Marcos poderia esperar qualquer pessoa
ali menos a que tinha na sua frente. Podia ter sido o presidente do clube a
estar ali, o seu treinador, algum amigo…qualquer uma destas hipóteses era
válida. Mas não...
Contrariamente ao
esperado, a pessoa que tinha na sua frente era a única que ele não esperava ter…ter
Ania na sua frente fez o seu mundo dar uma volta de 180º, fez com que o seu
coração disparasse, fez com que o chão parecesse querer fugir…mas nada disso
aconteceu. Não aconteceu nada porque ela estava ali e o abraçou, unindo os seus
lábios com os dele…matando um pouco aquela saudade que os consumia.
-
O que é que tu estás aqui a fazer? – Foi um beijo demorado, carregado de
saudade e amor. Aquele amor que lhes é tão característico. Marcos encostou Ania
à parede, fechando a porta.
-
Olha as malas… - Ania
riu-se, voltando a abrir a porta para colocar as duas malas que trazia, dentro
de casa. Rodeou a cintura de Marcos com os seus braços, voltando a beijá-lo – Surpresa de namorada cheia de saudades…
-
É surpresa mesmo…Ania, passou uma semana e já estás aqui…
-
É assim tão mau? Está aqui alguma russa, é isso? – Ania começou a
espreitar para dentro da casa, mas Marcos colocou as suas mãos no pescoço de
Ania, fazendo com que os olhos de ambos ficassem num contacto permanente.
-
Eu tinha tantas saudades tuas…
-
Por eu ter mais saudades ainda é que aqui estou.
-
Eu não estou a acreditar…eu vou puder adormecer mesmo contigo?
-
Vais. Vais adormecer comigo, acordar comigo, almoçar comigo…fazer tudo comigo.
-
Tudo…
-
Tudo meu amor – Ania
voltou a beijar Marcos, percorrendo as costas dele com as suas mãos.
-
E como é que está tudo por lá?
-
Tudo normal…a tua mãe está óptima, as meninas estão na escola. Tudo cheio de
saudades tuas, mas…há mais surpresas Marcos.
-
Elas também vieram?
-
Não gordi…elas têm as coisas delas
para fazer, mas em Março há duas semanas de férias e aí sim elas vêm. Aliás,
todos. As meninas, a tua mãe, o Franco…e eu. É essa a surpresa…mas é só em
Março…perto dos teus anos.
-
Ai…mas eu tenho-te aqui – Marcos apertou Ania mais para junto de si, roçando
com o seu nariz no dela.
-
Tens…tens-me aqui só para ti durante…quanto tempo?
-
Uma semana?
-
Chega para ti?
-
Chegar não…mas já era muito bom.
-
A tua Cinderela fica…um mês?
-
Um mês?! – Marcos
estava estupefacto com o que Ania lhe acabara de dizer.
-
É muito…? Se quiseres eu fico menos tempo.
-
Não sejas parva! Não estava era nada à espera disso…
-
Eu sei que está a ser difícil para ti esta semana e como este mês todo ficas
por cá…a Ania fica contigo. Depois em Fevereiro tens o estágio, eu volto para
La Plata e em Março estou cá de novo.
-
Para ficar? – Marcos
queria, imenso, que a sua Ania ficasse a viver com ele, ali em Moscovo.
-
Não sei, não sei gordi…mas agora ficamos assim, está bem?
-
E já é tão bom! – Marcos
pegou em Ania ao colo, rodopiando com ela nos seus braços.
Depois de mostrar o apartamento a Ania e
de ela comer um pequeno lanche com o seu namorado, os dois foram até ao quarto,
onde Ania viu a vista que Marcos tinha daquele apartamento.
- Acho que é a segunda vez que vejo neve na
minha vida – comentou ela, mirando o que estava do outro lado
do vidro. O sol estava a pôr-se e estava a ganhar uma cor diferente.
Ania estava com imenso sono…a viagem
tinha sido longa e a diferença horária estava a fazer-lhe confusão.
-
Por aqui é só o que se vê – Marcos chegou perto dela, rodeando a
cintura com os seus braços. Ania deixou a sua cabeça encostada em Marcos e
sentiu o seu corpo relaxar.
-
Estou com sono…
-
Dorme, então, princesa.
-
Ainda agora cheguei e já vou dormir?
-
A viagem é longa, Ania…anda lá – Marcos começou a andar com Ania nos seus
braços, até que chegou à cama. Ania deitou-se e Marcos fez o mesmo, ficando bem
agarradinho a ela – dorme o tempo que
precisares.
-
Acorda-me à tua hora de jantar…tenho de ficar com as horas de cá – Ania colocou a
sua mão por dentro da camisola de Marcos, encostando completamente o seu corpo
no dele.
-
És a melhor namorada do mundo…e estares aqui…é um sonho.
-
Não, não é Marcos…estamos os dois acordados e nenhum está a sonhar – Ania deu-lhe um
beijo para, de seguida, esconder a sua cara no peito do namorado e adormecer.
Marcos, durante a pequena hora que Ania
dormiu, andou a trocar o olhar entre ela e a televisão. Quando a fome começou a
apertar, decidiu acordar a sua namorada (tal como ela tinha pedido). Ele não o
queria fazer…mas era melhor ela habituar-se ao horário novo.
Colocou a sua mão dentro da camisola de
Ania, começando a roçar o seu nariz no dela.
-
Marcos…deixa-me dormir mais um bocadinho – Ania colocou a sua mão em cima da
cara de Marcos, afastando-a um pouco.
-
Cinderela…já é hora de jantar.
-
Mesmo assim, só mais uns minutinhos – Ania colocou a sua perna por cima da de
Marcos, aninhando-se nele.
-
Minha bebé… - Marcos
começou a percorrer as costas da namorada – vá…Ania, temos de falar.
-
E não podemos falar depois?
-
Não – Marcos
queria parecer que o assunto era importante, mas acabou por se rir – até podíamos…mas depois já é tarde.
-
Tarde?
-
Sim…bom, há um argentino do clube. É o Nico…Nico Pareja.
-
Desconheço, Marcos.
-
Eu também desconhecia…ele tem sido o meu grande amigo por aqui…e ele é casado.
-
Sim…
-
Bom e ele tem uma filha, a Salomé.
-
Que nome bonito!
-
É…e ela é linda. Bom e eles andam a precisar de estar os dois…e eu não pensava
que tu ias estar aqui hoje…a Salomé vem cá para casa, dentro de 40 minutos.
-
Marcos…tu ias tomar conta da menina sozinho?
-
Ia…
-
Esse Nico não deve mesmo saber quem tu és…
-
Ania!
-
Nunca te vi com uma criança…a Salomé tem que idade?
-
14 Meses.
-
Vamos ser babysitters hoje – Ania adorava
crianças. A pureza com que eles olham as pessoas, o carinho que lhes dão sem
ser preciso um abraço, a inocência que têm, a protecção que precisam…Ania
queria muito ser mãe, pelo menos antes de tudo ter acontecido.
-
Que brilho é esse?
-
Qual brilho?
-
Nesses olhos…
-
Não sei, será que é dos ares de Moscovo? – Ania decidiu brincar com a situação,
sabia que Marcos iria falar das crianças.
-
Olha…não é dos ares não. É mesmo das crianças.
-
Isso não é assunto para agora.
-
Porque?
-
Porque…nunca mais falei sobre isso.
-
Filhos?
-
Sim…depois de tudo, nunca mais pensei como pensava – Marcos olhava
para Ania, esperando a continuação do raciocínio da namorada. Mas parecia que
não iria sair nada daquela boca.
-
E…como é que pensavas?
-
Que, quando tivesse a certeza de que tinha um homem a sério, ia começar a
pensar em filhos…sempre quis ser mãe, mas não sei se agora quero, entendes?
-
Mas por causa do que aconteceu?
-
Não…porque nunca mais pensei nisso…
-
Eu quero ser pai. Uma menina e um menino para começar.
-
A sério…?
-
Sim, mas queria ter quatro filhos. Com a vida que tenho é complicado…mas adorava
que assim fosse. Casa cheia, filhos únicos não.
-
Acho que é por termos muitos irmãos…sempre pensei em ter mais do que um, também…
-
Ania…posso ser o pai dos teus filhos? – Marcos estava a ter a conversa que
sempre quis ter com Ania. O sonho dele é constituir família, ter filhos a quem
passar os seus valores, casar com a mãe deles…e viver a maior felicidade que
conseguir.
Ele tem Ania, a única rapariga que é
capaz de o fazer sentir assim: ser capaz de ter uma família, de ser feliz e
viver essa felicidade com ela.
-
Podes…mas não agora, sim? A Salomé deve estar a chegar e… - Marcos não
deixou que Ania acabasse o seu raciocínio e beijou-a. Tinha a certeza que ela
tinha respondido conforme aquilo que lhe passava pela cabeça e pelo coração.
Marcos sabia que ela tinha respondido de impulso…mas quando Ania pensa e
responde assim é quando tudo faz mais sentido.
- Quero
duas meninas e dois meninos, a primeira podia ser uma meninas…assim tinha só
princesas em casa.
-
Acalma lá os cavalos, Marcos Rojo, que eu não vou ser mãe nos próximos meses!
-
Sim…não convém porque eu quero acompanhar a gravidez toda, o parto e nos
próximos meses é complicado…mas olha quando vieres viver para cá…podíamos
começar a treinar…a testar o produto… - Marcos começou a percorrer as costas de
Ania com a sua mão e ela desmanchou-se a rir.
-
Acho que, quando eu engravidar, vais dar em louco Marcos.
-
Não…vou ser ainda mais apaixonado por ti – Marcos envolveu-se num beijo
carregado de amor e, ainda, saudade, parando só quando já sentia alguma falta
de ar – e que nomes vamos dar aos nossos
filhos?
-
Marcos…eu sei lá.
-
Podemos fazer uma aposta?
-
Apostas? Sobre o nome dos nossos filhos?
-
Sim…
-
Eu vou arrepender-me disto…mas sim, podemos.
-
Se o primeiro for uma meninas, sou eu que escolho.
-
Se for menino escolho eu?
-
Sim.
-
Feito – os
dois apertaram a mão um do outro e Ania perdeu-se nos olhos do namorado.
Via que ele estava cansado, um pouco
abatido mas, sobre tudo isso, via uma felicidade enorme, um brilho naqueles
olhos que nem sabia descrever. Apenas o abraçou, até que a campainha tocou.
-
São eles! Anda – os
dois levantaram-se, Ania ajeitou o cabelo e a roupa e foram até à porta. Marcos
abriu-a e, do outro lado, estava um rapaz de cabelo moreno, uma rapariga muito
bonita e um carrinho de bebé.
-
Boas noites – Marcos
cumprimentou-os aos dois, apresentando Ania – é a Ania, a minha namorada. Ania é o Nico e a Lola, os pais da Salomé.
-
Encantada – Ania
cumprimentou os dois e voltou a ficar ao lado de Marcos.
-
Tiveste surpresa da namorada tu… - comentou Nico – e agora ficam com a menina…nem pensar.
-
Não, não, a Salomé fica – disse logo Ania, com um sorriso contagiante.
-
Mas, não queremos atrapalhar – Lola falou com uma voz completamente
doce.
-
Não atrapalham em nada…ele quer ser pai, nada melhor do que isto para começar a
treinar – o
riso foi geral e acabaram por receber algumas indicações sobre o que fazer.
Depois de Nico e Lola saírem, Ania foi
aquecer o biberão para Salomé. Já estava na hora de o tomar e assim não iria
ter uma bebé rabugenta. Depois de aquecer o leite para a menina, voltou à sala
onde estava Marcos com Salomé.
- Mas o que é que tu estás a fazer!?