domingo, 26 de maio de 2013

4 - "Não brilham mais que tu."

- O que é que não vais andar a fazer à minha frente? - e que dizer neste momento? Verdade? Nem pensar nisso...mas que dizer?
Estávamos aqui a falar...e a Ania estava a dizer que não era capaz de fazer tudo à tua frente - respondeu a minha mãe.
- Pensava que confiavas no teu pai...
- Pai, confiar é uma coisa...contar-lhe tudo o que faço é outra... - fui ter com ele e dei-lhe um beijo na bochecha - mas será dos primeiros a saber de tudo o que se passa na minha vida. 
- Fico feliz por saber isso. 
Ficámos a ajudar a minha mãe a fechar as contas do dia e, depois de fechar bem o café, fomos para casa. 

22:15h
Estar sem fazer nada não é para mim...estar aqui enfiada no quarto com uma noite super agradável lá fora é de dar em doida. 
Peguei no telemóvel...percorri a minha lista de contactos a ver quem é que poderia ir sair comigo. Não podiam ser as meninas da faculdade...não são daqui. E também não vou ligar a pessoas daqui que nem me dou bem com elas...Marcos! O Marcos tinha deixado o número de telemóvel dele na minha lista de contactos do telemóvel. Procurei, procurei...mas não estava como Marcos...nem Faustino. Voltei a percorrer cada um dos contactos: 
Príncipe ? Faz sentido... - falei sozinha e iniciei a chamada. 
Demorou algum tempo para que atendesse a chamada. 
"- Estou?"
- Marquitos! 
"- Cinderela..." - que sentido o dele de me surpreender. 
- Tenho uma proposta para ti. 
"- Chuta."
- Estás ocupado?
"- Não. Acabei de jantar à pouco e ia agora deitar-me a ver televisão...mas com uma noite destas nem apetece."
- Exactamente. Que me dizes de irmos dar uma volta? Vamos dançar, num daqueles bares junto da praia...não entramos e não damos nas vistas. 
"- Aviso-te já que sou pé de chumbo."
- Isso é um sim?
"- Mas eu ia alguma vez recusar estar com a minha Cinderela?"
- Vais continuar a chamar-me isso?
"- Até acho que gostas..."
- Até que é fofinho...
"- É só para veres que estou calminho...não prometo nada é quando estiver contigo."
- É bom que te mantenhas calmo. 
"- Não vou prometer nada."
- Vou arranjar-me. Encontramo-nos onde?
"- Posso apanhar-te ao pé de tua casa..."
- Podes...se esperares ao fundo da rua. Sabes onde moro, portanto...
"- Sei...mas não te preocupes que não me meto contigo à noite."
- Tu...tens a boca do tamanho de sei lá o que!
"- Queres mesmo entrar por aí?"
- Não!
"- Só digo o que tenho a dizer na altura certa."
- Vá. Vemo-nos daqui a meia hora, pode ser?
"- Pode."
- Então até já. 
"- Até já cinderela."
Desliguei a chamada e fui trocar de roupa e maquilhar-me. 


Desci até ao andar debaixo e encontrei os meus pais na sala. 
- Vou sair papis
- E vais onde? - perguntou o meu pai.
- Vou até a um dos bares da praia com umas amigas que estão de passagem.
- Precisas que te vá lá deixar?
- Fica tranquilo...elas vêm buscar-me e vêm trazer-me. 
- Diverte-te Ania!
- Gracias madre! - dei dois beijos a cada um e sai de casa. 
Caminhei até ao fundo da rua e ainda não havia sinais do Marcos. Esperei cerca de dois minutos para avistar o carro dele. Vinha a fazer sinal de luzes...queria mesmo que eu o visse não?
Ele parou o carro à minha frente e eu entrei nele.
- Vinhas a dar um show de luzes? 
- Não brilham mais que tu. 
- A serio...Marcos... - olhei para ele, pela primeira vez na noite, e surpreendeu-me com duas rosas vermelhas. 
- São para ti - esboçou um sorriso contagiante, super meigo e super sincero. 
- Muito obrigada... - peguei nas rosas e pousei-as no meu colo. 
- Vamos onde? - perguntou ele começando a conduzir. 
- Para as praias...depois lá encontramos algo para fazer. 
- Parece-me bastante bom esse plano. 
- Prepara-te é para dançar! 
Seguimos para a praia. Surpreendentemente estavam poucas pessoas. Pois...a uma sexta-feira as discotecas no centro de La Plata são mais badaladas. 
O Marcos estacionou o carro, saímos dele e fomos em direcção ao areal. Era audível a música que vinha de dentro dos bares. 
Eu ia andando...o Marcos ficou para trás, enquanto via o ambiente e a música que mais se parecia para dançar. 
- Marcos! Aquele lá ao fundo! - apontei para um, onde estavam umas quantas pessoas a dançar cá fora também.
O Marcos veio comigo e assim que lá chegamos a música parou. 
- Chegámos mesmo na altura exacta... - comentou ele. 
- Pois chegámos...agora sou eu a escolher a música - havia uma jukebox no exterior de onde emanava a música. Escolhi: I Love Rock N Roll da Joan Jett. 
Avancei na direcção do Marcos e começamos a dançar:


Ele...até se mexia bem... atordoava-me com cada movimento. Deixava-me, de certo modo, excitada e com vontade de o tocar como nunca tinha tido. 
Chegámos ao fim da música completamente suados.
- Não és assim tão pé de chumbo Marquinhos! 
- Ter uma parceira de dança tão boa é o que dá...
- Sim, sim...
- Vou agora eu escolher a música. 
- Queres dançar mais!?
- Não viemos dançar?
- Sim...
- Então...ainda agora começamos. 
O Marcos foi até a jukebox e escolheu ele a música...Sean Paul - She Doesn't Mind. Se a música que passou foi dançar como dançamos...esta nem sei como seria. 


Rebolámos, literalmente, um no outro. A música dava para isso, dava para os nossos corpos se sentirem um ao outro e se começarem a conhecer um bocadinho.
Derretia-me, torturava-me e deliciava-me com ele. Sabia bem libertar-me assim. O fim da música chegou e abrandámos um pouco o ritmo. O Marcos sentou-se no areal cruzando os braços. 
- Não há espaço aí no meio para mim? - ele abriu os braços e eu sentei-me em cima das pernas dele, virada para ele - nunca pensei que um pé de chumbo se mexesse tão bem.
- O que tu acabaste de assistir é o meu corpo a mexer-se em função do teu. 
- Diz que sim...
- Eu não sei quanto tempo mais te resisto.
- Quem te manda resistir?
- Não é para ter calma?
- Calma não significa ficar parado - ele passou as suas mãos pelos meus braços aproximando-se de mim - tu és tão lindo Marcos. 
- Olha que ela sabe falar quando quer beijinhos...
- Até parece que eu falo muito mal. 
- Já te atrapalhas menos.
- Vais continuar a diminuir a distância? - ele aproximou-se e eu afastei-me um bocadinho. 
- Então rapariga!?
- Nada rapaz! - puxei-o para mim e beijei-o. 
Lábios...jesus! Era simplesmente louca a maneira como nos beijávamos. Os nossos encaixaram-se perfeitamente um no outro.  

sábado, 25 de maio de 2013

3 - "No fundo...mesmo no fundo sabe. Tu tens ar de rufia."

O que esperar de duas pessoas que têm no máximo 20 anos? O Marcos têm os 20 e eu 19...mas podemos parecer tem 15/16 anos. O que não é nada mau!
Decidimos ir "lanchar" se bem que o que se comia já servia de jantar. Passamos por uma rolote de cachorros quentes e não resistimos. Eram gigantes e deliciosos. 
- Quem é que inventou o hora do jantar? Podemos simplesmente comer estas coisas assim e saltar essa refeição... - comentei. 
- Mas pensa...se não houvesse essa refeição, não haviam os restaurantes nem os jantares românticos organizados pelos namorados para surpreenderem as companheiras. 
- Poderiam ser as excepções...eu era capaz de viver sem jantar. 
- Acho que isso já é a fome a falar demais. 
- Estou a falar a sério... - sentámo-nos novamente num banco e dei mais uma trinca no cachorro. A verdade é que também estava com uma certa fome...não tinha almoçado como deve ser e o pequeno almoço também não tinha sido nada de jeito. 
- Tens... - o Marcos riu-se e avançou na minha direcção com um guardanapo limpando-me a ponta do nariz - tinhas maionese no nariz. 
- Obrigada... - estávamos a ter uma tarde de amigos muito boa. O Marcos era bastante comunicativo, fazia-me sentir à vontade e fazia-me rir à gargalhada até me virem as lágrimas aos olhos. 
- Marcos...
- Ania.
- Eu sei que me vou atrapalhar toda, mas peço-te que não interrompas que acho que só assim vou conseguir dizer tudo. 
- Sim...
- Eu estou a gostar imenso de estar contigo...
- Eu também - e pronto...interrompeu. 
- Marcos...eu disse para não interromperes.
- Ah...já começas-te! Desculpa - ele riu-se...e eu ri-me com ele. Mas depressa voltei ao meu raciocínio.
- Eu estou mesmo a gostar muito de estar aqui contigo. Tens sido muito simpático e...houve um clique entre nós. Eu senti isso e tu próprio já o admitiste. Se...isto que nós andamos a fazer avançar para algum lado...nem que seja uma coisa de uma noite, o meu pai não pode saber...e se for uma coisa mais séria, aí sim...tem de saber porque é meu pai e teu treinador por enquanto...se bem que não é propriamente o treinador porque o teu treinador é outro.
- Calma. 
- O mais importante já está dito.
- E...bem dito. Nunca tinha estado assim com uma rapariga...tu és especial e o teu pai pode ter-te dito que eu ando com uma e com outra, mas não é verdade. Era verdade...mas deixou de ser.
- Ele não me disse nada sobre ti...está na fase em que sabe que nós poderá dar em alguma coisa e evita essa conversa. 
- O teu pai sabe que pode haver um "nós"?
- No fundo...mesmo no fundo sabe. Tu tens ar de rufia. 
- Hã?!
- Não me dou bem com anjinhos...dás-me luta, és brincalhão e não tens cara de anjinho. 
- Estou a ver a cena...estás a dar-me conversa porque achas que sou rufia...
- Não...tu és querido...mas sim, tens cara de rufia.
- Acho que posso dizer que sei ser as duas coisas. 
- O que é que tu queres? ...de nós. 
- Queres algo? - continuávamos em frente da Catedral. Sentei-me direita e fiquei a olhá-la...eu sabia o que queria responder, mas não sabia como lho dizer a ele - podes demorar o tempo que for preciso. 
- Como a Cinderela...eu preciso de alguém que me faça sentir que vale a pena dar significado à palavra amor. Preciso de sentir, pela primeira vez na minha vida, que me amam e que eu amo alguém. Amar não é de um dia para o outro. É o sentimento que demora mais tempo a crescer, porque é o sentimento mais sincero que o ser humano tem. Eu não quero um príncipe num cavalo brando...porque príncipes não existem. Existem seres humanos capazes de se transformarem perante diversas situações. Se...esse ser humanos fores tu...temos de o perceber...mas o caminho que estamos a tomar, eu tenho a perfeita noção que não é o caminho típico de dois bons amigos. Não é isso que queremos ser - falar a olhar para a Catedral era bem mais fácil do que lhe dizer isto na cara.
Senti que ele se aproximou de mim, mas continuei a olhar em frente.
- Como na Cinderela...o príncipe procura a dona do sapatinho e ela é a tal. Tu não perdeste nenhum sapato, mas o teu pai esqueceu-se da pasta no treino e...eu tive de a entregar, surpreendentemente achei a minha Cinderela. Ela não estava à procura de nada, nem eu à procura de nada...mas é quando menos se espera que as coisas acontecem - ele agarrou na minha mão e elas falaram por nós. Entrelaçámos os dedos de um no outro. Havia um contraste entre as peles. A minha mais branca que a dele. Mas...encaixavam-se perfeitamente - Não é preciso teres perdido nenhum sapato...basta ver que sentes o mesmo que eu - virei o meu corpo na direcção dele. Estava mesmo muito, muito perto de mim. 
- Queres fazer como na Cinderela?
- Como assim?
- Não é uma madrasta...mas é o meu pai. Podemos manter tudo em segredo por enquanto e ver...no que dá. 
- Andas a falar tão bem...
- A culpa é toda e inteiramente tua. 
- Minha porque?
- Porque me deixas sem qualquer sentido de orientação e sem pensar em mim...penso apenas em..ti, nada mais. 
- Acho que achei a nova princesa da Disney. 
- Não...ainda não atingiste o nível de príncipe...
- Tens noção que...nós fomos feitos um para o outro?
- E tu achaste muito bom, não achas?
- Acho-te é muito boa!
- Marcos!
- Só estou a constatar dois factos: és linda...e és maravilhosamente perfeita por dentro. 
- E queres ver-me corada...
- Querer...eu queria um beijo teu, mas talvez possa esperar até que isto avance mais. 
- Acho muito bem.
- Sempre pensei que me fosses dar um beijo na mesma.
- E era tudo fácil? Não rapaz...eu e tu...calma e aproveitar à mistura. E...achas que podemos ir embora? Disse ao meu pai que ia para o café e ainda não apareci lá...
- Claro! - coloquei a minha mala ao ombro e levantamo-nos os dois ao mesmo tempo, reparando que as nossas mãos continuavam juntas. Ficámos os dois a olhar um para o outro, gargalhamos e começamos a ir para o carro.
Indiquei-lhe o caminho para o café da minha mãe e ele estacionou à porta.
- Obrigada.
- Obrigado.
- Hã?
- Se tu me agradeces eu agradeço-te. 
- Não tens de agradecer nada Marquitos. 
- Como é que fica o teu diminutivo?...Ani?
- Ania. Não há como ter diminutivo...mas Marquitos sim! - dei-lhe um beijo na bochecha - como é que vamos falando?
- Queres continuar a falar mesmo comigo?
- Quero muito. 
- Dá-me o teu telemóvel, por favor - abri a mala, retirando de lá o meu telemóvel, entregando-lhe. Ele digitou algo e entregou-mo - vamos falando então - deu-me um beijo na bochecha e eu sai do carro. 
Entrei no café e a minha mãe veio logo ter comigo. 
- Ania!! O teu pai ligou à mais de duas horas a avisar que tinhas saído de ao pé dele e que tinhas desmaiado e que vinhas para aqui! O que é que te aconteceu?
- Calma. O que é que aconteceu quando?
- Nestas duas horas?
- Estive na Catedral.
- Mas isso fica tão longe daqui.
- Não é assim tão longe. Demorei 20 minutos a cá chegar. 
- Isso é o tempo se vieres de carro...e tu não tens carro, a menos que...estiveste com quem?
- É preciso ter estado com alguém? Posso ter vindo mais depressa...
- Ania! Estiveste com o rufia!
- Mãe!
- Estiveste!
- Não digas nada ao pai...nós estamos a dar-nos bem...ele é bom rapaz. Mas o pai começa logo a fazer filmes que não são bem verdade. 
- Não são bem verdade!?
- Poderão vir a ser...estamos a conhecer-nos agora!
- E...achas que mo vais apresentar como namorado?
- Poderá ser possível...mas só depois de namorarmos muito às escondidas do pai.
- Ania...
- É verdade...não vou andar a fazer tudo em frente do pai. 
- O que é que não vais andar a fazer à minha frente? - ups...Hugo Gottardi...chegas sempre na hora mais oportuna.   

sexta-feira, 24 de maio de 2013

2 - Faustino

- Ania? - estava tudo tão turvo...parecia que estava nublado. E cheira imenso a álcool  Estava deitada e tinha um homem a olhar para mim. 
- O meu pai? 
- Eu estou bem pirralha - ouvi a voz do meu pai e ele agarrou-me na mão. Olhei para ele e estava bem. 
- Desmaiei não foi?
- Foi. 
- Isto nunca mais passa!? 
- Tens de te tentar controlar como disse a médica. 
- Ajudam-me a sentar? - o médico agarrou-me na minha outra mão e ajudaram-me a sentir. Ainda vi tudo um pouco à roda, mas acabou por estabilizar - estás mesmo bem?
- Estou. Está tudo no sitio nada partido. Foi mesmo só de levar com a bola.
- Ainda bem...já acabou o treino? 
- Estás preocupada com o treino?
- Sim...
- Eles ainda estão a treinar, mas tu agora não sais daqui. Eu vou voltar para lá e ficas aqui com o doutor pode ser?
- Tem mesmo de ser?
- Tem Ania, ainda não estás completamente bem. 
- Está bem - o meu pai levantou-se, deu-me um beijo na testa e saiu do gabinete. 
- A menina importa-se que me ausente um momento? Preciso de ir ali ver um jogador...
- Claro esteja à vontade. 
- Não sai daqui?
- Prometo que não...sei que ainda não estou em condições de me meter a andar por aí. 
- Volto já. 
- Com certeza.
Ajeitei-me na maca, encostando-me à parede. Este cheiro não me estava a ajudar a ficar melhor...sentia-me enjoada e com imenso calor.
Nisto batem à porta. 
- Sim? - a porta abriu-se e espreitou...o Marcos. 
- Posso?
- Claro...mas o doutor Gomez não está - ele entrou e fechou a porta. 
- Eu não venho à procura do médico...queria saber como estavas. 
- Estou bem, obrigada.
- Sabes...não parece nada. Estás demasiado branca. 
- Eu desmaiei...mas isso já sabes para estares aqui...
- Fui eu que te trouxe. 
- Obrigada. 
- Não me agradeças...queres ir apanhar um bocado de ar?
- Não deveria sair daqui...mas...este cheiro. 
- Vem - ele estendeu a sua mão na minha direcção. Eu segurei-a e coloquei-me em pé. Contrariamente ao que pensava não me senti tonta. Começámos a caminhar. Saímos do gabinete do médico e fomos até ao relvado que era mesmo em frente. Sabia bem respirar um ar que não cheirava a álcool
Sentamo-nos no banco de suplentes e inalei algum daquele ar puro.
- Obrigada por me teres ajudado a sair dali...
- Não me tens de agradecer. Mas, sentes-te bem? 
- Sim - ficou um silêncio super constrangedor
Eu não sou a pessoa mais indicada para começar uma conversa. Não as consigo começar...tem de ser sempre alguém a fazê-lo por mim. 
Encostei-me ao banco e fiquei a olhar para a frente...só se via relva e passarinhos de um lado para outro. 
- Não és de grandes falas...
- Não...inicialmente. 
- E nós estamos no inicio...tenho de ser eu a falar não é? 
- Pois...eu não sei mesmo que dizer. 
- Eu podia apresentar-me, mas já nos conhecemos ontem...achas que vou arranjar sarilhos com o teu pai por estar aqui contigo? 
- Poderás ouvir...algo. Aliás, ouvimos os dois porque devia ter ficado la dentro. 
- Mas se não te estavas a sentir bem...
- O meu pai não entende bem isso...ser a única filha rapariga e ser a mais nova...não é fácil. 
- Pois...tens mais irmãos não é?
- Tenho quatro irmãos. 
- Percebesse então porque é que o teu pai nunca te trouxe cá. 
- Pois...acho que entendi isso ontem. Mas...preferia não ser filha de Hugo Gottardi o jogador. 
- Olha que não são todas que se sentam onde estás...
- Por isso mesmo...eu sinto que não devia ser assim. 
- Tens é que aproveitar. E nós até que gostamos de ver caras novas por aqui. 
- Sim...acredito que sim. Então se for pela parte de trás - boca grande, boca grande! Já falas-te demais, Ania! - não era isto que eu queria dizer...quer dizer, até era...mais ou menos - comecei a atrapalhar-me toda...raio de cena a minha! Estava a ser uma conversa normal mas eu estraguei tudo. Levantei-me e preparava-me para sair dali quando o Marcos me a agarrou pelo braço. 
- Tu tens mesmo que melhorar as tuas conversas...tu querias dizer o que disseste e tens razão. São...alguns os que te olham mais por trás do que pela frente - outro desbocado. 
- Bem...uau. 
- Vês...eu disse o que queria dizer e não fugi.
- Eu também não fugi. 
- Porque eu te agarrei...
- Porque estás a insistir?
- No que?
- A termos uma conversa?
- Não posso querer conhecer-te melhor?
- Podemos não responder um ao outro com perguntas? - como é que é possível sermos assim tão idênticos?
- Já reparas-te que são parecenças a mais?
- Reparei...mas também reparei que são diferenças a mais. 
- Essas ainda não as encontrei... - ele avançou na minha direcção. Que!?
- Faustino! - a voz do meu pai...bonito! Lá vão começar os filme que não passam mesmo disso. Uma comédia que...é a gozar comigo. 
- Mister! - o Marcos recuou dois passos e ficou mais rígido ..a postura dele mudava na presença do meu pai...o meu pai metia-lhe respeito. 
- Não devias estar a arranjar-te? 
- Vou já mister - o Marcos passou por mim e foi para o interior. 
- Não devias estar no gabinete médico?
- Precisei de apanhar ar. O cheiro do álcool não me estava a ajudar e o Marcos trouxe-me até cá fora. 
- Tu e o Faustino...
- Nada. Ele só estava preocupado. Nada de mais. Ainda vais ficar aqui muito tempo?
- Ainda tenho uma reunião. Mas depois podemos ir embora. 
- Eu vou andando. Vou até ao café.
- Ania...nem penses. Desmaias-te ainda à pouco. 
- Mas já estou bem - dei um beijo ao meu pai e sai dali. 
Fui buscar o meu casaco e a minha mala e sai do centro de treinos. 
Estava um fim de tarde maravilhoso. Um sol quentinho, mas ao mesmo tempo uma brisa fresca. Comecei a caminhar. Daqui até ao café...ainda eram uns quantos quilómetros, pelo que optei por ir passear aqui nas redondezas
Havia...há uma coisa que não me sai da cabeça...este Marcos. Que cena é a dele? Melhor...que cena é a nossa? Eu podia ter ido embora, mas é que...ele é tão querido. 
- Não devias apanhar sol na cabeça... - a serio!? Mas ele não me larga porque? Não pode simplesmente ignorar-me? Ele estava de carro...um belo BMW preto. 
- Qual é o mal?
- Desmaiaste ainda à pouco...
- Qual é a tua? - curvei-me até ficar ao nível dele e quase que metia a cabeça dentro do carro.
- Sinceramente ou naquela de tentar ser um menino bonzinho? 
- Sinceramente!
- És tu.
- Sou...hã?
- Pensei que estávamos na mesma página, mas já vi que não... - ele ligou o carro. 
- Calma...podemos estar...mas o meu pai não. 
- Esse sei bem que nem na capa está...
- Interessa muito neste momento?
- Nem por isso...queres boleia?
- Vais em que direcção?
- Não sei bem...
- Aceito. 
- Entra - dei a volta ao carro e entrei. Não foi isto que os meus pais me ensinaram. Entrar num carro com um "desconhecido". Mas precisava de quebrar a rotina e queria mesmo, mesmo conhece-lo melhor. Ele é meio que misterioso e meio que louco.
- Já que não sabes para onde vai...posso ao menos sugerir algo?
- Estás com ideias?
- Daqui até à Catedral não é muito pouco tempo...
- Queres ir à Catedral de La Plata?
- Sim...porque não? É linda. 
- Vamos lá então. 
O Marcos começou a conduzir...ao inicio tive medo, o rapaz gosta de velocidade, mas percebi que ele é um excelente condutor e sabe bem andar de carro com velocidade.
Em pouco mais de meia hora já estávamos na Catedal. Saímos os dois do carro e caminhamos na direcção de uns bancos de jardim que ficavam em frente da Catedral e ficamos ali apenas a observá-la.



- Nunca tinha olhado para a Catedral assim... - começou ele.
- Assim como?
- Não sei...mas é, de facto linda.
- Sempre gostei de aqui vir...faz-me lembrar, de certo modo, o castelo da Cinderela - ele desmanchou-se a rir e eu dei-lhe uma cacetada no braço - estás a rir-te do que? 
- Tem a sua piada. 
- Eu gostar dos filmes da Disney desde pequena? Tem muita piada sem dúvida...
- Mas aqui não perdes o sapato de cristal. 
- És mesmo assim?
- Sou... - ficamos a olhar um para o outro, mas voltei a direccionar o olhar para a catedral.
- Gostava de casar aqui...
- Não era nada um mau sitio para se casar...
- Mas não fazem aqui casamentos. 
- Podemos sempre casar à porta
- Podemos!? Tu tem lá calma contigo que...
- Ei...tu casas com quem quiseres e eu com quem quiser.
- Estou a ver a tua cena. Tu és...tão... - lindo, maravilhoso, brincalhão, sossegado, teimoso, um príncipe ..és tão, tão perfeito para mim.
- Sou tão...
- Não sei. 
Estávamos os dois a olhar um para o outro...e ele sorria.
- Queres...ir lanchar?
- Isso é uma maneira de...
- Querer estar mais tempo contigo. Tu és tão querida. 
- Hã?! - senti-me super corada.
- Para além de seres linda, és pura. Tens uma força interior como nunca tinha visto numa rapariga. Eu estou interessado em ti...quero realmente conhecer-te melhor e...esquecer que és filha de quem és.
- Bem...Faustino...
- Gosto quando me chamas de Marcos. 
- Fazes uma cara tão feia quando te chamam Faustino. 
- Só não gosto quando me chamam assim...faz-me lembrar muita coisa - não, não...cara triste não! Cheguei-me para junto dele e coloquei-lhe a minha mão na face dele.
- Desculpa...
- Não tem mal. Só que...é uma coisa que me vai acompanhar sempre.
- Então...mas há que animar!
- O meu primeiro nome é o nome do meu pai. 
- Que querido...
- O meu pai morreu à um ano...
- Marcos...desculpa. 
- Não me tens de pedir desculpa de nada. Não sabias. 
- Podia ter evitado. 
- Não te preocupes - ele passou um dos seus dedos pela minha cana do nariz...esta proximidade com ele...é fantástica. Ele é fantástico...e cheira tão bem!

1 - "...ficou com a Ania debaixo de olho."

Agosto de 2010 - Argentina, La Plata
Estar de férias é a melhor coisa que me pode acontecer. Estudo numa faculdade longe de casa e só aos fins de semana é que estou com a minha família e nunca dá para matar as saudades que tenho deles. 
As férias podem estar já a acabar, porque o ano lectivo começa no inicio de Setembro mas, para mim, a escola acabou. Vou dedicar-me ao negócio dos meus pais. Têm um café no centro de La Plata e, como já não vão para novos, precisam da minha ajuda. O meu pai, ex-jogador de futebol, ajuda-nos quando pode, mas continua a estar ligado ao clube dele/nosso: o Estudiantes.
Tenho 4 irmãos, todos rapazes e todos mais velhos que eu...e, como eles têm a vida deles já toda organizada eu ofereci-me para os ajudar. A faculdade pode ficar suspensa por uns tempos. 
Ia começar hoje o meu primeiro dia no café. Não estava nervosa, porque já era habito ficar por lá de vez em quando. 
Sabia os cantos à casa e nem estava grande movimento. 
Eram cerca das três da tarde quando recebemos um cliente um pouco fora do normal: 
- Boa tarde - disse o senhor.
- Muito boa tarde - a minha mãe saudou o senhor, e eu aproximei-me dela.
- Senhora Gottardi, o seu marido por acaso não está presente? 
- Não, não...que deseja do Hugo?
- Eu sei que não me conhece, mas trabalho no Estudiantes e queria entregar-lhe os bilhetes que me pediu. 
- Ele não está...mas pode deixá-los comigo. 
- Com certeza - o senhor entregou alguns bilhetes à minha mãe - tenham uma boa tarde.
- Igualmente - o homem saiu do café e eu encostei-me ao balcão olhando para a minha mãe. 
- Para que é que ele foi pedir bilhetes para o jogo? - perguntei. 
- Não sei...mas são três. Para a tribuna do estádio. Um no nome do teu pai, outro em meu nome...e outro em teu. 
- No meu nome!? - o meu pai nunca me tinha levado a ir ver um jogo do Estudiantes. Ia sempre com os meus irmãos e deixava-me a mim em casa com a minha mãe. 
- Sim...e o jogo é hoje. 
- Mas o jogo de hoje...é importante! 
- Tens razão...mas também sabes que para o teu pai te levar à bola...algo está para acontecer. 
- Achas?
- Não sei...o teu pai nem me tinha falado de nada disto. 
- Acho que o senhor Hugo se arrependeu de nunca levar a maior fã do Estudiantes ao estádio... - a minha mãe riu-se e continuamos o nosso dia de trabalho. 
Eram cerca das 18 horas quando o meu pai veio ter connosco ao café, sem nunca nos explicar o porque de irmos ao estádio. Ajudou-nos a fechar o estabelecimento e fomos até casa para tomar um duche e trocar de roupa. 

Quando chegamos ao estádio estava um ambiente perfeito para primeiro jogo que vejo. Estádio cheio que me deixou toda arrepiada. 
Não achei grande piada ao facto de estar na tribuna...era mais libertador estar no meio da multidão a gritar com eles do que aqui, a ser a filha de Hugo Gottardi, um dos ex-jogadores do Estudiantes com mais golos marcados. 
Obviamente o Estudiantes acabou por ganhar o amigável, mas importante jogo, contra o Chelsea de Inglaterra. O meu pai ainda demorou a sair da tribuna, e só quando se tinha despedido de meia centena de pessoas é que fomos até à garagem onde tinha deixado o carro. 
- Que é que achaste, Ania? - perguntou-me. 
- Foi muito bom. Estava um ambiente perfeito...mas preferia ter ficado na bancada junto dos adeptos, papi
- Da próxima ficamos lá - dei-lhe um abraço. 
- Obrigada por me ter trazido. 
- Não me agradeças de nada. 
- Mister! - ouvimos um grito vindo do outro lado da garagem. 
O meu pai estava a ajudar o treinador do Estudiantes, neste inicio de época. Era uma espécie de motivador e treinador adjunto, mas só ia quando sentia que o tinha de fazer.
Vinha um jogador na direcção dele, com a pasta do meu pai na mão. 
- Faustino! - o meu pai largou-me e eu virei-me para esse tal jogador...que eu não estava a reconhecer pelo nome. Não há nenhum jogador com o nome Faustino...mas...é o Rojo. Deverá ser Faustino o primeiro nome dele.
- Mister...não me chame Faustino...
- Não é esse o teu nome rapaz?
- É...mas ninguém me trata assim. 
- Trato-te eu - o meu pai abraçou-o - bom jogo rapaz.
- Obrigado mister. Esqueceu-se da sua pasta à tarde. 
- Obrigado por ma teres trazido. 
- Ora essa...não tem de me agradecer - os nossos olhares trocaram uma faísca por uns momentos.
- Estou a ver a razão de teres sido tu a vir entregar-me a pasta...mas nem penses Faustino!
- Mister...não é nada disso. 
- Ai não? Vamos ver... Ania este é o Rojo, o nosso defesa central; Faustino... é a minha filha, Ania. 
- Filha!? Mister...
- Como eu pensava... mas pensava também que a cumprimentasses à mesma. 
- Claro...que sim - avançamos os dois na direcção um do outro e ele deu-me dois beijos, um em cada bochecha - Muito gosto, Ania. 
- Igualmente...Marcos - ele ficou a olhar para mim...posso não saber quem é o Faustino...mas sei perfeitamente quem é o Marcos Rojo, ou não fosse eu aficionada ao Estudiantes. 
- Estou a ver que não é com a sua filha que aprendeu o hábito de me chamar Faustino...
- Estás tão espantando quanto eu... - enquanto o meu pai ficou a falar com o rapaz por uns minutos, eu e a minha mãe fomos indo para o carro. 
Estávamos as duas no interior do mesmo e dei por mim a olhar para ... o Faustino...Marcos ou Rojo.
- Filha!? Ania!
- Desculpa mãe - virei-me para a frente e prestei atenção - estavas a dizer alguma coisa?
- Estava...tu é que não ouviste nada. 
- Desculpa...
- Estavas...a ver o que?
- Nada. 
- Não me digas que...achaste piada ao moço. 
- A quem!? Eu!? Mãe...por favor, eu com jogadores...é algo completamente fora do contexto. 
- Não vejo porque...
- Mãe...era no momento que ficava viúva. 
- Credo filha! 
- É verdade. Se eu apresentasse uma namorado jogador da bola ao pai...ele deserdava-me. 
- Isso não é bem assim...o teu pai só não irá saber lidar com a tua saída de casa...e se namorares um jogador é isso que irá acontecer, mais tarde ou mais cedo.
- Mas...a mãe viu bem aquele rapaz? - desta vez viramos-nos as duas para trás e ficámos a olhar. 
- Tem ar de rufia.
- Tem não tem!?
- E tu que não achasses piada...
- Sabe perfeitamente que os anjinhos não são para mim, mamacita! Mas mesmo assim...ao mesmo tempo parece...ser um querido. 
- Bem...isso tudo por causa de uma troca de olhares? 
- Não foi assim com o pai?
- Porque é que tens essa tua mania de me responder com pergunta?
- Porque também me fazes perguntas complicadas...
- Vem aí o teu pai - viramo-nos as duas para a frente e esperamos que o meu pai entrasse no carro. 
- Ainda bem que o Faustino me trouxe a pasta...
- Porque é que chamas isso ao rapaz se ele não gosta? - perguntou a minha mãe. 
- É só porque gosto muito dele. É bom rapaz...e todos brincamos um bocadinho com ele por causa do nome. Sabem...tenho a sensação que ele ficou com a Ania debaixo de olho.
- Que está para aí a dizer, papi?
- Só estou a constatar o que vi...espero estar errado. 
- Como assim Hugo? - a minha mãe perguntou. Coloquei os fones nos ouvidos, fingindo que ouvia música, não é a conversa que quero ter com o meu pai...
- A maneira como ele olhou para a Ania e fez-me duas perguntas sobre ela mas...pode ser que lhe passe. 
- E se eles se entenderem?
- Com uma troca de olhares?
- Não foi assim que nos aconteceu? - o meu pai nada disse e começou a viagem para casa. 
Desde quando é que eu, Ania Gottardi, me apaixono assim, com uma troca de olhares, se nem dois dedos de conversa consigo estabelecer com uma pessoa? 
Depois de chegarmos a casa fui-me deitar. Estava cansada e amanhã tinha de me levantar cedo para ir para o café com a minha mãe. 

Na manha seguinte: 
Levantei-me, tomei um duche porque com o calor que tinha estado de noite estava toda suada. Vesti-me e fui até ao andar debaixo:


- Buenos dias! - estavam os meus dois pais a tomar já o pequeno almoço quando me sentei à mesa.
- Ania...preciso de te pedir um favor - começou o meu pai. 
- Diz...
- Telefonaram-me lá do Estudiantes e o nosso roupeiro não pode ir hoje, queres dar uma ajuda? 
- Calma...roupeiro? Melhor...roupeira por um dia? 
- Sim. Os rapazes vão tratar-te bem. 
- Não é com eles que estou preocupada...
- Então?
- É contigo! 
- Comigo porque?
- Porque vais andar em cima da miúda e não a vais deixar ter iniciativa - respondeu por mim a minha mãe, que sabia exactamente que era mais ou menos o que queria responder.
- Tenho de andar um pouco em cima de ti, mas se formos já e te explicar tudo o que tens de fazer até posso não andar tanto contigo. 
- Então vamos! - peguei numa maçã e levantei-me da mesa, dando dois beijos à minha mãe. 
Segui com o meu pai até à sala para pegar nas chaves do carro e sairmos de casa. 
- Posso ir assim? Ou tenho de vestir outra coisa? 
- Poder podes...mas não devias. Umas calças de fato treino ficavam melhor...estavas mais tapada. 
- Pai. Está calor. Vamos lá! 
Saímos os dois de casa em direcção ao centro de treinos do Estudiantes. 
Não estava lá praticamente ninguém. Conheci o treinador e o treinador de guarda-redes e todos me ajudaram a conhecer os cantos onde tinha de andar. 
A minha primeira tarefa era preparar o balneário dos jogadores. Dobrar camisolas, calções, meias, por as chuteiras todas juntas, garrafas de águas e por aí. 
Antes de eles chegarem já eu estava a preparar os três sacos de desporto para levar para o relvado com águas e material médico. Podia habituar-me a este trabalho muito facilmente  Fui para o relvado onde estava o meu pai e os outros treinadores. Coloquei os sacos junto do banco de suplentes e fui ter com eles. 
- Já está tudo tratado. Os jogadores já estão a chegar para o treino e o material está todo cá fora - informei. 
- Muito obrigada pela tua ajuda hoje, Ania - agradeceu o treinador principal. 
- Faço-o com todo o gosto - ficamos todos a falar um pouco enquanto os jogadores não chegavam. 
Foi quando estavam já todos à nossa volta que o treinador falou:
- Cavalheiros, temos de começar a preparar a nova época e hoje é nosso primeiro dia a sério. Quero que levem o dia de hoje na desportiva, mas que treinem a serio. 
- Não era preciso ter nos trazido uma musa, mister - falou um dos jogadores.
- Referes-te a esta rapariga? - e apontou para mim. 
- Sim. 
- Fica sabendo que ela hoje está a substituir o Paco (o roupeiro) e é filha do Hugo - olharam todos para o meu pai e alguns ficaram a olhar para mim - quando precisarem de alguma coisa lá de dentro peçam-lhe a ela, mas não cansei a rapariga por tudo e por nada. 
- Claro mister...e desculpe Hugo. 
- Não te preocupes.
- 15 minutos de corrida à volta do campo! - avisou o treinador e todos começaram a correr. 
Eu comecei a ajudá-los a preparar os circuitos de treino. 
Deram-me ordem para ficar no carrinho de golfe que era mais fácil para me movimentar de um lado para o outro. Eles iam começar o circuito de treino que ainda demoraria algum tempo. 
- Desculpa... - ouvi uma voz meio ofegante atrás de mim. Virei-me e era o Marcos. 
- Sim? 
- Precisamos de mais toalhas...
- Claro, eu vou já buscá-las. 
- Obrigado. 
- De nada - fui até ao interior do edifício buscar toalhas mas, quando estava a voltar para o relvado, só vejo o meu pai a entrar cheio de sangue. 
- Papi!? - as toalhas foram todas para o meio do chão e corri na direcção do meu pai - que é que se passou? 
- Ele levou com a bola em cheio na cara...estava a dar uns toques com os miúdos e sem querer um deles acertou-lhe. 
- Pai... - aquele...sangue todo estava a deixar-me tonta...se há coisa que não consigo ver é sangue...
- Ela não pode ver sangue...desmaia... - e apaguei. 

Personagens



Nome: Ania Vásquez Gottardi
Nascimento: 15 de Junho de 1991 (La Plata - Argentina)



Nome: Faustino Marcos Alberto Rojo
Nascimento: 20 de Março de 1990 (La Plata - Argentina)


Nota: ao longo do desenvolver da história serão apresentados novos personagens, devidamente caracterizados.