- O Dr. Castro acha que poderá ter a ver com a gravidez? – Ania teve de fazer aquela pergunta que ecoava na sua cabeça desde que Marcos a fizera.
- Não, Ania. Sentem-se – estavam no gabinete do pediatra de Morena que os tinha chamado ali – ela está com uma bronquiolite. Com o tempo a ficar cada dia mais frio é natural que ela sinta estas diferenças. E uma bronquiolite assim como a dela é do mais comum que se pode imaginar.
- Então isto não é nenhuma consequência da gravidez...nem da operação?
- Não, fica descansada. Vamos mantê-la algumas horas a oxigénio e ver se a infecção nos bronquíolos diminui. É uma infecção muito pequena e achamos que não será necessária a ajuda de medicamentos.
- Podemos estar com ela? - questionou Marcos.
- Claro – o médico levantou-se e os dois acabaram por seguir o seu exemplo – venham comigo.
Saíram do gabinete médico, percorrendo os corredores do hospital. Chegados à ala de internamento, o médico precipitou-se a abrir a porta do quarto onde estava Morena.
Marcos foi o primeiro a entrar, sendo seguido pelo médico. Ania deixou-se ficar imóvel olhando para tudo o que a rodeava.
- Gordita? – Marcos apareceu à porta do quarto, capturando a atenção de Ania.
- Dá-me só uns minutos, Marcos. Eu...é só um bocadinho.
- Estás bem?
- Vai ver a menina, por favor – Marcos não insistiu com Ania, sentia que a estava a entender e não sabia o que se sucederia. Não sabia se Ania se sentiria culpada, com medo ou, simplesmente, sem saber o que fazer.
Ania deixou-se ficar ali. Naquele corredor, olhando para as mesmas e enfadonhas paredes amarelas. Contou que haviam seis borboletas, oito sois, trinta e duas flores e um total de doze crianças. Percebeu que aquelas paredes contavam uma história. A história das doze crianças felizes e livres. Como qualquer criança deveria ser.
- Gordita? – assustou-se com a voz de Marcos naquele momento. Virou-se para ele, vendo um sorriso nos seus lábios.
- Ela está bem?
- Sim. Está bem-disposta e, segundo o Dr. Castro, se calhar pode ter alta amanhã.
- Só amanhã?
- É preciso ter a certeza que a infecção desaparece. E, se a levássemos daqui a pouco para casa, poderia não correr bem.
- E...ela vai passar a noite sozinha?
- Podemos cá ficar, se quiseres. Ela adormeceu agora...quando acordar deve estar com fome e voltará a adormecer, acho eu. O Dr. Castro aconselhou-nos a irmos para casa, descansar para estarmos cá amanhã de manhã cedo.
- Então...vamos? Ou queres ficar?
- É como tu quiseres – Marcos aproximou-se da mulher, levando as suas mãos às ancas de Ania – queres falar comigo?
- Eu quero...mas acho que quero ir para casa.
- Então vamos – Marcos agarrou a mão esquerda de Ania, entrelaçando-a com a sua. Caminharam em direcção da saída do hospital, depois até ao carro e até casa, sem grandes palavras. Marcos ia perguntando se estava tudo bem, ao que Ania sempre respondia que não sabia.
Ao chegarem a casa Ania dirigiu-se ao sofá, agarrando-se ao pequeno peluche que ali estava.
- É agora que falamos?
- Sim. Acho que pode ser...
- Sabes que te devo conhecer melhor do que ninguém.
- Sei.
- E que, assim que ficaste naquele corredor, eu percebi que não estavas bem – Ania olhou para Marcos que se sentava a seu lado – não deixes ficar tudo aí dentro, sí?
- Aquela tua pergunta fez-me pensar em muita coisa, Marcos.
- Não era essa a minha intenção...desculpa.
- Não, não – Ania, quase com uma vontade louca de ter Marcos nos seus braços, aproximou-se dele com alguma pressa – não me peças desculpa. Não tens culpa de nada...essa pergunta já me tinha surgido tantas vezes na cabeça. A gravidez não foi fácil, ambos sabemos disso. Ela esteve em risco de vida, ela teve de lutar para nascer...e isso pode afectá-la. A maior culpada sou eu.
- Não digas isso, Ania. Tu não tens culpa de nada do que te aconteceu.
- Fui eu que a carreguei, fui eu que a abandonei e é por minha causa que ela pode vir a ter sequelas.
- Ela não vai ter nada disso, Ania – Marcos agarrou as mãos de Ania, olhando-a intensamente – isto é só uma bronquiolite, é só uma infecção que vai passar e ela volta a estar óptima. Não te culpes de nada, por favor.
- Nem de não a ter ido ver? Oh Marcos... – Ania baixou o olhar, deixando-se envolver com as suas lágrimas – eu voltei a não ser a mãe que ela precisa. Eu voltei a abandoná-la quando ela mais precisa de nós.
- Ei, ei – Marcos abraçou-a, fechando os olhos. Quase como absorvendo a dor que Ania sentiria naquele momento. Apertava-a contra o seu corpo, mantendo-a aconchegada – eu estive lá, eu falei de ti e ela sabe, ela sente tudo o que sentes por ela. Não te culpes, por favor. Amanhã voltamos a tê-la cá em casa connosco. Voltamos a ser nós três.
- Yo la amo, Marcos.
Com aquelas palavras, Marcos não soube se haveria de sorrir ou chorar. Foi uma mistura das duas coisas. Sorriu, deveria ter o sorriso mais bonito nos lábios. Chorou porque foi a única coisa que Ania conseguiu dizer naquele momento.
- Morecita – Ania era a primeira que pegava Morena ao colo assim que o médico lhes disse que Morena estava livre para ir para casa.
- Quero que voltem cá daqui a três dias. Só para fazermos mais uns exames e garantir que a infecção não voltou, sim?
- Muchas gracias, doutor.
- Não me agradeçam. Só estou a desempenhar o meu papel. Fiquem bem, garotos – o médico despediu-se dos dois e Marcos e Ania caminharam até ao exterior.
- Estás bem? – perguntou Marcos.
- Sí – colocaram Morena na cadeirinha e, antes de Ania se dirigir ao outro lado do carro para se sentar ao lado de Morena, olhou para Marcos levando a sua mão à cara de Marcos – obrigada por não desistires de mim, por me manteres de pé quando eu pareço estar a ir ao fundo. Obrigada, simplesmente, por seres o melhor marido do mundo.
- Callate – os dois riram-se e Marcos beijou-lhe a testa – não me voltes a agradecer por nada. Juramos que iria ser para o bem e para o mal. Na alegria e na tristeza. Na saúde e na doença. Logo, eu estou para ti todos os dias, como tu estás para mim.
- Mesmo estando tanto tempo longe...?
- Especialmente nesse tempo. Quando voltaste, a nossa relação tornou-se ainda mais especial.
- Yo te amo, Marcos.
- Y yo te amo a ti! – selou aquele momento com um beijo curto nos lábios de Ania, já que o seu telemóvel começou a tocar. Era André.
- Eu atendo, temos de ir para casa – Ania agarrou no telemóvel, atendendo a chamada à medida que, cada um, ia para o seu lugar no carro – ligou para Marcos Rojo. De momento não é possível proceder à comunicação...
- Oh sua palhaça, cala-te!
- Isso são maneiras? Quem é que te ensinou a falar assim?
- Aprendi com o teu marido!
- Não aprendes coisa boa, então.
- Sim, sim. Olha, eu não quero saber de ti. Liguei mesmo para saber da minha afilhada.
- Qualquer dia, a continuares a ser assim para mim, és despromovido a tio!
- Serias incapaz de fazer tal maldade! – os dois riram-se, bem como Marcos que ouvia a conversa.
- A Morena está bem. Estamos a levá-la para casa, podem ir lá ter connosco.
- Não sei se nos apetece. A cama está boa!
- É quase meio-dia e ainda estás na cama? Os treinos só à tarde fazem-vos mal!
- Eu a pensar que ias pensar coisas porcas...
- Já passei essa fase, não sou como tu!
- Isso, trata-me mal! Vamos almoçar e, depois, vamos ter com vocês. Adios!
- Adios, muchacho!
Ania desligou a chamada, olhando para Marcos através do retrovisor.
- Eles passam lá por casa depois de almoço e o André está insuportável.
- Já é o normal...no dia em que ele não falar está doente!
- Lá isso é verdade – olhou, naquele momento, para Morena vendo a filha sorrir. Agarrou-lhe a mão dela e, pouco depois, Morena segurou-lhe o dedo indicador. Aproximou-se de Morena, beijando-lhe a bochecha – te prometo que serás la bebé más feliz del mundo, mi hija.
- Ania? – a voz de Iara aproximava-se à medida que ia repetindo o seu nome.
- Estou no quarto – avisou Ania e, em pouco tempo, Iara apareceu na porta do seu quarto.
- Aqui estás tu! – Iara entrou no quarto e Ania fechou a gaveta onde acabava de arrumar alguma roupa de Morena – tenho uma proposta para ti!
- Tenho medo!
- Nada disso – Iara aproximou-se de Ania, encostando-se ao armário – tu e o Marcos, sozinhos por uma noite...desde que voltaste ainda não estiveram juntos só os dois, aposto.
- Tenho a sensação que isso é um esquema para ficarem com a minha filha – as duas riram-se e Ania olhou séria para a amiga – acho que não me vou sentir muito bem em deixá-la sozinha, Iara.
- Não a vais deixar sozinha, tola. Ela fica comigo e com o André.
- Eu sei e, acredita, eu confio em vocês o suficiente para ficarem com ela. Aliás, não é à toa que são padrinhos dela – Ania aproximou-se da amiga, agarrando-lhe as mãos – obrigada por quererem dar-nos um momento a sós...a sério. Mas não agora.
- Mas, quando quiserem, prometes que a deixas ficar lá em casa?
- Claro que prometo! Serão os melhores baby sitters para a More.
- Outra coisa – Ania reparou que Iara ficou mais irrequieta e, até, envergonhada – eu preciso de um conselho.
- Engravidaste e não sabes como lhe contar?
- Não, credo! Longe disso, dessas ideias e de uma realidade com uma criança.
- Não queres ser mãe?
- Claro que quero. Mas não neste momento...daqui a uns aninhos.
- Hum, então vá. Fala lá.
- O André vai buscar a mãe ao aeroporto amanhã.
- A D. Ana Maria vem para cá?
- Sim...e, bom, eu não sei bem o que fazer. Eu estou a morar com o André e ela nem sabe que eu existo. Melhor ela já ouviu falar de mim, mas nunca fomos apresentadas.
- Estou a acompanhar.
- Bom e é isso. O que é que eu faço? Tu já tens mais experiência nisto...
- Bem, foi complicado tudo o que aconteceu antes de a conhecer. Já te contei a parte da violação e foi poucos dias depois de saber que tinha sido o meu irmão...
- Buenas noches, madre - Marcos falou, fazendo com que a mãe olhasse para ele...e para Ania. A senhora sorriu-lhes, levantando-se.
- É a nossa Ania? - para surpresa de Marcos, a mãe já sabia o nome da sua namorada...Micaela deveria ter feito algum comentário durante o dia de hoje. Marcos já tinha dito à mãe, tinha dito que ia jantar a casa da namorada, só não lhe tinha dado grandes pormenores sobre Ania.
- É a minha Ania - respondeu Marcos.
- Ciumento. Deixa estar que eu não te roubo a princesa - a senhora dirigiu-se a Ania, colocando as suas mãos nos braços dela - fico muito feliz que nos tenhas vindo conhecer. Eu sou a mãe deste rapazeco, sou a Cari e podes ter a certeza que fico mesmo muito feliz que metas um sorriso nos lábios do meu filho e juízo naquela cabeça - Cari, mãe de Marcos, abraçou Ania que se sentiu tão amada naquele momento. O abraço de Cari fazia-a sentir-se ainda mais confortada.
- Eu também estou muito feliz por a conhecer - o abraço entre as duas foi longo, mas ambas se sentiam bem naquele abraço.
- Foi um primeiro impacto muito bom. E eu acho que a Carina tem muito a ver com a D. Ana Maria...têm um temperamento muito idêntico. Adoram dar abraços e ser meigas connosco. Mais do que com eles – Iara riu-se – o maior conselho a dar é para seres tu mesma. Ela vai adorar-te e dizer que tens paciência de santa para aturares o filho dela.
- Certo. Ajudas-me com o almoço? E almoçam lá? Por favor... – Iara parecia implorar a presença de Ania e Marcos naquele almoço.
- Claro que ajudo e sim, estamos lá. Ele vai buscá-la quando?
- Depois do treino.
- Então quando o Marcos sair de casa para o treino, eu levanto-me para tratar da Morena e depois vamos as duas ter contigo para te ajudar.
- Obrigada, obrigada, obrigada! – Iara abraçou-a e as duas riram-se à gargalhada – vocês são os maiores!
- Somos? Mas só estou aqui eu.
- Mas o Marcos já estava de prevenção se tu dissesses que não.
- Oh e tu achas que eu dizia que não? – as duas olharam-se e Iara acenou negativamente com a cabeça – ah pois! Vamos lá para baixo, então.
As duas saíram do quarto, indo até à sala. Marcos e André permaneciam sentados no sofá a jogar consola. Ania aproximou-se de Marcos, reparando em Morena que estava sentada no colo de Marcos com um comando na mão fingindo que jogava.
- Olha quem é que agora se junta a vocês... – assim que ouviu a voz de Ania, Morena olhou de imediato para a mãe – é a bebé, é – aproximou-se da filha, beijando-lhe a testa.
- Olha, pronto, agora é só mimo, beijinhos e colinho para aqui, colinho para ali – atirou André.
- E tu deves ter algum problema com isso.
- Eu não. Mas vão mimar muito a miúda.
- Até parece que não fazes o mesmo – disse Marcos.
- Não, Ania. Sentem-se – estavam no gabinete do pediatra de Morena que os tinha chamado ali – ela está com uma bronquiolite. Com o tempo a ficar cada dia mais frio é natural que ela sinta estas diferenças. E uma bronquiolite assim como a dela é do mais comum que se pode imaginar.
- Então isto não é nenhuma consequência da gravidez...nem da operação?
- Não, fica descansada. Vamos mantê-la algumas horas a oxigénio e ver se a infecção nos bronquíolos diminui. É uma infecção muito pequena e achamos que não será necessária a ajuda de medicamentos.
- Podemos estar com ela? - questionou Marcos.
- Claro – o médico levantou-se e os dois acabaram por seguir o seu exemplo – venham comigo.
Saíram do gabinete médico, percorrendo os corredores do hospital. Chegados à ala de internamento, o médico precipitou-se a abrir a porta do quarto onde estava Morena.
Marcos foi o primeiro a entrar, sendo seguido pelo médico. Ania deixou-se ficar imóvel olhando para tudo o que a rodeava.
- Gordita? – Marcos apareceu à porta do quarto, capturando a atenção de Ania.
- Dá-me só uns minutos, Marcos. Eu...é só um bocadinho.
- Estás bem?
- Vai ver a menina, por favor – Marcos não insistiu com Ania, sentia que a estava a entender e não sabia o que se sucederia. Não sabia se Ania se sentiria culpada, com medo ou, simplesmente, sem saber o que fazer.
Ania deixou-se ficar ali. Naquele corredor, olhando para as mesmas e enfadonhas paredes amarelas. Contou que haviam seis borboletas, oito sois, trinta e duas flores e um total de doze crianças. Percebeu que aquelas paredes contavam uma história. A história das doze crianças felizes e livres. Como qualquer criança deveria ser.
- Gordita? – assustou-se com a voz de Marcos naquele momento. Virou-se para ele, vendo um sorriso nos seus lábios.
- Ela está bem?
- Sim. Está bem-disposta e, segundo o Dr. Castro, se calhar pode ter alta amanhã.
- Só amanhã?
- É preciso ter a certeza que a infecção desaparece. E, se a levássemos daqui a pouco para casa, poderia não correr bem.
- E...ela vai passar a noite sozinha?
- Podemos cá ficar, se quiseres. Ela adormeceu agora...quando acordar deve estar com fome e voltará a adormecer, acho eu. O Dr. Castro aconselhou-nos a irmos para casa, descansar para estarmos cá amanhã de manhã cedo.
- Então...vamos? Ou queres ficar?
- É como tu quiseres – Marcos aproximou-se da mulher, levando as suas mãos às ancas de Ania – queres falar comigo?
- Eu quero...mas acho que quero ir para casa.
- Então vamos – Marcos agarrou a mão esquerda de Ania, entrelaçando-a com a sua. Caminharam em direcção da saída do hospital, depois até ao carro e até casa, sem grandes palavras. Marcos ia perguntando se estava tudo bem, ao que Ania sempre respondia que não sabia.
Ao chegarem a casa Ania dirigiu-se ao sofá, agarrando-se ao pequeno peluche que ali estava.
- É agora que falamos?
- Sim. Acho que pode ser...
- Sabes que te devo conhecer melhor do que ninguém.
- Sei.
- E que, assim que ficaste naquele corredor, eu percebi que não estavas bem – Ania olhou para Marcos que se sentava a seu lado – não deixes ficar tudo aí dentro, sí?
- Aquela tua pergunta fez-me pensar em muita coisa, Marcos.
- Não era essa a minha intenção...desculpa.
- Não, não – Ania, quase com uma vontade louca de ter Marcos nos seus braços, aproximou-se dele com alguma pressa – não me peças desculpa. Não tens culpa de nada...essa pergunta já me tinha surgido tantas vezes na cabeça. A gravidez não foi fácil, ambos sabemos disso. Ela esteve em risco de vida, ela teve de lutar para nascer...e isso pode afectá-la. A maior culpada sou eu.
- Não digas isso, Ania. Tu não tens culpa de nada do que te aconteceu.
- Fui eu que a carreguei, fui eu que a abandonei e é por minha causa que ela pode vir a ter sequelas.
- Ela não vai ter nada disso, Ania – Marcos agarrou as mãos de Ania, olhando-a intensamente – isto é só uma bronquiolite, é só uma infecção que vai passar e ela volta a estar óptima. Não te culpes de nada, por favor.
- Nem de não a ter ido ver? Oh Marcos... – Ania baixou o olhar, deixando-se envolver com as suas lágrimas – eu voltei a não ser a mãe que ela precisa. Eu voltei a abandoná-la quando ela mais precisa de nós.
- Ei, ei – Marcos abraçou-a, fechando os olhos. Quase como absorvendo a dor que Ania sentiria naquele momento. Apertava-a contra o seu corpo, mantendo-a aconchegada – eu estive lá, eu falei de ti e ela sabe, ela sente tudo o que sentes por ela. Não te culpes, por favor. Amanhã voltamos a tê-la cá em casa connosco. Voltamos a ser nós três.
- Yo la amo, Marcos.
Com aquelas palavras, Marcos não soube se haveria de sorrir ou chorar. Foi uma mistura das duas coisas. Sorriu, deveria ter o sorriso mais bonito nos lábios. Chorou porque foi a única coisa que Ania conseguiu dizer naquele momento.
- Morecita – Ania era a primeira que pegava Morena ao colo assim que o médico lhes disse que Morena estava livre para ir para casa.
- Quero que voltem cá daqui a três dias. Só para fazermos mais uns exames e garantir que a infecção não voltou, sim?
- Muchas gracias, doutor.
- Não me agradeçam. Só estou a desempenhar o meu papel. Fiquem bem, garotos – o médico despediu-se dos dois e Marcos e Ania caminharam até ao exterior.
- Estás bem? – perguntou Marcos.
- Sí – colocaram Morena na cadeirinha e, antes de Ania se dirigir ao outro lado do carro para se sentar ao lado de Morena, olhou para Marcos levando a sua mão à cara de Marcos – obrigada por não desistires de mim, por me manteres de pé quando eu pareço estar a ir ao fundo. Obrigada, simplesmente, por seres o melhor marido do mundo.
- Callate – os dois riram-se e Marcos beijou-lhe a testa – não me voltes a agradecer por nada. Juramos que iria ser para o bem e para o mal. Na alegria e na tristeza. Na saúde e na doença. Logo, eu estou para ti todos os dias, como tu estás para mim.
- Mesmo estando tanto tempo longe...?
- Especialmente nesse tempo. Quando voltaste, a nossa relação tornou-se ainda mais especial.
- Yo te amo, Marcos.
- Y yo te amo a ti! – selou aquele momento com um beijo curto nos lábios de Ania, já que o seu telemóvel começou a tocar. Era André.
- Eu atendo, temos de ir para casa – Ania agarrou no telemóvel, atendendo a chamada à medida que, cada um, ia para o seu lugar no carro – ligou para Marcos Rojo. De momento não é possível proceder à comunicação...
- Oh sua palhaça, cala-te!
- Isso são maneiras? Quem é que te ensinou a falar assim?
- Aprendi com o teu marido!
- Não aprendes coisa boa, então.
- Sim, sim. Olha, eu não quero saber de ti. Liguei mesmo para saber da minha afilhada.
- Qualquer dia, a continuares a ser assim para mim, és despromovido a tio!
- Serias incapaz de fazer tal maldade! – os dois riram-se, bem como Marcos que ouvia a conversa.
- A Morena está bem. Estamos a levá-la para casa, podem ir lá ter connosco.
- Não sei se nos apetece. A cama está boa!
- É quase meio-dia e ainda estás na cama? Os treinos só à tarde fazem-vos mal!
- Eu a pensar que ias pensar coisas porcas...
- Já passei essa fase, não sou como tu!
- Isso, trata-me mal! Vamos almoçar e, depois, vamos ter com vocês. Adios!
- Adios, muchacho!
Ania desligou a chamada, olhando para Marcos através do retrovisor.
- Eles passam lá por casa depois de almoço e o André está insuportável.
- Já é o normal...no dia em que ele não falar está doente!
- Lá isso é verdade – olhou, naquele momento, para Morena vendo a filha sorrir. Agarrou-lhe a mão dela e, pouco depois, Morena segurou-lhe o dedo indicador. Aproximou-se de Morena, beijando-lhe a bochecha – te prometo que serás la bebé más feliz del mundo, mi hija.
- Ania? – a voz de Iara aproximava-se à medida que ia repetindo o seu nome.
- Estou no quarto – avisou Ania e, em pouco tempo, Iara apareceu na porta do seu quarto.
- Aqui estás tu! – Iara entrou no quarto e Ania fechou a gaveta onde acabava de arrumar alguma roupa de Morena – tenho uma proposta para ti!
- Tenho medo!
- Nada disso – Iara aproximou-se de Ania, encostando-se ao armário – tu e o Marcos, sozinhos por uma noite...desde que voltaste ainda não estiveram juntos só os dois, aposto.
- Tenho a sensação que isso é um esquema para ficarem com a minha filha – as duas riram-se e Ania olhou séria para a amiga – acho que não me vou sentir muito bem em deixá-la sozinha, Iara.
- Não a vais deixar sozinha, tola. Ela fica comigo e com o André.
- Eu sei e, acredita, eu confio em vocês o suficiente para ficarem com ela. Aliás, não é à toa que são padrinhos dela – Ania aproximou-se da amiga, agarrando-lhe as mãos – obrigada por quererem dar-nos um momento a sós...a sério. Mas não agora.
- Mas, quando quiserem, prometes que a deixas ficar lá em casa?
- Claro que prometo! Serão os melhores baby sitters para a More.
- Outra coisa – Ania reparou que Iara ficou mais irrequieta e, até, envergonhada – eu preciso de um conselho.
- Engravidaste e não sabes como lhe contar?
- Não, credo! Longe disso, dessas ideias e de uma realidade com uma criança.
- Não queres ser mãe?
- Claro que quero. Mas não neste momento...daqui a uns aninhos.
- Hum, então vá. Fala lá.
- O André vai buscar a mãe ao aeroporto amanhã.
- A D. Ana Maria vem para cá?
- Sim...e, bom, eu não sei bem o que fazer. Eu estou a morar com o André e ela nem sabe que eu existo. Melhor ela já ouviu falar de mim, mas nunca fomos apresentadas.
- Estou a acompanhar.
- Bom e é isso. O que é que eu faço? Tu já tens mais experiência nisto...
- Bem, foi complicado tudo o que aconteceu antes de a conhecer. Já te contei a parte da violação e foi poucos dias depois de saber que tinha sido o meu irmão...
- Buenas noches, madre - Marcos falou, fazendo com que a mãe olhasse para ele...e para Ania. A senhora sorriu-lhes, levantando-se.
- É a nossa Ania? - para surpresa de Marcos, a mãe já sabia o nome da sua namorada...Micaela deveria ter feito algum comentário durante o dia de hoje. Marcos já tinha dito à mãe, tinha dito que ia jantar a casa da namorada, só não lhe tinha dado grandes pormenores sobre Ania.
- É a minha Ania - respondeu Marcos.
- Ciumento. Deixa estar que eu não te roubo a princesa - a senhora dirigiu-se a Ania, colocando as suas mãos nos braços dela - fico muito feliz que nos tenhas vindo conhecer. Eu sou a mãe deste rapazeco, sou a Cari e podes ter a certeza que fico mesmo muito feliz que metas um sorriso nos lábios do meu filho e juízo naquela cabeça - Cari, mãe de Marcos, abraçou Ania que se sentiu tão amada naquele momento. O abraço de Cari fazia-a sentir-se ainda mais confortada.
- Eu também estou muito feliz por a conhecer - o abraço entre as duas foi longo, mas ambas se sentiam bem naquele abraço.
- Foi um primeiro impacto muito bom. E eu acho que a Carina tem muito a ver com a D. Ana Maria...têm um temperamento muito idêntico. Adoram dar abraços e ser meigas connosco. Mais do que com eles – Iara riu-se – o maior conselho a dar é para seres tu mesma. Ela vai adorar-te e dizer que tens paciência de santa para aturares o filho dela.
- Certo. Ajudas-me com o almoço? E almoçam lá? Por favor... – Iara parecia implorar a presença de Ania e Marcos naquele almoço.
- Claro que ajudo e sim, estamos lá. Ele vai buscá-la quando?
- Depois do treino.
- Então quando o Marcos sair de casa para o treino, eu levanto-me para tratar da Morena e depois vamos as duas ter contigo para te ajudar.
- Obrigada, obrigada, obrigada! – Iara abraçou-a e as duas riram-se à gargalhada – vocês são os maiores!
- Somos? Mas só estou aqui eu.
- Mas o Marcos já estava de prevenção se tu dissesses que não.
- Oh e tu achas que eu dizia que não? – as duas olharam-se e Iara acenou negativamente com a cabeça – ah pois! Vamos lá para baixo, então.
As duas saíram do quarto, indo até à sala. Marcos e André permaneciam sentados no sofá a jogar consola. Ania aproximou-se de Marcos, reparando em Morena que estava sentada no colo de Marcos com um comando na mão fingindo que jogava.
- Olha quem é que agora se junta a vocês... – assim que ouviu a voz de Ania, Morena olhou de imediato para a mãe – é a bebé, é – aproximou-se da filha, beijando-lhe a testa.
- Olha, pronto, agora é só mimo, beijinhos e colinho para aqui, colinho para ali – atirou André.
- E tu deves ter algum problema com isso.
- Eu não. Mas vão mimar muito a miúda.
- Até parece que não fazes o mesmo – disse Marcos.
Ania riu-se, fotografando aquele momento.
Agora fazem companhia um ao outro nos jogos. Amo-vos. |
Depois de publicar aquela imagem, começou a ouvir o telefone de casa a tocar. Apressou-se para o ir atender:
- Sim?
- Ania? – era o Lucas, o meu irmão
- Lucas! Como estás? – Ania reparou que Marcos a olhou assim que ouviu o nome de Lucas. Era sempre complicado falar com alguém que lhe trazia tantas más recordações.
- Ania eu não sei o que se passou comigo. Eu juro que não queria... – Ania sentou-se na ponta do sofá, reparando que começava a tremer.
- O que é que tu fizeste?
- Eu juro que não queria, eu não sei como é que isto aconteceu mas, descontrolei-me. E ela vai apresentar queixa. Eu, eu não tenho como escapar.
- Eu não acredito, Lucas.
- Desculpa...
- Eu sabia que mais tarde ou mais cedo iria acontecer. Mas tu prometeste! Como é que foste capaz, como?
- Aconteceu.
- Não deveria ter acontecido. Agora estás por tua conta.
- Eu vou contar à polícia que não foi a primeira vez...são capazes de te chamar para confirmares. E, Ania, eu preciso de ajuda para me tratar...eu sei que tenho um problema. – Ania foi incapaz de dizer alguma coisa. Limitou-se a levantar-se, desligando a chamada. Olhou para todos, não dizendo uma única palavra. Saiu de casa, indo até ao jardim.
Mais do que se lembrar de tudo o que tinha acontecido, o que lhe passava pela cabeça naquele momento era o estado em que estaria a rapariga.
- Ania? – a voz de Marcos surgiu naquele jardim e Ania só o conseguiu olhar – o que é que se passou?
- O Lucas violou outra rapariga – Marcos não sabia bem como reagir ao que ouvia – e, para piorar toda a minha situação neste momento, vai contar à polícia de La Plata o que fez comigo. Se me chamam para prestar declarações, confirmar o que aconteceu...Marcos eu não sei.
- Não queres que o Lucas vá preso, eu entendo.
- Não é isso – Ania virou costas, olhando para a piscina – eu só não queria ter de reviver tudo aquilo que aconteceu à três anos neste momento.
- Eu sei que é complicado – Marcos aproximou-se de Ania, beijando-lhe a cabeça – mas eu estou a teu lado.
- Eu não quero ir para La Plata. Não quero ter de relembrar tudo e denunciá-lo. É o meu irmão...
- Que voltou a fazer mal a alguém.
- Eu sei – Ania baixou a cabeça, olhando para as suas mãos – porque é que, quando as coisas começam a ficar bem, tem de haver sempre uma coisa que estrague tudo?
- Não sei, gordita – Marcos virou-a para si, levando as suas mãos à cara de Ania – estás a tremer muito.
- Já sabes que falar nisto e pensar em tudo o que aconteceu me deixa assim.
- Queres aceitar a proposta da Iara? – Ania riu-se, levando as suas mãos à cabeça de Marcos.
- Ela também te falou da proposta?
- Falou.
- Podemos, então, pedir-lhes que tomem conta dela amanhã à noite. Ai não, a D. Ana Maria chega amanhã.
- Aposto que eles vão compreender, Ania.
- Falamos com eles depois.
- Meninos – a voz de Iara surpreendeu-os – o telefone tocou duas vezes seguidas e eu atendi. É a tua mãe, Marcos.
- Oh, meu Deus, mais problemas hoje não – Marcos beijou a testa de Ania, aproximando-se de Iara. Agarrou o telefone e, do outro lado, ouviu a sua mãe com toda a atenção.
-----------------------------------
Olá meninas!
Sei que já não dava novidades à muito tempo. Pois bem, estive de férias sem qualquer contato com a escrita e os blogs. Voltei e trago-vos este capítulo. Tenho mais uns quantos para partilhar com vocês, não só desta fic como das outras. Espero que continuem desse lado e que deixem os vossos comentários.
Beijinhos a todas, até à próxima.
Ana Patrícia
Olá
ResponderEliminarAdoreiiii *_*
Beijinhos
Catarina
Fantástico...
ResponderEliminarQuero mais... Tou super curiosa para ver o próximo...
Continua...
Ok, consegui pôr-me em ordem! (milagrosamente só tinha um capítulo em atraso)
ResponderEliminarE enquanto digo isto, penso que não sei bem o que dizer sobre o capitulo.
Começando pelo princípio: ainda bem que o que aconteceu à Morena não foi grave. Muito assustador, mas menos mau do que se podia esperar.
Testou a Ania e apesar de ela poder ter quebrado um pouco no inicio, acho que a fortaleceu no momento de reencontrar a filha.
E esta cena final... Bem, não quero sequer imaginar o terror de ser violada e muito menos por um irmão. Acho que nunca mais conseguiria olhar para a cara de um homem que me tivesse violado, principalmente se fosse meu familiar. Meu Deus, nem é bom pensar. Espero que esta cena seja uma cena de ficção que não encontra caso idêntico na realidade (mas bem estamos num mundo onde há pais a violar filhas...).
Enfim, que venham boas coisas no próximo cap!
Ana Santos
Olá
ResponderEliminarDeita foguetes porque finalmente tenho todos os capítulos lidos de todas as tuas fic's :D
Agora falando a sério...adorei este capitulo *.*
Tadita da Ania...ela n merece o q vai passar (o irmão) :/
Bjs :*
Olá
ResponderEliminarNem sei que dizer deste capítulo. Só espero que não venha coisa má deste final porque já bastou aquilo do irmão da Ania.
Vou ao próximo para matar a curiosidade!