sábado, 16 de abril de 2016

48º Capitulo: “Tu trazes a mamã nesse dia?”

O fim do mês de Novembro tinha chegado. E, desde aquela manhã que estivemos os três juntos na nossa casa, a rotina tem sido a mesma. Ela está com a Morena quando eu estou nos treinos e, fora aqueles momentos em que eu entrego a menina a ela, pouco falamos ou estamos juntos.
Tenho começado a receber algumas propostas de clubes estrangeiros para, quando o mercado de inverno começar, sair do Sporting. É algo que me tem despertado o interesse, devo confessar. Mas, ao mesmo tempo, torna-se complicado de gerir tudo sobretudo com a Ania afastada do meu dia-a-dia.
A Morena está cada dia mais esperta e noto que está feliz. Tem várias conversas comigo e com a mãe sobre toda a situação que vive mas nada de preocupante. Até porque só faz uma pergunta e começa a brincar com qualquer coisa. Dormia, tranquila, no seu quarto enquanto eu esperava pelo Martín. O irmão da Ania e, agora, o meu agente.
Assim que o vi chegar apressei-me a abrir a porta, antes que ele pudesse tocar à campainha.
- Boa tarde! – disse ele, apertando a minha mão.
- Boa tarde, Martín. Obrigado por teres vindo.
- Claro, não há problema – dei-lhe passagem para que entrasse em casa e fomos sentar-nos no sofá – onde é que anda a minha sobrinha?
- Está a dormir. Estava cheia de sono que acabou por fazer uma sesta. Pode ser que ainda a vejas acordada.
- Vou esperar que sim.
- Como é que está a Romi?
- Ela está bem. Está a começar a ver várias hipóteses de trabalho aqui por Lisboa. Acho que vamos mesmo começar 2015 a assentar por aqui.
- E eu fico muito feliz por vocês. Lisboa é uma cidade maravilhosa.
- É sim senhor…o suficiente para te manter por cá? – o motivo da presença dele aqui…as ofertas que têm havido.
- Por agora sim. Eu sinto-me bem no grupo onde estou, na cidade e em todo este ambiente. É claro que não posso ficar indiferente às propostas, não posso esconder que são aliciantes e uma grande oportunidade para mim…e que me faziam iniciar o ano de 2015 da melhor maneira possível – olhei para as fotografias que tínhamos em cima da mesa de centro, sorrindo – mas eu tenho de pensar nelas, tenho de pensar que, neste momento, as coisas estão complicadas aqui por casa.
- Tens andado a receber novas propostas todos os dias do United – isto era uma novidade para mim – para além daquela que te disse inicialmente, eles continuam a insistir com novos valores e regalias. Mas, como disseste, as coisas aqui não estão bem e eu tenho-lhes dito que vamos ter de esperar pelo mês de Janeiro para analisar todas as propostas.
- E fizeste bem, Martín. Obrigado.
- De nada. Mas…e, agora, falando como teu cunhado, isto não é uma decisão que possas tomar sozinho.
- Eu sei disso…e é claro que terei de falar com a Ania sobre isto. Mas, sinto que não seja o momento apropriado para o fazer.
- Eu compreendo. Já nem eu mesmo consigo falar com a minha irmã da mesma maneira que o fazia antigamente.
- Ela precisa de todo o espaço que lhe conseguirmos dar. Temos de esperar que seja ela a vir ter connosco…
- E…será que ela ainda demora a fazê-lo? – uma pergunta para a qual não tenho qualquer resposta. Por mais que quisesse responder ao Martín ou a mim mesmo…era impossível. Ninguém sabe como é que ela irá reagir a uma possível pergunta nossa relativamente a este assunto.


O Martín acabou por ficar algum tempo cá por casa, vendo mesmo a Morena a acordar rabugenta e com um bocadinho de febre. Com o frio que se tem vindo a sentir nos últimos dias, já seria de esperar. Nada que me faça alarmar neste momento…mas que terei de controlar tendo em conta o historial dela.
- Papu?
- Diz filha – ela olhou-me, sentando-se como deve ser no sofá.
- O dinho? – acabei por me rir e ela fez o mesmo – ele nunca tá na casa quando eu lá tou.
- E tu queres ver o dinho?
- Quero. Podes trazer o dinho aqui?
- Vou telefonar ao dinho – peguei no telemóvel, iniciando uma chamada para o André.
- Isso é tudo saudades minhas? perguntou-me o André, assim que atendeu a chamada.
- Eu não, mas há aqui uma menina que tem saudades tuas – coloquei o telemóvel em alta voz, entregando-o à Morena.
- Dinho!
- Morecita! Estavas com saudades do dinho?
- Sim! Tu não tás em casa quando eu lá tou!
- Eu sei, eu sei. Mas o dinho está a trabalhar com o pai, tu sabes…
- Sim. Mas eu quero ver-te!
- Ai queres?
- Sim! Vem cá a casa! E eu mostro-te a minha boneca nova!
- Parece-me um bom plano. O dinho chega aí a casa em pouco tempo, si?
- Boa! – a Morena entregou-me o telemóvel e acabei por desligar a alta voz.
- Eu disse que ela tinha saudades tuas.
- Ainda bem que ela não saiu aos pais. Enquanto vocês desprezam a minha companhia, essa miúda só me quer ao pé dela!
- Tem dias, tem dias!
- Vá, deixa-te lá disso e não tenhas ciúmes. Vou pôr-me a caminho!
- Até já, puto – desliguei a chamada, olhando para a Morena – que achas de irmos fazer o lanche para o dinho?
- E para nós, não é?
- Claro – ela riu-se, saltando do sofá para o chão – vamos?
- Sim! Podemos fazer leitinho com chocolate?
- Podemos, sim minha menina – peguei nela ao colo que, logo de seguida, encostou a sua cabeça ao meu ombro.
Metemos mãos ao trabalho, fazendo algumas torradas e leite com chocolate. E, assim que levamos tudo para a mesa a Morena ficou a olhar para o comer sem pestanejar.
- Estás com fome, More?
- Sim! Mas eu espero pelo dinho. Ele disse que chegava em pouco tempo e esse tempo já passou!
- Ele deve estar mesmo a chegar – e nisto toca a campainha – vês? Eu disse – ela riu-se e eu acabei por ir abrir a porta. Era mesmo o André.
- Dinho! – a Morena correu até ele e o André entrou em casa para a apanhar e a deixar ao seu colo – a dinha não veio?
- A dinha ficou em casa com a tua mamã.
- Tá bom. A mamã não vem para cá? – o André olhou-me, um bocado preocupado. Não está habituado a estas perguntas de Morena.
- Então a mamã… - começou – ela vem. Um dia destes ela vai voltar – respondeu, sempre a olhá-la.
- Tu trazes a mamã nesse dia? E vens cá a casa?
- Sim. Eu trago a tua mamã e venho cá a casa. Com a dinha também.
- Boa! Nós fizemos papa! – apontou para a mesa e o André começou logo a ir com ela em direção da mesa. Sentou-a na cadeira dela, sentando-se logo de seguida ao lado da Morena – pai! Falta as canecas – ela riu-se reparando que não tínhamos trazido canecas para beber o leite.
- Eu vou buscar – fui até à cozinha, trazendo as três canecas que nos faltavam – aqui estão três canecas – sentei-me junto a eles, começando a comer – já mostraste ao dinho a boneca nova?
- Já! – respondeu-me, ao mesmo tempo que mastigava – e depois tenho de mostrar os brinquedos para o Natal.
- Já andas a fazer os pedidos ao pai natal? – perguntou-lhe o André.
- Já! Já pedi ao pai Natal do pai, ao da mãe e da dinha. Só falta ao teu pai Natal e dos avós.
- E tu achas que te portaste bem para merecer prendas de todos os pais natal?
- Claro que sim! Eu sou uma menina muito bem comportada, não sou papu?
- És sim senhora – respondi-lhe, olhando para o André – e tu tens de entregar os pedidos da tua afilhada ao teu pai Natal.
- Estou a ver que tenho, tenho – ele riu-se e, por mais algum tempo, ficamos apenas a falar sobre a Morena.
Assim que ela saiu da mesa indo em direção do sofá para ver televisão era a minha oportunidade para falar com o André sobre outras coisas.
- Como é que anda a Ania?
- Ela está bem. É claro que tem aqueles momentos mais complicados…as suas dúvidas e dúvidas. Estou preocupado com algumas coisas que ela vai dizendo…mas acho que ela só o diz da boca para fora.
- Que tipo de coisas…André?
- Coisas que não devo dizer. Mas não te preocupes que não está nada relacionado com suicídio ou coisa parecida – graças a Deus! – nós estamos a falar muito com ela. Vais ver que, em menos de nada, ela acabará por regressar.
- Será que ainda o faz antes do Natal?
- Isso já não sei… - ninguém saberia. Acho que nenhum de nós saberia quando é que ela se sentiria pronta a regressar a casa – mas vais aguentar-te, mano.
- Sim…André, eu tenho recebido algumas propostas de trabalho fora de Portugal.
- Ai sim? Deixa-me adivinhar: chineses? – ele riu-se, acabando por me fazer rir a mim.
- Tenho algumas propostas…mas a que se destaca é do Manchester.
- City?
- Não. O United.
- Ah, o City seria bem melhor!
- Estou sem saber o que fazer…
- Vais ter de esperar, bacano. Tens de esperar por Janeiro, ver o que acontece com a Ania e, só depois, decidir como será o teu futuro. Tens de falar com Ania sobre tudo isso… Mas, deixa-me já dizer-te uma coisa: se vais para Manchester, tens de ter um quarto de hóspedes sempre pronto a receber-nos lá.
- Fica combinado. Onde quer que vá, vocês terão um cantinho para ficar.
- Muito obrigado – era sempre bom puder falar com alguém tão próximo de nós, capaz de nos ajudar a esclarecer algumas coisas na minha cabeça.


- Papu? – a Morena estava deitada a meu lado – a mãe vai voltar, não vai?
- Claro que vai, boneca – dei-lhe um beijo na testa…querendo mesmo acreditar no que dizia – um dia, quando acordares, vais ver que a mamã estará cá connosco.
- Para sempre?
- Sim, meu amor – sobressaltamo-nos com o som da campainha. Não esperava alguém tão tarde – vou ver quem é, sim?
- Eu posso ir também? Não tenho sono, papu…
- Está bem, vamos lá – levantamo-nos os dois e acabei por levá-la ao meu colo até ao andar debaixo. Espreite pelo óculo da porta, deparando-me com a minha mãe do lado de fora do portão da nossa casa.
- Quem é? – perguntou-me.
- É uma surpresa para nós! – ela olhou-me, estranhando aquilo. Abri a porta, começando a caminhar na direção do portão.
- Avó! – a felicidade estava estampada no rosto dela e, assim que a avó passou o portão, precipitou o seu corpo na direção dela.
- Pequeña! enquanto elas duas se abraçavam, acabei por as abraçar às duas tambémmi hijo, estoy aqui e, neste momento, não havia nada melhor para eu ter neste momento.


- Finalmente adormeceu – disse a minha mãe, chegando à sala depois de a adormecer no meu quarto – está tão bonita, filho – sentou-se ao meu lado e só consegui deitar a minha cabeça sobre o seu peito, enquanto ela me aconchegava nos seus braços – hum…estavas a precisar do miminho da mamã.
- Acho que sim… - ela sabia de tudo…mas nunca lhe tinha confessado o quão desamparado, às vezes, me sinto.
- Eu já estive para vir há mais dias, mas só agora o consegui fazer, Marcos.
- Tem sido complicado, mãe. Eu só queria que a Ania já estivesse de volta a casa, de volta para nós e bem com ela mesmo. E…ela não merece estar a passar novamente por tudo isto, por toda a incerteza de vir a ter mais filhos no futuro…ela não merece.
- Eu sei que não, filho. Mas tu também não mereces estar nesta angustia. Por mais que tu a entendas, por mais que a ames e estejas disposto a tudo por ela…tu tens de pensar em ti – afastei-me dela, olhando-a – precisas de te focar nos objetivos que tens traçados para ti, tens de pensar no teu bem, Marcos.
- Mas…mãe…
- Eu sei, eu sei que as coisas só fazem sentido com ela ao pé de ti. Que ela é uma peça fundamental para a tua vida e que é difícil veres esta casa sem ela. Mas começa a pensar que, neste momento, ela não está cá. E que tu tens de reagir. Tens de seguir o teu coração e começar a atuar, antes que seja tarde demais. Não te podes esquecer que tens uma carreira que está a atingir proporções internacionais. Eu só quero o teu bem e, neste momento, nestas condições tu não estás bem, Marcos.
Ela conhecia-me. E, tudo o que me dizia fazia sentido. Mas, como é que é possível que eu possa seguir em frente, seguir com a minha vida quando o meu coração me diz para seguir a Ania?
Estávamos os dois sossegados no sofá quando o meu telemóvel começou a dar vários sinais de notificações. Assim que o alcancei, percebi que a Ania tinha colocado uma fotografia no instagram, identificando-me.


As tuas mãos cabem nas minhas como se fossem feitas apenas para mim

Aquela fotografia era antiga. Do tempo em que não éramos casados, do tempo em que estávamos em La Plata…e fui eu que a tirei quando ela, a dormir, procurou a minha mão. Sempre duvidou que fizesse isso, então arranjei-lhe provas de que ela o fazia.
- Estou a ver que algo te fez sorrir – comentou a minha mãe, despertando a minha atenção.
- E algo muito bom, mami.
Por mais que quisesse manter as expectativas em baixo…esta fotografia poderia crer dizer qualquer coisa. Poderia querer dizer que ela, no momento em que a publicou, pensava em mim. Pensava em nós e em tudo o que isso significa. Poderia querer dizer que, naquele momento, ela continuava a acreditar em nós. 


Olá meninas! 
Aqui está mais um capítulo ;) 
Espero que gostem e deixem ficar as vossas opiniões. 
Beijinhos, 
Ana Patrícia. 

2 comentários:

  1. Fantástico. ..
    Quero mais. .. tou super curiosa. ..

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  2. Holla :)
    Ainda bem que a Ania voltou :D
    Quero mais please :*

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