- Ela fica sempre assim tão sossegada? – perguntava Ania a Ortencia e Carina.
Ania observava a filha à alguns minutos e a menina mantinha-se sempre quieta, fazendo apenas alguns movimentos com as mãos. Ania mantinha-se atenta a todos os pormenores dela, começou por lhe colocar a chucha cada vez que a perdia e a embalar a alcofa quando choramingava.
- Normalmente ela só fica mais agitada quando o Marcos chega, quando toma banho e às refeições – respondeu Carina, sentando-se ao lado de Ania. Tanto ela como Ortencia chegavam à sala naquele instante.
- O teu marido tem o poder de a deixar mais agitada – comentou Ortencia, sentando-se em frente da filha.
- Tem mesmo – concordou Carina – não sei porquê mas, quando o Marcos chega, a Morena fica mais irrequieta e só sossega no colo dele.
- Isso é mimo... – Ania, tinha curiosidade em ver todos aqueles pormenores sem que dessem pela presença dela. Porque, agora que está de regresso, poderão não ser as mesmas pessoas do que quando ela não estava em Portugal, podem não reagir às coisas da mesma forma, esperando que ela tome alguma iniciativa.
Ania, de certa forma, sentia-se mal com isso. Estaria a interferir nas rotinas deles, a interferir na maneira de ser de cada um com a menina. Mas, por outro lado, queria acreditar que não iriam alterar nada...manterem-se as mesmas pessoas.
- Nem queiras saber...o Marcos mima-a tanto! – disse Carina, rindo-se – Mas, a meu ver, eu acho que o Marcos só o faz porque se sente mais responsável.
- É verdade e nós bem vemos isso. Cada vez que está em estágio no fim-de-semana, quando a volta a ver nem sei...só não a come com beijos porque a quer inteira para o resto da vida – atirou Ortencia, fazendo com que Ania olhasse para a mãe.
- E mais? – Ania, naquele momento, ficou extremamente curiosa por mais aspectos da relação de Marcos com Morena – Como é que ele é com ela?
- Não lhe consegue dar banho! – respondeu Carina – Diz que lhe faz impressão ela ser tão pequena e que tem medo que ela escorregue das mãos – todas se riram e Ania olhou para a mãe...como que esperando por algo mais.
- Quando não tem treinos de manhã gosta de ficar com a Morena na cama – começou Ortencia – e vem ter connosco quando ela está com cólicas porque não sabe fazer as massagens.
- Gosta muito de lhe dar o biberão – Ania olhou para Carina que agora falava – quando o tempo está bom, gosta de ir com ela lá para fora e falar com ela.
- Ele fala muito com a Morena – Ania olhou para a mãe – sobretudo sobre ti.
- Eu não sei como é que vos agradecerei a todos...e, sobretudo, a ele... – Ania baixou a cabeça sentindo, logo de seguida, uma mão da sogra no pescoço.
- Minha querida – Ania olhou-a, vendo o sorriso sincero nos lábios de Carina – o único agradecimento que nos poderias fazer, já o fizeste. Já cá estás... – Carina passou a sua mão pela bochecha de Ania, sendo surpreendida por um forte abraço da jovem rapariga – oh minha querida...está tudo bem. Vai ficar tudo bem, Ania – Carina passava-lhe com a mão pela cabeça, aconchegando-a nos seus braços. Ania derramava algumas lágrimas. Não estava triste...estava sim aliviada.
- Vou começar a ficar com ciúmes – comentou, na brincadeira, Ortencia levando-as a rir. Ania olhou para a mãe, levantou-se do sofá indo abraçá-la.
- Se vocês não tivessem compreendido o que eu queria fazer, se não tivessem vindo logo para ao pé do Marcos e da Morena...eu não teria conseguido recuperar tão bem, acho que não iria conseguir estar aqui – Ania deu a mão à mãe, olhando para ela e de seguida para Carina.
Ia a falar mas foram surpreendidas pela entrada de Marcos em casa. Depressa limpou as lágrimas que lhe caiam pela face mas, de certeza, não iria conseguir esconder que tinha estado a chorar.
- Isto de chegar a casa e ter aqui todas...é tão bom – Marcos cumprimentou a mãe e Ortencia, deixando Ania para o fim. Sentou-se ao lado dela, dando-lhe um beijo prolongado – como é que estás? – deixou a sua testa junto da dela, encostando-se no sofá.
- Está tudo tranquilo. E o treino, como foi?
- Correu bem – Marcos sabia que tinha de falar com a Ania. Ela poderia estar mais frágil mas tinha a certeza que seria melhor contar-lhe o que se tinha passado – preciso de falar contigo...
- Fizeste porcaria, Marcos Rojo? – perguntou Carina, levando Marcos a olhar para ela.
- Mãe...eu não faço disso!
- Ai de ti! – Carina levantou-se e Ortencia fez o mesmo – vamos às compras para o jantar.
- Mas eu ia ajudá-las – Ania olhou para as duas – podemos deixar a conversa para depois.
- Não! – Marcos impediu-a de se levantar, olhando para Ania – Elas vão às compras, nós vamos falar.
Carina e Ortencia saíram de casa, deixando Ania e Marcos frente a frente.
- O que é que aconteceu? – perguntou Ania – E não vale a pena disseres que não foi nada. Sabes que te conheço e essa cara de “não sei se conte ou não” não me engana.
- Tu confias em mim, não confias?
- Confio em ti como não confio em ninguém. Isso nem se questiona.
- É que...bom, é melhor contar tudo do inicio – Marcos agarrou as mãos de Ania, deixando-as entre as dele – foi para a academia uma miúda nova, está a estagiar ou é mesmo nova não sei. É a Mónica.
- Sim...
- Bom e, de à uns tempos para cá, ela começou a demonstrar que se preocupava comigo e com a Morena. Sempre foi muito simpática, perguntava sempre por ela e como é que eu estava. Nunca cá veio a casa, não faças já filmes na tua cabeça – Marcos queria deixar tudo esclarecido sem que Ania duvidasse do que ele dizia – o Rui alertou-me para o interesse dela por mim. Eu juro que nunca tinha visto a coisa como ela a fazer-se a mim.
- Ela anda a fazer-se a ti...
- Anda. E hoje de manhã, eu voltei ao balneário para te mandar a mensagem e, quando ia a sair, ela apareceu e...ela beijou-me. Mas, Ania, eu não quero nada dela, nunca quis nem quero! Alias por mim, ela podia ser uma Kim Kardashian ou Angelina Jolie que eu te iria escolher sempre a ti.
- Eu nunca gostei muito das portuguesas. Elas olham para ti como se te quisessem toda a santa hora na cama delas!
- Ania!
- É verdade. As tuas fãs nem tanto...pelo menos quando eu estou ao pé de ti. Mas aquelas que vão na rua, ou as dos restaurantes! Ai as dos restaurantes, elas olham para ti de alto a baixo!
- Estás com ciúmes.
- E estou. Ver o meu marido ser olhado assim, deixa-me com ciúmes!
- Oh mas...e a Mónica?
- Eu confio em ti. Depois de tudo o que já passamos e do que temos hoje, acho que posso dizer que vamos ficar juntos por muitos anos. Eu também sei que são raros os homens que não traem as mulheres...
- Eu nunca te traí!
- E eu sei disso, Marcos. Como te disse, eu confio em ti. Mas, se calhar, é melhor falares com essa Mónica.
- Não ficas chateada? A duvidar de mim?
- Não. Tu és só meu – Ania aproximou-se de Marcos, envolvendo-se numa longa troca de beijos fogosos. Ania sentia falta daquele típico desejo de Marcos em estar sempre a tocar-lhe, de procurar tirar o maior prazer possível com aqueles momentos de carinho. Sentia falta daquele calor que emanava das mãos dele pelas suas coxas, do cheiro dele, da pele dele. Ambos sabiam que aqueles momentos acabavam, quase sempre, da mesma forma mas, naquele momento, o choro de Morena interrompeu-os. Os dois quebraram o beijo e Ania riu-se, deixando a sua testa junto da dele.
- Não sou assim só teu...há outra donzela a quem pertenço.
- O que vale é que ela tem os mesmos apelidos que nós.
Marcos aproximou-se da alcofa, pegando na filha ao colo. A menina, à medida que se iam aproximando do sofá, ia deixando de chorar.
- Ouvi dizer que só dás mimo à nossa menina – Marcos sorriu ao ouvir aquilo por parte de Ania – pronto, agora vais babar cada vez que eu disser algo assim? – Ania percebeu mas acabou por achar engraçado.
- Posso? É que é uma coisa que eu queria à muito tempo...
- Desde que não pressiones...até podes por um babete! – Marcos riu-se, colocando Morena em cima do seu peito – ainda à pouco estava a falar com as nossas mães...sinto que não tenho como vos agradecer por estes dois meses que deram à Morena – Ania aproximou-se de Marcos, colocando a sua mão sobre as costas da filha. Ficou parada por algum tempo, quase sem fazer nenhum movimento ao respirar – tenho tanto medo de não conseguir fazer as coisas que vocês fazem com ela...
- Isso virá com o tempo, Ania. Aos poucos vais conseguir...se decidiste voltar, já é meio caminho. Confia mais em ti – Marcos levou uma das suas mãos ao queixo dela, fazendo-a olhar para ele – eu nem consigo imaginar o amor que tens dentro de ti para lhe dar. Vê-se nos teus olhos que existe e eu tenho a certeza que será mágico.
Ania juntou a sua bochecha à mão de Marcos, fechando os olhos. Precisava de uns segundos parada e, simplesmente, absorver tudo o que se estava a passar à sua volta.
- Oh André, és mesmo um preguiçoso! – a voz de Iara começava a estar cada vez mais perto de Ania, que estava na cozinha.
- Eu só quero estar com a nossa afilhada! – também André se fazia ouvir.
Era a hora de surpreender Iara com o regresso de Ania. Provavelmente André tinha pedido que a rapariga lhe fosse buscar qualquer coisa. Ania estava escondida e esperou que Iara fosse até ao frigorífico para se aproximar dela e lhe tapar os olhos.
- André? É assim...estamos na casa do Marcos!
- Já nem conheces o teu namorado, nem a tua amiga! – Ania soltou-a e Iara, de imediato, virou-se para ela completamente surpreendida.
- Ai.
- Olha, bloqueou! – Ania riu-se, abraçando-a. Iara começou a rir à gargalhada, abraçando com força Ania.
- Tu estás cá! Oh meu Deus, tu estás aqui!
- Estou sim. Já não és sozinha a aturar aqueles dois.
- Ai Ania – Iara olhou-a, levando as suas mãos à cara da amiga – fazias uma falta cá!
- Já passou. Agora estou aqui, pronta para começar do zero.
- Ai eu nem acredito – Iara voltou a abraçá-la – é por isso que o teu marido está todo contente! Já tem quem lhe aqueça os pés! – as duas riram-se acabando por se afastar – quando é que vieste?
- Ontem à noite. E era para te dizer hoje de manhã só que o Marcos e o teu namorado tiveram esta ideia da surpresa.
- Oh não deviam ter tido! Assim já tínhamos passado o dia todo juntas. Mas...como é que tu estás? – Iara e Ania falavam todos os dias desde que Ania tinha ido para La Plata. Mas Ania não contou a ninguém os pormenores da sua terapia.
- Por enquanto está tudo frágil e estranho. Mas aos bocadinhos parece que vai ficando melhor...
- Mas...já andas perto da Morecita e isso? – Ania percebeu que Iara fazia aquela pergunta um pouco com receio. Mas, ao mesmo tempo, um sorriso sincero e ternurento se formou nos lábios da amiga.
- Morecita...
- Acabamos por lhe dar o diminutivo de More...mas tu ainda cá estavas.
- Já me disseram o mesmo. Não me recordo...quando eu estava por perto vocês faziam questão de lhe chamar minha filha. O Marcos já me tinha explicado isso do diminutivo...mas tu chamaste-lhe Morecita.
- É para ela achar mais piada à tia! O pai e aquele que vocês escolheram como padrinho dela – as duas riram-se e Iara acabou por retomar o seu discurso – eles tratam-na por More, o André por piriti e eu acabei por arranjar uma forma só minha.
- Obrigada, Iara.
- Olha...porque é que me estás a agradecer?
- Por teres estado aqui, ao lado deles. Por me teres ido informando de tudo o que se passava por cá. Por serem os melhores padrinhos que a minha...que a Morena poderia ter e, sim, André podes entrar.
André riu-se e Iara virou-se para o namorado.
- Mas tu agora ouves a conversa dos outros?
- Eu estava a vir atrás de ti, lembraste? – André aproximou-se das duas, sentando-se em cima da bancada no meio das duas – então mas, cunhada emprestada, isso foi um grande elogio à minha pessoa.
- Olha, olha...agora não se vai calar, está visto – comentou Iara.
- Ela disse que éramos os melhores padrinhos que a miúda podia ter. Temos razões para isso, oh namorada – Ania riu-se, permanecendo apenas a observar aqueles dois.
Tudo se mantinha intacto entre eles. Pelo menos aos seus olhos: continuavam a ser os mesmos brincalhões, sempre bem-dispostos e com um sorriso enorme e contagiante nos lábios. Ania sentia-se cada vez melhor por estar em casa e isso só tinha uma explicação. Ninguém, naquele núcleo, a criticava pelo que fizera.
- Está tudo bem, Ania?
- Preciso de apanhar um bocadinho de ar...só isso – Iara colocava-se ao lado da amiga que já estava à alguns minutos sozinha no jardim – o Marcos...ele disse alguma coisa?
- Claro que não. É normal não estares tão à vontade com a menina... – à minutos atrás, Ania tinha tentado pegar na filha ao colo para que esta cessasse o choro mas, com um sentimento estranho a apoderar-se dela, Ania não o conseguiu fazer. Saiu disparada da sala, tentando controlar a sua respiração e os tremores que sentia no seu corpo.
- Eu só queria conseguir pegar nela um bocadinho...e não consegui. Eu não consegui, Iara – Ania olhou a amiga, percebendo que Iara a olhava com alguma preocupação – ela estava a chorar, a precisar de um de nós e eu...eu não consegui segurar a minha própria filha!
- Ei, ei – Iara precipitou-se na direcção de Ania, agarrando-lhe os pulsos. Ania encarou-a quando Iara a abanou por completo – não te podes culpar, nem martirizar Ania. Tu regressaste ontem da terapia, estás, ainda, muito frágil e no inicio do contacto com a menina. Isso é tudo normal...e ninguém te irá criticar, nem julgar – Iara ainda tinha mais umas coisas para dizer mas não o fez, ouvindo a porta de correr abrir-se.
Olharam e era Marcos quem aparecia ali. Vinha com Morena nos braços e um sorriso nos lábios.
- Posso? – apontou para Ania e, naquele momento, Iara sentiu que aquela família era ainda mais especial do que antes.
Soltou Ania, depositando-lhe um beijo na testa. Caminhou na direcção de Marcos, olhando para Morena.
- Levo-a para dentro ou...
- Ela fica – Iara olhou-o, um pouco receosa.
- Marcos...
- Não te preocupes, Iara. Eu conheço-a e não iria fazer isto para a deixar mal, tu sabes.
- Sim, sei. Mas ela está tão frágil.
- Eu sei...
- Tem paciência com ela – Iara deu um beijo na testa de Morena, entrando em casa. André, Ortencia e Carina estavam nos sofás, olhando para o jardim.
- O que é que o Marcos vai fazer? – perguntou André, puxando Iara para junto dele depois de ela se sentar.
- Eu não sei... – Iara olhou para o exterior, vendo-o aproximar-se de Ania – mas ele, melhor que ninguém nesta casa, saberá entende-la.
Todos concordavam com o que Iara dissera, mesmo que não o verbalizassem. Olhavam, atentos, os movimentos lentos de Marcos em direcção de Ania.
Marcos estava nervoso e sem certezas de que aquilo que pensara fazer, desse resultado. Caminhava na direcção de Ania e percebia que ela ia ficando indecisa. Percebeu que ela não sabia se haveria de olhar para ele ou para Morena.
- Eu disse que não te iria pressionar a nada, que não iria insistir para que começasses a fazer uma vida normal com a nossa filha – Marcos parou, por algum tempo, deixando ainda alguma distância entre os dois – mas eu queria entender duas coisas. Tu conseguiste pegar nela quando chegaste e, à pouco...porquê é que não o fizeste, mi amor?
Ania continuava sem saber se deveria olhar para o marido ou para a filha. Sentia que Marcos a estava a confrontar mas não de uma forma violenta. Fazia-o para que ela tentasse expor-se...falar sobre o que lhe iria na cabeça. Ania percebia isso.
- Não sei – respondeu.
- Mas não te sentes bem perto dela?
- Sinto! Claro que sinto! – Ania levou as mãos à cabeça, sentindo que não iria aguentar sem chorar – Eu sinto-me maravilhada com ela, é das bebés mais bonitas que alguma vez vi. Tem os teus olhos, o meu nariz e é simpática. Ela nasceu de mim...estando com a irmã! Ela partilhou a minha barriga nove meses com outro bebé, ela não foi a única dentro de mim! – Ania chorava. Chorava a olhar Morena que dormia serenamente – Eu só queria olhar para ela e nunca me lembrar que elas eram gémeas. Queria olhá-la e vê-la apenas a ela – olhou Marcos que, também ele, derramava algumas lágrimas – eu queria olhar para ti e não sentir que falhei enquanto mulher...que falhei ao não te dar as duas filhas que iríamos ter.
Marcos estava surpreendido pelo que ouvia. Sabia que era um processo complicado para Ania, para a cabeça da sua mulher. Entendia que ela se sentisse assim...e só queria que tais palavras não fossem proferidas. Queria que ela fosse feliz, nesta fase tão bonita das vidas deles.
- Ania...
- Desculpa – Ania encostou-se à mesa que ali estava, baixando a cabeça – eu não deveria estar a falar disto.
- Devias sim – aproximando-se dela, Marcos limpava as lágrimas que lhe escorriam pela face. Colocou a sua mão no queixo da mulher, levantando-lhe a cabeça para que se olhassem – mais do que me disseres que vai ficar tudo bem...tu terás de dizer tudo o que sentes.
- Eu só queria estar bem.
- Tu vais estar, Ania. Não será hoje, talvez nem amanhã ou daqui a dois dias. É com calma...muita calma.
- E se ela não me aceitar como mãe? – olhou para Morena que permanecia tranquila e serena nos braços de Marcos – Eu tenho medo de pegar nela...e ela não querer o meu colo. De ficar ainda a chorar mais e... – Ania não conseguiu terminar o seu raciocínio, não sabia como haveria de continuar.
- Isso é impossível. Ela gosta de ti, eu sei disso.
- Não podes saber isso.
- Sei sim. Desde que chegaste ela abre os olhos a ouvir a tua voz, o corpo dela relaxa e fica mais menina. Mais pequenina, como que a pedir pelo teu amor. Ela já te olha, já capta os teus movimentos e o teu cheiro. Um bebé não esquece o cheiro da mãe...mesmo que tenham estado pouco tempo juntos.
Ania olhava-o completamente surpreendida...Marcos sempre soube tocar-lhe ao coração sem tocar nela, aconchegá-la mesmo sem lhe dar um abraço, beijá-la sem lhe tocar com os seus lábios. Sempre soube como amá-la sem dizê-lo.
- Sabes do que é que tenho mais certezas neste processo? – perguntou Ania, obtendo um não de Marcos – que tu mudaste imenso.
- Mudei?
- Amadureceste. Estás mais homem, tornaste-te pai e responsável. Estás a ser para mim aquilo que nunca eu pensei que um homem fosse. E... – desencostando-se da mesa e limpando as lágrimas que lhe caiam pela cara, Ania olhou para a filha – ela é a tua continuação. Mais do que ter passado nove meses dentro de mim...ela passou os dois meses mais importantes da vida dela com o melhor homem que ela terá na vida dela – Ania esticou os seus braços na direção de Morena, mantendo os seus olhos presos nela.
Nenhum precisou de falar no momento que se seguiu.
Morena despertou quando Marcos a colocou nos braços de Ania que, no momento, sentiu o seu coração bombear tão rápido que chegou a pensar que lhe iria sair pela boca. Acalmou-se quando viu que a menina não chorava, não choramingava nem fazia caretas. Morena sorriu, pelo menos aos olhos de Ania. Houve qualquer coisa no semblante da filha que se assemelhou a um sorriso.
Marcos levou as suas mãos aos braços de Ania, beijando-lhe a testa. A rapariga sentia-se bem, mesmo que tremesse como varas verdes. Por mais nervosa que estivesse, que o medo estivesse em todo o lado do seu corpo...Ania tinha a filha nos braços e conseguia encontrar, não sabendo onde, uma paz interior como à muito tempo não tinha.
- Vai ficar tudo bem, Cinderela.
Ania observava a filha à alguns minutos e a menina mantinha-se sempre quieta, fazendo apenas alguns movimentos com as mãos. Ania mantinha-se atenta a todos os pormenores dela, começou por lhe colocar a chucha cada vez que a perdia e a embalar a alcofa quando choramingava.
- Normalmente ela só fica mais agitada quando o Marcos chega, quando toma banho e às refeições – respondeu Carina, sentando-se ao lado de Ania. Tanto ela como Ortencia chegavam à sala naquele instante.
- O teu marido tem o poder de a deixar mais agitada – comentou Ortencia, sentando-se em frente da filha.
- Tem mesmo – concordou Carina – não sei porquê mas, quando o Marcos chega, a Morena fica mais irrequieta e só sossega no colo dele.
- Isso é mimo... – Ania, tinha curiosidade em ver todos aqueles pormenores sem que dessem pela presença dela. Porque, agora que está de regresso, poderão não ser as mesmas pessoas do que quando ela não estava em Portugal, podem não reagir às coisas da mesma forma, esperando que ela tome alguma iniciativa.
Ania, de certa forma, sentia-se mal com isso. Estaria a interferir nas rotinas deles, a interferir na maneira de ser de cada um com a menina. Mas, por outro lado, queria acreditar que não iriam alterar nada...manterem-se as mesmas pessoas.
- Nem queiras saber...o Marcos mima-a tanto! – disse Carina, rindo-se – Mas, a meu ver, eu acho que o Marcos só o faz porque se sente mais responsável.
- É verdade e nós bem vemos isso. Cada vez que está em estágio no fim-de-semana, quando a volta a ver nem sei...só não a come com beijos porque a quer inteira para o resto da vida – atirou Ortencia, fazendo com que Ania olhasse para a mãe.
- E mais? – Ania, naquele momento, ficou extremamente curiosa por mais aspectos da relação de Marcos com Morena – Como é que ele é com ela?
- Não lhe consegue dar banho! – respondeu Carina – Diz que lhe faz impressão ela ser tão pequena e que tem medo que ela escorregue das mãos – todas se riram e Ania olhou para a mãe...como que esperando por algo mais.
- Quando não tem treinos de manhã gosta de ficar com a Morena na cama – começou Ortencia – e vem ter connosco quando ela está com cólicas porque não sabe fazer as massagens.
- Gosta muito de lhe dar o biberão – Ania olhou para Carina que agora falava – quando o tempo está bom, gosta de ir com ela lá para fora e falar com ela.
- Ele fala muito com a Morena – Ania olhou para a mãe – sobretudo sobre ti.
- Eu não sei como é que vos agradecerei a todos...e, sobretudo, a ele... – Ania baixou a cabeça sentindo, logo de seguida, uma mão da sogra no pescoço.
- Minha querida – Ania olhou-a, vendo o sorriso sincero nos lábios de Carina – o único agradecimento que nos poderias fazer, já o fizeste. Já cá estás... – Carina passou a sua mão pela bochecha de Ania, sendo surpreendida por um forte abraço da jovem rapariga – oh minha querida...está tudo bem. Vai ficar tudo bem, Ania – Carina passava-lhe com a mão pela cabeça, aconchegando-a nos seus braços. Ania derramava algumas lágrimas. Não estava triste...estava sim aliviada.
- Vou começar a ficar com ciúmes – comentou, na brincadeira, Ortencia levando-as a rir. Ania olhou para a mãe, levantou-se do sofá indo abraçá-la.
- Se vocês não tivessem compreendido o que eu queria fazer, se não tivessem vindo logo para ao pé do Marcos e da Morena...eu não teria conseguido recuperar tão bem, acho que não iria conseguir estar aqui – Ania deu a mão à mãe, olhando para ela e de seguida para Carina.
Ia a falar mas foram surpreendidas pela entrada de Marcos em casa. Depressa limpou as lágrimas que lhe caiam pela face mas, de certeza, não iria conseguir esconder que tinha estado a chorar.
- Isto de chegar a casa e ter aqui todas...é tão bom – Marcos cumprimentou a mãe e Ortencia, deixando Ania para o fim. Sentou-se ao lado dela, dando-lhe um beijo prolongado – como é que estás? – deixou a sua testa junto da dela, encostando-se no sofá.
- Está tudo tranquilo. E o treino, como foi?
- Correu bem – Marcos sabia que tinha de falar com a Ania. Ela poderia estar mais frágil mas tinha a certeza que seria melhor contar-lhe o que se tinha passado – preciso de falar contigo...
- Fizeste porcaria, Marcos Rojo? – perguntou Carina, levando Marcos a olhar para ela.
- Mãe...eu não faço disso!
- Ai de ti! – Carina levantou-se e Ortencia fez o mesmo – vamos às compras para o jantar.
- Mas eu ia ajudá-las – Ania olhou para as duas – podemos deixar a conversa para depois.
- Não! – Marcos impediu-a de se levantar, olhando para Ania – Elas vão às compras, nós vamos falar.
Carina e Ortencia saíram de casa, deixando Ania e Marcos frente a frente.
- O que é que aconteceu? – perguntou Ania – E não vale a pena disseres que não foi nada. Sabes que te conheço e essa cara de “não sei se conte ou não” não me engana.
- Tu confias em mim, não confias?
- Confio em ti como não confio em ninguém. Isso nem se questiona.
- É que...bom, é melhor contar tudo do inicio – Marcos agarrou as mãos de Ania, deixando-as entre as dele – foi para a academia uma miúda nova, está a estagiar ou é mesmo nova não sei. É a Mónica.
- Sim...
- Bom e, de à uns tempos para cá, ela começou a demonstrar que se preocupava comigo e com a Morena. Sempre foi muito simpática, perguntava sempre por ela e como é que eu estava. Nunca cá veio a casa, não faças já filmes na tua cabeça – Marcos queria deixar tudo esclarecido sem que Ania duvidasse do que ele dizia – o Rui alertou-me para o interesse dela por mim. Eu juro que nunca tinha visto a coisa como ela a fazer-se a mim.
- Ela anda a fazer-se a ti...
- Anda. E hoje de manhã, eu voltei ao balneário para te mandar a mensagem e, quando ia a sair, ela apareceu e...ela beijou-me. Mas, Ania, eu não quero nada dela, nunca quis nem quero! Alias por mim, ela podia ser uma Kim Kardashian ou Angelina Jolie que eu te iria escolher sempre a ti.
- Eu nunca gostei muito das portuguesas. Elas olham para ti como se te quisessem toda a santa hora na cama delas!
- Ania!
- É verdade. As tuas fãs nem tanto...pelo menos quando eu estou ao pé de ti. Mas aquelas que vão na rua, ou as dos restaurantes! Ai as dos restaurantes, elas olham para ti de alto a baixo!
- Estás com ciúmes.
- E estou. Ver o meu marido ser olhado assim, deixa-me com ciúmes!
- Oh mas...e a Mónica?
- Eu confio em ti. Depois de tudo o que já passamos e do que temos hoje, acho que posso dizer que vamos ficar juntos por muitos anos. Eu também sei que são raros os homens que não traem as mulheres...
- Eu nunca te traí!
- E eu sei disso, Marcos. Como te disse, eu confio em ti. Mas, se calhar, é melhor falares com essa Mónica.
- Não ficas chateada? A duvidar de mim?
- Não. Tu és só meu – Ania aproximou-se de Marcos, envolvendo-se numa longa troca de beijos fogosos. Ania sentia falta daquele típico desejo de Marcos em estar sempre a tocar-lhe, de procurar tirar o maior prazer possível com aqueles momentos de carinho. Sentia falta daquele calor que emanava das mãos dele pelas suas coxas, do cheiro dele, da pele dele. Ambos sabiam que aqueles momentos acabavam, quase sempre, da mesma forma mas, naquele momento, o choro de Morena interrompeu-os. Os dois quebraram o beijo e Ania riu-se, deixando a sua testa junto da dele.
- Não sou assim só teu...há outra donzela a quem pertenço.
- O que vale é que ela tem os mesmos apelidos que nós.
Marcos aproximou-se da alcofa, pegando na filha ao colo. A menina, à medida que se iam aproximando do sofá, ia deixando de chorar.
- Ouvi dizer que só dás mimo à nossa menina – Marcos sorriu ao ouvir aquilo por parte de Ania – pronto, agora vais babar cada vez que eu disser algo assim? – Ania percebeu mas acabou por achar engraçado.
- Posso? É que é uma coisa que eu queria à muito tempo...
- Desde que não pressiones...até podes por um babete! – Marcos riu-se, colocando Morena em cima do seu peito – ainda à pouco estava a falar com as nossas mães...sinto que não tenho como vos agradecer por estes dois meses que deram à Morena – Ania aproximou-se de Marcos, colocando a sua mão sobre as costas da filha. Ficou parada por algum tempo, quase sem fazer nenhum movimento ao respirar – tenho tanto medo de não conseguir fazer as coisas que vocês fazem com ela...
- Isso virá com o tempo, Ania. Aos poucos vais conseguir...se decidiste voltar, já é meio caminho. Confia mais em ti – Marcos levou uma das suas mãos ao queixo dela, fazendo-a olhar para ele – eu nem consigo imaginar o amor que tens dentro de ti para lhe dar. Vê-se nos teus olhos que existe e eu tenho a certeza que será mágico.
Ania juntou a sua bochecha à mão de Marcos, fechando os olhos. Precisava de uns segundos parada e, simplesmente, absorver tudo o que se estava a passar à sua volta.
- Oh André, és mesmo um preguiçoso! – a voz de Iara começava a estar cada vez mais perto de Ania, que estava na cozinha.
- Eu só quero estar com a nossa afilhada! – também André se fazia ouvir.
Era a hora de surpreender Iara com o regresso de Ania. Provavelmente André tinha pedido que a rapariga lhe fosse buscar qualquer coisa. Ania estava escondida e esperou que Iara fosse até ao frigorífico para se aproximar dela e lhe tapar os olhos.
- André? É assim...estamos na casa do Marcos!
- Já nem conheces o teu namorado, nem a tua amiga! – Ania soltou-a e Iara, de imediato, virou-se para ela completamente surpreendida.
- Ai.
- Olha, bloqueou! – Ania riu-se, abraçando-a. Iara começou a rir à gargalhada, abraçando com força Ania.
- Tu estás cá! Oh meu Deus, tu estás aqui!
- Estou sim. Já não és sozinha a aturar aqueles dois.
- Ai Ania – Iara olhou-a, levando as suas mãos à cara da amiga – fazias uma falta cá!
- Já passou. Agora estou aqui, pronta para começar do zero.
- Ai eu nem acredito – Iara voltou a abraçá-la – é por isso que o teu marido está todo contente! Já tem quem lhe aqueça os pés! – as duas riram-se acabando por se afastar – quando é que vieste?
- Ontem à noite. E era para te dizer hoje de manhã só que o Marcos e o teu namorado tiveram esta ideia da surpresa.
- Oh não deviam ter tido! Assim já tínhamos passado o dia todo juntas. Mas...como é que tu estás? – Iara e Ania falavam todos os dias desde que Ania tinha ido para La Plata. Mas Ania não contou a ninguém os pormenores da sua terapia.
- Por enquanto está tudo frágil e estranho. Mas aos bocadinhos parece que vai ficando melhor...
- Mas...já andas perto da Morecita e isso? – Ania percebeu que Iara fazia aquela pergunta um pouco com receio. Mas, ao mesmo tempo, um sorriso sincero e ternurento se formou nos lábios da amiga.
- Morecita...
- Acabamos por lhe dar o diminutivo de More...mas tu ainda cá estavas.
- Já me disseram o mesmo. Não me recordo...quando eu estava por perto vocês faziam questão de lhe chamar minha filha. O Marcos já me tinha explicado isso do diminutivo...mas tu chamaste-lhe Morecita.
- É para ela achar mais piada à tia! O pai e aquele que vocês escolheram como padrinho dela – as duas riram-se e Iara acabou por retomar o seu discurso – eles tratam-na por More, o André por piriti e eu acabei por arranjar uma forma só minha.
- Obrigada, Iara.
- Olha...porque é que me estás a agradecer?
- Por teres estado aqui, ao lado deles. Por me teres ido informando de tudo o que se passava por cá. Por serem os melhores padrinhos que a minha...que a Morena poderia ter e, sim, André podes entrar.
André riu-se e Iara virou-se para o namorado.
- Mas tu agora ouves a conversa dos outros?
- Eu estava a vir atrás de ti, lembraste? – André aproximou-se das duas, sentando-se em cima da bancada no meio das duas – então mas, cunhada emprestada, isso foi um grande elogio à minha pessoa.
- Olha, olha...agora não se vai calar, está visto – comentou Iara.
- Ela disse que éramos os melhores padrinhos que a miúda podia ter. Temos razões para isso, oh namorada – Ania riu-se, permanecendo apenas a observar aqueles dois.
Tudo se mantinha intacto entre eles. Pelo menos aos seus olhos: continuavam a ser os mesmos brincalhões, sempre bem-dispostos e com um sorriso enorme e contagiante nos lábios. Ania sentia-se cada vez melhor por estar em casa e isso só tinha uma explicação. Ninguém, naquele núcleo, a criticava pelo que fizera.
- Está tudo bem, Ania?
- Preciso de apanhar um bocadinho de ar...só isso – Iara colocava-se ao lado da amiga que já estava à alguns minutos sozinha no jardim – o Marcos...ele disse alguma coisa?
- Claro que não. É normal não estares tão à vontade com a menina... – à minutos atrás, Ania tinha tentado pegar na filha ao colo para que esta cessasse o choro mas, com um sentimento estranho a apoderar-se dela, Ania não o conseguiu fazer. Saiu disparada da sala, tentando controlar a sua respiração e os tremores que sentia no seu corpo.
- Eu só queria conseguir pegar nela um bocadinho...e não consegui. Eu não consegui, Iara – Ania olhou a amiga, percebendo que Iara a olhava com alguma preocupação – ela estava a chorar, a precisar de um de nós e eu...eu não consegui segurar a minha própria filha!
- Ei, ei – Iara precipitou-se na direcção de Ania, agarrando-lhe os pulsos. Ania encarou-a quando Iara a abanou por completo – não te podes culpar, nem martirizar Ania. Tu regressaste ontem da terapia, estás, ainda, muito frágil e no inicio do contacto com a menina. Isso é tudo normal...e ninguém te irá criticar, nem julgar – Iara ainda tinha mais umas coisas para dizer mas não o fez, ouvindo a porta de correr abrir-se.
Olharam e era Marcos quem aparecia ali. Vinha com Morena nos braços e um sorriso nos lábios.
- Posso? – apontou para Ania e, naquele momento, Iara sentiu que aquela família era ainda mais especial do que antes.
Soltou Ania, depositando-lhe um beijo na testa. Caminhou na direcção de Marcos, olhando para Morena.
- Levo-a para dentro ou...
- Ela fica – Iara olhou-o, um pouco receosa.
- Marcos...
- Não te preocupes, Iara. Eu conheço-a e não iria fazer isto para a deixar mal, tu sabes.
- Sim, sei. Mas ela está tão frágil.
- Eu sei...
- Tem paciência com ela – Iara deu um beijo na testa de Morena, entrando em casa. André, Ortencia e Carina estavam nos sofás, olhando para o jardim.
- O que é que o Marcos vai fazer? – perguntou André, puxando Iara para junto dele depois de ela se sentar.
- Eu não sei... – Iara olhou para o exterior, vendo-o aproximar-se de Ania – mas ele, melhor que ninguém nesta casa, saberá entende-la.
Todos concordavam com o que Iara dissera, mesmo que não o verbalizassem. Olhavam, atentos, os movimentos lentos de Marcos em direcção de Ania.
Marcos estava nervoso e sem certezas de que aquilo que pensara fazer, desse resultado. Caminhava na direcção de Ania e percebia que ela ia ficando indecisa. Percebeu que ela não sabia se haveria de olhar para ele ou para Morena.
- Eu disse que não te iria pressionar a nada, que não iria insistir para que começasses a fazer uma vida normal com a nossa filha – Marcos parou, por algum tempo, deixando ainda alguma distância entre os dois – mas eu queria entender duas coisas. Tu conseguiste pegar nela quando chegaste e, à pouco...porquê é que não o fizeste, mi amor?
Ania continuava sem saber se deveria olhar para o marido ou para a filha. Sentia que Marcos a estava a confrontar mas não de uma forma violenta. Fazia-o para que ela tentasse expor-se...falar sobre o que lhe iria na cabeça. Ania percebia isso.
- Não sei – respondeu.
- Mas não te sentes bem perto dela?
- Sinto! Claro que sinto! – Ania levou as mãos à cabeça, sentindo que não iria aguentar sem chorar – Eu sinto-me maravilhada com ela, é das bebés mais bonitas que alguma vez vi. Tem os teus olhos, o meu nariz e é simpática. Ela nasceu de mim...estando com a irmã! Ela partilhou a minha barriga nove meses com outro bebé, ela não foi a única dentro de mim! – Ania chorava. Chorava a olhar Morena que dormia serenamente – Eu só queria olhar para ela e nunca me lembrar que elas eram gémeas. Queria olhá-la e vê-la apenas a ela – olhou Marcos que, também ele, derramava algumas lágrimas – eu queria olhar para ti e não sentir que falhei enquanto mulher...que falhei ao não te dar as duas filhas que iríamos ter.
Marcos estava surpreendido pelo que ouvia. Sabia que era um processo complicado para Ania, para a cabeça da sua mulher. Entendia que ela se sentisse assim...e só queria que tais palavras não fossem proferidas. Queria que ela fosse feliz, nesta fase tão bonita das vidas deles.
- Ania...
- Desculpa – Ania encostou-se à mesa que ali estava, baixando a cabeça – eu não deveria estar a falar disto.
- Devias sim – aproximando-se dela, Marcos limpava as lágrimas que lhe escorriam pela face. Colocou a sua mão no queixo da mulher, levantando-lhe a cabeça para que se olhassem – mais do que me disseres que vai ficar tudo bem...tu terás de dizer tudo o que sentes.
- Eu só queria estar bem.
- Tu vais estar, Ania. Não será hoje, talvez nem amanhã ou daqui a dois dias. É com calma...muita calma.
- E se ela não me aceitar como mãe? – olhou para Morena que permanecia tranquila e serena nos braços de Marcos – Eu tenho medo de pegar nela...e ela não querer o meu colo. De ficar ainda a chorar mais e... – Ania não conseguiu terminar o seu raciocínio, não sabia como haveria de continuar.
- Isso é impossível. Ela gosta de ti, eu sei disso.
- Não podes saber isso.
- Sei sim. Desde que chegaste ela abre os olhos a ouvir a tua voz, o corpo dela relaxa e fica mais menina. Mais pequenina, como que a pedir pelo teu amor. Ela já te olha, já capta os teus movimentos e o teu cheiro. Um bebé não esquece o cheiro da mãe...mesmo que tenham estado pouco tempo juntos.
Ania olhava-o completamente surpreendida...Marcos sempre soube tocar-lhe ao coração sem tocar nela, aconchegá-la mesmo sem lhe dar um abraço, beijá-la sem lhe tocar com os seus lábios. Sempre soube como amá-la sem dizê-lo.
- Sabes do que é que tenho mais certezas neste processo? – perguntou Ania, obtendo um não de Marcos – que tu mudaste imenso.
- Mudei?
- Amadureceste. Estás mais homem, tornaste-te pai e responsável. Estás a ser para mim aquilo que nunca eu pensei que um homem fosse. E... – desencostando-se da mesa e limpando as lágrimas que lhe caiam pela cara, Ania olhou para a filha – ela é a tua continuação. Mais do que ter passado nove meses dentro de mim...ela passou os dois meses mais importantes da vida dela com o melhor homem que ela terá na vida dela – Ania esticou os seus braços na direção de Morena, mantendo os seus olhos presos nela.
Nenhum precisou de falar no momento que se seguiu.
Morena despertou quando Marcos a colocou nos braços de Ania que, no momento, sentiu o seu coração bombear tão rápido que chegou a pensar que lhe iria sair pela boca. Acalmou-se quando viu que a menina não chorava, não choramingava nem fazia caretas. Morena sorriu, pelo menos aos olhos de Ania. Houve qualquer coisa no semblante da filha que se assemelhou a um sorriso.
Marcos levou as suas mãos aos braços de Ania, beijando-lhe a testa. A rapariga sentia-se bem, mesmo que tremesse como varas verdes. Por mais nervosa que estivesse, que o medo estivesse em todo o lado do seu corpo...Ania tinha a filha nos braços e conseguia encontrar, não sabendo onde, uma paz interior como à muito tempo não tinha.
- Vai ficar tudo bem, Cinderela.
- Mas ela está bem?
- Está. Hoje foi ela que lhe deu o biberão e tudo – Marcos e André preparavam-se para o treino e falavam sobre Ania – quando saí de casa a Morena estava a dormir na nossa cama e a Ania ia para lá...
- A tua ideia de ires com tudo para cima dela podia ter corrido muito mal, tens noção? – perguntou-lhe André.
- Tenho. Mas eu tinha de tentar – Marcos levantou-se, começando a caminhar para fora do balneário – elas são Rojo! Têm de saber lidar com a pressão – os dois riram-se, saindo para o treino.
Cerca de duas horas depois, quando já estava despachado, Marcos preparava-se para sair da academia.
- Olá bonitão! – Mónica... Marcos olhou para trás, vendo a rapariga aproximar-se dele – como estás?
- Bem...Mónica, se calhar devíamos falar.
- Também não consegues parar de pensar no nosso beijo de ontem?
- Não! Nada disso... Tu sabes que eu sou casado?
- Sei. Todo o mundo aqui sabe, mas ela não está longe? Não precisa de saber de nada...
- A minha mulher está cá.
- Eu não sou ciumenta.
- Mónica – a rapariga aproximou-se, ainda mais, de Marcos levando a sua mão até ao pescoço dele – é melhor parares.
- Tens medo de gostar?
- Não.
- Então...se me quisesses parar já o tinhas feito – Mónica riu-se, levando a sua outra mão ao pescoço de Marcos.
- Olá... – Mónica assustou-se, afastando-se de Marcos – está tudo bem por aqui?
- Está. Hoje foi ela que lhe deu o biberão e tudo – Marcos e André preparavam-se para o treino e falavam sobre Ania – quando saí de casa a Morena estava a dormir na nossa cama e a Ania ia para lá...
- A tua ideia de ires com tudo para cima dela podia ter corrido muito mal, tens noção? – perguntou-lhe André.
- Tenho. Mas eu tinha de tentar – Marcos levantou-se, começando a caminhar para fora do balneário – elas são Rojo! Têm de saber lidar com a pressão – os dois riram-se, saindo para o treino.
Cerca de duas horas depois, quando já estava despachado, Marcos preparava-se para sair da academia.
- Olá bonitão! – Mónica... Marcos olhou para trás, vendo a rapariga aproximar-se dele – como estás?
- Bem...Mónica, se calhar devíamos falar.
- Também não consegues parar de pensar no nosso beijo de ontem?
- Não! Nada disso... Tu sabes que eu sou casado?
- Sei. Todo o mundo aqui sabe, mas ela não está longe? Não precisa de saber de nada...
- A minha mulher está cá.
- Eu não sou ciumenta.
- Mónica – a rapariga aproximou-se, ainda mais, de Marcos levando a sua mão até ao pescoço dele – é melhor parares.
- Tens medo de gostar?
- Não.
- Então...se me quisesses parar já o tinhas feito – Mónica riu-se, levando a sua outra mão ao pescoço de Marcos.
- Olá... – Mónica assustou-se, afastando-se de Marcos – está tudo bem por aqui?
Marcos não sabia se havia de rir de alívio ou rir de medo. Das duas uma: iria rir-se a qualquer momento.
Olá meninas! Aqui vos deixei mais um capítulo.
Bom...no passado dia 24/05 a história fez 2 anos de existência! Dois anos e eu, por diversos motivos (faculdade, esquecimento...) não consegui deixar aqui a mensagem de parabéns. Aproveito, assim, para deixar aqui os parabéns.
E agradecer-vos por todos os comentários que têm feito, por todo o carinho que têm demonstrado. Espero que tenham gostado deste capitulo e que deixem os vossos comentários.
FELIZ ANIVERSÁRIO!
Olá
ResponderEliminarAdoreiii *_* E a Ania vai conseguir estar a vontade com a Morena e agora será que é a Ania ? Parabéns á fic ...
Beijinhos
Catarina
Ai que família fofa! A Ania vai ser verdadeiramente mãe com a pequena More, quer dizer, ela já o é, só faltam as atitudes que vão aparecendo uma atrás de outra.
ResponderEliminarPorque é que ele vai rir? Quem é que falou?
Ihihihi quero mais, por favor...
Adoro a tua fic e gostei muito deste capítulo.
Próximo, rapidinho, pleaseeeeee
Beijinhos,
Rita B.
PS: Parabéns pelos 2 anos da fic, Parabéns porque TU mereces...
Holla :)
ResponderEliminarAleluia q finalmente consegui comentar :P
Amei este regresso da Ania *.*
Espero que ela e a Morena se "entendam" duma vez ;)
Aí q aquela mónica irrita-me -_-
bjs
Olá!
ResponderEliminarConfesso que estava muito reticente e pessimista em relação a esta fase da história mas tenho de admitir que me surpreendeste pela positiva.
Estou a adorar este regresso, os avanços, os recuos. Estou mesmo a gostar disto.
Espero pelo próximo!
Ana Santos
Olá!
ResponderEliminarE depois de uns meses parada no tempo sem comentar, estou de volta! Vou comentar cada um porque vou reler os capítulos que não comentei.
Já tinha saudades da Ania, do Marcos e da Morena! Esta história está mesmo linda com os problemas mas união de todos para os resolver!
Vou ao próximo!