ai isso é que interrompeu! É que foi logo no momento chave!
- Não me digas que a ias pedir em casamento? – os três começaram a rir-se e Iara seguiu o seu caminho.
- Quando é que será boa ideia falar com eles?
- Ou mais para a noitinha ou quando a Morena acalmar...
- Acho que, no dia de hoje, ela não vai conseguir acalmar antes da noitinha.
- Pode ser que sim...vá, agora vamos até lá fora – Marcos deu a mão a Ania, caminhando com ela até ao exterior.
Ania foi, de imediato, ter com Morena que brincava com Romina. Tinham escolhido fazer uma festa simples, apenas com alguns amigos e o único que estava da família de Ania era Martín com Romina e Micaela do lado de Marcos. Os restantes tinham ficado por La Plata.
- Que tal se está a portar a senhora Morena? – Ania sentou-se na relva perto das duas.
- Super bem. Se ninguém se meter com ela, ela não dá trabalho a ninguém e brinca com as coisinhas dela sossegadinha.
- Já é assim desde bebézinha, pelo que me dizem – Romina olhou-a, esboçando um sorriso – achas que podemos falar um bocadinho?
- Claro. Passa-se alguma coisa?
- Romi... – Ania aproximou-se da cunhada, agarrando-lhe numa das mãos – tem a ver com vocês...
- Comigo e o teu irmão?
- Sim. Eu sei o quão difíceis são todos os tratamentos mas não imagino, sequer, o que será dizerem-nos que não é possível ter uma gravidez porque o nosso corpo rejeite que o bebé se forme... – Ania, por momentos, teve medo de avançar com o que queria dizer à cunhada. Tinha Marcos a observá-la, sentando à mesa debaixo do toldo. Fez-lhe um coração com as mãos, assentindo que sim com a cabeça...quase como se as estivesse a ouvir.
- Está tudo bem? – questionou Romina que não deixou aquele momento passar-lhe ao lado – Também andas a tentar?
- Não, não – Ania focou-se, de novo, na cunhada – já pensaram em barriga de aluguer?
- Nós não podemos fazer isso...eu nunca poderia seguir tão perto o crescimento do meu bebé. Sabes que só o poderíamos fazer ou nos Estados Unidos ou no Brasil? – Ania assentiu que sim com a cabeça – iria ser complicado...muito complicado mesmo.
- E se...a vossa barriga fosse a minha?
- Ania...
- Não me digas nada. Nem um sim, nem um não...eu sei que é uma coisa que precisaríamos imenso tempo para ponderar e pensar e, até, ver se eu posso ser a vossa barriga. Porque não sabemos se eu também o poderia ser – Ania agarrou as mãos de Romina, aproximando-se dela – mas eu estaria disposta a ajudar-vos e o Marcos também. Seria complicado, mas não custa nada tentarmos.
Romina sentia-se sem chão, sem nada na cabeça. Não por ter recebido uma má noticia mas por ser uma situação com a qual não sabia lidar. Olhou para Martin que estava à conversa com Micaela e Marcos.
- Já falaste com o Marcos? – perguntou Romina, quase sussurrando.
- Já. Ele deu-me força para que pudesse falar convosco mas, ambas sabemos que será um processo complicado. Mas poderiam acompanhar a gravidez, o crescimento do vosso filho...e acredito que confiassem em mim para o carregar durante nove meses.
- Claro que sim – Romina olhou-a – de entre todas as hipóteses tu serias a nossa escolhida, sem qualquer dúvida. Mas, Ania, tu já passaste por tanto numa gravidez...nem eu, nem o teu irmão te conseguiríamos pedir tal coisa.
- Vocês não me estão a pedir nada, nem iriam pedir. Sou eu que me estou a oferecer para vos ajudar. Só isso.
- Achas que podemos falar disto noutro momento?
- Claro, claro.
- Mas obrigada, Ania – Romina passou com a sua mão pela cara de Ania, sorrindo – é um gesto que eu nunca me esquecerei – as duas foram interrompidas por Morena que atirou um dos seus brinquedos para junto de Romina – alguém está a querer brincar com a tia! – aproximou-se de Morena, dando-lhe um beijo na testa.
Ficaram as três durante bastante tempo ali a brincar com Morena até que Martín e Micaela se juntaram a elas. Ania aproveitou aquele momento para ir ter com o marido e os amigos.
- Olha quem é ela! – disse André, atirando um rebuçado para Ania – já brincaste tudo, miúda?
- Já, já. Mas tu bem que podias ajudar a manter a Morena ocupada.
- A piriti não gosta de mim – Ania sentou-se em cima das pernas de Marcos que, de imediato, rodeou o corpo da mulher com os seus braços.
- Tu é que não gostas de te mexer, isso sim – atirou Iara, fazendo com que todos se rissem menos André.
- Só por causa disso, adeus! – André levantou-se indo até à relva. Os primeiros momentos dele junto de Morena e de todos os que estavam junto dela, só fizeram com que Ania, Marcos e Iara se rissem. Ultimamente, Morena fazia de tudo para afastar André de perto dela. Mesmo que o puxasse para brincar com ela.
- Já falaste com a Romi? – perguntou, baixinho, Marcos ao ouvido de Ania.
- Já – Ania virou ligeiramente o seu corpo para o marido, levando as suas mãos à cara de Marcos – coloquei a hipótese de ser eu a carregar o filho deles em cima da mesa. Mas vamos precisar de falar muito bem disto todos.
- Devo dizer que poucas seriam as pessoas capazes de tal coisa – Marcos levou as suas mãos às costas de Ania, por dentro da camisola que ela envergava – e que consegues tornar-te ainda mais bonita a cada dia que passa – Marcos deu um beijo no pescoço de Ania que aproveitou o momento para o abraçar – nós vamos ter de falar muito mesmo.
- Oh meninos! Façam essas coisas quando eu não estiver por perto! – os dois começaram a rir-se já que se tinha esquecido completamente que Iara estava presente.
Ania virou-se para a amiga, continuando a sentir as mãos de Marcos no seu corpo.
- Pedimos imensa desculpa, Iara.
- Acho bem. Eu dispenso saber como é que é o vosso processo de preliminares! – todos se riram, acabando por tornar aquele momento mais leve para Ania e Marcos.


- Não, não, não!
- Martín, deixa a tua irmã acabar de falar – pediu Marcos.
- Não, Marcos. Desculpa mas eu já ouvi o suficiente. Eu não quero que vocês passem por uma gravidez que não é vossa...podendo correr todos os riscos que a Ania correu quando foi da Morena. Eu não quero isso – Martín olhava a irmã que, naquele momento, estava petrificada a olhar para ele – não me olhes assim, Ania.
- Mas...
- Mas nada. Nós haveremos de arranjar uma solução, alguém que nos ajude.
- Eu quero ajudar. Eu estou a oferecer-me para ajudar...eu quero carregar o meu sobrinho e dar-vos a hipótese de seguirem todos os passos da vossa gravidez.
- E o que é que vais explicar à tua filha quando ela perceber as coisas? O que é que vais explicar às pessoas que vos seguem?
- A verdade...se vocês quiserem, claro. Podemos sempre esconder ao máximo...
- Não, Ania. Não podemos – Martín levantou-se do sofá, olhando para a irmã e o cunhado – eu agradeço o que vocês querem fazer, não me achem ingrato mas eu não posso aceitar. Eu vou dar uma volta – Martín não deu qualquer hipótese para lhe responderem já que saiu imediatamente de casa.
- Obrigada – disse Romina, chamando a atenção dos dois – obrigada mesmo por tentarem.
- Eu não vou desistir – Ania olhou para Marcos – eu vou voltar a falar com ele sobre isto – voltou a olhar para Romina – e eu vou conseguir convence-lo a olhar para a hipótese que eu vos estou a dar como uma hipótese bastante válida.
- Mas deixa passar uns dias – avisou Marcos.
- Claro. Acho que até podemos falar com o nosso médico e ver o que é que ele diz sobre o assunto – Ania sentiu a mão de Marcos procurar a sua, enquanto Romina os olhava com um sorriso nos lábios.
- Eu não tenho palavras para agradecer o que querem fazer por nós.
- Não precisas de agradecer, Romi – disse Ania.
- Somos família e estamos dispostos a fazer tudo para ajudar – ao falar, Marcos acabou por surpreender a própria mulher. Sabia que ele se sentia bem naquela família...mas surpreendia-a por estar a dizer aquilo a Romina.
- Eu acho que vou andando para o hotel...
- Não queres ficar por aqui? – perguntou Ania.
- É melhor ir para lá. Quero estar lá quando o Martín chegar... – Romina levantou-se e os dois fizeram o mesmo – obrigada...
- De nada, Romi – Ania abraçou-a e, depois, Marcos repetiu o gesto.
- Fiquem bem.
- Tu também. E, qualquer coisa, liga – disse Marcos, começando a caminhar para as escadas.
Assim que Ania fechou a porta já ele não estava naquela divisória da casa. Antes de subir, Ania apagou todas as luzes da sala indo até ao seu quarto. Marcos já estava deitado e Morena dormia tranquilamente no seu berço.
Ania começou por se despir, sob o olhar atento do marido.
- Precisamos de falar... – Ania sobressaltou-se com aquela afirmação de Marcos, sentando-se ao fundo da cama virada para Marcos, estando apenas em roupa interior.
- Isto é demais para ti, não é?
- Não se trata disso – Marcos sentou-se, também, entrelaçando as suas mãos uma na outra e olhando para Ania – promete-me que, se o médico dizer que é perigoso tu não avanças com a ideia...
- Marcos...
- Ania, promete-me – aproximou-se da mulher, agarrando-lhe as mãos – não sabemos como é que o teu útero poderá reagir a uma gravidez tão próxima da outra, não sabemos como tu própria irás reagir. Tanto a nível físico como psicológico. Este bebé não seria nosso...tu terias de abdicar dele no momento em que nascesse.
- Eu abdicarei dele no momento em que estiver dentro de mim. Eu sei que é o meu sobrinho, eu só o vou trazer ao mundo enquanto os pais dele tratam de tudo cá fora para o terem.
- Ania...
- Marcos – Ania levou as suas mãos à cara do marido – eu prometo que, se disserem que é perigoso, eu não avanço. Mas deixa-me tentar, por favor.
- Tenho medo de tudo o que isso possa implicar. Nós ainda queremos dar um irmão à Morena, queremos não queremos?
- Claro que queremos. Mas isto que eu quero fazer por eles não vai interferir com as nossas vidas.
- Claro que vai...tu podes ficar grávida, podes ficar novamente com aquelas mudanças de humor brutais, podes...eu só não quero que tu fiques em risco, que o bebé deles fique eu risco e que o nosso futuro enquanto pais fique em risco, também.
- Eu prometo que só avanço com o sim seguro do médico, com o teu sim e o sim deles dois.
- Promete, também, que me ouves todas as vezes antes de qualquer decisão.
- Claro que sim – Ania precipitou-se na direção dele, beijando-o – estamos nisto juntos, é o combinado não é?
- É.
- E tu vais falar sempre comigo sobre tudo o que sentires ao longo deste processo, não vais?
- Vou.
- Vai correr tudo bem, meu amor – voltou a beijar o marido, com a certeza que não será um processo fácil. Para ninguém.


Olá meninas! 
Espero que tenham gostado do capítulo que vos trouxe para terminar o ano de 2015! Aguardo pelos vossos comentários.
Aproveito, também, para vos desejar a todas um excelente 2016 com muito sucesso, saúde e união. Isso será o essencial. O resto virá por acréscimo e será bem vindo. 
Beijinhos.
Ana Patrícia. 

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

44º Capitulo: “Na verdade...sou eu que vou a La Plata.”

- Sabes que eu te conheço melhor que ninguém... – dizia Marcos, depois de insistir com Ania de que ela não estava bem.
- Já me ligaram imensas vezes da polícia de La Plata...
- A sério? – aproximou-se de Ania, segurando-lhe as mãos – tiveste de...
- Eu não consegui fazer nada – olhou-o séria, acabando por sorrir – eu tenho muita sorte em ter-te na minha vida, não haja mesmo duvidas disso.
- Ania...não fujas ao assunto.
- Podias, apenas, não falar dele – Ania deixou o seu corpo cair sobre o de Marcos, mantendo-se sentada mas com a cabeça em cima do ombro do marido – provavelmente querem que eu confirme o que aconteceu, que conte tudo e...eu não quero ter de recordar tudo. Muito menos denunciar o meu irmão...aos poucos, eu vou começando a não pensar no que aconteceu, nós saímos de La Plata para Moscovo e agora estamos em Lisboa e eu consegui afastar-me dele e não o ver faz com que me esqueça mas...
- Shh – Marcos levou a sua mão até à coxa de Ania, beijando-lhe a cabeça – não vamos, então, fazer qualquer chamada para La Plata nem atender nenhuma.
- Obrigada por entenderes...
- Estamos casados, eu tenho de te ouvir e compreender o que tens para me dizer. Mais do que te dizer o que deves ou não fazer, eu tenho de compreender porque o queres fazer.
- Se calhar, são poucos os homens que pensariam assim... – os dois olhavam-se, mas acabaram por despertar de todo aquele ambiente quando o telemóvel de Ania deu sinal de notificação de um email – devem querer fazer uma entrevista contigo e estão a ver se eu te consigo persuadir – os dois riram-se e Ania começou a ler o email.

Boa tarde, Ania Gottardi Rojo.
Estamos a tentar contacta-la por parte da policia federal de La Plata. Depois de tentarmos faze-lo por telefone, percebemos que não está receptível a falar connosco. Compreendemos que a situação seja delicada e, por isso mesmo, estamos a enviar-lhe este email. Queremos que o seu depoimento venha por escrito e no prazo máximo de três dias. O seu irmão já confirmou tudo mas precisamos de ter o seu depoimento. Se optar por não o fazer, iremos manter o seu irmão em prisão preventiva até que sejam reunidas todas as provas dos acontecimentos.
Esperamos pela sua colaboração.
Sem mais assunto,
Policia Federal de La Plata.

- Que se passa? – perguntou Marcos depois de ver a sua mulher atirar com o telemóvel para cima da mesa de centro.
- É a polícia. Ou faço o meu depoimento dentro de três dias ou mantêm o Lucas em prisão preventiva até reunirem todas as provas.
- Então ele ficaria em prisão preventiva até acabarem a investigação?
- Pois, muito provavelmente seria isso...
- Sabes – Marcos agarrou a mão de Ania, olhando-a – independentemente do que queiras fazer eu ajudo-te em tudo o que puder. Mas não faz sentido nenhum...se o Lucas já confessou porque é que estão a insistir com tudo isto?
- Eu não sei. Mas eu não o posso deixar muito tempo na prisão...o Lucas não iria aguentar e, sabe-se lá do que é que ele seria capaz de fazer.
- Vais escrever?
- Vou. Não sei quando, mas vou.
Ania levantou-se do sofá. Precisou de sair até ao exterior da casa, precisava de apanhar ar e aclarar as suas ideias. Precisava de tomar uma decisão. Que não fazia a mais pequena ideia de qual seria.


- O Marcos?
- Tu, que és o agente dele, não sabes onde anda o menino? – Ania falava com o irmão, Martin. O representante de Marcos.
- Oh, não sejas parva. Eu não ando a seguir o teu marido para todo o lado, não é?
- Se o fizesses eras capaz de ver coisas que não devias...
- Ania! Menos dessas coisas perversas.
- Até parece que não as fazes com a tua namorada, mas enfim.
- Respondes à minha pergunta ou não? – Martin sentou-se no sofá, olhando para a irmã que se ria.
- Ele foi a uma sessão de autógrafos.
- Ah, então estamos sozinhos, é?
- Estamos...porquê?
- É o Lucas...
- Já não chegou o meu depoimento? O que é que querem mais? Passou um mês...estamos tão perto do Natal, o que é que podem querer mais?
- Os advogados do Lucas fizeram o pedido para o libertarem durante os dias do Natal. Foi aceite e...ele vai passar o Natal a casa.
- Como assim?
- Ele vai a casa durante o Natal.
- Mas...não vai estar lá ninguém – Ania começou a estranhar tudo aquilo. Lucas não iria passar o Natal sozinho, com certeza – quem é que não vem? – sim, Ania apercebeu-se que alguém que estava em La Plata não viesse passar o Natal com eles a Portugal.
- Na verdade...sou eu que vou a La Plata.
- Tu? – não esperava, de todo, aquela atitude por parte de Martin. Ele esteve bastante entusiasmado com o natal ali em casa, estava empolgado por ser o primeiro natal com a sua sobrinha. Ania não esperava mesmo que Martin tomasse tal decisão.
- Eu sei que, se calhar, não estavas à espera mas surgiram umas coisas complicadas que só falei com o Marcos, e foi ontem não te zangues com ele – Ania viu Martin agarrar-se à cabeça e depressa sentiu o seu coração disparar. Não fazia ideia do que se estaria a passar com o seu irmão, o seu Martín – eu e a Romina estamos a tentar ser pais – Matin olhou para a irmã, esboçando um pequeno sorriso – a Morena e o Diego – o filho de Francisco – vieram trazer à nossa família uma alegria imensa e...eu e a Romina queremos muito levar a nossa relação a outro patamar. Mas não o queremos fazer em Portugal.
- Não?
- Não. Nós queremos voltar para La Plata e para as nossas vidas mais calmas. Eu já falei tudo com o Marcos para lhe arranjar um novo representante e ele concordou. Eu quero dar estabilidade à Romina no nosso país, quero criar lá a minha família.
- E...que complicações surgiram?
- Vamos ter de fazer tratamentos de fertilidade – Ania olhava para o irmão recordando tudo o que tinha vivido. Sabia o quão difícil esses tratamentos poderiam ser, o quanto poderiam não dar certo. Agarrou as mãos de Lucas, passando com a sua mão pela face do irmão.
- Tudo o que precisarem nós estaremos sempre todos ao vosso lado.
- Obrigada, maninha – Martin abraçou a irmã, dando-lhe um beijo na testa – queria pedir-te uma coisa – Ania olhou-o, acenando afirmativamente com a cabeça – podes dar o número do teu médico lá de La Plata à Romina?
- Claro, claro. Ela ficará, sem dúvida, em óptimas mãos. Quando é que vão?
- Amanhã.
- E só me avisaste hoje? Oh Martin! Isso assim não dá com nada!
- Por favor, não chores. Nós só estamos a umas horas de viagem, nada mais.
- Oh, mesmo assim...devias ter-me dado tempo para fazer um jantar de despedida.
- Temos tempo para jantar hoje!
- Isso temos...
- Então está feito – Martin levantou-se, começando a caminhar em direção da porta de casa – eu vou buscar a Romina e depois volto para jantarmos todos.
- Tu querias era um jantar hoje, estou a ver.
- Conheces-me, maninha – os dois riram-se e Martin saiu de casa, deixando Ania, mesmo assim, atordoada. Não estava nada à espera destas mudanças tão repentinas.


- Ania? – a voz de Marcos fez-se ouvir na cozinha e Ania depressa foi ter com ele à sala.
- Que foi?
- Acho que ela quer começar a andar!
- Achas...tu já andas a achar isso desde que ela tinha cinco meses, Marcos – os dois riram-se e Ania sentou-se ao lado de Marcos no chão. Olhavam os dois para Morena, com os seus maravilhosos onze meses. A menina fazia varias tentativas para se colocar de pé, mas sem sucesso – eu acho que continuam a ser apenas tentativas de se colocar em pé, Marcos. Lamento informar.
- Oh! Quando é que ela irá começar a andar?
- Temos de dar tempo – Ania levantou-se passando com a sua mão pela cabeça de Marcos – vamos à praia lá mais para a tardinha?
- Queres ir à praia?
- Apetecia-me por acaso...
- Por mim, podemos ir sim senhora. Vamos à praia bebé! – Marcos olhou para a filha, batendo palmas. Morena bateu palmas também levando, depois, as suas mãos ao chão e colocando-se de pé – Ania, tu estás a ver?
- Estou Marcos. Tu não faças nenhum escândalo, por favor. Ainda assustas a menina.
- Ela...ela vai andar! – estavam tão sossegados os dois que Morena se começou a rir. Marcos esticou os seus braços em direcção da filha que, com uma calma enorme começou a caminhar para os braços do pai.
Ania sorria com todo aquele momento, memorizando aquele momento para sempre. Não só na sua cabeça como em imagem. Eram os primeiros passos da sua bebé.
Morena chegou perto de pai, atirando-se para ele. Riu-se e bateu palmas como se percebesse que aquilo era uma vitória para ela também.
- Agora é que vai começar a correria aqui por casa, prepara-te!
- Vamos ter treinos para maratonas com ela – os dois riram-se e Ania, antes de voltar à cozinha, deu um beijo na bochecha da filha.
Aproveitou o caminho de volta à cozinha para partilhar uma imagem no seu instagram.

Que comecem as corridas! Os primeiros passos estão dados!
- Nunca pensei que estes dois quisessem vir também – atirou Marcos, referindo-se a André é Iara.
- Deves estar cá com um medo que eu afugente as tuas fãs...! – disse André, fazendo com que Ania e Iara se rissem – vês, até elas concordam comigo!
- Cala-te, oh! – Marcos atirou com uma pá de Morena a André, recebendo-a de volta – podias ter acertado na miúda oh!
- Eu não sou zarolho como tu, deixa lá!
- Mas vocês hoje tiraram o dia para serem miúdos pequenos ou é impressão minha? – Ania acabou por interromper.
- É o teu marido!
- E tu juntaste à festa... – comentou Iara.
- Sempre a deitar uma pessoa abaixo – André levantou-se olhando para todos – querem que vos traga alguma coisa?
- Não, obrigada – respondeu Ania, vendo que Iara se levantava também.
- Eu vou contigo – juntou-se a André e os dois começaram a andar em direção do pequeno bar da praia. Ania olhava para Marcos que brincava com Morena na areia. Fotografou-os, aproximando-se do marido.


- Está tudo bem? – perguntou Marcos, olhando para a mulher.
- Melhor não poderia estar, Marcos – Ania levou a sua mão até à cabeça de Marcos, fazendo-lhe pequenos círculos sobre a mesma.
- O Martín ligou-me de manhã – Marcos olhou-a, mantendo-se a mexer na pá e nos brinquedos de Morena – tens falado com eles?
- Sim, mais com a Romi dadas as circunstâncias...
- O teu irmão parece um pouco pessimista.
- A sério? – Ania sentou-se no areal, ao lado de Morena, olhando assim de frente para o marido – o que é que ele te disse?
- Acho que eles estão a passar uma fase estranha...o Martín diz que a Romi o começou a rejeitar. O teu irmão acha que ela está a precisar de falar com outras pessoas mas que, simplesmente, não quer.
- Se eles, ao menos, estivessem cá connosco...o médico disse que esta será a última grande esperança que eles têm, Marcos. Ela já fez todo o tipo de tratamento possível, ela não pode continuar assim...deviam começar a pensa em todas outras hipóteses. Adopção, barriga de aluguer...porque está tudo bem com ela e o meu irmão.
- Seria possível achar uma barriga de alugar lá?
- Creio que não. Tinham de ir fazer isso a outro lado, mas se fosse a melhor opção deles...
- Vamos ter de esperar pelo fim deste tratamento... – Ania olhou para Morena, visivelmente alegre e coberta de areia – quando chegar a casa vai ser tirar areia de todos os lados – Ania acabou por se rir com aquele comentário do marido.
Acabaram por terminar o assunto de Romina e Martín, brincando com a filha na areia. Iara e André voltaram para junto deles, visivelmente animados.
- Olha estes dois já foram fazer um filho! – atirou Marcos.
- Andas cá um engraçadinho, tu – Iara deu-lhe uma palmada nas costas, sentando-se no areal ao lado de Ania.