-
Estás aí? – perguntava Marcos a uma Ania que parecia estar noutro planeta que
não aquele.
-
Estou, mas...
-
Mas? O que é que se passa?
-
Era o Dr. Castro. O meu médico...
-
Sim. E? – Marcos estava completamente aflito por não ouvir grandes coisas da
boca de Ania – fala de uma vez!
-
Calma, não fales assim comigo!
-
Desculpa – Marcos aproximou-se da mulher, agarrando-lhe as mãos – desculpa.
-
Tenho de fazer mais uns testes. Ele está a achar tudo muito estranho com os
valores das análises e quer que eu faça uma ecografia diferente. Para ver
melhor o útero.
-
Mas ele desconfia que haja alguma coisa de errado?
-
Não sei. Quer dizer, ele disse que estava tudo muito anormal... – Ania olhou-o
– depois de dois meses a batalharmos com o Martín...eu tenho de estar bem para
receber o meu sobrinho, Marcos.
Desde
o aniversário de Morena, em Agosto, tinham passado dois intensos meses. Dois
meses onde Ania e Marcos se uniram enquanto casal para convencerem Martín da
ideia de Ania ser a barriga deles. Dois meses onde a esperança se manteve
sempre intacta e tinha culminado com a previsão de vir a existir mais um bebé
na família. O bebé de Romina e Martín.
-
Calma. Vai estar tudo bem...vamos acreditar que isto se trate apenas de mais
testes para garantir que, tanto tu como o futuro bebé estão bem – Marcos
puxou-a para si, beijando-lhe a testa – quando é que temos de lá ir ao médico?
-
O mais depressa que conseguirmos. Quanto mais depressa fizer os novos testes,
mais depressa poderemos avançar com tudo. E, por favor, vamos a esta bateria de
exames só os dois.
-
Podes ficar descansada que me terás sempre a teu lado – Marcos temia todo
aquele processo. Ainda não tinha conseguido falar abertamente sobre tudo com
Ania, ainda não lhe tinha conseguido dizer quais os seus medos e receios...nem
as suas verdadeiras vontades. Mas sabia que, mais cedo ou mais tarde, teria de
o fazer. Podendo pôr em causa todo o seu relacionamento.
-
O que é que acha, doutor? – perguntava Ania, livrando a sua barriga daquele gel
frio – conseguiu ver algo de conclusivo?
-
Vamos sentar-nos ali à secretária para eu ter os resultados das análises que
fizeste comigo – e pronto, Ania sabia que aquela conversa não poderia trazer
boas notícias.
Todos
foram até à secretária do médico e Ania depressa sentiu a mão de Marcos
procurar a sua. Ania olhou-o, passando a sua mão pela cara do marido.
-
Como devem saber – começou o Dr. Castro por dizer – para todo o processo se
dar, o óvulo fertilizado da Romina teria de ser implantado no teu útero Ania.
-
Sim...
-
E como tu és irmã de um dos intervenientes, só o poderias fazer no Brasil.
-
Poderia...?
-
Neste momento o teu útero não é viável para uma gravidez. Depois de todo o
procedimento, irias acabar por não suportar a gravidez.
-
O bebé nasceria prematuro?
-
Não. O bebé não chegaria a nascer. Qualquer óvulo que se instale no teu útero,
neste momento, acabará por se despegar das paredes uterinas...
-
Então, mesmo que eu engravidasse por mim mesma...
-
Irias acabar por sofrer um aborto espontâneo. Eu lamento muito.
-
Mas ela poderá voltar a ter filhos? – Marcos, que se mantinha à margem, acabou
por fazer aquela pergunta.
-
O que é que isso interessa agora? – Ania, numa atitude irreflectida levantou-se
saindo do consultório.
-
Diga-me, ela pode voltar a ter filhos? – Marcos não hesitou em continuar aquela
conversa com o médico. Ele tinha de saber de tudo, mesmo que a sua mulher
tivesse acabado de sair dali.
-
Pode. Vamos ter de fazer um tratamento, regenerar o útero dela para que isso
aconteça. Como sabes, desde que a Ania foi alvejada o útero dela está muito
frágil. Com a gravidez das gémeas...ainda mais frágil se tornou. Creio que o
próprio útero dela esteja a mudar ao longo do tempo mas vamos ter de agir para
que possam ser pais de novo.
-
Obrigado, doutor.
-
Agora vai ver dela. Percebe o que é que ela quer fazer e, sempre que
precisarem, eu estarei aqui para vos ajudar.
-
Muito obrigado.
Marcos
saiu do consultório do médico procurando por Ania naqueles corredores. Não a
encontrou, nem quando chegou ao carro. Marcos optou por sair dali, indo direito
a casa esperando que, também ela, tivesse ido para lá. Mesmo a pé conseguia
chegar lá depressa.
Assim
que abriu a porta de casa, o seu coração acalmou ao vê-la brincar no chão com
Morena.
-
Papá! – Morena, sorridente, levantou os seus braços no ar chamando Marcos para
ao pé dela – papá! – Marcos sorriu, indo ter com a filha. Assim que se sentou
no chão, Morena começou a gatinhar na direcção do pai – mãe deu – mostrou a
Marcos uma boneca nova – é meu.
-
E tu gostas?
-
Sim. O Panda? – tanto Marcos como Ania se riram. Era incrível como Morena se
conseguia expressar já tão bem.
-
Está na hora do Panda, é? – perguntou-lhe Ania.
-
Sim, pode se? Vá lá, mamã – levantou-se, correndo na direção de Ania – os
binquedos e o panda.
-
Tudo bem – Morena bateu palmas, pegando no comando da televisão. Entregou-o a
Ania que depressa ligou a televisão no canal Panda.
-
Achas que... – Ania olhou de imediato para Marcos, assim que ele começou a
falar.
-
Eu acho que não consigo.
-
Consigues mamã, consigues – Ania deu um beijo na cabeça da filha, olhando para
a televisão.
-
Ficas aqui sossegadinha enquanto a mãe e o pai vão...arrumar lá fora as
almofadas do jardim?
-
Sim.
-
Então nós já voltamos – cada um deu um beijo à filha, saindo para o jardim.
Marcos deixou a porta um bocadinho aberta para que pudesse ouvir a filha caso
algo acontecesse. Também a conseguiam ver.
-
Estás bem? – perguntou Marcos.
-
O que é que achas? Eu queria ajudá-los de alguma forma e nem isso posso fazer!
-
O Dr. Castro disse que podes fazer tratamentos.
-
Para quê? Para demorar mais seis meses, um ano? Ou dois? Até que consiga
suportar a gravidez deles? Eles conseguem mais rápido um filho se tentarem com
outra pessoa...
-
Mas poderias tentar...
-
Porque tu queres? Porque tu queres que eu faça esses tratamentos para que
possas ter filhos outra vez? Foi por isso que fizeste aquela pergunta no
médico? – Ania olhava-o e, mesmo estando alterada, conseguia falar com ele
calmamente sem levantar o tom de voz.
-
Nós queríamos ser pais outra vez, não era?
-
Nestas condições? Eu não sei. Teria de voltar a fazer os tratamentos, teria de
correr riscos ao puder ter uma gravidez como a da Morena...nestas condições eu
não sei se quero voltar a ser mãe.
-
Ania mas...
-
Marcos, a sério...eu preciso de tempo.
-
E vais voltar para La Plata? Para teres esse tempo?
-
O que é que estás a querer dizer com isso?
-
Só te perguntei se irias fugir ao assunto outra vez. Se irias fugir de nós como
quando fugiste da tua filha.
-
Bem, uau, nunca pensei que me fosses atirar isso em cara.
-
Acredita que me custa estar a dizê-lo. Eu sei que te foste embora para
melhorares, para te sentires bem contigo mesma...mas tu não sabes o que foram
aqueles dois meses sozinho, aqui, com tudo a acontecer. Não penses que não me
magoa a mim saber que tu não estás bem – Marcos olhou, por momentos, para a
filha que estava toda sorridente a ver os desenhos animados – magoa-me que
coloques em cima da mesa a hipótese de não termos mais filhos.
-
E eu estou a constatar que tu me estás a criticar pela escolha que fiz quando a
Morena nasceu – Marcos voltou a olhá-la – é isso, não é? Tu não conseguiste
aceitar o que eu escolhi.
-
Não, não consegui – Marcos sentia que, pela primeira vez, iriam conseguir falar
sobre tudo o que se tinha passado desde que Morena nascera. Sabia, também, que
poderia não correr bem e que as coisas podiam passar a ser diferentes dali para
a frente – eu compreendi a tua decisão, compreendi que precisasses de tempo
para ti mas não consigo aceitá-lo. Nós poderíamos ter-te ajudado aqui, tu
poderias não ter saído do país para recuperar...tu não fazes ideia do que foram
aqueles dois meses. Cada vez que ela acordava a meio da noite e eu olhava para
a cama e não te via? Era como se tivesses desaparecido das nossas vidas, eu não
sabia quando voltarias! – Marcos via que, à medida que ia falando, Ania ficava
cada vez mais em baixo, como se tudo nela estivesse a desmoronar – quando eu
falava de ti, pensava em ti ou, até, quando aparecias nos meus sonhos um pedaço
de mim despedaçava-se, eu ficava sem saber o que fazer, o que pensar a não ser
em ti. Mas eu tinha de reagir, eu tinha a Morena e não a iria deixar sozinha.
As nossas mães podem ter estado connosco...mas nenhuma delas substituiu o teu
lugar, nenhuma deles nos deu o conforto que precisávamos, nenhuma dela nos deu
o teu amor.
Ania
olhava-o, sentido o seu corpo pedir por uma pausa. Aquelas palavras de Marcos
magoavam-na, mesmo que soubesse que eram a verdade. Mesmo sabendo que Marcos,
pela primeira vez, se abria com ela em relação ao seu período em La Plata.
-
Já que estás a ser tão sincero comigo...tu querias mesmo que eu carregasse o
meu sobrinho? – Marcos, por momentos, olhou para o chão caminhando na direcção
da piscina. Ania virou-se para ele, reparando que o marido tinha levado as suas
mãos à cabeça e não parava de abanar a mesma.
-
Eu não me importei...apoiei-te e tudo isso foi sincero, Ania – depois de levar
as suas mãos à cintura, Marcos acabou por olhá-la – mas eu tinha tanto medo que
isso se realizasse. Tudo o que a gravidez poderia implicar, não só com o teu
estado físico mas com o psicológico...tu irias sentir esse bebé a crescer,
obrigatoriamente eu também o sentiria e, por mais que soubéssemos que seria o
filho do teu irmão...eu não sei se teria conseguido levar a ideia para a
frente.
-
Ficaste aliviado por eu não conseguir ter uma gravidez neste momento?
-
Não.
-
Não mesmo?
-
Não, Ania – aos poucos, Marcos aproximou-se de Ania, mantendo o seu olhar preso
ao dela – por mais que me metesse medo essa gravidez, nada do que se passou
hoje no médico me deixa aliviado. Não é só o futuro bebé do teu irmão e da
Romina que ficou mais afastado da nossa realidade...também o nosso futuro ficou
afastado – Marcos olhou à sua volta, rindo-se – eu imagino esta casa cheia, eu
quero tanto dar irmãos à Morena, tal e qual como nós os temos.
-
Não o vamos poder fazer durante algum tempo.
-
Eu sei.
-
Não, não sabes – Marcos voltou a olhá-la, vendo a sua mulher começar a derramar
algumas lágrimas. Tentou aproximar-se dela para as limpar, mas Ania depressa se
afastou dele sendo ela a limpá-las – nós precisamos de um tempo.
-
Um tempo? – como assim um tempo?
-
Eu não vou fugir para La Plata, mas acho que estarei a fugir na mesma.
-
E vais assim? De um momento para o outro?
-
É difícil ficar assim, Marcos. Tu estás magoado comigo, estás desiludido e eu
não consigo, não consigo mesmo, neste momento estar aqui, todos os dias a
debater-me com os nossos problemas. Sim, eu sou egoísta e poderás odiar-me por
voltar a fugir de ti mas, se nos conheces tão bem como eu nos conheço a nós,
saberás que não vamos ter ambiente aqui em casa, enquanto casal ou enquanto
pais – sim, Marcos sabia perfeitamente que aquilo era verdade por mais que lhe
fosse difícil aceitar – eu fico por perto, posso pedir à Iara que nos aceite lá
em casa.
-
Desculpa, “nos aceite”?
-
Sim. A mim e à Morena.
-
Não. Nem penses. Tu não vais sair daqui e levar o que a vida nos deu de mais
precioso. A Morena fica comigo, se passei dois meses a cuidar dela serei capaz
de passar este tempo também.
-
Mesmo que não saibas quanto tempo será?
-
Sim. Eu também não sabia quanto tempo seria quando estavas em La Plata.
-
Podes...deixá-la comigo quando fores treinar?
-
Sim. Ania...mais uma vez, eu compreendo bem que precisemos de nos afastar um
bocadinho. Eu posso ter sido demasiado bruto ao dizer-te tudo, num dia como o
de hoje, mas...isto não és tu a desistir de nós, pois não?
-
Não, Marcos. Eu nunca serei capaz de desistir do homem que mais me faz feliz.
Mas eu preciso...de repensar a minha vida, de perceber o que é que temos de
fazer daqui para a frente e de dar a noticia ao meu irmão e à Romina.
-
Eu posso fazer isso, se quiseres.
-
Não. Tenho de ser eu. Vou telefonar à Iara – Ania começou a caminhar para o
interior de casa, mas Marcos agarrou-a pela mão fazendo com que a sua mulher o
olhasse.
-
Estás muito magoada com o que disse?
-
Não, Marcos. Tu disseste o que sentias, o que realmente se passava contigo. Eu
andei tão cega nestes dois meses que, se calhar, não me apercebi dos sinais que
poderias ter dado. Tudo vai ficar bem, eu prometo – num gesto de ternura, Ania
passou com a sua outra mão por cima da do marido, soltando-se dele.
Ania
foi até à sala, vendo Morena super atenta à televisão. Sabia que,
provavelmente, a menina iria sentir a sua ausência, que poderia fazer perguntas
mas seria o melhor para ela. Bastou um telefonema para Iara, uma conversa
direta e sincera, para ouvir do outro lado da linha um “vem quando quiseres”. E Ania foi. Nessa mesma noite.
-
Mas vocês vão divorciar-se?
-
Oh, André! Não ouviste o que ela acabou de dizer? – Iara acabou por repreender
André, ao mesmo tempo que conseguia arrancar um sorriso dos lábios de Ania – É
uma coisa temporária, eles precisam disto! Se calhar, também devias ir passar
uns dias com o Marcos, não era nada mal pensado.
-
Coitada da minha filha! – acabou por comentar Ania.
-
Olha, não sei porquê – interveio André – todos sabemos que, mesmo que ela não
admita, a Morena me ama. Ter lá o padrinho a cuidar dela só a iria deixar mais
feliz.
-
Acho, então, que lá podes ir várias vezes ao dia – disse Ania, olhando séria
para André – assim vês se o Marcos precisa de alguma coisa e ajudas.
-
Queres que eu seja o teu espião?
-
Quero, André. Vá lá.
-
Fica descansada, cunhada.
Ania
ficava muito mais descansada. Mesmo que fosse manter contato com o marido,
mesmo que o fosse ver todos os dias, precisava de alguém para o apoiar ainda
mais nesta fase. Precisava de alguém que estivesse ao lado de Marcos nesta fase
e André era essa pessoa sem qualquer dúvida.
Olá meninas!
Aqui vos deixei mais um capítulo com muitas mudanças. Que estão a achar desta nova fase da história? O que acham que se vai passar daqui para a frente? Fico a aguardar pelos vossos comentários com as vossas opiniões.
Beijinhos,
Ana Patrícia.
Olá
ResponderEliminarAdoreii , eles os dois tem de se entender, ai ai!
Próximo!
Beijinhos
Catarina
Aiiiiiii, odeio cada vez que eles se chateiam/afastam... Espero que tudo corra bem rapidamente! Quero mais babys frutos desse amor *.*
ResponderEliminarFico à espera de mais... Para breve? Por favor...
Beijinhos,
Rita B.
PS: Obrigada pelo comentário no meu blog :) Espero daqui a uns meses, retomar com força a minha fic. E, sim, vou tentar apostar mais nos pormenores... Muchas gracias!
Olá!
ResponderEliminarAi eu não acredito que depois de capítulos tao bonitos, acabo a minha leitura neste que acabou tao triste.
A sério que a Ania se afastou do Marcos e da Morena outra vez?? Nãoooo!!! Eles deviam resolver as coisas juntos! Mas pronto espero que lhe faça bem e que volte depressa!
E quero o próximo! !
Olá :)
ResponderEliminarMais um capitulo e fic em dia :P
Epah!...não estou a gostar nada deste afastamento da Ania :/
Eles não se podem separar e logo agora...não mesmo por favor
Espero que a Ania "ganhe" juizo duma vez e ponha na cabeça que é boa mãe para a Morena
Bjs e quero mais capítulos sff :*