- O meu pai?
- Eu estou bem pirralha - ouvi a voz do meu pai e ele agarrou-me na mão. Olhei para ele e estava bem.
- Desmaiei não foi?
- Foi.
- Isto nunca mais passa!?
- Tens de te tentar controlar como disse a médica.
- Ajudam-me a sentar? - o médico agarrou-me na minha outra mão e ajudaram-me a sentir. Ainda vi tudo um pouco à roda, mas acabou por estabilizar - estás mesmo bem?
- Estou. Está tudo no sitio nada partido. Foi mesmo só de levar com a bola.
- Ainda bem...já acabou o treino?
- Estás preocupada com o treino?
- Sim...
- Eles ainda estão a treinar, mas tu agora não sais daqui. Eu vou voltar para lá e ficas aqui com o doutor pode ser?
- Tem mesmo de ser?
- Tem Ania, ainda não estás completamente bem.
- Está bem - o meu pai levantou-se, deu-me um beijo na testa e saiu do gabinete.
- A menina importa-se que me ausente um momento? Preciso de ir ali ver um jogador...
- Claro esteja à vontade.
- Não sai daqui?
- Prometo que não...sei que ainda não estou em condições de me meter a andar por aí.
- Volto já.
- Com certeza.
Ajeitei-me na maca, encostando-me à parede. Este cheiro não me estava a ajudar a ficar melhor...sentia-me enjoada e com imenso calor.
Nisto batem à porta.
- Sim? - a porta abriu-se e espreitou...o Marcos.
- Posso?
- Claro...mas o doutor Gomez não está - ele entrou e fechou a porta.
- Eu não venho à procura do médico...queria saber como estavas.
- Estou bem, obrigada.
- Sabes...não parece nada. Estás demasiado branca.
- Eu desmaiei...mas isso já sabes para estares aqui...
- Fui eu que te trouxe.
- Obrigada.
- Não me agradeças...queres ir apanhar um bocado de ar?
- Não deveria sair daqui...mas...este cheiro.
- Vem - ele estendeu a sua mão na minha direcção. Eu segurei-a e coloquei-me em pé. Contrariamente ao que pensava não me senti tonta. Começámos a caminhar. Saímos do gabinete do médico e fomos até ao relvado que era mesmo em frente. Sabia bem respirar um ar que não cheirava a álcool.
Sentamo-nos no banco de suplentes e inalei algum daquele ar puro.
- Obrigada por me teres ajudado a sair dali...
- Não me tens de agradecer. Mas, sentes-te bem?
- Sim - ficou um silêncio super constrangedor.
Eu não sou a pessoa mais indicada para começar uma conversa. Não as consigo começar...tem de ser sempre alguém a fazê-lo por mim.
Encostei-me ao banco e fiquei a olhar para a frente...só se via relva e passarinhos de um lado para outro.
- Não és de grandes falas...
- Não...inicialmente.
- E nós estamos no inicio...tenho de ser eu a falar não é?
- Pois...eu não sei mesmo que dizer.
- Eu podia apresentar-me, mas já nos conhecemos ontem...achas que vou arranjar sarilhos com o teu pai por estar aqui contigo?
- Poderás ouvir...algo. Aliás, ouvimos os dois porque devia ter ficado la dentro.
- Mas se não te estavas a sentir bem...
- O meu pai não entende bem isso...ser a única filha rapariga e ser a mais nova...não é fácil.
- Pois...tens mais irmãos não é?
- Tenho quatro irmãos.
- Percebesse então porque é que o teu pai nunca te trouxe cá.
- Pois...acho que entendi isso ontem. Mas...preferia não ser filha de Hugo Gottardi o jogador.
- Olha que não são todas que se sentam onde estás...
- Por isso mesmo...eu sinto que não devia ser assim.
- Tens é que aproveitar. E nós até que gostamos de ver caras novas por aqui.
- Sim...acredito que sim. Então se for pela parte de trás - boca grande, boca grande! Já falas-te demais, Ania! - não era isto que eu queria dizer...quer dizer, até era...mais ou menos - comecei a atrapalhar-me toda...raio de cena a minha! Estava a ser uma conversa normal mas eu estraguei tudo. Levantei-me e preparava-me para sair dali quando o Marcos me a agarrou pelo braço.
- Tu tens mesmo que melhorar as tuas conversas...tu querias dizer o que disseste e tens razão. São...alguns os que te olham mais por trás do que pela frente - outro desbocado.
- Bem...uau.
- Vês...eu disse o que queria dizer e não fugi.
- Eu também não fugi.
- Porque eu te agarrei...
- Porque estás a insistir?
- No que?
- A termos uma conversa?
- Não posso querer conhecer-te melhor?
- Podemos não responder um ao outro com perguntas? - como é que é possível sermos assim tão idênticos?
- Já reparas-te que são parecenças a mais?
- Reparei...mas também reparei que são diferenças a mais.
- Essas ainda não as encontrei... - ele avançou na minha direcção. Que!?
- Faustino! - a voz do meu pai...bonito! Lá vão começar os filme que não passam mesmo disso. Uma comédia que...é a gozar comigo.
- Mister! - o Marcos recuou dois passos e ficou mais rígido ..a postura dele mudava na presença do meu pai...o meu pai metia-lhe respeito.
- Não devias estar a arranjar-te?
- Vou já mister - o Marcos passou por mim e foi para o interior.
- Não devias estar no gabinete médico?
- Precisei de apanhar ar. O cheiro do álcool não me estava a ajudar e o Marcos trouxe-me até cá fora.
- Tu e o Faustino...
- Nada. Ele só estava preocupado. Nada de mais. Ainda vais ficar aqui muito tempo?
- Ainda tenho uma reunião. Mas depois podemos ir embora.
- Eu vou andando. Vou até ao café.
- Ania...nem penses. Desmaias-te ainda à pouco.
- Mas já estou bem - dei um beijo ao meu pai e sai dali.
Fui buscar o meu casaco e a minha mala e sai do centro de treinos.
Estava um fim de tarde maravilhoso. Um sol quentinho, mas ao mesmo tempo uma brisa fresca. Comecei a caminhar. Daqui até ao café...ainda eram uns quantos quilómetros, pelo que optei por ir passear aqui nas redondezas.
Havia...há uma coisa que não me sai da cabeça...este Marcos. Que cena é a dele? Melhor...que cena é a nossa? Eu podia ter ido embora, mas é que...ele é tão querido.
- Não devias apanhar sol na cabeça... - a serio!? Mas ele não me larga porque? Não pode simplesmente ignorar-me? Ele estava de carro...um belo BMW preto.
- Qual é o mal?
- Desmaiaste ainda à pouco...
- Qual é a tua? - curvei-me até ficar ao nível dele e quase que metia a cabeça dentro do carro.
- Sinceramente ou naquela de tentar ser um menino bonzinho?
- Sinceramente!
- És tu.
- Sou...hã?
- Pensei que estávamos na mesma página, mas já vi que não... - ele ligou o carro.
- Calma...podemos estar...mas o meu pai não.
- Esse sei bem que nem na capa está...
- Interessa muito neste momento?
- Nem por isso...queres boleia?
- Vais em que direcção?
- Não sei bem...
- Aceito.
- Já que não sabes para onde vai...posso ao menos sugerir algo?
- Estás com ideias?
- Daqui até à Catedral não é muito pouco tempo...
- Queres ir à Catedral de La Plata?
- Sim...porque não? É linda.
- Vamos lá então.
O Marcos começou a conduzir...ao inicio tive medo, o rapaz gosta de velocidade, mas percebi que ele é um excelente condutor e sabe bem andar de carro com velocidade.
Em pouco mais de meia hora já estávamos na Catedal. Saímos os dois do carro e caminhamos na direcção de uns bancos de jardim que ficavam em frente da Catedral e ficamos ali apenas a observá-la.
- Nunca tinha olhado para a Catedral assim... - começou ele.
- Assim como?
- Não sei...mas é, de facto linda.
- Sempre gostei de aqui vir...faz-me lembrar, de certo modo, o castelo da Cinderela - ele desmanchou-se a rir e eu dei-lhe uma cacetada no braço - estás a rir-te do que?
- Tem a sua piada.
- Eu gostar dos filmes da Disney desde pequena? Tem muita piada sem dúvida...
- Mas aqui não perdes o sapato de cristal.
- És mesmo assim?
- Sou... - ficamos a olhar um para o outro, mas voltei a direccionar o olhar para a catedral.
- Gostava de casar aqui...
- Não era nada um mau sitio para se casar...
- Mas não fazem aqui casamentos.
- Podemos sempre casar à porta
- Podemos!? Tu tem lá calma contigo que...
- Ei...tu casas com quem quiseres e eu com quem quiser.
- Estou a ver a tua cena. Tu és...tão... - lindo, maravilhoso, brincalhão, sossegado, teimoso, um príncipe ..és tão, tão perfeito para mim.
- Sou tão...
- Não sei.
Estávamos os dois a olhar um para o outro...e ele sorria.
- Queres...ir lanchar?
- Isso é uma maneira de...
- Querer estar mais tempo contigo. Tu és tão querida.
- Hã?! - senti-me super corada.
- Para além de seres linda, és pura. Tens uma força interior como nunca tinha visto numa rapariga. Eu estou interessado em ti...quero realmente conhecer-te melhor e...esquecer que és filha de quem és.
- Bem...Faustino...
- Gosto quando me chamas de Marcos.
- Fazes uma cara tão feia quando te chamam Faustino.
- Só não gosto quando me chamam assim...faz-me lembrar muita coisa - não, não...cara triste não! Cheguei-me para junto dele e coloquei-lhe a minha mão na face dele.
- Desculpa...
- Não tem mal. Só que...é uma coisa que me vai acompanhar sempre.
- Então...mas há que animar!
- O meu primeiro nome é o nome do meu pai.
- Que querido...
- O meu pai morreu à um ano...
- Marcos...desculpa.
- Não me tens de pedir desculpa de nada. Não sabias.
- Podia ter evitado.
- Não te preocupes - ele passou um dos seus dedos pela minha cana do nariz...esta proximidade com ele...é fantástica. Ele é fantástico...e cheira tão bem!
Adorreeiiii!!
ResponderEliminarIsto cada vez está melhor!!
Eu assim vou ficar viciada nesta fic por todos os motivos e mais alguns!
Adoro o Marcos, ele é tão querido com a Ania!!
Agora estou para ver o que acontecesse entre estes dois, e como é que o pai dela vai reagir.
Prróxximmo Rápiiddoo!!
Olá!!!! adorei tudooooooooo
ResponderEliminara conversa trapalhada então...foi de rir ;)
e espero q os meninos de entendam e q o pai da Ania deixe de ser controlador ;)
próximo rápidoooooooooooooo
sff bj
OH MEU DEUS ANA! Vou morrer de tanta ansiedade! Tanto enquanto leio a história como quando acabo o capitulo e tenho de esperar pelo próximo!
ResponderEliminarEstá simplesmente perfeito, fantástico, maravilhoso, encantador.... Oh meu Deus! Amei!
Espero o próximo muito muito ansiosa!
Beijinhos
Mónica