Estar de férias é a melhor coisa que me pode acontecer. Estudo numa faculdade longe de casa e só aos fins de semana é que estou com a minha família e nunca dá para matar as saudades que tenho deles.
As férias podem estar já a acabar, porque o ano lectivo começa no inicio de Setembro mas, para mim, a escola acabou. Vou dedicar-me ao negócio dos meus pais. Têm um café no centro de La Plata e, como já não vão para novos, precisam da minha ajuda. O meu pai, ex-jogador de futebol, ajuda-nos quando pode, mas continua a estar ligado ao clube dele/nosso: o Estudiantes.
Tenho 4 irmãos, todos rapazes e todos mais velhos que eu...e, como eles têm a vida deles já toda organizada eu ofereci-me para os ajudar. A faculdade pode ficar suspensa por uns tempos.
Ia começar hoje o meu primeiro dia no café. Não estava nervosa, porque já era habito ficar por lá de vez em quando.
Sabia os cantos à casa e nem estava grande movimento.
Eram cerca das três da tarde quando recebemos um cliente um pouco fora do normal:
- Boa tarde - disse o senhor.
- Muito boa tarde - a minha mãe saudou o senhor, e eu aproximei-me dela.
- Senhora Gottardi, o seu marido por acaso não está presente?
- Não, não...que deseja do Hugo?
- Eu sei que não me conhece, mas trabalho no Estudiantes e queria entregar-lhe os bilhetes que me pediu.
- Ele não está...mas pode deixá-los comigo.
- Com certeza - o senhor entregou alguns bilhetes à minha mãe - tenham uma boa tarde.
- Igualmente - o homem saiu do café e eu encostei-me ao balcão olhando para a minha mãe.
- Para que é que ele foi pedir bilhetes para o jogo? - perguntei.
- Não sei...mas são três. Para a tribuna do estádio. Um no nome do teu pai, outro em meu nome...e outro em teu.
- No meu nome!? - o meu pai nunca me tinha levado a ir ver um jogo do Estudiantes. Ia sempre com os meus irmãos e deixava-me a mim em casa com a minha mãe.
- Sim...e o jogo é hoje.
- Mas o jogo de hoje...é importante!
- Tens razão...mas também sabes que para o teu pai te levar à bola...algo está para acontecer.
- Achas?
- Não sei...o teu pai nem me tinha falado de nada disto.
- Acho que o senhor Hugo se arrependeu de nunca levar a maior fã do Estudiantes ao estádio... - a minha mãe riu-se e continuamos o nosso dia de trabalho.
Eram cerca das 18 horas quando o meu pai veio ter connosco ao café, sem nunca nos explicar o porque de irmos ao estádio. Ajudou-nos a fechar o estabelecimento e fomos até casa para tomar um duche e trocar de roupa.
Quando chegamos ao estádio estava um ambiente perfeito para primeiro jogo que vejo. Estádio cheio que me deixou toda arrepiada.
Não achei grande piada ao facto de estar na tribuna...era mais libertador estar no meio da multidão a gritar com eles do que aqui, a ser a filha de Hugo Gottardi, um dos ex-jogadores do Estudiantes com mais golos marcados.
Obviamente o Estudiantes acabou por ganhar o amigável, mas importante jogo, contra o Chelsea de Inglaterra. O meu pai ainda demorou a sair da tribuna, e só quando se tinha despedido de meia centena de pessoas é que fomos até à garagem onde tinha deixado o carro.
- Que é que achaste, Ania? - perguntou-me.
- Foi muito bom. Estava um ambiente perfeito...mas preferia ter ficado na bancada junto dos adeptos, papi.
- Da próxima ficamos lá - dei-lhe um abraço.
- Obrigada por me ter trazido.
- Não me agradeças de nada.
- Mister! - ouvimos um grito vindo do outro lado da garagem.
O meu pai estava a ajudar o treinador do Estudiantes, neste inicio de época. Era uma espécie de motivador e treinador adjunto, mas só ia quando sentia que o tinha de fazer.
Vinha um jogador na direcção dele, com a pasta do meu pai na mão.
- Faustino! - o meu pai largou-me e eu virei-me para esse tal jogador...que eu não estava a reconhecer pelo nome. Não há nenhum jogador com o nome Faustino...mas...é o Rojo. Deverá ser Faustino o primeiro nome dele.
- Mister...não me chame Faustino...
- Não é esse o teu nome rapaz?
- É...mas ninguém me trata assim.
- Trato-te eu - o meu pai abraçou-o - bom jogo rapaz.
- Obrigado mister. Esqueceu-se da sua pasta à tarde.
- Obrigado por ma teres trazido.
- Ora essa...não tem de me agradecer - os nossos olhares trocaram uma faísca por uns momentos.
- Estou a ver a razão de teres sido tu a vir entregar-me a pasta...mas nem penses Faustino!
- Mister...não é nada disso.
- Ai não? Vamos ver... Ania este é o Rojo, o nosso defesa central; Faustino... é a minha filha, Ania.
- Filha!? Mister...
- Como eu pensava... mas pensava também que a cumprimentasses à mesma.
- Claro...que sim - avançamos os dois na direcção um do outro e ele deu-me dois beijos, um em cada bochecha - Muito gosto, Ania.
- Igualmente...Marcos - ele ficou a olhar para mim...posso não saber quem é o Faustino...mas sei perfeitamente quem é o Marcos Rojo, ou não fosse eu aficionada ao Estudiantes.
- Estou a ver que não é com a sua filha que aprendeu o hábito de me chamar Faustino...
- Estás tão espantando quanto eu... - enquanto o meu pai ficou a falar com o rapaz por uns minutos, eu e a minha mãe fomos indo para o carro.
Estávamos as duas no interior do mesmo e dei por mim a olhar para ... o Faustino...Marcos ou Rojo.
- Filha!? Ania!
- Desculpa mãe - virei-me para a frente e prestei atenção - estavas a dizer alguma coisa?
- Estava...tu é que não ouviste nada.
- Desculpa...
- Estavas...a ver o que?
- Nada.
- Não me digas que...achaste piada ao moço.
- A quem!? Eu!? Mãe...por favor, eu com jogadores...é algo completamente fora do contexto.
- Não vejo porque...
- Mãe...era no momento que ficava viúva.
- Credo filha!
- É verdade. Se eu apresentasse uma namorado jogador da bola ao pai...ele deserdava-me.
- Isso não é bem assim...o teu pai só não irá saber lidar com a tua saída de casa...e se namorares um jogador é isso que irá acontecer, mais tarde ou mais cedo.
- Mas...a mãe viu bem aquele rapaz? - desta vez viramos-nos as duas para trás e ficámos a olhar.
- Tem ar de rufia.
- Tem não tem!?
- E tu que não achasses piada...
- Sabe perfeitamente que os anjinhos não são para mim, mamacita! Mas mesmo assim...ao mesmo tempo parece...ser um querido.
- Bem...isso tudo por causa de uma troca de olhares?
- Não foi assim com o pai?
- Porque é que tens essa tua mania de me responder com pergunta?
- Porque também me fazes perguntas complicadas...
- Vem aí o teu pai - viramo-nos as duas para a frente e esperamos que o meu pai entrasse no carro.
- Ainda bem que o Faustino me trouxe a pasta...
- Porque é que chamas isso ao rapaz se ele não gosta? - perguntou a minha mãe.
- É só porque gosto muito dele. É bom rapaz...e todos brincamos um bocadinho com ele por causa do nome. Sabem...tenho a sensação que ele ficou com a Ania debaixo de olho.
- Que está para aí a dizer, papi?
- Só estou a constatar o que vi...espero estar errado.
- Como assim Hugo? - a minha mãe perguntou. Coloquei os fones nos ouvidos, fingindo que ouvia música, não é a conversa que quero ter com o meu pai...
- A maneira como ele olhou para a Ania e fez-me duas perguntas sobre ela mas...pode ser que lhe passe.
- E se eles se entenderem?
- Com uma troca de olhares?
- Não foi assim que nos aconteceu? - o meu pai nada disse e começou a viagem para casa.
Desde quando é que eu, Ania Gottardi, me apaixono assim, com uma troca de olhares, se nem dois dedos de conversa consigo estabelecer com uma pessoa?
Depois de chegarmos a casa fui-me deitar. Estava cansada e amanhã tinha de me levantar cedo para ir para o café com a minha mãe.
Na manha seguinte:
Levantei-me, tomei um duche porque com o calor que tinha estado de noite estava toda suada. Vesti-me e fui até ao andar debaixo:
- Buenos dias! - estavam os meus dois pais a tomar já o pequeno almoço quando me sentei à mesa.
- Ania...preciso de te pedir um favor - começou o meu pai.
- Diz...
- Telefonaram-me lá do Estudiantes e o nosso roupeiro não pode ir hoje, queres dar uma ajuda?
- Calma...roupeiro? Melhor...roupeira por um dia?
- Sim. Os rapazes vão tratar-te bem.
- Não é com eles que estou preocupada...
- Então?
- É contigo!
- Comigo porque?
- Porque vais andar em cima da miúda e não a vais deixar ter iniciativa - respondeu por mim a minha mãe, que sabia exactamente que era mais ou menos o que queria responder.
- Tenho de andar um pouco em cima de ti, mas se formos já e te explicar tudo o que tens de fazer até posso não andar tanto contigo.
- Então vamos! - peguei numa maçã e levantei-me da mesa, dando dois beijos à minha mãe.
Segui com o meu pai até à sala para pegar nas chaves do carro e sairmos de casa.
- Posso ir assim? Ou tenho de vestir outra coisa?
- Poder podes...mas não devias. Umas calças de fato treino ficavam melhor...estavas mais tapada.
- Pai. Está calor. Vamos lá!
Saímos os dois de casa em direcção ao centro de treinos do Estudiantes.
Não estava lá praticamente ninguém. Conheci o treinador e o treinador de guarda-redes e todos me ajudaram a conhecer os cantos onde tinha de andar.
A minha primeira tarefa era preparar o balneário dos jogadores. Dobrar camisolas, calções, meias, por as chuteiras todas juntas, garrafas de águas e por aí.
Antes de eles chegarem já eu estava a preparar os três sacos de desporto para levar para o relvado com águas e material médico. Podia habituar-me a este trabalho muito facilmente Fui para o relvado onde estava o meu pai e os outros treinadores. Coloquei os sacos junto do banco de suplentes e fui ter com eles.
- Já está tudo tratado. Os jogadores já estão a chegar para o treino e o material está todo cá fora - informei.
- Muito obrigada pela tua ajuda hoje, Ania - agradeceu o treinador principal.
- Faço-o com todo o gosto - ficamos todos a falar um pouco enquanto os jogadores não chegavam.
Foi quando estavam já todos à nossa volta que o treinador falou:
- Cavalheiros, temos de começar a preparar a nova época e hoje é nosso primeiro dia a sério. Quero que levem o dia de hoje na desportiva, mas que treinem a serio.
- Não era preciso ter nos trazido uma musa, mister - falou um dos jogadores.
- Referes-te a esta rapariga? - e apontou para mim.
- Sim.
- Fica sabendo que ela hoje está a substituir o Paco (o roupeiro) e é filha do Hugo - olharam todos para o meu pai e alguns ficaram a olhar para mim - quando precisarem de alguma coisa lá de dentro peçam-lhe a ela, mas não cansei a rapariga por tudo e por nada.
- Claro mister...e desculpe Hugo.
- Não te preocupes.
- 15 minutos de corrida à volta do campo! - avisou o treinador e todos começaram a correr.
Eu comecei a ajudá-los a preparar os circuitos de treino.
Deram-me ordem para ficar no carrinho de golfe que era mais fácil para me movimentar de um lado para o outro. Eles iam começar o circuito de treino que ainda demoraria algum tempo.
- Desculpa... - ouvi uma voz meio ofegante atrás de mim. Virei-me e era o Marcos.
- Sim?
- Precisamos de mais toalhas...
- Claro, eu vou já buscá-las.
- Obrigado.
- De nada - fui até ao interior do edifício buscar toalhas mas, quando estava a voltar para o relvado, só vejo o meu pai a entrar cheio de sangue.
- Papi!? - as toalhas foram todas para o meio do chão e corri na direcção do meu pai - que é que se passou?
- Ele levou com a bola em cheio na cara...estava a dar uns toques com os miúdos e sem querer um deles acertou-lhe.
- Pai... - aquele...sangue todo estava a deixar-me tonta...se há coisa que não consigo ver é sangue...
- Ela não pode ver sangue...desmaia... - e apaguei.
Olá!!!
ResponderEliminarPara primeiro capitulo está muito bom...adorei.
Só não gosto do pai da Ania ser conservador...digamos assim...mas espero que ele mude de opinião ;)
Próximo o mais rápido possivel sff...*.*
bj
Adorreii!!
ResponderEliminarComo sempre está espectacular!!
Ainda bem que o pai da Ania a levou ao estádio,assim conheceu o Faustino xD!
Espero que ela vá mais vezes ao estádio ou vá fazer de roupeira,mas sem desmaios, para ver mais vezes o marcos.
Agora fiquei curiosa para saber o que vai acontecer a seguir.
Próóxximmoo Ráápiddoo!!
P.S.:Obrigada! Com esta fic descobri que o Marcos já jogou na mesma equipa que o Enzo!
Olá!
ResponderEliminarBem adoreiii este capitulo, está mesmo lindo *-* O pai da Ania é que é meio conservador, digamos, mas até tem piada :)
Espero o próximo! :D
Beijinhos
Mónica
Ola :)
ResponderEliminarSe este é o primeiro capitulo e está assim tão bom, então que venham os próximos e bem rapidinho :)
Adorei