sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

19 - "...agora ando com a piolha atrás por tua causa"

Estela e Marcos terminavam aquele abraço e Ania olhava para o seu namorado, como que esperando uma explicação da parte dele, ou dela. Estava a achar tudo estranho, a maneira como sorriam, a maneira como se tocaram, como deram um beijo...iria jurar que se ela não era ex-namorada dele, era algo muito parecido. 
Marcos olhou para Ania, depois para Matín e Romina, voltando a olhar para Estela. 
- Que é que estás aqui a fazer? - perguntou Estela, colocando a sua mala em cima da cadeira.
- Eu vim almoçar com eles, já vi é que tu também vieste almoçar aqui connosco. 
- Mas porque é que aqui estás?
- Eu...eu namoro com a Ania. 
- A sério?
- Sim...é recente, mas é a verdade. E como era um almoço de família...
- Oh, que lindos! - Estela abraçou Marcos, sussurrando-lhe ao ouvido - a Ania é uma rapariga muito especial, ainda bem que estás com ela. 
Marcos sorriu e os dois sentaram-se à mesa. 
- Podem explicar-nos como é que se conhecem? - perguntou Romina, tentando acabar com todo o suspense. 
- Eu namorei com o irmão do Marcos...é daí que nos conhecemos. Éramos bons cunhados e bons amigos. 
Ania ficara mais aliviada. Afinal, Estela não tinha tido qualquer envolvimento amoroso com Marcos. Tinha, por outro lado, tido uma relação com o irmão dele, aquele que está desaparecido e que Ania pensa saber onde se encontra. 
O almoço decorreu sempre na maior das calmas, todos iam falando sobre o projecto, Marcos ia opinando de acordo com aquilo que ia ouvindo como um espectador que está por fora a ouvir tudo pela primeira vez. Estava, naturalmente, orgulhoso da sua Cinderela. Aquele projecto tinha pernas para andar e, de certeza, que seria bem sucedido. 
Depois de um almoço onde quase só se falava de trabalho, Marcos, Ania, Martín e Romina foram passear. Ania estava a precisar que o seu melhor irmão e o seu namorado começassem a dar-se como dois cunhados que se adoram e que ainda não sabem. 
Foram até um jardim perto da Catedral de La Plata, cada casal caminhava de mão dada e sempre ao mesmo ritmo. Matín percebia o que Ania estava a tentar fazer, pelo que foi o primeiro a puxar um tema de conversa. 
- Agora tenho companheira de bancada nos jogos do Estudiantes? - Ania olhou para o irmão de lado, sorrindo.
- Se essa é para mim...podes crer que tens! - respondeu--lhe com um sorriso enorme nos lábios.
- Até parece que vais sempre sozinho, Matín - Romina acompanha sempre o namorado nos jogos do Estudiantes e tentou meter-se com ele, sem efeito já que ele a puxou contra ele sem dizer nada. 
- Vão todos ao próximo jogo? - Marcos, que até agora se mantinha apenas a observar tudo, meteu-se na conversa. 
- Lá vai ter de ser...agora ando com a piolha atrás por tua causa - Martín tentou parecer duro e rígido, mas no segundo seguinte desmanchou-se a rir - eu nunca pensei que a minha maninha se fosse meter com um jogador da bola...tudo o que o pai não queria ela fez. 
- Martín, eu posso falar contigo? - inquiriu Marcos, querendo falar a sós com Martín. 
- Claro... - Ania e Romina sentaram-se num dos bancos que ali estava perto e Marcos e Martín continuaram a andar, preparando-se para falar - passa-se alguma coisa? - perguntou Martin.
- Não...creio que não. É só que...eu acho que precisávamos de falar. Eu já percebi que a Ania e tu são os que se dão melhor e queria dizer-te que cuidarei dela sempre em primeiro lugar. A Ania é especial, sempre o foi desde o primeiro dia e não quero abdicar dela por nada deste mundo. 
Martín sabia que aquele momento iria chegar, sabia que um dia iria falar com o primeiro namorado da sua irmã depois do que lhe tinha acontecido. 
- Marcos...a Ania não é a rapariga que nós conhecemos, a Ania é ainda mais divertida, todos os dias acordava com um sorriso nos lábios, ficava uma preguiçosa quando tinha de acordar cedo para acompanhar o pai para algum lado...sempre foi a princesa lá de casa. Sempre foi a única menina. Mas... - Martín olhou para Marcos, parando - não coloques demasiada pressão em cima de ti. Vocês são novos, devem é aproveitar para se divertirem, para rirem muito e serem felizes. Não coloques a pressão de que a tens de proteger, de que tens de respeitar o espaço dela. Isso vai acontecer porque vocês já o fazem e será tudo natural. 
Marcos estava surpreendido com o discurso de Martín, tal como ele conseguia falar das coisas sem pensar muito e sem se atrapalhar e tinha dado um grande e importante aviso a Marcos. 
- Obrigado...não quero que penses que te roubei a irmã...
- Era só o que mais faltava! - Martín abraçou Marcos, "ameaçando-o" - ai de ti que o faças! 
Os dois riram e Ania, que observava os comportamentos físicos dos dois, sorriu ao ver tal abraço dos seus dois M's. Passaram o resto da tarde juntos, passearam, riram, Marcos e Martín foram conhecendo-se e acabaram por perceber que tinham o mesmo tipo de saídas, aquelas que saem sem que eles percebam.

Ania devia ter ido ao psicólogo na sexta-feira, mas não o fez. Por muito que os seus pais e Marcos a tenham incentivado a ir ela não o fez. Não queria pensar em certas coisas, não queria ter o médico a olhar para ela e a fazer perguntas. Preferiu ficar com a sua mãe a organizar a sua ida a Buenos Aires. No sábado, Marcos teve um jogo para o campeonato e, como combinado, quando o jogo terminou os dois seguiram viagem até à capital argentina. 
Marcos não contou à sua família o que iria fazer. Não queria criar esperanças em que pudesse ser o seu irmão, disse, por isso, que ia passar dois dias só com Ania para se afastarem um pouco de La Plata e definirem o que seria a relação deles. Em parte, também o iriam fazer.
Chegaram cansados a Buenos Aires, a viagem tinha sido longa e Marcos ainda tinha jogado. Assim que chegaram ao hotel onde iriam ficar hospedados durante as duas possíveis noites, não sabiam se seriam mais, fizeram o check-in, indo até ao quarto que lhes pertencia. Não pensaram muito no que fazer, deitaram-se e acabaram por adormecer.

Ania: 
Não sabia se ter vindo teria sido a melhor ideia...poderia não ser o irmão do Marcos, poderia nem sequer ser parecido, mas eu juro que aquela cara só me fez lembrar a pessoa que trabalha no ginásio. Só não sei como é que a Noelia nunca tinha reparado...porque se ela tivesse visto iria reconhecer o irmão. Mas seria bom estar com o Marcos, assim, só os dois.
Acordei já eram nove e meia, mas ele dormia tão ferrado que não me atrevi em acordá-lo. Fui tomar um duche rápido, vestindo-me já que queria aproveitar o dia para passear com ele, não íamos ficar aqui fechados o dia todo.


Estava imenso calor, mesmo estando no quarto conseguia perceber que estava já imenso calor lá fora. Era...estranho vestir roupa assim, estando com o Marcos...ainda não sou eu completamente, são as minhas roupas de sempre, mas falta-me a confiança para as usar. 
Quando voltei ao quarto, o Marcos continuava a dormir! Tapado! Como é que alguém consegue estar a dormir tapado com este calor? Só ele mesmo...
Sentei-me no meu lado da cama, colocando uma mão por dentro do lençol pousando-a nas costas do Marcos. Comecei a percorre-las com as unhas e ele assustou-se porque o vi ter aquela sensação de quem é acordado quando está a dormir mesmo bem. Tive pena...mas já chega de dormir! 
Acabei por me deitar ao lado dele, abracei-o e dei-lhe um beijo nas costas:
- Buenos dias gordi...
- Buenos dias... - a voz dele saiu-lhe tão baixinha que me arrependi de o ter acordado. 
- Queres dormir mais um bocadinho? 
- Que horas são? 
- Agora já são dez e um quarto - ele virou-se para mim, continuava de olhos fechados e ficou com a cabeça dele encostada no meu peito. Agarrou-se a mim como se fosse um bebé e parecia não querer sair da cama tão cedo. 
- Já estás vestida? 
- Já...já tomei duche e vesti-me...pensei que quisesses passear, mas já percebi que queres é dormir. 
- Não...mas é que estou aqui bem, sabes? 
- Então descansa...ficamos aqui mais um bocadinho. 
- Não - ele afastou a cabeça dele do meu peito e olhou-me. Ao menos já tinha os olhos bem abertos - buenos dias mi vida - a boca dele veio na minha direcção e...estas coisas de manhã fazem-me sentir como se nos conhecêssemos há imenso tempo mas como se estivéssemos a começar a nossa relação.
- Buenos dias mi amor - acabei por interromper o beijo e ficar simplesmente a olhar para ele. 
- Tens alguma coisa em mente para hoje? 
- Não...podemos ir por aí. Eu conheço mais ou menos a zona por causa da faculdade, mas podemos andar por aí. 
- Por mim está perfeito. Vou tomar duche - ele voltou a dar-me um beijo, levantando-se da cama. Enquanto que ele tomou duche eu abri as janelas do quarto e, como tínhamos direito a que nos fizessem a cama, fiquei a apanhar o ar quente (!) que se fazia sentir. 
Não tenho noção de quanto tempo é que o Marcos demorou no banho, mas não foi muito. Saímos do hotel e começamos o nosso dia...por aí. 
Era estranho andar com o Marcos na rua. Ele era abordado por algumas pessoas, a pedirem autógrafos, fotografias, mas, ao mesmo tempo, era como se ele fosse uma pessoa normal. Porque ele agia como tal. Não tentava evitar as pessoas, não tentou evitar ir à praia, ou a um restaurante por ser conhecido. Isso é bom. Dá-nos aquela liberdade para conseguirmos ser nós. 

Nessa noite:
O Marcos não está a conseguir dormir...como é que sei? Ele não pára de se mexer um lado para o outro da cama, tenta fazer pouco barulho a pegar no no telemóvel para ver as horas, mas é impossível dormir assim. Quando percebi que ele estava virado para mim, virei-me para ele: 
- Acordei-te? - perguntou ele, puxando-me para junto do seu corpo. 
- Não Marcos...acho que nenhum de nós ainda dormiu. 
- Desculpa Cinderela...é dos nervos. 
- Oh, eu entendo. Também estou nervosa. 
- Estás?
- Estou...eu sei lá se é mesmo o teu irmão? Sei lá como é que ele vai reagir ao ver-te, se for ele? Como é que tu vais reagir se for ele?
- Vou bater-lhe! Ele que nem pense que vai escapar!
- Vais ter é uma conversa com ele...e com calma Marcos. Ele se quis desaparecer tem os seus motivos. 
- Eu sei disso...mas o que ele nos fez passar...
- Gordi... - coloquei as minhas mãos nas bochechas dele dando-lhe um beijo curtinho - sabes que pode estar tudo a terminar. Se for mesmo o teu irmão podes sempre descansar o teu coração de irmão mais velho, o da tua mãe e das tuas irmãs. Só temos de esperar até amanhã.
- Eu não consigo dormir...
- Nem eu...mas temos de tentar, não?
- Olha lá.
- Diz.
- Não sei se o teu pai te disse...mas eu tenho um problema de ansiedade. 
- Ai é? 
- É...
- Mas é grave? 
- Não...e estou a dizer-te porque vou entrar no estado em que fico...
- Como assim? 
- Vou falar coisas sem sentido, para me tentar distrair, pode ser?
- Vamos passar a noite às gargalhadas,.é isso?
- Olha...podíamos fazer tanta coisa - só uma que lhe saiu da boca para fora ou um desejo? Era só o que faltava: o Marcos falar coisas assim disparadas por causa do problema da ansiedade. 
- E o que é que queres fazer, Marcos?
- O que tu não queres...e, neste momento, estou a dizer aquilo que penso mesmo.
- Marcos...
- Eu sei que é cedo e não vou esperar que aconteça hoje...mas que me estás a dar umas vontades, estás!
- Então acalma lá o objecto não identificado que não é hoje que o conheço...
- Também estás com um problema?
- Porque?
- Porque me estás a responder coisas como no primeiro dia...
- Eu sou assim...só preciso de ir ao sitio, outra vez. 
- Ai que eu podia por tudo no sitio podia...
- Um dia tentamos, sim? Eu prometo-te que serás o primeiro a tentar por tudo no sitio...mas pode demorar. 
- Ania! Que pouca vergonha!
- É...tu é que começas e depois o que eu digo é que é pouca vergonha. Eu sou responsável, sei o que estou a dizer. 
- Olha, tenho eu mais responsabilidade da cintura para baixo do que tu em todo o corpo.
- Isso é tão verdade como eu ser freira, sabes? Mas que raio de conversa é esta?
- É uma conversa que me está a fazer mal! 
- Ai e bom que esteja! 
- Ai é? 
- É sim Marcos! Porque eu também queria muita coisa mas não quero. 
- O que? Ai que agora não apanhei nada. 
- Eu por mim já tínhamos começado a por tudo no sitio, mas é cedo! 
-.Já são duas da manhã.
- Eu esgano-te! - óbvio que...não iria acontecer nada. Não me sinto preparada, não sei estar preparada para ele. Sei que o quero, sei que quero uma noite em que serei dele e ele meu, mas não neste momento. 
Até às quatro da manhã ninguém dormiu. Desde conversas badalhocas, passando pelo futebol, a possibilidade de sairmos do país, bebés, netos, dragões e andorinhas...foi rir até que acabámos por adormecer com o cansaço. 

No dia seguinte: 
Era horrível, horrível, horrível! O Marcos está super nervoso, eu estou super nervosa e ainda estamos à porta. O ginásio já estava aberto, o Marcos andava de um lado para o outro, mentalizando-se. 
- Marcos, tem calma - acabei por me meter à frente dele. Os olhos do meu pequeno estavam brilhantes. Parecia que o sofrimento estava, finalmente, lá. Nunca antes o tinha visto assim. Triste, desamparado. Puxei-o contra mim. Ele baixou-se agarrando-se à minha cintura. 
- E se não for o Franco? - pois...aquela pergunta. 
- Marcos...se não for, iremos procurá-lo. Ele está vivo, só está bem escondido. 
- Tenho medo Ania.
- De que?
- De que ele...não seja o mesmo. 
- Isso só descobrirás quando o encontrares. Queres entrar? - ele afastou-se, arranjou o cabelo e deu-me a mão. 
- Sim...
Entrámos os dois indo até à recepção. Se o Marcos perguntasse pelo nome do irmão, a recepcionista conseguiria dizer-nos se ele estava ou não ali. 
- Bom dia - disse ela. 
- Bom dia - falámos os dois ao mesmo tempo, a senhora riu-se e o Marcos tomou a palavra. 
- Eu gostava de saber se tem aqui algum trabalhador com o nome Franco Rojo. Ele é meu irmão e está desaparecido, mas pensamos que esteja aqui a trabalhar. 
- Sabe...eu não lhe posso dar essa informação. Tenho de chamar a minha superior.
- Claro. 
Mas não era preciso. Não iria ser preciso chamar superior nenhuma, porque aquelas quase certezas que eu tinha desapareceram no momento em que vi o tal rapaz que aqui trabalha.


Boa noite meninas!
Peço imensa desculpa pela demora em publicar mas, como algumas sabem, andei com uma crise de inspiração/vontade de escrever. Mas hoje está tudo de volta: ideias, vontade, liberdade para escrever. Espero que tenham gostado do capitulo e que deixem os vossos comentários que cada dia são mais importantes. Muitos beijinhos.
Ana Patrícia Moreira.

5 comentários:

  1. Olaaaaa

    Adoreiiiii *_*


    Beijinhos


    Catarina

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  2. Ola!
    Ieeeeee! You are back! xD
    Ameeiiiii como sempre!
    E pronto afinal tinham sido só cunhados! Depois amei aquela conversa entre o Martin e o Marcos!
    E eles foram finalmente para Buenos Aires!! Opa eles são tão lindos e fofos que até o acordar deles é lindo! Depois a noite daquele dia ui ui....fartei-me de rir com frases como esta: "acalma lá o objecto não identificado" e a parte de já serem duas da manhã xD Mas apesar de ainda ser cedo e de saber que não deve ir acontecer nada entre eles tão cedo...adoro estas conversas mais badalhocas deles!!
    Agora quanto a isto do irmão...quero tanto mas tanto saber se é ele mas tu pronto deixas aqui uma pessoa a morrer de curiosidade como sempre!
    Por fim, quero só dizer que fiquei muito contente por estares de volta à escrita das fics que publicas e dure o tempo que durar a tua inspiração (espero que seja ilimitada) eu vou esperar sempre para ler novos capítulo e fazer sempre uma grande festa sempre que publicares (em silêncio ou não) xD
    Próxxxiimmmoo!!
    Besos guapa,

    Sofia

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  3. Olá!
    Ainda bem que nao tenho problemas de ansiedade como o menino Marcos senao iria dizer ainda mais parvoices do que digo!
    E esta ultima parte quer dizer o que? é ou nao é?
    Aiiiii espero o proximo!

    beso
    Ana Santos

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  4. Olá. Gostei muito :)
    E tinhas que acabar assim? :P
    Espero pelo próximo sff bj

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  5. Não se acaba assim!
    Ah! Olá coisa boa :)
    Bem que alivio, não há Estela = ex namorada yeah :D
    Conversa Martín - Marcos OIN ^.^ típico irmão mais velho com típico namorado apaixonado.
    Agora EU AMO ISTO, ai eles são tão perfeitos, têm conversas tão fofas, tão parvas tão perfeitas, *.* OIN
    ''tenho eu mais responsabilidade da cintura para baixo do que tu em todo o corpo.'' , o que isto me faz lembrar oh good! amo, amo amo
    perfeitos, lindos, maravilhosos, fofos, não há palavras
    cada dia amo mais isto
    Oh pá acabar assim não é nada interessante oh!
    Apetece-me bater-te!
    Desespero por mais :) , quero quero *.*
    * Rita*

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