quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

45º Capitulo: “Mas, Ania, tu já passaste por tanto numa gravidez...”

Ania olhava há muito tempo para a mesma fotografia. Aquela que tinha como fundo do seu telemóvel e que havia sido tirada há dois dias quando Marcos levou Morena para o jogo de apresentação da época. 


Morena dormia sossegada a seu lado no sofá e Marcos tinha chegado há pouco tempo do treino. Ania não deixava de pensar no seu irmão Martín e em Romina. Todos os tratamentos não tinham dado resultado nenhum e as únicas opções deles seriam: uma barriga de aluguer ou a adopção. Ania queria, de todas as formas possíveis e imaginárias, ajudá-los...apenas não sabe qual é o próximo passo a dar.
- Estás bem? – questionou Marcos, chegando à sala.
- Sim.
- Que carita é essa? – Marcos sentou-se em cima das pernas de Ania, agarrando-lhe o pescoço – estás aí há tanto tempo calada e só a olhar para a nossa fotografia...
- Queria que o meu irmão tivesse uma igual. Uma fotografia assim, onde fosse visível todo o amor dele pela filha...eles não merecem isto. Eles, mais do que qualquer pessoa, têm ajudado em tudo e todos, têm vivido a vida ao máximo e...eles não pediram nada de especial, apenas um filho.
- Ania...
- Eu sinto que vou fazer qualquer coisa por eles. Ainda não sei o que é mas eu quero mesmo.
- Não há nada que possas fazer. Não és médica, não consegues solucionar o problema deles...
- Daqui a pouco vamos buscá-los – Martín e Romina iriam passar os próximos dias em Portugal já que dentro de três dias, Morena iria completar o seu primeiro ano de vida – e eu quero falar com eles, perceber o que é que posso fazer.
- Continuas com aquelas ideias na cabeça?
- São apenas ideias – Ania desviou o seu olhar de Marcos, depositando-o agora em Morena – ninguém iria aceitar tal coisa.
- Ia ser complicado – Marcos sentou-se ao lado de Ania que, naquele momento, teve a confirmação que não poderia colocar aquela sua ideia como uma hipótese para ajudar o irmão – mas podes tentar.
- Posso? – voltou a olhá-lo, estranhando aquela afirmação de Marcos – tu próprio acabaste de dizer que seria complicado. Isto não seria uma coisa que só eu decido...
- Não. Teria de ser decidido a quatro.
- E qual é que seria a tua posição no assunto? – virou ligeiramente o seu corpo para Marcos, olhando-o.
- Não faço ideia.
- Enquanto tu não me deres a tua opinião eu nunca poderei avançar com a proposta ao Martín e a Romina.
- Dá-me tempo, por favor.
- Claro – Ania deitou a sua cabeça sobre o peito de Marcos, sentindo os braços do marido envolverem-lhe o corpo – independentemente de qualquer coisa, é bom saber que estás disponível a pensar no assunto.
- Estarei sempre disponível a pensar sobre tudo o que te envolva a ti e a nós enquanto casal.


- Onde é que eles se meteram?
- Acho que estão lá fora com a More – depois de responder a Ania, Marcos puxou-a para si chocando o seu corpo com o da mulher – parabéns, mamã.
- Parabéns é a ti que há um ano fazias de mãe e pai para ela. E ainda o fazes hoje.
- Temos conseguido fazer um bom trabalho, não temos?
- Eu acho que sim. Creio que nunca vi uma criança tão feliz como a nossa filha.
- E ela também será feliz com todos os primos da vida dela.
- Já o é com o Diego, com os futuros filhos das tuas irmãs e, ainda, aqueles que os meus irmãos tenham para dar. A nossa família será sempre enorme, tens noção disso?
- Se tenho! – Marcos abraçou a mulher, encostando os seus lábios ao pescoço de Ania – quando estiveres pronta, podemos falar com o Martín e a Romina – Ania não sabia muito bem o que Marcos queria dizer com aquilo...aquele assunto tinha caído no esquecimento desde que o seu irmão e a cunhada tinham chegado a Lisboa.
Olhou o marido, sentindo as mãos de Marcos chegarem-lhe ao pescoço.
- Como assim?
- Eu não sei quando o queres fazer, nem como o queres fazer mas eu estarei a teu lado.
- Vai ser estranho, não vai?
- Possivelmente – os dois foram surpreendidos pela chegada de Iara à sala.
- Ai desculpem seus pombinhos, não queria interromper o momento dos pais da aniversariante!
- Não interrompeste nada... – começou Ania.
- Ai isso é que interrompeu! É que foi logo no momento chave!
- Não me digas que a ias pedir em casamento? – os três começaram a rir-se e Iara seguiu o seu caminho.
- Quando é que será boa ideia falar com eles?
- Ou mais para a noitinha ou quando a Morena acalmar...
- Acho que, no dia de hoje, ela não vai conseguir acalmar antes da noitinha.
- Pode ser que sim...vá, agora vamos até lá fora – Marcos deu a mão a Ania, caminhando com ela até ao exterior.
Ania foi, de imediato, ter com Morena que brincava com Romina. Tinham escolhido fazer uma festa simples, apenas com alguns amigos e o único que estava da família de Ania era Martín com Romina e Micaela do lado de Marcos. Os restantes tinham ficado por La Plata.
- Que tal se está a portar a senhora Morena? – Ania sentou-se na relva perto das duas.
- Super bem. Se ninguém se meter com ela, ela não dá trabalho a ninguém e brinca com as coisinhas dela sossegadinha.
- Já é assim desde bebézinha, pelo que me dizem – Romina olhou-a, esboçando um sorriso – achas que podemos falar um bocadinho?
- Claro. Passa-se alguma coisa?
- Romi... – Ania aproximou-se da cunhada, agarrando-lhe numa das mãos – tem a ver com vocês...
- Comigo e o teu irmão?
- Sim. Eu sei o quão difíceis são todos os tratamentos mas não imagino, sequer, o que será dizerem-nos que não é possível ter uma gravidez porque o nosso corpo rejeite que o bebé se forme... – Ania, por momentos, teve medo de avançar com o que queria dizer à cunhada. Tinha Marcos a observá-la, sentando à mesa debaixo do toldo. Fez-lhe um coração com as mãos, assentindo que sim com a cabeça...quase como se as estivesse a ouvir.
- Está tudo bem? – questionou Romina que não deixou aquele momento passar-lhe ao lado – Também andas a tentar?
- Não, não – Ania focou-se, de novo, na cunhada – já pensaram em barriga de aluguer?
- Nós não podemos fazer isso...eu nunca poderia seguir tão perto o crescimento do meu bebé. Sabes que só o poderíamos fazer ou nos Estados Unidos ou no Brasil? – Ania assentiu que sim com a cabeça – iria ser complicado...muito complicado mesmo.
- E se...a vossa barriga fosse a minha?
- Ania...
- Não me digas nada. Nem um sim, nem um não...eu sei que é uma coisa que precisaríamos imenso tempo para ponderar e pensar e, até, ver se eu posso ser a vossa barriga. Porque não sabemos se eu também o poderia ser – Ania agarrou as mãos de Romina, aproximando-se dela – mas eu estaria disposta a ajudar-vos e o Marcos também. Seria complicado, mas não custa nada tentarmos.
Romina sentia-se sem chão, sem nada na cabeça. Não por ter recebido uma má noticia mas por ser uma situação com a qual não sabia lidar. Olhou para Martin que estava à conversa com Micaela e Marcos.
- Já falaste com o Marcos? – perguntou Romina, quase sussurrando.
- Já. Ele deu-me força para que pudesse falar convosco mas, ambas sabemos que será um processo complicado. Mas poderiam acompanhar a gravidez, o crescimento do vosso filho...e acredito que confiassem em mim para o carregar durante nove meses.
- Claro que sim – Romina olhou-a – de entre todas as hipóteses tu serias a nossa escolhida, sem qualquer dúvida. Mas, Ania, tu já passaste por tanto numa gravidez...nem eu, nem o teu irmão te conseguiríamos pedir tal coisa.
- Vocês não me estão a pedir nada, nem iriam pedir. Sou eu que me estou a oferecer para vos ajudar. Só isso.
- Achas que podemos falar disto noutro momento?
- Claro, claro.
- Mas obrigada, Ania – Romina passou com a sua mão pela cara de Ania, sorrindo – é um gesto que eu nunca me esquecerei – as duas foram interrompidas por Morena que atirou um dos seus brinquedos para junto de Romina – alguém está a querer brincar com a tia! – aproximou-se de Morena, dando-lhe um beijo na testa.
Ficaram as três durante bastante tempo ali a brincar com Morena até que Martín e Micaela se juntaram a elas. Ania aproveitou aquele momento para ir ter com o marido e os amigos.
- Olha quem é ela! – disse André, atirando um rebuçado para Ania – já brincaste tudo, miúda?
- Já, já. Mas tu bem que podias ajudar a manter a Morena ocupada.
- A piriti não gosta de mim – Ania sentou-se em cima das pernas de Marcos que, de imediato, rodeou o corpo da mulher com os seus braços.
- Tu é que não gostas de te mexer, isso sim – atirou Iara, fazendo com que todos se rissem menos André.
- Só por causa disso, adeus! – André levantou-se indo até à relva. Os primeiros momentos dele junto de Morena e de todos os que estavam junto dela, só fizeram com que Ania, Marcos e Iara se rissem. Ultimamente, Morena fazia de tudo para afastar André de perto dela. Mesmo que o puxasse para brincar com ela.
- Já falaste com a Romi? – perguntou, baixinho, Marcos ao ouvido de Ania.
- Já – Ania virou ligeiramente o seu corpo para o marido, levando as suas mãos à cara de Marcos – coloquei a hipótese de ser eu a carregar o filho deles em cima da mesa. Mas vamos precisar de falar muito bem disto todos.
- Devo dizer que poucas seriam as pessoas capazes de tal coisa – Marcos levou as suas mãos às costas de Ania, por dentro da camisola que ela envergava – e que consegues tornar-te ainda mais bonita a cada dia que passa – Marcos deu um beijo no pescoço de Ania que aproveitou o momento para o abraçar – nós vamos ter de falar muito mesmo.
- Oh meninos! Façam essas coisas quando eu não estiver por perto! – os dois começaram a rir-se já que se tinha esquecido completamente que Iara estava presente.
Ania virou-se para a amiga, continuando a sentir as mãos de Marcos no seu corpo.
- Pedimos imensa desculpa, Iara.
- Acho bem. Eu dispenso saber como é que é o vosso processo de preliminares! – todos se riram, acabando por tornar aquele momento mais leve para Ania e Marcos.


- Não, não, não!
- Martín, deixa a tua irmã acabar de falar – pediu Marcos.
- Não, Marcos. Desculpa mas eu já ouvi o suficiente. Eu não quero que vocês passem por uma gravidez que não é vossa...podendo correr todos os riscos que a Ania correu quando foi da Morena. Eu não quero isso – Martín olhava a irmã que, naquele momento, estava petrificada a olhar para ele – não me olhes assim, Ania.
- Mas...
- Mas nada. Nós haveremos de arranjar uma solução, alguém que nos ajude.
- Eu quero ajudar. Eu estou a oferecer-me para ajudar...eu quero carregar o meu sobrinho e dar-vos a hipótese de seguirem todos os passos da vossa gravidez.
- E o que é que vais explicar à tua filha quando ela perceber as coisas? O que é que vais explicar às pessoas que vos seguem?
- A verdade...se vocês quiserem, claro. Podemos sempre esconder ao máximo...
- Não, Ania. Não podemos – Martín levantou-se do sofá, olhando para a irmã e o cunhado – eu agradeço o que vocês querem fazer, não me achem ingrato mas eu não posso aceitar. Eu vou dar uma volta – Martín não deu qualquer hipótese para lhe responderem já que saiu imediatamente de casa.
- Obrigada – disse Romina, chamando a atenção dos dois – obrigada mesmo por tentarem.
- Eu não vou desistir – Ania olhou para Marcos – eu vou voltar a falar com ele sobre isto – voltou a olhar para Romina – e eu vou conseguir convence-lo a olhar para a hipótese que eu vos estou a dar como uma hipótese bastante válida.
- Mas deixa passar uns dias – avisou Marcos.
- Claro. Acho que até podemos falar com o nosso médico e ver o que é que ele diz sobre o assunto – Ania sentiu a mão de Marcos procurar a sua, enquanto Romina os olhava com um sorriso nos lábios.
- Eu não tenho palavras para agradecer o que querem fazer por nós.
- Não precisas de agradecer, Romi – disse Ania.
- Somos família e estamos dispostos a fazer tudo para ajudar – ao falar, Marcos acabou por surpreender a própria mulher. Sabia que ele se sentia bem naquela família...mas surpreendia-a por estar a dizer aquilo a Romina.
- Eu acho que vou andando para o hotel...
- Não queres ficar por aqui? – perguntou Ania.
- É melhor ir para lá. Quero estar lá quando o Martín chegar... – Romina levantou-se e os dois fizeram o mesmo – obrigada...
- De nada, Romi – Ania abraçou-a e, depois, Marcos repetiu o gesto.
- Fiquem bem.
- Tu também. E, qualquer coisa, liga – disse Marcos, começando a caminhar para as escadas.
Assim que Ania fechou a porta já ele não estava naquela divisória da casa. Antes de subir, Ania apagou todas as luzes da sala indo até ao seu quarto. Marcos já estava deitado e Morena dormia tranquilamente no seu berço.
Ania começou por se despir, sob o olhar atento do marido.
- Precisamos de falar... – Ania sobressaltou-se com aquela afirmação de Marcos, sentando-se ao fundo da cama virada para Marcos, estando apenas em roupa interior.
- Isto é demais para ti, não é?
- Não se trata disso – Marcos sentou-se, também, entrelaçando as suas mãos uma na outra e olhando para Ania – promete-me que, se o médico dizer que é perigoso tu não avanças com a ideia...
- Marcos...
- Ania, promete-me – aproximou-se da mulher, agarrando-lhe as mãos – não sabemos como é que o teu útero poderá reagir a uma gravidez tão próxima da outra, não sabemos como tu própria irás reagir. Tanto a nível físico como psicológico. Este bebé não seria nosso...tu terias de abdicar dele no momento em que nascesse.
- Eu abdicarei dele no momento em que estiver dentro de mim. Eu sei que é o meu sobrinho, eu só o vou trazer ao mundo enquanto os pais dele tratam de tudo cá fora para o terem.
- Ania...
- Marcos – Ania levou as suas mãos à cara do marido – eu prometo que, se disserem que é perigoso, eu não avanço. Mas deixa-me tentar, por favor.
- Tenho medo de tudo o que isso possa implicar. Nós ainda queremos dar um irmão à Morena, queremos não queremos?
- Claro que queremos. Mas isto que eu quero fazer por eles não vai interferir com as nossas vidas.
- Claro que vai...tu podes ficar grávida, podes ficar novamente com aquelas mudanças de humor brutais, podes...eu só não quero que tu fiques em risco, que o bebé deles fique eu risco e que o nosso futuro enquanto pais fique em risco, também.
- Eu prometo que só avanço com o sim seguro do médico, com o teu sim e o sim deles dois.
- Promete, também, que me ouves todas as vezes antes de qualquer decisão.
- Claro que sim – Ania precipitou-se na direção dele, beijando-o – estamos nisto juntos, é o combinado não é?
- É.
- E tu vais falar sempre comigo sobre tudo o que sentires ao longo deste processo, não vais?
- Vou.
- Vai correr tudo bem, meu amor – voltou a beijar o marido, com a certeza que não será um processo fácil. Para ninguém.


Olá meninas! 
Espero que tenham gostado do capítulo que vos trouxe para terminar o ano de 2015! Aguardo pelos vossos comentários.
Aproveito, também, para vos desejar a todas um excelente 2016 com muito sucesso, saúde e união. Isso será o essencial. O resto virá por acréscimo e será bem vindo. 
Beijinhos.
Ana Patrícia. 

2 comentários:

  1. Holla :)
    Fic actualizada :P
    Gostei muito deste capitulo e quero o próximo ;)
    Espero que o mano da Ania concorde com a ideia de a Ania ser a barriga de aluger :)
    Bjs :*

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  2. Olá
    Amei! O que a Ania quer fazer é lindo!!
    Vou ler o ultimo que me falta!

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