O
fim do mês de Novembro tinha chegado. E, desde aquela manhã que estivemos os
três juntos na nossa casa, a rotina tem sido a mesma. Ela está com a Morena
quando eu estou nos treinos e, fora aqueles momentos em que eu entrego a menina
a ela, pouco falamos ou estamos juntos.
Tenho
começado a receber algumas propostas de clubes estrangeiros para, quando o
mercado de inverno começar, sair do Sporting. É algo que me tem despertado o
interesse, devo confessar. Mas, ao mesmo tempo, torna-se complicado de gerir tudo
sobretudo com a Ania afastada do meu dia-a-dia.
A
Morena está cada dia mais esperta e noto que está feliz. Tem várias conversas
comigo e com a mãe sobre toda a situação que vive mas nada de preocupante. Até
porque só faz uma pergunta e começa a brincar com qualquer coisa. Dormia,
tranquila, no seu quarto enquanto eu esperava pelo Martín. O irmão da Ania e,
agora, o meu agente.
Assim
que o vi chegar apressei-me a abrir a porta, antes que ele pudesse tocar à
campainha.
-
Boa tarde! – disse ele, apertando a minha mão.
-
Boa tarde, Martín. Obrigado por teres vindo.
-
Claro, não há problema – dei-lhe passagem para que entrasse em casa e fomos
sentar-nos no sofá – onde é que anda a minha sobrinha?
-
Está a dormir. Estava cheia de sono que acabou por fazer uma sesta. Pode ser
que ainda a vejas acordada.
-
Vou esperar que sim.
-
Como é que está a Romi?
-
Ela está bem. Está a começar a ver várias hipóteses de trabalho aqui por
Lisboa. Acho que vamos mesmo começar 2015 a assentar por aqui.
-
E eu fico muito feliz por vocês. Lisboa é uma cidade maravilhosa.
-
É sim senhor…o suficiente para te manter por cá? – o motivo da presença dele
aqui…as ofertas que têm havido.
-
Por agora sim. Eu sinto-me bem no grupo onde estou, na cidade e em todo este
ambiente. É claro que não posso ficar indiferente às propostas, não posso
esconder que são aliciantes e uma grande oportunidade para mim…e que me faziam
iniciar o ano de 2015 da melhor maneira possível – olhei para as fotografias
que tínhamos em cima da mesa de centro, sorrindo – mas eu tenho de pensar
nelas, tenho de pensar que, neste momento, as coisas estão complicadas aqui por
casa.
-
Tens andado a receber novas propostas todos os dias do United – isto era uma
novidade para mim – para além daquela que te disse inicialmente, eles continuam
a insistir com novos valores e regalias. Mas, como disseste, as coisas aqui não
estão bem e eu tenho-lhes dito que vamos ter de esperar pelo mês de Janeiro
para analisar todas as propostas.
-
E fizeste bem, Martín. Obrigado.
-
De nada. Mas…e, agora, falando como teu cunhado, isto não é uma decisão que
possas tomar sozinho.
-
Eu sei disso…e é claro que terei de falar com a Ania sobre isto. Mas, sinto que
não seja o momento apropriado para o fazer.
-
Eu compreendo. Já nem eu mesmo consigo falar com a minha irmã da mesma maneira
que o fazia antigamente.
-
Ela precisa de todo o espaço que lhe conseguirmos dar. Temos de esperar que
seja ela a vir ter connosco…
-
E…será que ela ainda demora a fazê-lo? – uma pergunta para a qual não tenho
qualquer resposta. Por mais que quisesse responder ao Martín ou a mim mesmo…era
impossível. Ninguém sabe como é que ela irá reagir a uma possível pergunta
nossa relativamente a este assunto.
O
Martín acabou por ficar algum tempo cá por casa, vendo mesmo a Morena a acordar
rabugenta e com um bocadinho de febre. Com o frio que se tem vindo a sentir nos
últimos dias, já seria de esperar. Nada que me faça alarmar neste momento…mas
que terei de controlar tendo em conta o historial dela.
-
Papu?
-
Diz filha – ela olhou-me, sentando-se como deve ser no sofá.
-
O dinho? – acabei por me rir e ela fez o mesmo – ele nunca tá na casa quando eu
lá tou.
-
E tu queres ver o dinho?
-
Quero. Podes trazer o dinho aqui?
-
Vou telefonar ao dinho – peguei no telemóvel, iniciando uma chamada para o
André.
-
Isso é tudo saudades minhas? –
perguntou-me o André, assim que atendeu a chamada.
-
Eu não, mas há aqui uma menina que tem saudades tuas – coloquei o telemóvel em
alta voz, entregando-o à Morena.
-
Dinho!
-
Morecita! Estavas com saudades do dinho?
-
Sim! Tu não tás em casa quando eu lá tou!
-
Eu sei, eu sei. Mas o dinho está a trabalhar
com o pai, tu sabes…
-
Sim. Mas eu quero ver-te!
-
Ai queres?
-
Sim! Vem cá a casa! E eu mostro-te a minha boneca nova!
-
Parece-me um bom plano. O dinho chega aí
a casa em pouco tempo, si?
-
Boa! – a Morena entregou-me o telemóvel e acabei por desligar a alta voz.
-
Eu disse que ela tinha saudades tuas.
-
Ainda bem que ela não saiu aos pais.
Enquanto vocês desprezam a minha companhia, essa miúda só me quer ao pé dela!
-
Tem dias, tem dias!
-
Vá, deixa-te lá disso e não tenhas
ciúmes. Vou pôr-me a caminho!
-
Até já, puto – desliguei a chamada, olhando para a Morena – que achas de irmos
fazer o lanche para o dinho?
-
E para nós, não é?
-
Claro – ela riu-se, saltando do sofá para o chão – vamos?
-
Sim! Podemos fazer leitinho com chocolate?
-
Podemos, sim minha menina – peguei nela ao colo que, logo de seguida, encostou
a sua cabeça ao meu ombro.
Metemos
mãos ao trabalho, fazendo algumas torradas e leite com chocolate. E, assim que
levamos tudo para a mesa a Morena ficou a olhar para o comer sem pestanejar.
-
Estás com fome, More?
-
Sim! Mas eu espero pelo dinho. Ele disse que chegava em pouco tempo e esse
tempo já passou!
-
Ele deve estar mesmo a chegar – e nisto toca a campainha – vês? Eu disse – ela
riu-se e eu acabei por ir abrir a porta. Era mesmo o André.
-
Dinho! – a Morena correu até ele e o André entrou em casa para a apanhar e a
deixar ao seu colo – a dinha não veio?
-
A dinha ficou em casa com a tua mamã.
-
Tá bom. A mamã não vem para cá? – o André olhou-me, um bocado preocupado. Não
está habituado a estas perguntas de Morena.
-
Então a mamã… - começou – ela vem. Um dia destes ela vai voltar – respondeu,
sempre a olhá-la.
-
Tu trazes a mamã nesse dia? E vens cá a casa?
-
Sim. Eu trago a tua mamã e venho cá a casa. Com a dinha também.
-
Boa! Nós fizemos papa! – apontou para a mesa e o André começou logo a ir com
ela em direção da mesa. Sentou-a na cadeira dela, sentando-se logo de seguida
ao lado da Morena – pai! Falta as canecas – ela riu-se reparando que não
tínhamos trazido canecas para beber o leite.
-
Eu vou buscar – fui até à cozinha, trazendo as três canecas que nos faltavam –
aqui estão três canecas – sentei-me junto a eles, começando a comer – já
mostraste ao dinho a boneca nova?
-
Já! – respondeu-me, ao mesmo tempo que mastigava – e depois tenho de mostrar os
brinquedos para o Natal.
-
Já andas a fazer os pedidos ao pai natal? – perguntou-lhe o André.
-
Já! Já pedi ao pai Natal do pai, ao da mãe e da dinha. Só falta ao teu pai
Natal e dos avós.
-
E tu achas que te portaste bem para merecer prendas de todos os pais natal?
-
Claro que sim! Eu sou uma menina muito bem comportada, não sou papu?
-
És sim senhora – respondi-lhe, olhando para o André – e tu tens de entregar os
pedidos da tua afilhada ao teu pai Natal.
-
Estou a ver que tenho, tenho – ele riu-se e, por mais algum tempo, ficamos
apenas a falar sobre a Morena.
Assim
que ela saiu da mesa indo em direção do sofá para ver televisão era a minha
oportunidade para falar com o André sobre outras coisas.
-
Como é que anda a Ania?
-
Ela está bem. É claro que tem aqueles momentos mais complicados…as suas dúvidas
e dúvidas. Estou preocupado com algumas coisas que ela vai dizendo…mas acho que
ela só o diz da boca para fora.
-
Que tipo de coisas…André?
-
Coisas que não devo dizer. Mas não te preocupes que não está nada relacionado
com suicídio ou coisa parecida – graças a Deus! – nós estamos a falar muito com
ela. Vais ver que, em menos de nada, ela acabará por regressar.
-
Será que ainda o faz antes do Natal?
-
Isso já não sei… - ninguém saberia. Acho que nenhum de nós saberia quando é que
ela se sentiria pronta a regressar a casa – mas vais aguentar-te, mano.
-
Sim…André, eu tenho recebido algumas propostas de trabalho fora de Portugal.
-
Ai sim? Deixa-me adivinhar: chineses? – ele riu-se, acabando por me fazer rir a
mim.
-
Tenho algumas propostas…mas a que se destaca é do Manchester.
-
City?
-
Não. O United.
-
Ah, o City seria bem melhor!
-
Estou sem saber o que fazer…
-
Vais ter de esperar, bacano. Tens de esperar por Janeiro, ver o que acontece
com a Ania e, só depois, decidir como será o teu futuro. Tens de falar com Ania
sobre tudo isso… Mas, deixa-me já dizer-te uma coisa: se vais para Manchester,
tens de ter um quarto de hóspedes sempre pronto a receber-nos lá.
-
Fica combinado. Onde quer que vá, vocês terão um cantinho para ficar.
-
Muito obrigado – era sempre bom puder falar com alguém tão próximo de nós,
capaz de nos ajudar a esclarecer algumas coisas na minha cabeça.
-
Papu? – a Morena estava deitada a meu lado – a mãe vai voltar, não vai?
-
Claro que vai, boneca – dei-lhe um beijo na testa…querendo mesmo acreditar no
que dizia – um dia, quando acordares, vais ver que a mamã estará cá connosco.
-
Para sempre?
-
Sim, meu amor – sobressaltamo-nos com o som da campainha. Não esperava alguém
tão tarde – vou ver quem é, sim?
-
Eu posso ir também? Não tenho sono, papu…
-
Está bem, vamos lá – levantamo-nos os dois e acabei por levá-la ao meu colo até
ao andar debaixo. Espreite pelo óculo da porta, deparando-me com a minha mãe do
lado de fora do portão da nossa casa.
-
Quem é? – perguntou-me.
-
É uma surpresa para nós! – ela olhou-me, estranhando aquilo. Abri a porta,
começando a caminhar na direção do portão.
-
Avó! – a felicidade estava estampada no rosto dela e, assim que a avó passou o
portão, precipitou o seu corpo na direção dela.
-
Pequeña! – enquanto elas duas se
abraçavam, acabei por as abraçar às duas também – mi hijo, estoy aqui – e, neste momento, não havia nada melhor para
eu ter neste momento.
-
Finalmente adormeceu – disse a minha mãe, chegando à sala depois de a adormecer
no meu quarto – está tão bonita, filho – sentou-se ao meu lado e só consegui
deitar a minha cabeça sobre o seu peito, enquanto ela me aconchegava nos seus
braços – hum…estavas a precisar do miminho da mamã.
-
Acho que sim… - ela sabia de tudo…mas nunca lhe tinha confessado o quão
desamparado, às vezes, me sinto.
-
Eu já estive para vir há mais dias, mas só agora o consegui fazer, Marcos.
-
Tem sido complicado, mãe. Eu só queria que a Ania já estivesse de volta a casa,
de volta para nós e bem com ela mesmo. E…ela não merece estar a passar
novamente por tudo isto, por toda a incerteza de vir a ter mais filhos no
futuro…ela não merece.
-
Eu sei que não, filho. Mas tu também não mereces estar nesta angustia. Por mais
que tu a entendas, por mais que a ames e estejas disposto a tudo por ela…tu
tens de pensar em ti – afastei-me dela, olhando-a – precisas de te focar nos
objetivos que tens traçados para ti, tens de pensar no teu bem, Marcos.
-
Mas…mãe…
-
Eu sei, eu sei que as coisas só fazem sentido com ela ao pé de ti. Que ela é
uma peça fundamental para a tua vida e que é difícil veres esta casa sem ela.
Mas começa a pensar que, neste momento, ela não está cá. E que tu tens de
reagir. Tens de seguir o teu coração e começar a atuar, antes que seja tarde
demais. Não te podes esquecer que tens uma carreira que está a atingir
proporções internacionais. Eu só quero o teu bem e, neste momento, nestas
condições tu não estás bem, Marcos.
Ela
conhecia-me. E, tudo o que me dizia fazia sentido. Mas, como é que é possível
que eu possa seguir em frente, seguir com a minha vida quando o meu coração me
diz para seguir a Ania?
Estávamos
os dois sossegados no sofá quando o meu telemóvel começou a dar vários sinais
de notificações. Assim que o alcancei, percebi que a Ania tinha colocado uma
fotografia no instagram, identificando-me.
As tuas mãos cabem nas minhas como
se fossem feitas apenas para mim
|
Aquela
fotografia era antiga. Do tempo em que não éramos casados, do tempo em que
estávamos em La Plata…e fui eu que a tirei quando ela, a dormir, procurou a
minha mão. Sempre duvidou que fizesse isso, então arranjei-lhe provas de que
ela o fazia.
-
Estou a ver que algo te fez sorrir – comentou a minha mãe, despertando a minha
atenção.
-
E algo muito bom, mami.
Por
mais que quisesse manter as expectativas em baixo…esta fotografia poderia crer
dizer qualquer coisa. Poderia querer dizer que ela, no momento em que a
publicou, pensava em mim. Pensava em nós e em tudo o que isso significa.
Poderia querer dizer que, naquele momento, ela continuava a acreditar em nós.
Olá meninas!
Aqui está mais um capítulo ;)
Espero que gostem e deixem ficar as vossas opiniões.
Beijinhos,
Ana Patrícia.
Fantástico. ..
ResponderEliminarQuero mais. .. tou super curiosa. ..
Holla :)
ResponderEliminarAinda bem que a Ania voltou :D
Quero mais please :*