quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

45º Capitulo: “Mas, Ania, tu já passaste por tanto numa gravidez...”

Ania olhava há muito tempo para a mesma fotografia. Aquela que tinha como fundo do seu telemóvel e que havia sido tirada há dois dias quando Marcos levou Morena para o jogo de apresentação da época. 


Morena dormia sossegada a seu lado no sofá e Marcos tinha chegado há pouco tempo do treino. Ania não deixava de pensar no seu irmão Martín e em Romina. Todos os tratamentos não tinham dado resultado nenhum e as únicas opções deles seriam: uma barriga de aluguer ou a adopção. Ania queria, de todas as formas possíveis e imaginárias, ajudá-los...apenas não sabe qual é o próximo passo a dar.
- Estás bem? – questionou Marcos, chegando à sala.
- Sim.
- Que carita é essa? – Marcos sentou-se em cima das pernas de Ania, agarrando-lhe o pescoço – estás aí há tanto tempo calada e só a olhar para a nossa fotografia...
- Queria que o meu irmão tivesse uma igual. Uma fotografia assim, onde fosse visível todo o amor dele pela filha...eles não merecem isto. Eles, mais do que qualquer pessoa, têm ajudado em tudo e todos, têm vivido a vida ao máximo e...eles não pediram nada de especial, apenas um filho.
- Ania...
- Eu sinto que vou fazer qualquer coisa por eles. Ainda não sei o que é mas eu quero mesmo.
- Não há nada que possas fazer. Não és médica, não consegues solucionar o problema deles...
- Daqui a pouco vamos buscá-los – Martín e Romina iriam passar os próximos dias em Portugal já que dentro de três dias, Morena iria completar o seu primeiro ano de vida – e eu quero falar com eles, perceber o que é que posso fazer.
- Continuas com aquelas ideias na cabeça?
- São apenas ideias – Ania desviou o seu olhar de Marcos, depositando-o agora em Morena – ninguém iria aceitar tal coisa.
- Ia ser complicado – Marcos sentou-se ao lado de Ania que, naquele momento, teve a confirmação que não poderia colocar aquela sua ideia como uma hipótese para ajudar o irmão – mas podes tentar.
- Posso? – voltou a olhá-lo, estranhando aquela afirmação de Marcos – tu próprio acabaste de dizer que seria complicado. Isto não seria uma coisa que só eu decido...
- Não. Teria de ser decidido a quatro.
- E qual é que seria a tua posição no assunto? – virou ligeiramente o seu corpo para Marcos, olhando-o.
- Não faço ideia.
- Enquanto tu não me deres a tua opinião eu nunca poderei avançar com a proposta ao Martín e a Romina.
- Dá-me tempo, por favor.
- Claro – Ania deitou a sua cabeça sobre o peito de Marcos, sentindo os braços do marido envolverem-lhe o corpo – independentemente de qualquer coisa, é bom saber que estás disponível a pensar no assunto.
- Estarei sempre disponível a pensar sobre tudo o que te envolva a ti e a nós enquanto casal.


- Onde é que eles se meteram?
- Acho que estão lá fora com a More – depois de responder a Ania, Marcos puxou-a para si chocando o seu corpo com o da mulher – parabéns, mamã.
- Parabéns é a ti que há um ano fazias de mãe e pai para ela. E ainda o fazes hoje.
- Temos conseguido fazer um bom trabalho, não temos?
- Eu acho que sim. Creio que nunca vi uma criança tão feliz como a nossa filha.
- E ela também será feliz com todos os primos da vida dela.
- Já o é com o Diego, com os futuros filhos das tuas irmãs e, ainda, aqueles que os meus irmãos tenham para dar. A nossa família será sempre enorme, tens noção disso?
- Se tenho! – Marcos abraçou a mulher, encostando os seus lábios ao pescoço de Ania – quando estiveres pronta, podemos falar com o Martín e a Romina – Ania não sabia muito bem o que Marcos queria dizer com aquilo...aquele assunto tinha caído no esquecimento desde que o seu irmão e a cunhada tinham chegado a Lisboa.
Olhou o marido, sentindo as mãos de Marcos chegarem-lhe ao pescoço.
- Como assim?
- Eu não sei quando o queres fazer, nem como o queres fazer mas eu estarei a teu lado.
- Vai ser estranho, não vai?
- Possivelmente – os dois foram surpreendidos pela chegada de Iara à sala.
- Ai desculpem seus pombinhos, não queria interromper o momento dos pais da aniversariante!
- Não interrompeste nada... – começou Ania.
- Ai isso é que interrompeu! É que foi logo no momento chave!
- Não me digas que a ias pedir em casamento? – os três começaram a rir-se e Iara seguiu o seu caminho.
- Quando é que será boa ideia falar com eles?
- Ou mais para a noitinha ou quando a Morena acalmar...
- Acho que, no dia de hoje, ela não vai conseguir acalmar antes da noitinha.
- Pode ser que sim...vá, agora vamos até lá fora – Marcos deu a mão a Ania, caminhando com ela até ao exterior.
Ania foi, de imediato, ter com Morena que brincava com Romina. Tinham escolhido fazer uma festa simples, apenas com alguns amigos e o único que estava da família de Ania era Martín com Romina e Micaela do lado de Marcos. Os restantes tinham ficado por La Plata.
- Que tal se está a portar a senhora Morena? – Ania sentou-se na relva perto das duas.
- Super bem. Se ninguém se meter com ela, ela não dá trabalho a ninguém e brinca com as coisinhas dela sossegadinha.
- Já é assim desde bebézinha, pelo que me dizem – Romina olhou-a, esboçando um sorriso – achas que podemos falar um bocadinho?
- Claro. Passa-se alguma coisa?
- Romi... – Ania aproximou-se da cunhada, agarrando-lhe numa das mãos – tem a ver com vocês...
- Comigo e o teu irmão?
- Sim. Eu sei o quão difíceis são todos os tratamentos mas não imagino, sequer, o que será dizerem-nos que não é possível ter uma gravidez porque o nosso corpo rejeite que o bebé se forme... – Ania, por momentos, teve medo de avançar com o que queria dizer à cunhada. Tinha Marcos a observá-la, sentando à mesa debaixo do toldo. Fez-lhe um coração com as mãos, assentindo que sim com a cabeça...quase como se as estivesse a ouvir.
- Está tudo bem? – questionou Romina que não deixou aquele momento passar-lhe ao lado – Também andas a tentar?
- Não, não – Ania focou-se, de novo, na cunhada – já pensaram em barriga de aluguer?
- Nós não podemos fazer isso...eu nunca poderia seguir tão perto o crescimento do meu bebé. Sabes que só o poderíamos fazer ou nos Estados Unidos ou no Brasil? – Ania assentiu que sim com a cabeça – iria ser complicado...muito complicado mesmo.
- E se...a vossa barriga fosse a minha?
- Ania...
- Não me digas nada. Nem um sim, nem um não...eu sei que é uma coisa que precisaríamos imenso tempo para ponderar e pensar e, até, ver se eu posso ser a vossa barriga. Porque não sabemos se eu também o poderia ser – Ania agarrou as mãos de Romina, aproximando-se dela – mas eu estaria disposta a ajudar-vos e o Marcos também. Seria complicado, mas não custa nada tentarmos.
Romina sentia-se sem chão, sem nada na cabeça. Não por ter recebido uma má noticia mas por ser uma situação com a qual não sabia lidar. Olhou para Martin que estava à conversa com Micaela e Marcos.
- Já falaste com o Marcos? – perguntou Romina, quase sussurrando.
- Já. Ele deu-me força para que pudesse falar convosco mas, ambas sabemos que será um processo complicado. Mas poderiam acompanhar a gravidez, o crescimento do vosso filho...e acredito que confiassem em mim para o carregar durante nove meses.
- Claro que sim – Romina olhou-a – de entre todas as hipóteses tu serias a nossa escolhida, sem qualquer dúvida. Mas, Ania, tu já passaste por tanto numa gravidez...nem eu, nem o teu irmão te conseguiríamos pedir tal coisa.
- Vocês não me estão a pedir nada, nem iriam pedir. Sou eu que me estou a oferecer para vos ajudar. Só isso.
- Achas que podemos falar disto noutro momento?
- Claro, claro.
- Mas obrigada, Ania – Romina passou com a sua mão pela cara de Ania, sorrindo – é um gesto que eu nunca me esquecerei – as duas foram interrompidas por Morena que atirou um dos seus brinquedos para junto de Romina – alguém está a querer brincar com a tia! – aproximou-se de Morena, dando-lhe um beijo na testa.
Ficaram as três durante bastante tempo ali a brincar com Morena até que Martín e Micaela se juntaram a elas. Ania aproveitou aquele momento para ir ter com o marido e os amigos.
- Olha quem é ela! – disse André, atirando um rebuçado para Ania – já brincaste tudo, miúda?
- Já, já. Mas tu bem que podias ajudar a manter a Morena ocupada.
- A piriti não gosta de mim – Ania sentou-se em cima das pernas de Marcos que, de imediato, rodeou o corpo da mulher com os seus braços.
- Tu é que não gostas de te mexer, isso sim – atirou Iara, fazendo com que todos se rissem menos André.
- Só por causa disso, adeus! – André levantou-se indo até à relva. Os primeiros momentos dele junto de Morena e de todos os que estavam junto dela, só fizeram com que Ania, Marcos e Iara se rissem. Ultimamente, Morena fazia de tudo para afastar André de perto dela. Mesmo que o puxasse para brincar com ela.
- Já falaste com a Romi? – perguntou, baixinho, Marcos ao ouvido de Ania.
- Já – Ania virou ligeiramente o seu corpo para o marido, levando as suas mãos à cara de Marcos – coloquei a hipótese de ser eu a carregar o filho deles em cima da mesa. Mas vamos precisar de falar muito bem disto todos.
- Devo dizer que poucas seriam as pessoas capazes de tal coisa – Marcos levou as suas mãos às costas de Ania, por dentro da camisola que ela envergava – e que consegues tornar-te ainda mais bonita a cada dia que passa – Marcos deu um beijo no pescoço de Ania que aproveitou o momento para o abraçar – nós vamos ter de falar muito mesmo.
- Oh meninos! Façam essas coisas quando eu não estiver por perto! – os dois começaram a rir-se já que se tinha esquecido completamente que Iara estava presente.
Ania virou-se para a amiga, continuando a sentir as mãos de Marcos no seu corpo.
- Pedimos imensa desculpa, Iara.
- Acho bem. Eu dispenso saber como é que é o vosso processo de preliminares! – todos se riram, acabando por tornar aquele momento mais leve para Ania e Marcos.


- Não, não, não!
- Martín, deixa a tua irmã acabar de falar – pediu Marcos.
- Não, Marcos. Desculpa mas eu já ouvi o suficiente. Eu não quero que vocês passem por uma gravidez que não é vossa...podendo correr todos os riscos que a Ania correu quando foi da Morena. Eu não quero isso – Martín olhava a irmã que, naquele momento, estava petrificada a olhar para ele – não me olhes assim, Ania.
- Mas...
- Mas nada. Nós haveremos de arranjar uma solução, alguém que nos ajude.
- Eu quero ajudar. Eu estou a oferecer-me para ajudar...eu quero carregar o meu sobrinho e dar-vos a hipótese de seguirem todos os passos da vossa gravidez.
- E o que é que vais explicar à tua filha quando ela perceber as coisas? O que é que vais explicar às pessoas que vos seguem?
- A verdade...se vocês quiserem, claro. Podemos sempre esconder ao máximo...
- Não, Ania. Não podemos – Martín levantou-se do sofá, olhando para a irmã e o cunhado – eu agradeço o que vocês querem fazer, não me achem ingrato mas eu não posso aceitar. Eu vou dar uma volta – Martín não deu qualquer hipótese para lhe responderem já que saiu imediatamente de casa.
- Obrigada – disse Romina, chamando a atenção dos dois – obrigada mesmo por tentarem.
- Eu não vou desistir – Ania olhou para Marcos – eu vou voltar a falar com ele sobre isto – voltou a olhar para Romina – e eu vou conseguir convence-lo a olhar para a hipótese que eu vos estou a dar como uma hipótese bastante válida.
- Mas deixa passar uns dias – avisou Marcos.
- Claro. Acho que até podemos falar com o nosso médico e ver o que é que ele diz sobre o assunto – Ania sentiu a mão de Marcos procurar a sua, enquanto Romina os olhava com um sorriso nos lábios.
- Eu não tenho palavras para agradecer o que querem fazer por nós.
- Não precisas de agradecer, Romi – disse Ania.
- Somos família e estamos dispostos a fazer tudo para ajudar – ao falar, Marcos acabou por surpreender a própria mulher. Sabia que ele se sentia bem naquela família...mas surpreendia-a por estar a dizer aquilo a Romina.
- Eu acho que vou andando para o hotel...
- Não queres ficar por aqui? – perguntou Ania.
- É melhor ir para lá. Quero estar lá quando o Martín chegar... – Romina levantou-se e os dois fizeram o mesmo – obrigada...
- De nada, Romi – Ania abraçou-a e, depois, Marcos repetiu o gesto.
- Fiquem bem.
- Tu também. E, qualquer coisa, liga – disse Marcos, começando a caminhar para as escadas.
Assim que Ania fechou a porta já ele não estava naquela divisória da casa. Antes de subir, Ania apagou todas as luzes da sala indo até ao seu quarto. Marcos já estava deitado e Morena dormia tranquilamente no seu berço.
Ania começou por se despir, sob o olhar atento do marido.
- Precisamos de falar... – Ania sobressaltou-se com aquela afirmação de Marcos, sentando-se ao fundo da cama virada para Marcos, estando apenas em roupa interior.
- Isto é demais para ti, não é?
- Não se trata disso – Marcos sentou-se, também, entrelaçando as suas mãos uma na outra e olhando para Ania – promete-me que, se o médico dizer que é perigoso tu não avanças com a ideia...
- Marcos...
- Ania, promete-me – aproximou-se da mulher, agarrando-lhe as mãos – não sabemos como é que o teu útero poderá reagir a uma gravidez tão próxima da outra, não sabemos como tu própria irás reagir. Tanto a nível físico como psicológico. Este bebé não seria nosso...tu terias de abdicar dele no momento em que nascesse.
- Eu abdicarei dele no momento em que estiver dentro de mim. Eu sei que é o meu sobrinho, eu só o vou trazer ao mundo enquanto os pais dele tratam de tudo cá fora para o terem.
- Ania...
- Marcos – Ania levou as suas mãos à cara do marido – eu prometo que, se disserem que é perigoso, eu não avanço. Mas deixa-me tentar, por favor.
- Tenho medo de tudo o que isso possa implicar. Nós ainda queremos dar um irmão à Morena, queremos não queremos?
- Claro que queremos. Mas isto que eu quero fazer por eles não vai interferir com as nossas vidas.
- Claro que vai...tu podes ficar grávida, podes ficar novamente com aquelas mudanças de humor brutais, podes...eu só não quero que tu fiques em risco, que o bebé deles fique eu risco e que o nosso futuro enquanto pais fique em risco, também.
- Eu prometo que só avanço com o sim seguro do médico, com o teu sim e o sim deles dois.
- Promete, também, que me ouves todas as vezes antes de qualquer decisão.
- Claro que sim – Ania precipitou-se na direção dele, beijando-o – estamos nisto juntos, é o combinado não é?
- É.
- E tu vais falar sempre comigo sobre tudo o que sentires ao longo deste processo, não vais?
- Vou.
- Vai correr tudo bem, meu amor – voltou a beijar o marido, com a certeza que não será um processo fácil. Para ninguém.


Olá meninas! 
Espero que tenham gostado do capítulo que vos trouxe para terminar o ano de 2015! Aguardo pelos vossos comentários.
Aproveito, também, para vos desejar a todas um excelente 2016 com muito sucesso, saúde e união. Isso será o essencial. O resto virá por acréscimo e será bem vindo. 
Beijinhos.
Ana Patrícia. 

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

44º Capitulo: “Na verdade...sou eu que vou a La Plata.”

- Sabes que eu te conheço melhor que ninguém... – dizia Marcos, depois de insistir com Ania de que ela não estava bem.
- Já me ligaram imensas vezes da polícia de La Plata...
- A sério? – aproximou-se de Ania, segurando-lhe as mãos – tiveste de...
- Eu não consegui fazer nada – olhou-o séria, acabando por sorrir – eu tenho muita sorte em ter-te na minha vida, não haja mesmo duvidas disso.
- Ania...não fujas ao assunto.
- Podias, apenas, não falar dele – Ania deixou o seu corpo cair sobre o de Marcos, mantendo-se sentada mas com a cabeça em cima do ombro do marido – provavelmente querem que eu confirme o que aconteceu, que conte tudo e...eu não quero ter de recordar tudo. Muito menos denunciar o meu irmão...aos poucos, eu vou começando a não pensar no que aconteceu, nós saímos de La Plata para Moscovo e agora estamos em Lisboa e eu consegui afastar-me dele e não o ver faz com que me esqueça mas...
- Shh – Marcos levou a sua mão até à coxa de Ania, beijando-lhe a cabeça – não vamos, então, fazer qualquer chamada para La Plata nem atender nenhuma.
- Obrigada por entenderes...
- Estamos casados, eu tenho de te ouvir e compreender o que tens para me dizer. Mais do que te dizer o que deves ou não fazer, eu tenho de compreender porque o queres fazer.
- Se calhar, são poucos os homens que pensariam assim... – os dois olhavam-se, mas acabaram por despertar de todo aquele ambiente quando o telemóvel de Ania deu sinal de notificação de um email – devem querer fazer uma entrevista contigo e estão a ver se eu te consigo persuadir – os dois riram-se e Ania começou a ler o email.

Boa tarde, Ania Gottardi Rojo.
Estamos a tentar contacta-la por parte da policia federal de La Plata. Depois de tentarmos faze-lo por telefone, percebemos que não está receptível a falar connosco. Compreendemos que a situação seja delicada e, por isso mesmo, estamos a enviar-lhe este email. Queremos que o seu depoimento venha por escrito e no prazo máximo de três dias. O seu irmão já confirmou tudo mas precisamos de ter o seu depoimento. Se optar por não o fazer, iremos manter o seu irmão em prisão preventiva até que sejam reunidas todas as provas dos acontecimentos.
Esperamos pela sua colaboração.
Sem mais assunto,
Policia Federal de La Plata.

- Que se passa? – perguntou Marcos depois de ver a sua mulher atirar com o telemóvel para cima da mesa de centro.
- É a polícia. Ou faço o meu depoimento dentro de três dias ou mantêm o Lucas em prisão preventiva até reunirem todas as provas.
- Então ele ficaria em prisão preventiva até acabarem a investigação?
- Pois, muito provavelmente seria isso...
- Sabes – Marcos agarrou a mão de Ania, olhando-a – independentemente do que queiras fazer eu ajudo-te em tudo o que puder. Mas não faz sentido nenhum...se o Lucas já confessou porque é que estão a insistir com tudo isto?
- Eu não sei. Mas eu não o posso deixar muito tempo na prisão...o Lucas não iria aguentar e, sabe-se lá do que é que ele seria capaz de fazer.
- Vais escrever?
- Vou. Não sei quando, mas vou.
Ania levantou-se do sofá. Precisou de sair até ao exterior da casa, precisava de apanhar ar e aclarar as suas ideias. Precisava de tomar uma decisão. Que não fazia a mais pequena ideia de qual seria.


- O Marcos?
- Tu, que és o agente dele, não sabes onde anda o menino? – Ania falava com o irmão, Martin. O representante de Marcos.
- Oh, não sejas parva. Eu não ando a seguir o teu marido para todo o lado, não é?
- Se o fizesses eras capaz de ver coisas que não devias...
- Ania! Menos dessas coisas perversas.
- Até parece que não as fazes com a tua namorada, mas enfim.
- Respondes à minha pergunta ou não? – Martin sentou-se no sofá, olhando para a irmã que se ria.
- Ele foi a uma sessão de autógrafos.
- Ah, então estamos sozinhos, é?
- Estamos...porquê?
- É o Lucas...
- Já não chegou o meu depoimento? O que é que querem mais? Passou um mês...estamos tão perto do Natal, o que é que podem querer mais?
- Os advogados do Lucas fizeram o pedido para o libertarem durante os dias do Natal. Foi aceite e...ele vai passar o Natal a casa.
- Como assim?
- Ele vai a casa durante o Natal.
- Mas...não vai estar lá ninguém – Ania começou a estranhar tudo aquilo. Lucas não iria passar o Natal sozinho, com certeza – quem é que não vem? – sim, Ania apercebeu-se que alguém que estava em La Plata não viesse passar o Natal com eles a Portugal.
- Na verdade...sou eu que vou a La Plata.
- Tu? – não esperava, de todo, aquela atitude por parte de Martin. Ele esteve bastante entusiasmado com o natal ali em casa, estava empolgado por ser o primeiro natal com a sua sobrinha. Ania não esperava mesmo que Martin tomasse tal decisão.
- Eu sei que, se calhar, não estavas à espera mas surgiram umas coisas complicadas que só falei com o Marcos, e foi ontem não te zangues com ele – Ania viu Martin agarrar-se à cabeça e depressa sentiu o seu coração disparar. Não fazia ideia do que se estaria a passar com o seu irmão, o seu Martín – eu e a Romina estamos a tentar ser pais – Matin olhou para a irmã, esboçando um pequeno sorriso – a Morena e o Diego – o filho de Francisco – vieram trazer à nossa família uma alegria imensa e...eu e a Romina queremos muito levar a nossa relação a outro patamar. Mas não o queremos fazer em Portugal.
- Não?
- Não. Nós queremos voltar para La Plata e para as nossas vidas mais calmas. Eu já falei tudo com o Marcos para lhe arranjar um novo representante e ele concordou. Eu quero dar estabilidade à Romina no nosso país, quero criar lá a minha família.
- E...que complicações surgiram?
- Vamos ter de fazer tratamentos de fertilidade – Ania olhava para o irmão recordando tudo o que tinha vivido. Sabia o quão difícil esses tratamentos poderiam ser, o quanto poderiam não dar certo. Agarrou as mãos de Lucas, passando com a sua mão pela face do irmão.
- Tudo o que precisarem nós estaremos sempre todos ao vosso lado.
- Obrigada, maninha – Martin abraçou a irmã, dando-lhe um beijo na testa – queria pedir-te uma coisa – Ania olhou-o, acenando afirmativamente com a cabeça – podes dar o número do teu médico lá de La Plata à Romina?
- Claro, claro. Ela ficará, sem dúvida, em óptimas mãos. Quando é que vão?
- Amanhã.
- E só me avisaste hoje? Oh Martin! Isso assim não dá com nada!
- Por favor, não chores. Nós só estamos a umas horas de viagem, nada mais.
- Oh, mesmo assim...devias ter-me dado tempo para fazer um jantar de despedida.
- Temos tempo para jantar hoje!
- Isso temos...
- Então está feito – Martin levantou-se, começando a caminhar em direção da porta de casa – eu vou buscar a Romina e depois volto para jantarmos todos.
- Tu querias era um jantar hoje, estou a ver.
- Conheces-me, maninha – os dois riram-se e Martin saiu de casa, deixando Ania, mesmo assim, atordoada. Não estava nada à espera destas mudanças tão repentinas.


- Ania? – a voz de Marcos fez-se ouvir na cozinha e Ania depressa foi ter com ele à sala.
- Que foi?
- Acho que ela quer começar a andar!
- Achas...tu já andas a achar isso desde que ela tinha cinco meses, Marcos – os dois riram-se e Ania sentou-se ao lado de Marcos no chão. Olhavam os dois para Morena, com os seus maravilhosos onze meses. A menina fazia varias tentativas para se colocar de pé, mas sem sucesso – eu acho que continuam a ser apenas tentativas de se colocar em pé, Marcos. Lamento informar.
- Oh! Quando é que ela irá começar a andar?
- Temos de dar tempo – Ania levantou-se passando com a sua mão pela cabeça de Marcos – vamos à praia lá mais para a tardinha?
- Queres ir à praia?
- Apetecia-me por acaso...
- Por mim, podemos ir sim senhora. Vamos à praia bebé! – Marcos olhou para a filha, batendo palmas. Morena bateu palmas também levando, depois, as suas mãos ao chão e colocando-se de pé – Ania, tu estás a ver?
- Estou Marcos. Tu não faças nenhum escândalo, por favor. Ainda assustas a menina.
- Ela...ela vai andar! – estavam tão sossegados os dois que Morena se começou a rir. Marcos esticou os seus braços em direcção da filha que, com uma calma enorme começou a caminhar para os braços do pai.
Ania sorria com todo aquele momento, memorizando aquele momento para sempre. Não só na sua cabeça como em imagem. Eram os primeiros passos da sua bebé.
Morena chegou perto de pai, atirando-se para ele. Riu-se e bateu palmas como se percebesse que aquilo era uma vitória para ela também.
- Agora é que vai começar a correria aqui por casa, prepara-te!
- Vamos ter treinos para maratonas com ela – os dois riram-se e Ania, antes de voltar à cozinha, deu um beijo na bochecha da filha.
Aproveitou o caminho de volta à cozinha para partilhar uma imagem no seu instagram.

Que comecem as corridas! Os primeiros passos estão dados!
- Nunca pensei que estes dois quisessem vir também – atirou Marcos, referindo-se a André é Iara.
- Deves estar cá com um medo que eu afugente as tuas fãs...! – disse André, fazendo com que Ania e Iara se rissem – vês, até elas concordam comigo!
- Cala-te, oh! – Marcos atirou com uma pá de Morena a André, recebendo-a de volta – podias ter acertado na miúda oh!
- Eu não sou zarolho como tu, deixa lá!
- Mas vocês hoje tiraram o dia para serem miúdos pequenos ou é impressão minha? – Ania acabou por interromper.
- É o teu marido!
- E tu juntaste à festa... – comentou Iara.
- Sempre a deitar uma pessoa abaixo – André levantou-se olhando para todos – querem que vos traga alguma coisa?
- Não, obrigada – respondeu Ania, vendo que Iara se levantava também.
- Eu vou contigo – juntou-se a André e os dois começaram a andar em direção do pequeno bar da praia. Ania olhava para Marcos que brincava com Morena na areia. Fotografou-os, aproximando-se do marido.


- Está tudo bem? – perguntou Marcos, olhando para a mulher.
- Melhor não poderia estar, Marcos – Ania levou a sua mão até à cabeça de Marcos, fazendo-lhe pequenos círculos sobre a mesma.
- O Martín ligou-me de manhã – Marcos olhou-a, mantendo-se a mexer na pá e nos brinquedos de Morena – tens falado com eles?
- Sim, mais com a Romi dadas as circunstâncias...
- O teu irmão parece um pouco pessimista.
- A sério? – Ania sentou-se no areal, ao lado de Morena, olhando assim de frente para o marido – o que é que ele te disse?
- Acho que eles estão a passar uma fase estranha...o Martín diz que a Romi o começou a rejeitar. O teu irmão acha que ela está a precisar de falar com outras pessoas mas que, simplesmente, não quer.
- Se eles, ao menos, estivessem cá connosco...o médico disse que esta será a última grande esperança que eles têm, Marcos. Ela já fez todo o tipo de tratamento possível, ela não pode continuar assim...deviam começar a pensa em todas outras hipóteses. Adopção, barriga de aluguer...porque está tudo bem com ela e o meu irmão.
- Seria possível achar uma barriga de alugar lá?
- Creio que não. Tinham de ir fazer isso a outro lado, mas se fosse a melhor opção deles...
- Vamos ter de esperar pelo fim deste tratamento... – Ania olhou para Morena, visivelmente alegre e coberta de areia – quando chegar a casa vai ser tirar areia de todos os lados – Ania acabou por se rir com aquele comentário do marido.
Acabaram por terminar o assunto de Romina e Martín, brincando com a filha na areia. Iara e André voltaram para junto deles, visivelmente animados.
- Olha estes dois já foram fazer um filho! – atirou Marcos.
- Andas cá um engraçadinho, tu – Iara deu-lhe uma palmada nas costas, sentando-se no areal ao lado de Ania.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

43º Capítulo: “(…) as escolhas que faças, em nada prejudicarão a nossa filha.”

- De certeza que está tudo bem? – voltava Ania a perguntar a Marcos depois de este ter estado quase 45 minutos ao telefone com a mãe. 
- Sim. Depois da típica conversa para saber como é que estávamos, ela queria combinar as coisas do Natal – oh boa...o Natal. 
Faltava, ainda, um mês para que fosse Natal mas, pelos vistos, Ania não era a única a pensar nele. Naquele momento, não queria sujeitar Morena a uma viagem tão longa para La Plata mas, ao fazer o Natal em Portugal, sabia que, se calhar, nem todos os seus irmãos estariam presentes.
- Temos de falar muito bem sobre o Natal...
- Eu não quero ir para La Plata – para seu grande espanto, Ania olhou para Marcos depois daquela afirmação – a Morena tem quatro meses, é demasiado pequena para uma viagem tão grande e...poderá sofrer com a mudança de clima. A não ser que tenhas uma opinião diferente...
- Não, não! Nada disso...estamos em sintonia nesse aspeto. 
- Mas sei que é complicado termos aqui todos nessa altura. 
- Podemos ir tentando organizar as coisas e falar com eles. Temos um mês para organizar o nosso Natal – Marcos levou as suas mãos à cara de Ania, juntando os seus lábios com os dela num curto mas quente beijo. 
- A Iara e o André? – perguntou, quebrando aquele beijo. 
- Estão na cozinha a dar a papa à Morena.
- Temos de ir interromper o momento, então.
- Porquê?
- Está na hora de irmos para o treino...
- Quase me esqueço que tens treinos de tarde – os dois caminharam em direção da cozinha, vendo André com Morena ao colo e Iara a tentar-lhe dar a papa – então meninos, como é que isso está a correr?
- A tua filha não quer comer nem por nada! – atirou André – eu já disse à Iara para trocarmos que ela comigo come...mas não, ela insiste em ser ela a dar a comida à miúda. 
- Papi... – começou Marcos, fazendo com que Ania olhasse para ele. Nunca antes o tinha ouvido chamar aquilo a André – temos de ir para o treino.
- Vês, Iara? Agora tenho de me ir embora e não dou comer à menina! – com cuidado, André levantou-se da cadeira, entregando Morena a Ania – eu prometo, prometo mesmo, que quando voltarmos a estar juntos o tio te trata como deve ser – André falava com Morena, dando-lhe um beijo na testa – agora toma conta das duas malucas que ficam contigo, si?
- Escusas de falar como se ninguém te estivesse a ouvir, esperteza! – afirmou Iara, colocando-se em pé – vai é treinar que não queremos gordos por aqui. 
- Eu sempre ouvi dizer que não há amor sem insultos – disse Marcos, fazendo com que todos se rissem – vá, anda lá embora – agarrou o braço de André, puxando-o com ele. 
- Nem se despedem de nós... – falou Ania, suficientemente alto para que eles ouvissem.
- Adeus! – disseram, os dois ao mesmo tempo. 
As duas raparigas riram-se, acabando por terminar o que Iara e André tinham começado. 
- Vamos às compras enquanto eles estão no treino? perguntou Ania – digo, compras para o almoço de amanhã...
- A sério? Tu farias isso por mim?
- Claro, tonta! – Ania riu-se – sei que o primeiro encontro com a sogra é sempre complicado e, no que puder ajudar, estarei aqui para minimizar os nervos. 
- Gracias, gracias, gracias! 
- De nada, tontita – as duas trocaram um sorriso cúmplice entre si, acabando por terminar de dar o comer a Morena preparando-se de seguida para saírem de casa. 



Passearam calmamente pelas ruas de Lisboa. Procuraram tudo o que faria falta para aquele tão importante almoço. Ania aconselhou o que Iara deveria oferecer a Ana Maria, sendo que jovem ficou bastante indecisa no que comprar, adiando aquela decisão para o dia seguinte enquanto André estaria no treino. 
- Achas que temos mesmo tudo? – perguntava Iara. 
- Acho. E, mesmo que nos falte alguma coisa, amanhã temos tempo para comprar. 
- Estou tão nervosa, Ania – Ania já se tinha apercebido daquele facto – e se correr mal? E se ela não gostar de mim?
- Não podes pensar nessas questões, Iara. Por muito brincalhão que o André seja, ele está empenhado e dedicado à vossa relação. Tenho a certeza que se o almoço correr mal e a D. Ana Maria não gostar de ti, o que não vai acontecer, ele irá proteger-te e manter-se a teu lado. 
- Como é que consegues?
- Como é que consigo o quê? – as duas acabaram por se sentar num banco perto de um jardim, aproveitando para descansar um pouco as pernas. 
- Ser tão positiva depois de tudo o que já te aconteceu...
- Isso – Ania olhou para as suas mãos e, de seguida, para Morena – acho que vou tendo a meu lado as pessoas certas – olhou para Iara, abrindo um sorriso sincero – e...acho que depois de tudo o que acontecer, ser positiva é a melhor solução. 
- Eu não quero deitar tudo a perder com o André. 
- Isso não irá acontecer só por causa do almoço de amanhã, te garanto – as duas foram interrompidas pelo som do telemóvel de Iara. 
- É o André... – olhava enternecida para o telemóvel, acabando mesmo por atender a chamas – amorcito – Ania sorriu, prestando atenção a Morena. Talvez não tivesse sido prudente ao vir passear com ela depois de saírem do hospital...mas sentia que precisava daquilo, de se distrair e abstrair de todos os últimos acontecimentos. Morena estava bastante agasalhada e o dia não estava tão frio como os últimos – em que pensas tu? – perguntou Iara, sobressaltando Ania. 
- Que, se calhar, não deveria ter saído com ela de casa...
- Sabes que, ao acontecer alguma coisa, poderia ser aqui ou em casa. Alem do mais ela está mais agasalhada do que uma pessoa que vá à serra da estrela! – as duas riram-se, olhando para Morena – ela está cada dia mais parecida com ele, não está?
- Está! Acho que a única parecença que tem comigo é...
- Os olhos! Os olhos são completamente iguais aos teus.
- A sério? Eu diria que é o nariz...
- Também, um pouco. Mas os olhos são iguaizinhos! Olha, é verdade, eles vêm aqui ter connosco. Querem ir comer um gelado...não me perguntes porquê mas eles estão com vontade de comer um gelado. 
- Primeiro treinam e depois comem gelados...isso não faz lá muito sentido – as duas partilharam uma gargalhada acabando por dar uma volta por aquele jardim, enquanto eles não chegariam – lá vêm aqueles dois – Ania apontou para a frente, vendo que vinham bastante animados – como é que o André não tem frio de manga curta?
- Bela pergunta...ele não regula com o baralho todo. 
- Vejam só se não são as duas miúdas mais giras de Lisboa e uma emplastra – tanto Ania como Iara ficaram confusas com aquela afirmação de André – respeitando-te imenso, Ania, és um gajo para mim. 
- Ah! Ai sou? 
- És. Mas também és bonita, não te preocupes – André aproximou-se de Iara, cumprimentando-a com um beijo super apaixonado. Marcos fez o mesmo, caminhando calmamente na direção de Ania. 
- Se calhar não fiz o melhor em traze-la para a rua... – começou Ania por dizer. Marcos levou as suas mãos ao pescoço da mulher, unindo os seus lábios com os dela. Naquele momento, Ania sentiu-se a viajar para outra dimensão, era como se nada à volta deles existisse, era como se estivessem a viver um momento só deles. A forma como Marcos a beijava mudara...Ania percebia que agora ele o fazia com ainda mais desejo, com ainda mais paixão e vontade de a ter só para ele naqueles momentos. 
As mãos de Marcos percorriam sempre as costas de Ania, tentando absorve-la para si. Tinha jurado a si mesmo que iria ser sempre assim porque o tempo que passaram afastados foi, talvez, o mais doloroso. 
- Está tudo bem – Marcos quebrou o beijo, deixando a sua testa junto da de Ania e as suas mãos no pescoço da mulher – ela está muito agasalhada e hoje nem está tanto frio como nos outros dias. 
- Gracias...
- Porque?
- Por não criticares as minhas escolhas. 
- Seria incapaz de o fazer. Sei que precisam destes momentos e sei que as escolhas que faças, em nada prejudicarão a nossa filha. 
- Gracias, mi amorAnia levou as suas mãos à nuca de Marcos, beijando-o.
- Oh meninos, mas já não chega disso? – perguntou André, interrompendo aquele momento. 
- Oh André! – Iara deu-lhe uma palmada no ombro, repreendendo-o pelo que tinha acabado de fazer. 
- Não venhas com coisas, eles daqui a nada ficariam sem ar...só estou a zelar pela saúde deles – todos se riram – vamos comer o gelado ou não?
- Tu deves pensar que estás no verão, não? – perguntou-lhe Ania.
- Não...mas apetece-me. 
- E também te apetece andar em manga curta, então?
- Sim. Não está assim tanto frio cunhada! – os quatro começaram a andar e Marcos, involuntariamente, assumiu o controlo do carrinho de Morena. Pararam junto de um carrinho de vendas de gelado e, enquanto eram atendidos, André sentou-se nele esperando a sua vez.
Claro que Marcos não deixou aquele momento passar ao lado e, quando estavam despachados, denunciaram o que se passava pelas redes sociais. 
- Sabes, André...és capaz de receber pedidos de pessoas a querer gelados – afirmou Iara. 
- Hã?
- Eu, se fosse a ti, ia ao instagram... – disse Ania, rindo-se. André olhou, de imediato, para Marcos pegando no telemóvel.

A nova profissão de André Carrillo #Papi


- Deves querer que eu partilhe as tuas aptidões para babysitter! – atirou André, depois de ver o que Marcos tinha colocado no seu instagram.
- Eu ainda não percebi uma coisa – Ania interrompeu-os, mesmo antes de Marcos começar a falar – porque é que o tratam por papi?
- Essa é fácil – começou Iara – ele tem a mania que manda em todos. É uma espécie de pai de todos...
- Isso é, no mínimo parvo, o André não teria capacidades para isso! –
André olhou para Ania, depois daquela afirmação, tentando perceber se ela estaria a brincar ou a falar a sério – vá, eu estou a brincar.
- Acho bem! –
aproveitaram o resto daquela tarde voltando para casa quando começava a arrefecer.




- Eu estou calma, Ania, a sério – Iara retocava a sua maquilhagem, rindo-se. Ania estava a achar muito estranho todo aquele à vontade repentino de Iara. À meia hora atrás, quando estavam a finalizar o almoço e a colocar a mesa, Iara parecia uma pilha de nervos.
- Mas...tu à pouco estavas tão nervosa!
- O André mandou uma mensagem.
- Ah pronto! Temos explicação, então. Aposto que estava relacionado com sexo!
- Ania!
- Pronto, pronto, eu não digo mais nada.
- Mas sim, tens razão –
as duas riram-se e foram surpreendidas pelo som da porta a fechar – chegaram! – Iara guardou as suas coisas e as duas desceram até ao andar debaixo.
André estava junto da alcofa de Morena enquanto Ana Maria cumprimentava Marcos com dois beijos.
- Ali está ela! – André, visivelmente animado, caminhou na direção de Iara agarrando a sua mão esquerda. Deu-lhe um ternurento beijo nos lábios, não demorando muito, mas demasiado bonito de se ver – madre! – aproximou-se da mãe, entregando a mão de Iara à mãe – es mi novia, Iara – olhava a mãe até que olhou para Iara, sorrindo – Iara, es mi madre. Ana Maria.
As duas olharam-se e, naquele momento, Ania pode perceber que estavam as duas encantadas uma com a outra. Cumprimentaram-se com dois beijos e um abraço terno, típico de Ana Maria. As duas acabaram por se afastar e a mãe de André olhar para Ania.
- Gordita!
- Hola, madrina! –
Ania, desde que conhecera Ana Maria mais profundamente, passou a tratá-la como madrinha. Sentia que, fora a sua mãe e a sua sogra, aquela senhora era extremamente especial para si.
- Que saudades tuas, neña – abraçaram-se e Ana Maria acabou por se afastar de Ania pouco depois – estás mais magra!
- Oh mãe! É normal, não é? A ultima vez que a viste ela estava grávida –
Ania riu-se e Ana Maria olhou para o filho.
- Estás com muita piada, meu filho.
- Aprendi com a melhor! –
André aproximou-se da mãe, abraçou-a sussurrando-lhe algo ao ouvido.
Ania olhava-os, percebendo que André estava cheio de saudades da mãe...e isso acabou por ser visível a todos.
- Então e não me apresentam a bebé? – Ana Maria afastou-se de André, olhando para Marcos.
- Claro que sim! – Marcos levantou-se do sofá, indo buscar Morena.
- Que doçura! – Ana Maria aproximou-se dele, levando a sua mão à cabeça de Morena – que linda menina, tão...forte – viram Ana Maria se emocionar...também ela tinha vivido todo o drama da gravidez de Ania – eu fico muito feliz por vocês – levou a sua mão à face de Marcos, olhando para André e Iara – não querendo colocar pressão...mas eu um dia quero uma neta assim!
- Fique descansada D. Ana Maria –
começou o André – será avó muito em breve.
- André! –
Iara olhou-o, com os olhos muito abertos.
- Eu sei que tínhamos planeado contar-lhes à hora de almoço...
- Eu vou ser avó? –
Ana Maria fez a pergunta que todos queriam fazer e André começou a rir-se.
- Não... – respondeu Iara – ele está a brincar.
- Com isso não se brinca, oh parvo –
começou Ania – fogo, eu aqui já a pensar que ia ser tia!
- Esqueçam lá isso. Eu estava só a brincar. Vamos almoçar?
- Vamos, vamos.

Todos se encaminharam para a mesa e começaram aquele que acabou por ser o almoço mais animado de todos. Acabou por surgir a típica conversa onde contaram as novidades que tinham a contar, como é que André e Iara se conheceram e como é que iriam ser os próximos tempos.
Ania percebeu que, à medida que o tempo ia passando, Iara ia ficando cada vez mais à vontade com a mãe de André e, depois do almoço, as duas até tiveram um momento a sós no jardim.
- O que é que acham que ela lhe está a dizer?
- Oh André...coisas que qualquer mãe diz à namorada do filho –
respondeu Ania – olha, olha abraçaram-se!
- Eish... –
André olhava-as, com a máxima atenção – eu sabia que a minha mãe ia gostar dela! Eu sabia!
- É mais fácil gostar da Iara do que de ti... –
começou Marcos – e se a tia gosta de ti, também haveria de gostar dela.
- Que piada! –
André atirou-lhe com a almofada e acabar por fingir que estavam a brincar com Morena, já que as duas se levantaram.
Ania sentia-se em casa quando estava perto deles. Era uma sensação revigorante...assim como seria aquela noite que iriam passar a sós.




- Sabes que eu sei onde é que vamos, não sabes? – perguntava Ania, apercebendo-se que estava a caminho do seu quarto. Marcos tinha-lhe vendado os olhos mas, mesmo assim, tinha conseguido ter a percepção de onde estava.
- Eu também sei!
- Oh! Porque é que me vendaste os olhos para vir para o quarto?
- Porque, talvez, tenha uma surpresa para ti!
- Ah! Uma surpresa... –
Marcos abriu a porta do quarto, entrando com Ania para o seu interior.
Levou as suas mãos à cintura da mulher, deslizando-as para o interior da mesma. Tocava a pele de Ania com o carinho e a suavidade que lhe eram carateristicas. Subiu as suas mãos até chegar ao centro das costas da rapariga, roubando-lhe um beijo que a apanhou desprevenida.
- Marcos...
- Sim, a surpresa! –
levou as suas mãos à venda de Ania, retirando-a. Para grande, lá está, surpresa de Ania não havia nada de diferente no quarto...ela olhou-o, tentando obter uma resposta – vamos imaginar que eu tinha conseguido comprar pétalas de rosa e a nossa cama está cheia delas, sim? – Ania riu-se, levando as suas mãos até ao fundo das costas de Marcos.
- Está linda a nossa cama – beijou-o, procurando algo mais com aquele beijo. Ania queria aproveitá-lo aquela noite, queria ter o seu marido apenas e só para ela. Era o momento de serem um do outro sem terem de se preocupar com a filha que poderia acordar a qualquer momento.
Marcos caminhou, envolto naquele beijo, com Ania até à cama deitando-a nela. Ficou a olhá-la quase como se estivesse a alinhar os traços que tem de Ania na sua cabeça, como se estivesse a aprofundá-los e a deixá-la cada vez mais marcada em si.
Deitou-se sobre ela, percorrendo o seu pescoço com beijos enquanto ela se ria. Marcos adorava ouvir as suas gargalhadas quando fazia aquilo. Ania tinha cócegas no pescoço e era inevitável não rir. Mas, por outro lado, aquilo também a deixava a desejar Marcos, desejava que ele continuasse e que avançasse.
Ania levou as suas mãos ao interior da camisola de Marcos, percorrendo o seu corpo. Marcos arrepiava-se quando Ania fazia aquilo, adorava sentir as mãos dela pelo seu corpo. Era quase como se ela o estivesse a reclamar como seu e Marcos deixava-se ser reclamado porque era inteiramente seu. Ania puxou-lhe a camisola para cima e, muito depressa, os dois fizeram com que as camisolas de ambos saíssem dos seus corpos.
- Estás cada dia mais linda – Marcos percorreu a barriga e o peito de Ania com beijos, chegando aos seus lábios. Ania sentiu-se com um fogo dentro de si, sabendo que estaria prestes a ganhar um novo fôlego para a noite que ainda agora começava.
Livraram-se, com uma presa e eficácia incríveis, das calças que ambos traziam vestidas. Marcos despiu Ania de qualquer peça de roupa, olhando-a com desejo e um sentimento de posse que ninguém poderia contrariar. Aquela era a sua mulher, a mulher que sempre esteve para ele e que não poderia pedir que fosse melhor.
Beijou-a na parte interior da perna, deixando uma mordidela aqui e ali. Percorreu o corpo todo de Ania naquele misto de beijos, mordidelas e deixando as suas mãos vaguearem por todo o seu corpo.
- Faz-me tua, Marcos – Ania levou as suas mãos à linha do boxer de Marcos, começando a puxá-los para baixo. Ania estava a sentir-se desejada, demasiado dele mas queria mais e precisava mais.
Quando Ania pensou que Marcos iria aceder ao seu pedido, o marido beijou-a por longos minutos percorrendo o corpo de Ania com as suas mãos. O momento seguinte foi de entrega total. Conjugaram os seus corpos com todos os verbos que conheciam ser capazes de caraterizar aquele momento. Amar. Eles amaram-se, mais do que qualquer outro dia tinha amado. Desejar. Eram o desejo um do outro, são o desejo um do outro desde o dia em que se conheceram. Sentir. Sentem o que nunca sentiram um pelo outro, sentiram-se um do outro como à muito não sentiam. Possuir. Sentiam que se possuíram um ao outro. Ania era da pose de Marcos e Marcos da pose de Ania.
Naquela noite, o que mais importou para eles foi única e verdadeiramente amarem-se um ao outro como há meses não o faziam.



- Buenos dias... Marcos brincava com a mão de Ania, vendo que ela começava a abrir os olhos.
- Buenos dias, mi amor Ania levou a sua mão à cara de Marcos, aproximando-se dele – bom dia – beijou-o, olhando-o em seguida – bom dia.
- Só consegues dizer bom dia?
- Não...mas é um bom dia!
- É mesmo um bom dia –
Marcos passou o seu braço por cima de Ania, puxando-a ainda mais para si – pelo menos enquanto aqui estivermos será um bom dia.
- Vai ser mesmo um bom dia, Marcos.
- Eu tenho de ir é para o treino, sabes?
- De manhã?
- Ah pois é, gordita. Hoje tem de ser.
- Oh e eu a pensar que íamos passar aqui a manhã, que me ias fazer o pequeno-almoço...
- Se quiseres um pequeno-almoço à pressa...
- No, no –
Ania beijou-o, afastando-se um pouco dele. Tapou-se, fechando os olhos – podes ir trabalhar que eu vou dormir mais um bocadinho.
- Não te esqueças que combinaste com a Iara e Ana Maria...
- ...ir à consulta da Morena! –
num ápice, Ania levantou-se da cama, olhando para Marcos – um banho juntos, ao menos?
- Assim sim.
- Não, não! Temos de nos despachar e se fossemos juntos não nos despachamos –
Ania entrou na casa de banho, despachando-se o mais rápido que conseguiu.
Quando chegou ao quarto, embrulhada na toalha, já Marcos estava despachado.
- Foste rápido, tu.
- Foi só um duche e vestir-me. Até porque tenho mesmo de ir –
Marcos abraçou Ania, dando-lhe um beijo no pescoço – quando saírem do médico avisa-me, sim?
- Sim –
virou-se para o marido, beijando-o – bom treino, Marcos.
- Obrigado –
voltou a beijá-la, saindo de casa.
Ania pretendia despachar-se, mas acabou por ser surpreendida pelo som do seu telemóvel...era uma chamada do estrangeiro.
- Estou sim? – falou, depois de atender.
- Ania Gottardi? Daqui fala da policia de La Plata... Ania não conseguiu ouvir o resto, já que desligou a chamada. Aquele assunto não lhe iria estragar o dia e recusava-se a falar sobre ele no dia de hoje.
Despachou-se o mais rápido que conseguiu, indo ter com Iara, Ana Maria e a sua filha. Era um bom dia e não o queria estragar com aquele assunto...que teimava em não sair da sua cabeça, mesmo que tivesse rejeitado todas as chamadas que fizeram na hora seguinte.

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

42º Capitulo: “Vai ver a menina, por favor.”

- O Dr. Castro acha que poderá ter a ver com a gravidez? – Ania teve de fazer aquela pergunta que ecoava na sua cabeça desde que Marcos a fizera.
- Não, Ania. Sentem-se – estavam no gabinete do pediatra de Morena que os tinha chamado ali – ela está com uma bronquiolite. Com o tempo a ficar cada dia mais frio é natural que ela sinta estas diferenças. E uma bronquiolite assim como a dela é do mais comum que se pode imaginar.
- Então isto não é nenhuma consequência da gravidez...nem da operação?
- Não, fica descansada. Vamos mantê-la algumas horas a oxigénio e ver se a infecção nos bronquíolos diminui. É uma infecção muito pequena e achamos que não será necessária a ajuda de medicamentos.
- Podemos estar com ela? -
questionou Marcos.
- Claro – o médico levantou-se e os dois acabaram por seguir o seu exemplo – venham comigo.
Saíram do gabinete médico, percorrendo os corredores do hospital. Chegados à ala de internamento, o médico precipitou-se a abrir a porta do quarto onde estava Morena.
Marcos foi o primeiro a entrar, sendo seguido pelo médico. Ania deixou-se ficar imóvel olhando para tudo o que a rodeava.
- Gordita? Marcos apareceu à porta do quarto, capturando a atenção de Ania.
- Dá-me só uns minutos, Marcos. Eu...é só um bocadinho.
- Estás bem?
- Vai ver a menina, por favor –
Marcos não insistiu com Ania, sentia que a estava a entender e não sabia o que se sucederia. Não sabia se Ania se sentiria culpada, com medo ou, simplesmente, sem saber o que fazer.
Ania deixou-se ficar ali. Naquele corredor, olhando para as mesmas e enfadonhas paredes amarelas. Contou que haviam seis borboletas, oito sois, trinta e duas flores e um total de doze crianças. Percebeu que aquelas paredes contavam uma história. A história das doze crianças felizes e livres. Como qualquer criança deveria ser.
- Gordita? assustou-se com a voz de Marcos naquele momento. Virou-se para ele, vendo um sorriso nos seus lábios.
- Ela está bem?
- Sim. Está bem-disposta e, segundo o Dr. Castro, se calhar pode ter alta amanhã.
- Só amanhã?
- É preciso ter a certeza que a infecção desaparece. E, se a levássemos daqui a pouco para casa, poderia não correr bem.
- E...ela vai passar a noite sozinha?
- Podemos cá ficar, se quiseres. Ela adormeceu agora...quando acordar deve estar com fome e voltará a adormecer, acho eu. O Dr. Castro aconselhou-nos a irmos para casa, descansar para estarmos cá amanhã de manhã cedo.
- Então...vamos? Ou queres ficar?
- É como tu quiseres –
Marcos aproximou-se da mulher, levando as suas mãos às ancas de Ania – queres falar comigo?
- Eu quero...mas
acho que quero ir para casa.
- Então vamos – Marcos agarrou a mão esquerda de Ania, entrelaçando-a com a sua. Caminharam em direcção da saída do hospital, depois até ao carro e até casa, sem grandes palavras. Marcos ia perguntando se estava tudo bem, ao que Ania sempre respondia que não sabia.
Ao chegarem a casa Ania dirigiu-se ao sofá, agarrando-se ao pequeno peluche que ali estava.
- É agora que falamos?
- Sim. Acho que pode ser...
- Sabes que te devo conhecer melhor do que ninguém.
- Sei.
- E que, assim que ficaste naquele corredor, eu percebi que não estavas bem –
Ania olhou para Marcos que se sentava a seu lado – não deixes ficar tudo aí dentro, sí?
- Aquela tua pergunta fez-me pensar em muita coisa, Marcos.
- Não era essa a minha intenção...desculpa.
- Não, não –
Ania, quase com uma vontade louca de ter Marcos nos seus braços, aproximou-se dele com alguma pressa – não me peças desculpa. Não tens culpa de nada...essa pergunta já me tinha surgido tantas vezes na cabeça. A gravidez não foi fácil, ambos sabemos disso. Ela esteve em risco de vida, ela teve de lutar para nascer...e isso pode afectá-la. A maior culpada sou eu.
- Não digas isso, Ania. Tu não tens culpa de nada do que te aconteceu.
- Fui eu que a carreguei, fui eu que a abandonei e é por minha causa que ela pode vir a ter sequelas.
- Ela não vai ter nada disso, Ania –
Marcos agarrou as mãos de Ania, olhando-a intensamente – isto é só uma bronquiolite, é só uma infecção que vai passar e ela volta a estar óptima. Não te culpes de nada, por favor.
- Nem de não a ter ido ver? Oh Marcos... –
Ania baixou o olhar, deixando-se envolver com as suas lágrimas – eu voltei a não ser a mãe que ela precisa. Eu voltei a abandoná-la quando ela mais precisa de nós.
- Ei, ei –
Marcos abraçou-a, fechando os olhos. Quase como absorvendo a dor que Ania sentiria naquele momento. Apertava-a contra o seu corpo, mantendo-a aconchegada – eu estive lá, eu falei de ti e ela sabe, ela sente tudo o que sentes por ela. Não te culpes, por favor. Amanhã voltamos a tê-la cá em casa connosco. Voltamos a ser nós três.
- Yo la amo, Marcos.
Com aquelas palavras, Marcos não soube se haveria de sorrir ou chorar. Foi uma mistura das duas coisas. Sorriu, deveria ter o sorriso mais bonito nos lábios. Chorou porque foi a única coisa que Ania conseguiu dizer naquele momento.




- Morecita – Ania era a primeira que pegava Morena ao colo assim que o médico lhes disse que Morena estava livre para ir para casa.
- Quero que voltem cá daqui a três dias. Só para fazermos mais uns exames e garantir que a infecção não voltou, sim?
- Muchas gracias, doutor.
- Não me agradeçam. Só estou a desempenhar o meu papel. Fiquem bem, garotos –
o médico despediu-se dos dois e Marcos e Ania caminharam até ao exterior.
- Estás bem? – perguntou Marcos.
- colocaram Morena na cadeirinha e, antes de Ania se dirigir ao outro lado do carro para se sentar ao lado de Morena, olhou para Marcos levando a sua mão à cara de Marcos – obrigada por não desistires de mim, por me manteres de pé quando eu pareço estar a ir ao fundo. Obrigada, simplesmente, por seres o melhor marido do mundo.
- Callate
os dois riram-se e Marcos beijou-lhe a testa – não me voltes a agradecer por nada. Juramos que iria ser para o bem e para o mal. Na alegria e na tristeza. Na saúde e na doença. Logo, eu estou para ti todos os dias, como tu estás para mim.
- Mesmo estando tanto tempo longe...?
- Especialmente nesse tempo. Quando voltaste, a nossa relação tornou-se ainda mais especial.
- Yo te amo, Marcos.
- Y yo te amo a ti!
selou aquele momento com um beijo curto nos lábios de Ania, já que o seu telemóvel começou a tocar. Era André.
- Eu atendo, temos de ir para casa – Ania agarrou no telemóvel, atendendo a chamada à medida que, cada um, ia para o seu lugar no carro – ligou para Marcos Rojo. De momento não é possível proceder à comunicação...
- Oh sua palhaça, cala-te!
- Isso são maneiras? Quem é que te ensinou a falar assim?

- Aprendi com o teu marido!
- Não aprendes coisa boa, então.
- Sim, sim. Olha, eu não quero saber de ti. Liguei mesmo para saber da minha afilhada.
- Qualquer dia, a continuares a ser assim para mim, és despromovido a tio!
- Serias incapaz de fazer tal maldade!
os dois riram-se, bem como Marcos que ouvia a conversa.
- A Morena está bem. Estamos a levá-la para casa, podem ir lá ter connosco.
- Não sei se nos apetece. A cama está boa!
- É quase meio-dia e ainda estás na cama? Os treinos só à tarde fazem-vos mal!
- Eu a pensar que ias pensar coisas porcas...
- Já passei essa fase, não sou como tu!
- Isso, trata-me mal! Vamos almoçar e, depois, vamos ter com vocês. Adios!
- Adios, muchacho!

Ania desligou a chamada, olhando para Marcos através do retrovisor.
- Eles passam lá por casa depois de almoço e o André está insuportável.
- Já é o normal...no dia em que ele não falar está doente!
- Lá isso é verdade –
olhou, naquele momento, para Morena vendo a filha sorrir. Agarrou-lhe a mão dela e, pouco depois, Morena segurou-lhe o dedo indicador. Aproximou-se de Morena, beijando-lhe a bochecha – te prometo que serás la bebé más feliz del mundo, mi hija.





- Ania? – a voz de Iara aproximava-se à medida que ia repetindo o seu nome.
- Estou no quarto – avisou Ania e, em pouco tempo, Iara apareceu na porta do seu quarto.
- Aqui estás tu! – Iara entrou no quarto e Ania fechou a gaveta onde acabava de arrumar alguma roupa de Morena – tenho uma proposta para ti!
- Tenho medo!
- Nada disso –
Iara aproximou-se de Ania, encostando-se ao armário – tu e o Marcos, sozinhos por uma noite...desde que voltaste ainda não estiveram juntos só os dois, aposto.
- Tenho a sensação que isso é um esquema para ficarem com a minha filha –
as duas riram-se e Ania olhou séria para a amiga – acho que não me vou sentir muito bem em deixá-la sozinha, Iara.
- Não a vais deixar sozinha, tola. Ela fica comigo e com o André.
- Eu sei e, acredita, eu confio em vocês o suficiente para ficarem com ela. Aliás, não é à toa que são padrinhos dela –
Ania aproximou-se da amiga, agarrando-lhe as mãos – obrigada por quererem dar-nos um momento a sós...a sério. Mas não agora.
- Mas, quando quiserem, prometes que a deixas ficar lá em casa?
- Claro que prometo! Serão os melhores baby sitters para a More.
- Outra coisa –
Ania reparou que Iara ficou mais irrequieta e, até, envergonhada – eu preciso de um conselho.
- Engravidaste e não sabes como lhe contar?
- Não, credo! Longe disso, dessas ideias e de uma realidade com uma criança.
- Não queres ser mãe?
- Claro que quero. Mas não neste momento...daqui a uns aninhos.
- Hum, então vá. Fala lá.
- O André vai buscar a mãe ao aeroporto amanhã.
- A D. Ana Maria vem para cá?

- Sim...e, bom, eu não sei bem o que fazer. Eu estou a morar com o André e ela nem sabe que eu existo. Melhor ela já ouviu falar de mim, mas nunca fomos apresentadas.
- Estou a acompanhar.
- Bom e é isso. O que é que eu faço? Tu já tens mais experiência nisto...
- Bem, foi complicado tudo o que aconteceu antes de a conhecer. Já te contei a parte da violação e foi poucos dias depois de saber que tinha sido o meu irmão...




- Buenas noches, madre - Marcos falou, fazendo com que a mãe olhasse para ele...e para Ania. A senhora sorriu-lhes, levantando-se.
- É a nossa Ania? - para surpresa de Marcos, a mãe já sabia o nome da sua namorada...Micaela deveria ter feito algum comentário durante o dia de hoje. Marcos já tinha dito à mãe, tinha dito que ia jantar a casa da namorada, só não lhe tinha dado grandes pormenores sobre Ania.
- É a minha Ania - respondeu Marcos.
- Ciumento. Deixa estar que eu não te roubo a princesa - a senhora dirigiu-se a Ania, colocando as suas mãos nos braços dela - fico muito feliz que nos tenhas vindo conhecer. Eu sou a mãe deste rapazeco, sou a Cari e podes ter a certeza que fico mesmo muito feliz que metas um sorriso nos lábios do meu filho e juízo naquela cabeça - Cari, mãe de Marcos, abraçou Ania que se sentiu tão amada naquele momento. O abraço de Cari fazia-a sentir-se ainda mais confortada.
- Eu também estou muito feliz por a conhecer - o abraço entre as duas foi longo, mas ambas se sentiam bem naquele abraço.




- Foi um primeiro impacto muito bom. E eu acho que a Carina tem muito a ver com a D. Ana Maria...têm um temperamento muito idêntico. Adoram dar abraços e ser meigas connosco. Mais do que com eles – Iara riu-se – o maior conselho a dar é para seres tu mesma. Ela vai adorar-te e dizer que tens paciência de santa para aturares o filho dela.
- Certo. Ajudas-me com o almoço? E almoçam lá? Por favor... –
Iara parecia implorar a presença de Ania e Marcos naquele almoço.
- Claro que ajudo e sim, estamos lá. Ele vai buscá-la quando?
- Depois do treino.
- Então quando o Marcos sair de casa para o treino, eu levanto-me para tratar da Morena e depois vamos as duas ter contigo para te ajudar.
- Obrigada, obrigada, obrigada! –
Iara abraçou-a e as duas riram-se à gargalhada – vocês são os maiores!
- Somos? Mas só estou aqui eu.
- Mas o Marcos já estava de prevenção se tu dissesses que não.
- Oh e tu achas que eu dizia que não? –
as duas olharam-se e Iara acenou negativamente com a cabeça – ah pois! Vamos lá para baixo, então.
As duas saíram do quarto, indo até à sala. Marcos e André permaneciam sentados no sofá a jogar consola. Ania aproximou-se de Marcos, reparando em Morena que estava sentada no colo de Marcos com um comando na mão fingindo que jogava.
- Olha quem é que agora se junta a vocês... – assim que ouviu a voz de Ania, Morena olhou de imediato para a mãe – é a bebé, é – aproximou-se da filha, beijando-lhe a testa.
- Olha, pronto, agora é só mimo, beijinhos e colinho para aqui, colinho para ali – atirou André.
- E tu deves ter algum problema com isso.
- Eu não. Mas vão mimar muito a miúda.
- Até parece que não fazes o mesmo –
disse Marcos. 
Ania riu-se, fotografando aquele momento.

Agora fazem companhia um ao outro nos jogos. Amo-vos.


Depois de publicar aquela imagem, começou a ouvir o telefone de casa a tocar. Apressou-se para o ir atender:
- Sim?
- Ania?
era o Lucas, o meu irmão
- Lucas! Como estás? – Ania reparou que Marcos a olhou assim que ouviu o nome de Lucas. Era sempre complicado falar com alguém que lhe trazia tantas más recordações.
- Ania eu não sei o que se passou comigo. Eu juro que não queria... Ania sentou-se na ponta do sofá, reparando que começava a tremer.
- O que é que tu fizeste?
- Eu juro que não queria, eu não sei como é que isto aconteceu mas, descontrolei-me. E ela vai apresentar queixa. Eu, eu não tenho como escapar.
- Eu não acredito, Lucas.
- Desculpa...
- Eu sabia que mais tarde ou mais cedo iria acontecer. Mas tu prometeste! Como é que foste capaz, como?
- Aconteceu.
- Não deveria ter acontecido. Agora estás por tua conta.
- Eu vou contar à polícia que não foi a primeira vez...são capazes de te chamar para confirmares. E, Ania, eu preciso de ajuda para me tratar...eu sei que tenho um problema.
Ania foi incapaz de dizer alguma coisa. Limitou-se a levantar-se, desligando a chamada. Olhou para todos, não dizendo uma única palavra. Saiu de casa, indo até ao jardim.
Mais do que se lembrar de tudo o que tinha acontecido, o que lhe passava pela cabeça naquele momento era o estado em que estaria a rapariga.
- Ania? – a voz de Marcos surgiu naquele jardim e Ania só o conseguiu olhar – o que é que se passou?
- O Lucas violou outra rapariga –
Marcos não sabia bem como reagir ao que ouvia – e, para piorar toda a minha situação neste momento, vai contar à polícia de La Plata o que fez comigo. Se me chamam para prestar declarações, confirmar o que aconteceu...Marcos eu não sei.
- Não queres que o Lucas vá preso, eu entendo.
- Não é isso –
Ania virou costas, olhando para a piscina – eu só não queria ter de reviver tudo aquilo que aconteceu à três anos neste momento.
- Eu sei que é complicado –
Marcos aproximou-se de Ania, beijando-lhe a cabeça – mas eu estou a teu lado.
- Eu não quero ir para La Plata. Não quero ter de relembrar tudo e denunciá-lo. É o meu irmão...
- Que voltou a fazer mal a alguém.
- Eu sei –
Ania baixou a cabeça, olhando para as suas mãos – porque é que, quando as coisas começam a ficar bem, tem de haver sempre uma coisa que estrague tudo?
- Não sei, gordita
– Marcos virou-a para si, levando as suas mãos à cara de Ania – estás a tremer muito.
- Já sabes que falar nisto e pensar em tudo o que aconteceu me deixa assim.
- Queres aceitar a proposta da Iara? –
Ania riu-se, levando as suas mãos à cabeça de Marcos.
- Ela também te falou da proposta?
- Falou.
- Podemos, então, pedir-lhes que tomem conta dela amanhã à noite. Ai não, a D. Ana Maria chega amanhã.
- Aposto que eles vão compreender, Ania.
- Falamos com eles depois.
- Meninos –
a voz de Iara surpreendeu-os – o telefone tocou duas vezes seguidas e eu atendi. É a tua mãe, Marcos.
- Oh, meu Deus, mais problemas hoje não – Marcos beijou a testa de Ania, aproximando-se de Iara. Agarrou o telefone e, do outro lado, ouviu a sua mãe com toda a atenção. 
 
 
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Olá meninas!
Sei que já não dava novidades à muito tempo. Pois bem, estive de férias sem qualquer contato com a escrita e os blogs. Voltei e trago-vos este capítulo. Tenho mais uns quantos para partilhar com vocês, não só desta fic como das outras. Espero que continuem desse lado e que deixem os vossos comentários. 
Beijinhos a todas, até à próxima. 
 
Ana Patrícia