terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Mensagem de Natal

Olá meninas!
Se calhar, muitas de vocês já leram a outra mensagem de Natal que deixei em qualquer outro blog, mas quero assinalar esta época especial em todos os meus blogs. 
Dou por mim a pensar, nesta altura do ano, em tudo o que aconteceu, neste caso, em 2014. Foi um ano e peras...tanta coisa aconteceu, tantos obstáculos se ergueram à minha frente, tanto tombo dei...mas estou aqui, com um sorriso nos lábios e à espera que chegue o 2015 com a maior das ansiedades. Vocês também fazem isto, certo? Que planos têm para 2015? Querem saber qual é o meu? SER FELIZ!
O Natal é especial na minha casa, mesmo que não tenha todos aqueles que queria junto a mim. Espero, sinceramente, que nas vossas seja especial também. 
Desejo tudo de bom para vocês nesta época, e para sempre. Que tenham muita saúde, muito amor, felicidade e que se sintam realizadas. 

FELIZ NATAL!

 

domingo, 21 de dezembro de 2014

35º Capitulo: “Fizeste um escândalo, André Carrillo?”

- Estava a ver que não me deixavam entrar…posso não ser da família, mas é como se fosse – André “reclamava” sozinho, enquanto se dirigia a Ania. Ia de mão dada com Iara e depressa chegaram perto da cama onde Ania estava deitada.
- Tiveste muita sorte em te deixarem entrar. Com o escândalo que fizeste, se não fosse eu, não entravas – disse Iara, largando a mão de André, e dirigindo-se ao outro lado da cama de Ania, ficando assim cada um deles de um dos lados da cama.
- Fizeste um escândalo, André Carrillo?
- Não. Ela está a exagerar.
- Estou, estou. Ania, só lhe faltou ameaçar a enfermeira –
Ania olhou para André, que encolheu os ombros.
- Eu só queria saber de vocês, está? Não tens cá o Marcos…posso servir para alguma coisa, não?
- Sim, sim…e muito obrigada pelo que fizeste.
- Não me agradeças. Mas…está tudo bem? É que não nos deram mesmo informações.
- Deslocamento da placenta.
- Nós viemos para o hospital porque os putos se mexeram? –
Tanto Ania, como Iara se desmancharam a rir. As duas perceberam que André não percebia nada daqueles assuntos.
- Não, André – começou Iara e Ania ficou a olhar para ela – o que se mexeu foi a placenta e ela poderia ter perdido os bebés.
- Obrigado por seres tão completa.
- Que lamechice oh André –
Ania apenas assistia àquela troca de palavras entre os dois com um sorriso nos lábios. O pior já tinha passado naquela noite.
- Se não somos românticos dizem que não somos, se somos dizem que é lamechices. Ainda deviam fazer um manual a explicar detalhadamente como lidar com vocês.
- Connosco é difícil de lidar, lamento informar, André –
Ania acabou por se meter no meio da conversa – só vocês podem descodificar-nos. Uns conseguem, outros nem por isso. E vocês ainda estão no inicio.
- Que inicio? Ele rejeita-me! –
Iara olhou para André e Ania ficou um pouco sem saber o que dizer.
- Mas rejeito o que?
- Rejeitas…não é bem isso. Tu não dás importância ao amor que sinto por ti –
Ania olhou para André, que olhou para ela e, de seguida voltou a olhar para Iara.
- Olha que ela pensa que estás a falar a sério… - Iara acabou por se rir, sentando-se na cadeira ao lado de Ania – não lhe ligues, ela já deve estar com sono e não diz coisa com coisa. Mas, diz-me, os bebés estão bem?
- Sim…vou ter de levar tudo com muito mais calma. E, nos próximos dias, repouso absoluto.
- Lá vai o Marcos ficar insuportável, outra vez.
- Hã?
- Olha, estiveste um mês em coma…o rapaz ficou na reserva, insuportável. Agora vai ficar sem nada outra vez…vai tornar-se insuportável.
- Oh meu Deus…eu faço ideia as conversas que existem entre vocês…
- Sei de alguns pormenores…que não me atrevo sequer a mencionar. Querem comer alguma coisa? –
André desviou a conversa e Ania acabou por agradecer para ela própria.
- Eu estou a soro…não convém comer nada.
- E tu Iara, queres alguma coisa?
- Traz-me só uma garrafa de água, por favor.
- Eu venho já –
André saiu do quarto, deixando as duas raparigas a sós. Seria, então, a primeira vez que Ania estava sozinha com Iara, a oportunidade para conhecer melhor a primeira namorada que conhecia de André.
- Não queria ter estragado a vossa noite…desculpa.
- Não tens de pedir desculpa. o André estava a ver a repetição do jogo e eu quase a adormecer…não estava a ser uma noite especial. Era só uma noite.
- Mesmo assim…vocês estão no inicio da vossa relação. Estar no hospital não é bem os planos para uma noite…
- Olha, bem diz o André que tu és maluca –
Ania olhou mais séria para Iara.
- Com que então agora acham-me, os dois, maluca…
- Eu não acho. Não é isso, nem penses isso. Mas, estava só a dizer que…és maluca porque estás a pedir desculpa por algo que não importa… -
Ania reparou que Iara estava um pouco atrapalhada.
- Ei…eu estava a brincar.
- Já me estava a assustar…é que, isto acaba por ser uma oportunidade de me aproximar dos amigos do André. Eu sinto que o que temos é especial, eu e ele…é estranho porque somos super diferentes e desentendemo-nos muitas vezes –
Ania ajeitou-se na cama, ficando atenta a Iara. Era uma oportunidade de a conhecer e, até, para conhecer a história dela com André – Queres…ouvir-me?
- Estou pronta para isso. Acredita que aquele rapaz precisava de uma namorada…e depressa. Começava a ser um emplastro atrás de casais –
as duas riram-se e Ania acabou por esticar a sua mão, agarrando a de Iara – podes sentir-te à vontade connosco. Tanto comigo como com o Marcos. Devemos ser aqueles que aturam o teu namorado à mais tempo.
- Obrigada…por cuidarem daquele rapaz. Ele é tão esquecido, estávamos a sair para te vir buscar e esqueceu-se das chaves do carro. Qualquer dia esquecesse que eu sou a namorada dele.

- Ele olha-te de uma maneira…que só uma pessoa muito apaixonada olha.
- Nós conhecemo-nos à cerca de um mês –
Ania ficou surpreendida e Iara percebeu isso – achas que é pouco tempo?
- Não…só fico surpreendida porque o André não nos disse rigorosamente nada.
- Eu pedi-lhe. O facto de ele ser jogador da bola mexe comigo. E, depois, expor isto que temos, significa expor-me a mim…e acho que ainda é cedo para isso.
- Eu entendo-te…
- Bom…conhecemo-nos, passamos a sair umas vezes, cafés para aqui e para ali…o primeiro beijo aconteceu. E olha…eu sou apaixonada por ele. Mas não lhe digas, por favor. Eu ainda não lhe consigo dizer isso na cara…
- Não te preocupes que esta conversa fica entre nós. Mas, olha…eles falam, falam, mas ele sabe que és apaixonada por ele.
- Achas? Ele parece que não entende essas coisas…duvido –
Ania via que Iara estava a ser sincera com ela. Começava a gostar daquela rapariga e só esperava que André a mantivesse na vida dele.
- Ele pode dar a entender que não percebe disso mas, na verdade, ele entende ainda melhor do que nós.
- Disfarça muito bem! –
Naquele momento, Ania bocejou – Queres dormir? Eu fico aqui…até ele chegar. O teu noivo.
- É que me deram um calmante muito fraco…mas que me está a deixar cheia de sono…
- Dorme…daqui a nada entra aí o outro zarolho –
Ania riu-se, acabando por fechar os olhos – Obrigada, Ania.
- Não me agradeças, querida. Mas é bom que sejas mais duas mãos para ajudar com os bebés. Já que o zarolho do teu namorado só vai querer ensiná-los a ser jogadores de futebol.
- Eu ajudo…com todo o gosto.

Iara sorriu…percebendo que Ania a estava a aceitar, não só como namorada de André, mas como amiga. Iara tinha gostado de conhecer Ania…e sentia-se à vontade com ela.
A porta do quarto abriu-se e André olhou para Iara, que lhe fez sinal que fizesse pouco barulho. Levantou-se, indo na direcção de André.
- Ela adormeceu?
- Sim…deve estar cansada. E deve ter apanhado um susto enorme…
- Eles merecem um bocado de tempo sem stresses…primeiro foi o coma, agora isto…
- Preocupas-te com eles…como se fossem da tua família.
- Dei-me bem com o Marcos e a Ania desde o primeiro dia em que os conheci. São como irmãos –
Iara rodeou a cintura de André, mordendo-lhe o queixo.
- Tu és bom menino, quando queres.
- Pronto…podia vir só o elogio. O “quando queres” podia ser esquecido.
- Vá…és bom menino. Mas é só às vezes –
André olhou para o teto, voltando a olhar para Iara com um sorriso nos lábios.
- A exposição não está a ser assim tão má, pois não?
- Só estou exposta à Ania…nada mais. Mas não…até está a ser boa.
- Posso, então, começar a expor mais a minha namorada?
- Tipo o quê?
- Ires a jogos com ela…jantares de equipa…essas coisas.
- Podemos negociar os termos das coisas.
- Sabes uma coisa? –
Iara negou abanando a cabeça – Eu gosto muito de ti, Iara. Quer dizer…eu estou apaixonado por ti.
- Uau…num hospital começa o romantismo em ti. Foi à bocado, é agora…
- Queres que te diga o que? É verdade…e eu não quero esconder mais. Mesmo que não gostes de lamechices –
Iara calou-o com um beijo repleto de ternura. Vagueava com as suas mãos pelo corpo de André, sentindo cada pedaço das costas de André. Aquele beijo era apaixonado, repleto de amor e, pela primeira vez, Iara sentia-se com coragem de falar o que sentia a André. Abraçou-o, deixando os seus lábios perto do ouvido dele.
- Acredita…eu posso não gostar destas coisas, mas eu apaixono-me por ti todos os dias.



Eram cerca das seis da manhã quando Marcos chegou ao hospital. Saber que Ania não estava sozinha acabou por o tranquilizar…mas começava a assustar-se cada vez mais com aquela gravidez. E começava a ter sentimentos distintos em relação a tudo aquilo. Por mais que quisesse ser pai, não queria que a vida de Ania estivesse em causa.
André tinha-lhe dado todas as informações: o que tinha acontecido, a que horas tudo tinha acontecido, onde estavam e como é que ela estava. Marcos percebeu que André tentou ser o mais positivo que conseguiu, mas também percebia que ele estava assustado. Chegou à porta do quarto de Ania e, com a autorização da enfermeira, entrou. Tentou fazer pouco barulho ao fechar a porta, mas Ania acabou por acordar.
- Não os acordes… - Ania falou baixinho, já que André e Iara estavam a dormir já que, os dois, se tinham deitado na cama destinada ao acompanhante do paciente. Marcos deixou o saco que trazia, com coisas de Ania, no chão indo até à cama onde a sua namorada estava deitada.
- Ania…
- Está tudo bem…agora está tudo bem. É só ter mais cuidado, ainda mais.
- Mas Ania…tu podias ter perdido os bebés.
- Marcos, vamos ter de ter esse medo todos os dias. Sabes que é uma gravidez de risco… -
Ania levou a sua mão à de Marcos, que juntou a sua testa com a dela.
- Repouso absoluto, não?
- Sim. Mas nada daquelas preocupações exageradas, por favor. Vou ficar deitada na nossa cama, mas nada de andares sempre a ver se estou bem.
- Eu tenho de ver se estás bem…
- Marcos, mas nada de exageros. Iria sentir-me pior…
- Prometo que não serei assim tão exagerado… -
Marcos deu um pequeno beijo nos lábios de Ania, voltando a olhar para ela – os nossos filhos vão assustar-nos muito enquanto aí estiverem dentro, não vão?
- Pelo menos até às 14 semanas…é muito medo. Depois já deve ser só um bocadinho –
Marcos agarrou a mão de Ania, sentando-se ao lado dela.
- Então e…o André tem companhia?
- Longa história…mas o miúdo está apaixonado.
- E não nos dizia nada! –
Ania riu-se, vendo um sorriso formar-se nos lábios de Marcos. Os dois repararam que André se começou a mexer na cama, acabando mesmo por acordar e se levantar.
- Tu já cá estás… - André colocou as suas mãos nos ombros de Marcos, fazendo alguma força neles – puto rijo, miúda rija dão filhinhos rijinhos.
- E um André diferente do que estamos habituados… -
comentou Ania. Nos últimos tempos via um André diferente. Não sabia se era apenas por estar apaixonado, ou se a sua gravidez tinha ajudado André a expressar-se de outra maneira. Antes levava as coisas muito na brincadeira mas, de à uns tempos para cá, a brincadeira continua lá, mas acaba por ser reduzida.
- Estás enganada, cunhada emprestada. Isso é o soro que te está a deixar o cérebro líquido – Ania riu-se já que era impossível não o fazer quando André estava por perto.
- Vê lá como é que falas com a mãe dos meus filhos, oh. E…tens namorada, tu.
- É…então não é que tenho? Quem diria, não é Marcos? Eu sei…ficaste surpreendido porque pensavas que eu me ia declarar a ti. Esquece puto.
- Onde é que cabe tanta parvoíce?
- Em mim…sou o vosso parvalhão preferido. Mas, vá, vocês sabem que eu me preocupo com vocês, que tive um medo do caraças se lhe acontecesse alguma coisa…mas eu gosto de animar a malta.
- Ei… -
Marcos rodou o seu corpo, ficando a olhar para André – Obrigado por teres tomado conta deles.
- Na boa puto…podes contar comigo para o que quiseres. Aliás, vocês os dois.

- Obrigada – Ania acabou por falar, virando-se na cama. Começava a ficar cansada de não saber em que posição se deitar e aquela cama não era a sua.
São surpreendidos pela chegada de Iara junto deles. Ania olhava para ela e percebeu que a rapariga estava com sono mas até estava bem-disposta e com um sorriso nos lábios. Apresentaram-na a Marcos e, ela e André, acabaram por ir embora.



- Repouso absoluto, sabes o que isso é ou é preciso ir buscar o dicionário?
- Marcos, não sejas mau para mim –
Ania fingiu levar a mal aquela pergunta de Marcos. Percebia o que ele queria dizer com aquela pergunta.
- Saíste do hospital à dois dias…o médico disse para descansares e evitares andar de um lado para o outro – Marcos aproximou-se de Ania, que estava junto da bancada da cozinha, rodeando a cintura dela com os seus braços – e tu estás aqui, a andar de um lado para o outro, a preparar o jantar.
- Temos de jantar…
- Eu fazia o jantar agora…
- Mas…a Iara e o André vêm cá jantar.
- Olha, eu ainda te amarro à nossa cama. Tu tens de descansar, gordita
Marcos encostou a sua testa à de Ania, dando-lhe um beijo no nariz.
- Ontem e antes de ontem estive deitada todas as horas desses dois dias…mereço jantar na mesa, com o pai dos meus filhos e os nossos amigos, não?
- Então mas…vais sentar-te que eu acabo o jantar, oh mãe dos meus filhos.
- Não queimas o jantar?
- Sabes bem que sou um cozinheiro de excelência!
- É…qualquer dia deixas o futebol para ires para o MasterChef.
- Na…isso não acontecerá –
os dois riram-se e Ania acabou por se ir sentar no sofá da sala. Marcos andava entre a sala e a cozinha. Ora via como estava o jantar, ora punha a mesa e deitava um olho em Ania para ver o que ela andava a fazer.
A campainha tocou, deveriam ser Iara e André.
- Eu vou lá – disse Ania a Marcos que estava na cozinha. Ia a levantar-se, quando o namorado aparece na sala.
- Tu ficas sentada, eu abro a porta.
- Sinto-me uma inválida –
Ania barafustou, encostando-se no sofá. Era a primeira vez que Marcos ouvia Ania dizer tal coisa…ela, uma rapariga activa e sempre disposta a andar de um lado para o outro, de um momento para o outro ver-se assim…era normal que tivesse aquelas reacções, por vezes. Antes de ir abrir a porta, Marcos foi até ela, dando-lhe um beijo no topo da cabeça.
- Trouxe vinho para nós, sumo para a mãe das crianças – disse André depois de Marcos lhe abrir a porta, entregando-lhe um saco que trazia.
- Entrem, sintam-se à vontade, ali a grávida pode não estar com o melhor humor…mas é compreensível. Tenho de ir ver do nosso jantar – Marcos fechou a porta, deixando André e Iara na sala com Ania. Antes que ela se pudesse levantar, já tinha André e Iara sentados a seu lado e, cada um a cumprimentou com dois beijos.
- Repouso absoluto é difícil… - começou Iara.
- Não é difícil…é horrível. Eu já não sabia como estar naquela cama. Já me doía o rabo, as ancas, os braços…eu sei lá…é horrível.
- Pensa que é para o bem desses bebés…
- Se não fosse isso…podem crer que já me tinha posto a andar à mais tempo.
- Oh rapariga, tu vê lá. Esses putos ainda são muito pequeninos e não podem andar aí a curtir a vida como a mãe queria, tá?
- Sim, tá oh tio que curte a vida –
os três riram-se e André acabou por ir ter com Marcos à cozinha – como é que andam as coisas entre vocês?
- Acho que bem…pelo menos tivemos uma conversa muito sincera e…vamos levar as coisas com tranquilidade e todo o amor que temos.
- Oh…que bonito. Se eu não estivesse mesmo chateada por causa deste repouso absoluto até devia chorar… -
Iara riu-se, numa primeira fase sozinha e depois com Ania.
- O chef Marcos manda dizer que o jantar será servido em cinco segundos. Quem não estiver na mesa não come e fica tudo para mim – avisou André, chegando à sala.
- Oh André…vens a casa alheia e ainda fazes ameaças? – Perguntou Iara, como que repreendendo André.
- Olha que as ameaças dele são só de boca…eu como por três, é impossível ele ficar com a comida toda para ele.
- Podemos é ficar todos com uma intoxicação alimentar…Ania, não era melhor encomendar qualquer coisa? –
Ania riu-se, levantando-se. Iara acabou por a ajudar a caminhar até André.
- Fica sabendo que ele só pôs a comida ao lume…eu é que fiz os temperos e tudo o resto.
- Grande mentiroso me saíste! –
André gritou, indo até à sala de jantar. As duas raparigas foram também, mas mais devagar.
- Que é que interessa? Fui eu que pus ao lume, logo fui eu que vi quando é que estava pronto – Ania e Iara perceberam que eles estavam a “discutir” sobre o assunto de quem teria feito ou não o jantar.
Cheirava bem e tinha bom aspecto. Todos se sentaram à mesa e prepararam-se para jantar.
- Acho que devias por mais um bocadinho no prato da tua mulher, Marcos – comentou André.
- Eu tenho comida que chegue… - disse Ania.
- Não eras tu que estavas a dizer que comias por três? Isso não deve chegar para ti e os miúdos.
- Queres mesmo ver-me uma baleia, não é?
- Olha que devia ser interessante… -
Ania estava incrédula com aquela conversa de André. Olhou para Marcos, sem saber se André estaria a brincar ou a falar a sério – Eu estou a brincar, como é óbvio.
- Oh André, isso não são coisas que se digam a uma grávida, desculpa lá. Não são vocês que ficam todos inchados e com quilos a mais. Não são vocês que ficam com aquelas vontades loucas de comer este mundo e o outro mas depois olham para o peso e sentem-se mal –
foi Iara quem respondeu a André…deixando todos surpreendidos – boa…deixem-me levar pelo sentimento. Desculpem lá.
- Até parece que sabes o que é estar grávida…
- Não sei…mas entendo-as.
- Lição anotada: tratar grávidas como mulheres lindas que sempre foram, não dizer para comerem mais e manter tudo como se não houvessem crises. Ai de ti que, quando engravidares, me digas o contrário –
Iara ficou mais vermelha que um tomate e Ania só se conseguia rir.
Estar com outras pessoas estava a fazer-lhe bem, estava a deixá-la mais bem-disposta e com um novo fôlego.



As catorze semanas de gestação chegaram tranquilas e vividas com muita calma. Era um novo marco naquela gravidez. Tinham conseguido manter os dois gémeos vivos. Um desenvolvia-se menos que o outro, mas tudo parecia estar a dar certo. Ainda não sabiam o sexo dos bebés, segundo o que o médico lhes dizia, talvez mais duas semanas de gestação e poderiam saber.
O mês de Março estava no princípio mas seria um mês especial. De várias maneiras. Seria o mês em que iriam saber o sexo dos gémeos, o mês em que Marcos faria anos. Iria fazer 23 e Ania já tinha combinado com Carina que ela e os irmãos de Marcos viriam a Portugal passar alguns dias com eles, para celebrarem o aniversário. Março será o mês onde tudo poderá acontecer. Será aquele mês de todas as decisões e de todos os acontecimentos.



Olá meninas!
Aqui vos deixo mais um capítulo (não sei se será o último do ano...mas terça-feira terão qualquer prendinha de Natal antecipada).
Espero que tenham gostado do capítulo e que deixem as vossas opiniões que, nesta fase, são importantes. Questiono-me se estão a gostar do caminho que a história está a levar...
Tenham um bom domingo e, se for caso disso, BOAS FÉRIAS!
Beijinhos.

Ana Patrícia

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

34º Capitulo: “Olha só não me chateio contigo porque até sou teu noivo!”

- Acabaste de dizer que eu estava preparado para a resposta…e dizes que não? Eu não estava preparado para isso…não depois de tudo o que vivemos – Marcos levantou-se, começando a andar de um lado para o outro – ao fim de três anos juntos, de tanta coisa que passámos…eu pensei que estavas preparada. Eu pensei que tivesses um sim para mim. E tu tens um não!
- Podes ter calma e sentar-te aqui, se faz favor? – Marcos olhou para Ania vendo algo que não esperava. Ela sorria, estava verdadeiramente feliz e ele não conseguia entender o porquê.
Marcos acedeu ao pedido de Ania, sentando-se ao fundo da cama em frente dela.
- Estás calmo?
- Não.
- E podes ficar?
- Posso…mas fala. Diz qualquer coisa…para além de um não. Explica-me porque é que não queres casar comigo…
- Eu achei isto… -
Ania esticou-se até à mesa-de-cabeceira, retirando de lá uma caixa. Marcos reconheceu-a. Era a caixa que continha o anel que pretendia oferecer a Ania para oficializar o noivado – E eu quero este anel que está cá dentro – Ania abriu a pequena caixa e Marcos não viu o que esperava. Não estava lá o anel, o anel que ele tinha comprado a pensar na sua Ania.
- O anel…?
- Está…aqui –
por dentro da camisola do pijama, Ania retira o fio que tinha lá dentro. Pendurado nele, estava o anel – encontrei-o à uma semana por aí, coloquei-o aqui e tu não deste conta. Eu sinto-me já casada contigo…eu jurei que iria ficar contigo para sempre. Eu sei que queres ser romântico, sei que queres o meu sim…mas eu já te dei esse sim. Dei o sim quando me pediste em namoro, dei o sim quando fui viver para Moscovo, dei o sim quando vim para Portugal e dei o sim quando disse que queria ser a mãe dos teus filhos – Ania aproximou-se de Marcos, retirou o fio do pescoço retirando o anel do mesmo. Pegou na mão de Marcos, depositando o anel no centro da mesma – eu só disse que não para te assustar – Ania riu-se sozinha, reparando que Marcos não alterava a sua expressão misteriosa. Não conseguia decifrar o que ia na cabeça dele – já vi que não teve piada…mas sim, eu quero, e muito, casar contigo.
- Olha só não me chateio contigo porque até sou teu noivo! – Desta vez foi Marcos que se riu sozinho, já que não deu tempo a Ania que o fizesse. Beijou-a, completamente apaixonado.
Os dois perderam a noção do tempo, aproveitando apenas para namorarem. Era um momento de felicidade aquele que viviam, era um momento deles e só deles. Não se preocuparam com o amanhã. O presente era o que mais lhes interessava.



- Ei oh André, tu mata-te! – Ania estava com André Carrillo na bancada do estádio José Alvalade. O campeonato tinha recomeçado, estavam já a meio do mês de Janeiro. Ania estava com Carrillo, já que ele estava castigado e, como não tinha namorada, ficou com a “cunhada emprestada” como ele próprio dizia.
- Vais negar? Esta gente não está a brincar, ainda te matam o namorado.
- É noivo para tua informação…
- Já deram, finalmente, esse passo?
- Já. Sim obrigada, estamos muito felizes. Mas escusas de estar aí a dizer que vais furar os pneus aos da equipa contrária.
- Sim, exagerei…mas vá, tu curtes de mim.
- Não. Estás muito e completamente enganado!
- A serio? –
Carrillo olhou-a surpreendido – Tu não gostas de mim?
- Só gosto do meu noivo.
- Oh cunhada emprestada…eu não me estava a referir a isso.
- Eu sei…se gostasses de mim de outra maneira…o Marcos era capaz de se passar.

Ania riu-se, olhando para o cronómetro que marcava os minutos em que ia o jogo. Faltavam dois minutos para o intervalo e, no seu íntimo, estava cansada de ali estar.
- Tu hoje não estás muito animada…
- Coisas de grávida.
- Coisas de que!? –
Ania tinha-se esquecido completamente que a sua gravidez era, ainda, segredo. Carrillo quase que tinha gritado com ela, chegando-se para a frente na cadeira.
- Oh meu Deus…já meti a pata na poça…
- Tu estás grávida? E porque é que o puto não me contou nada?
- André…era segredo. Porque é tudo muito recente e é tudo muito…perigoso.
- Estás com uma gravidez de risco? O bebé está bem?
- Oh meu Deus…parecias o meu pai agora…

- Responde!
- Sim…é gravidez de risco, mas o bebé está bem. Só temos é de ter calma e esperar que cheguem as 14 semanas para que se estabilize tudo.
- Parabéns! Eu vou ser tio! –
Carrillo encostou-se na cadeira e os dois olharam o relvado. Era canto…e foi golo de Marcos.
Tanto um como o outro celebraram aquele golo e Ania ganhou alguma vontade de ver a segunda parte do jogo. Teria de esperar 15 minutos para que isso acontecesse mas tinha sido bom contar a alguém que estava grávida. Nem Valentina sabia…e o facto de ter sido Carrillo o primeiro a saber, até faz com que seja tudo mais especial.
- Então tu para a semana não vais para o Porto.
- Não. O castigo é de dois jogos.
- Não sabias fazer uma falta menos escandalosa?
- Também tu? O teu Marcos já me disse a mesma coisa…
- Vês? Só queremos o bem da equipa…
- Pronto, sim, mas não precisam de bater mais no ceguinho –
Ania riu-se, ajeitando-se na cadeira. Aqueles quinze minutos dos intervalos, eram os que custavam mais a passar num jogo.
A época não estava a correr da melhor forma ao Sporting. Estavam em quinto lugar e somaram mais uma derrota com aquele jogo. Todos percebiam que os adeptos queriam e precisavam de mais, a equipa ainda tentava mas, no fim dos jogos, acabava por se perder e, algumas vezes, deixava que o adversário ou empatasse, ou acabasse por vencer o jogo.
Ania começava a ficar preocupada. Marcos, fazia o seu papel dentro de campo mas, quando perdiam ou empatavam, ele acabava por se tornar uma pessoa mais distante. Passava o resto do dia de mau humor e, nas manhãs seguintes a cada jogo, não queria falar com ninguém. Ia para o jardim de casa, dava uns toques na bola, corria e só assim voltava a ser o Marcos animado e bem-disposto.
Estava na garagem à espera dele, juntamente com André.
- O Marcos deve vir todo mal disposto…
- Ainda bem que vais jantar lá a casa…
- Ele fica mal disposto por muito tempo? É que no balneário entendesse…mas em casa, não sei, podia ser diferente.
- Não. O Marcos só volta a estar bem-disposto amanhã ou assim.
- Ai coitada de ti…com um noivo assim, eu mandava-o passear –
Ania olhou para André com um certo desdém…não queria acreditar que André tivesse dito aquilo – eu estou a brincar…fogo, tu levas tudo a sério, não dá para brincar?
- Com esses assuntos não, não dá.
- Pronto, peço desculpa oh Ania quase Rojo e mãe do meu sobrinho.
- Era tão engraçado que fosse sobrinha.
- Não agoires…eu preciso de um companheiro novo e tem de treinar comigo. Não pode ser defesa como o pai, mas sim atacante aqui como o tio.
- Oh meu Deus…isto está tão bonito, mas vamos com calma que ainda pode acontecer muita coisa.
- Não tenhas medo, cunhada emprestada. O puto é forte –
André passou com um dos seus braços por cima dos ombros de Ania, dando-lhe um pequeno beijo na testa. Ania sentia, de uma forma estranha, que André era um irmão de Marcos. Pelo menos faziam tudo para que parecesse.
- Fazes o favor de largar a minha namorada? – a voz triste, chateada e baixa de Marcos fez-se ouvir. Tanto Ania como André perceberam que ele estava em baixo. André afastou-se de Ania, olhando para Marcos.
- Não tenhas medo que eu não te roubo a mãe dos teus filhos – Marcos olhou para Ania, tentando perceber se ela teria contado algo a André.
- Acabei por me descair enquanto estávamos a ver o jogo…mas é ele. Não faz mal, pois não?
- Não…claro que não.
- Parabéns, puto –
André acabou por o abraçar e Marcos sorriu. Ania viu aquele sorriso, viu, em Marcos, a felicidade que em outros dias não existia.
Depois de deixarem o estádio, foram até casa onde, os três, tiveram um jantar tranquilo e, até, animado.



- Não ficaste chateado por ter contado ao André, pois não? – Perguntou Ania, ao deitar-se.
- Não…claro que não. Eu dou-me bem com ele, e tu também. Mas tens de ter cuidado…não podemos espalhar muito a notícia.
- Sim, eu sei disso. Marcos…tu hoje estás diferente.
- Estou? –
Marcos deitou-se, também, agarrando no comando da televisão.
- Sim…não estás tão chateado e aborrecido como das outras derrotas…
- Há coisas que nos fazem mudar a maneira como vemos as coisas… -
Marcos olhou para Ania, percebendo que ela não estava a entender o que ele dizia – as derrotas…os empates e as vitórias fazem parte de um percurso profissional…mas, neste momento, eu consigo perceber que o percurso pessoal não pode sofrer com o meu estado de espírito. Nem tu, nem o nosso bebé têm culpa de jogos menos conseguidos…eu tenho de ser o vosso Marcos. E não aquele que está em campo. Há que saber distinguir os dois lados – Ania sorria. Percebia que Marcos estava a querer dizer-lhe que esta a tentar mudar…por ela e pelo filho de ambos – é claro que me sinto frustrado por não estarmos a conseguir dar aos adeptos alegrias…mas aqui, nesta casa, eu sou feliz com vocês. E é só isso que me importa agora.
Ania rodeou o pescoço de Marcos com os seus braços, puxando-o para junto dela. Marcos acabou por inclinar o seu tronco na direcção de Ania, ficando quase em cima dela.
- Estás mais maduro, Marcos. Estás a crescer e, acredita, que é um privilégio passar dias, horas, minutos e todos os segundos do teu lado ao longo destes três anos. Nunca irei conseguir amar ninguém como te amo a ti…mas sei que vou amar o nosso filho de outra maneira…não sei se estou preparada, sabes? Tenho medo do que possa acontecer nesta gravidez, tenho medo de tudo o que possa acontecer daqui para a frente – Ania era o mais sincera que conseguia ser com Marcos. Precisava de desabafar aquilo com ele…era algo que estava preso dentro dela – mas sentir-te assim, confiante na mudança e no nosso presente, acabou por diminuir um bocadinho desse medo. Prometes que…aconteça o que acontecer com a gravidez, se alguma coisa mudar no que sintas por mim, tu me dizes?
- Tu tens medo que eu te deixe, caso não consigamos ter este bebé?
- Acho que sim…
- Não tenhas. Vou fazer-te minha mulher para o resto das nossas vidas. Eu não consigo imaginar a minha vida sem ti…não depois de tudo o que já vivemos e de todos os planos que temos para o futuro.
- Somos tão lamechas…
- E tarados quando queremos –
Ania riu-se, acabando por ver, no rosto de Marcos, aquela expressão de quem estava disposto a ser mais atrevido. As mãos de Marcos acabaram por confirmar aquela suspeita - E queres agora…essa cara nunca me enganou…mas oh Marquitos…
- Oh não. Vai dar-me uma tampa.
- Acho que vou, boneco. Estou cansada, mesmo muito cansada.
- Então é melhor mesmo dares-me uma tampa. Tens de descansar –
os dois acabaram por trocar um longo e apaixonado beijo, acabando por ficarem nos braços um do outro, enquanto viam televisão.



- Oh meu Deus, eu estou tão atrasada! – Ania olhava para as horas que o relógio da sala de Valentina marcava. Já deveria estar à porta do centro de treino do Sporting, para ir buscar Marcos.
- Estás atrasada? Para que? – Valentina estava a estranhar, raramente via Ania andar de um lado para o outro, ou até mesmo chegar atrasada a algum lado.
- Tenho de ir buscar o Marcos. Vamos ao médico.
- Ah…tens consulta por causa dos tratamentos.
- Não! –
Ania olhou para Valentina, reparando que ela a olhava desconfiada. Não, não lhe vais dizer…não podes dizê-lo.Quer dizer, é mais ou menos. É só rotina…hoje não há tratamento.
- Então é melhor ires…o treino deve estar mesmo a acabar –
Ania acabou por ficar aliviada…Valentina parecia não ter desconfiado de nada…por um lado sentia que estava a enganar a amiga, a sua grande amiga. Mas, por outro lado…quanto menos pessoas soubessem, se não desse certo seriam menos pessoas a sofrer com aquela perda.
Ania despediu-se de Valentina e do pequeno Diego e foi até ao seu carro. A sorte era que morava perto e em quinze minutos já estava a dar entrada na academia. Ao longe, viu Marcos à porta a olhar para o relógio. Parou o carro perto dele, saiu do mesmo, dirigindo-se ao namorado dando-lhe um beijo apressado mas carregado de amor.
- Estive à conversa com a Valentina. O Diego estava por perto. Perdi a noção das horas. Desculpa – Ania respirou fundo, tentando controlar a respiração ofegante que tinha – Agora levas tu o carro, sim?
- Acalma-te primeiro, sim?
- Estou calma…foi da pressa. Temos de ir.
- Sim, vamos lá –
Marcos deu-lhe um beijo na testa e os dois entraram no carro – vais dizer ao médico que te andas a sentir mais cansada, não vais?
- Vou Marcos…eu não posso esconder nada destes pormenores.
- Mesmo que não dissesses, eu dizia.
- Então pronto…não podemos mesmo esconder nada. Marcos…e se houver algum problema? –
Ania sentia-se demasiado ansiosa e nervosa com aquela ecografia e com os resultados das análises. O cansaço que sentia nos últimos dois dias era fora do normal, já que ela quase não fazia nada.
- Não vamos já pensar negativo…o que for iremos saber dentro de pouco tempo. Mas não penses que é algo mau… - Marcos tentava ser positivo para Ania mas, no seu íntimo, também ele estava com medo de que algo estivesse errado, que aquela consulta acabasse por se revelar um pesadelo para ambos. Agarrou na mão de Ania, beijando-a.
Em cerca de quarenta minutos já estavam na clínica onde o médico os ia receber. Estavam em cima da hora e acabaram por ir logo à recepção. A senhora, simpática e atenciosa, disse-lhes para irem para o consultório do médico, já que ele já os esperava. Foi Marcos quem bateu a porta e a abriu, depois de o médico lhes dar licença para entrarem.
- Vejam só se não são os meus pacientes preferidos… - o Dr. Castro era sempre muito atencioso com eles. Já os conhecia desde que Ania tinha saído do hospital e a relação entre os três era muito aberta e de confiança.
Depois de cumprimentarem o médico, Ania e Marcos sentaram-se nas duas cadeiras que estavam em frente da secretária.
- Vamos lá, então, começar com as perguntas: como é que foi esta semana que passou?
- Eu tenho andado muito cansada nestes últimos dias…e quase não faço nada. Tenho ficado só por casa e o Marcos sabe que tenho feito algum repouso.
- Sim, é verdade, doutor.
- Bom…isso é capaz de ser normal. Mas ainda bem que falaram disso. Vamos já fazer as análises para termos os resultados depois de ecografia, sim?
- Claro.
- Então…vou chamar a enfermeira para te acompanhar –
o médico agarrou no telefone, iniciando a chamada. Em pouco tempo a enfermeira já estava no gabinete do médico e foi, com Ania, até ao gabinete das análises.
Enquanto isso, o Dr. Castro ficou com Marcos no gabinete:
- Tens notado algo diferente, para além deste cansaço dos últimos dias?
- Acho que as mudanças de humor são normais, certo?
- Sim…isso é normal que aconteça.
- Mas, mais do que isso não. Está tudo normal…
- Eu não vos disse nada a semana passada, mas havia uma pequena mancha a formar-se dentro da placenta –
uma mancha…? Uma mancha não deverá ser bom…
- Porque é que não nos disse nada…isso não pode ser perigoso?
- Calma…os exames que a Ania fez, depois dessa ecografia, foram muito claros. A mancha não revela qualquer problema para a Ania, nem para o bebé.
- Então…o que é essa mancha?
- É o que vamos confirmar hoje…eu não vos quis assustar na altura. Entendes?
- Sim…
- Preferi analisar bem os exames que ela fez, ver em detalhe cada um e agora falar convosco. Daí ter adiantado a consulta.
- Mas está tudo bem?
- Sim. Está tudo bem, mas vamos esperar por ela –
Marcos sentiu um certo alivio…mas não conseguia relaxar por completo. Ania voltou ao consultório, minutos depois. Já tinha feito as análises e iriam esperar pelos resultados das mesmas – vamos já fazer a ecografia para depois falarmos um bocadinho – o médico não deixou Ania sentar-se, já que se levantou antes que ela o pudesse fazer. Foram para outro espaço daquele gabinete, onde se realizavam as ecografias.
Ania deitou-se na maca, Marcos sentou-se ao lado dela e o médico do outro lado a ligar a máquina.
- Doutor…as análises de hoje foram diferentes.
- Sim, eu sei Ania. Precisamos de analisar tudo. Não só o teu sangue e a questão hormonal, mas também outros aspectos.
- Sabe…estou a ficar assustada. Está tudo bem?
- Enquanto estiveste a fazer as análises, eu estive a falar com o Marcos…há uma mancha que se está a formar ao lado do embrião. Dentro da placenta.
- Eu sabia que algo estava mal…eu sabia –
Ania sentia o seu coração parado, era como se a estivessem a matar naquele momento. Sentiu as lágrimas escorrerem-lhe pelo rosto e Marcos a limpá-las.
- Vamos começar a ecografia e eu já digo o resto, mas vamos ter calma, sim mamã? Está tudo bem…te garanto – Ania não sabia mais o que pensar…uma mancha não seria um bom sinal…mas se o médico lhe estava a dizer que estava tudo bem…é porque deveria mesmo estar. Ania acabou por levantar a camisola e sentir o gel frio que o médico lhe pôs na barriga. Quando o médico começou a passar com o aparelho sobre a barriga, Ania sentiu que estava tudo a acontecer naquele instante, que era real.
As imagens começaram a aparecer e, enquanto que o médico as olhava com o seu olhar clínico, Ania e Marcos olhavam para o pequeno ecrã com amor. Era o filho de ambos que estava ali, era a segunda vez que o viam mas era a primeira que o viam com o amor de pais que lhe tinham para dar.
Marcos olhou para Ania, percebendo que ela tinha parado de chorar e que tinha um sorriso estampado no rosto.
- Então vamos às explicações – o médico deixou o aparelho na barriga de Ania num sítio específico, começando a apontar para o ecrã – isto é a placenta e é na placenta que se desenvolve o feto – para Ania, aquela conversa não estava a fazer sentido…eles sabiam que era na placenta que se desenvolvia o feto – isto é o feto, de sete semanas. E, aqui do lado, temos a tal mancha que eu referi à pouco – o médico apontou para essa tal mancha – isto é um feto de sete semanas, menos desenvolvido – o médico olhou para Ania e Marcos, que o olhavam um pouco assustados – gémeos, monozigóticos a crescerem os dois juntos. Isto requer mais cuidados, mais atenção a toda a gravidez porque é muito mais frágil. Com os tratamentos que fizeste, estes casos acabam por ser normais de acontecer. São imensas as mulheres que engravidam, depois de fazerem os tratamentos, e são gémeos. Mas, esse cansaço que sentes, poderá ser preocupante, daí ter pedido para fazeres novas análises e mais detalhadas. Através da ecografia, os dois estão bem. Um está mais desenvolvido que o outro, mas estão bem. Vocês querem ouvir os corações dos fetos?
- É possível?
- Claro que é –
em poucos minutos foi possível ouvirem aquele som estrondoso para os ouvidos de Ania e Marcos.
Era um som diferente daquele a que estavam habituados quando ouviam o coração um do outro. Eram dois corações a baterem em simultâneo, dois corações dos seus dois bebés. Não haviam palavras que descrevessem aquele momento que os dois viviam…por muito medo que tivessem…eram felizes.



- Tens a certeza que não queres vir cá para casa? – Perguntava Valentina ao telemóvel. Era dia do clássico no Porto e Ania estaria em casa sozinha.
- Sim. Eu estou aqui bem no quentinho, estou cansada. Não leves a mal…
- Claro que não, doida. Mas, se precisares de algo, sou tua vizinha da frente.
- Sim, eu sei. Obrigada –
Ania desligou a chamada, deitando-se no sofá. Estava cansada, muito cansada mesmo. E a sentir uma picadas estranhas na barriga. O medo invadia-a, mas optou por relaxar deitando-se.
Viu o jogo sozinha, reclamando com o árbitro e os jogadores. Foi um jogo emocionante de se ver, várias oportunidades para ambos os lados, alguns erros de arbitragem e outros da própria equipa.
Queria esperar por Marcos, mas sabia que ele só chegaria por volta das cinco da manhã. Foi deitar-se, sentindo um enorme desconforto. Aquelas picadas na barriga não desapareciam e cada vez mais a assustavam. Decidiu, por impulso, ligar ao seu médico.
- Ania? Estás bem?
- Doutor, desculpe estar a ligar a estas horas…mas é que eu estou sozinha e está a acontecer qualquer coisa.
- O que é que está a acontecer?
- Estou com uma espécie de picadas na barriga…
- Ania, preciso que vás ter comigo ao hospital. Precisamos de ver se está tudo bem. Diz-me uma coisa: perdeste sangue?
- Não…são mesmo só as picadas –
sim, temos razões para começar a entrar em pânico.
- Encontramo-nos no hospital dentro de quarenta minutos, pode ser?
- Sim, claro. Obrigada, Dr. Castro.
- De nada. E tenta manter-te calma.
- Vou tentar –
Ania desligou a chamada, saindo da cama.
Iria precisar de alguém para a levar ao hospital. Não iria pedir a Valentina. Para além de ela não saber, a estas horas o pequeno Diego já estaria a dormir e iria incomodar ao telefonar para ela.
Só tinha uma hipótese: telefonar a André. Não a atendeu a primeira, só na segunda tentativa é que o fez.
- Cunhada emprestada…para estares a ligar duas vezes é porque é grave. Que se passa?
- Desculpa, André. Não queria incomodar…mas preciso de ir para o hospital, não estou em condições de conduzir…
- Estou aí em dez minutos.
- Obrigada –
André desligou a chamada e Ania vestiu outras calças e um casaco. Foi até à sala, colocou todos os seus documentos na mala e foi surpreendida pelo som da campainha. Com algumas dificuldades foi abrir a porta. Era André.
- O que é que se passa?
- Não sei…mas tenho medo que os gémeos estejam em perigo…
- Gémeos...isso eu ainda não sabia.
- Nós soubemos à três dias…
- Vamos ter calma, sim. Vá, tens tudo?
- Tenho.
- Anda lá –
André colocou a sua mão nas costas de Ania e os dois saíram de casa – tens as chaves?
- Não…estão em cima da mesa na sala…
- Eu vou lá –
André entrou em casa de Ania e Marcos, foi buscar as chaves, voltando ao exterior. Fechou a porta e levou Ania até ao carro.
Abriu-lhe a porta do banco de trás e ajudou-a a entrar. Enquanto André dava a volta ao carro…Ania teve tempo suficiente para estranhar a presença feminina naquele carro. André não tinha namorada…pelo menos nunca o tinha assumido à frente deles. E…já se conheciam à algum tempo.
André entrou no carro, ligou-o e começou a conduzir.
- Sou capaz de ter estragado a noite…peço desculpa – Ania acabou por falar, já que André não dizia nada. Estava intrigada com tudo aquilo.
- És capaz de ter estragado sim…mas os meus sobrinhos precisam de ajuda. É a Iara, estamos a conhecer-nos mas pode dizer-se que somos namorados. Iara, é a Ania, noiva do Marcos. Aquele que eu te falei que ia ser pai.
- Sim, sim…olá Ania.
- Olá Iara…e desculpa. Já percebi que se deviam estar a conhecer.
- Mesmo a caminho do hospital estás aí com pensamentos sujos. Que vergonha, Ania! –
Ania franziu o sobrolho, olhando para André através do espelho retrovisor – Não confirmo, nem desminto. Os meus sobrinhos não precisam de saber essas coisas. 
Por momentos, Ania conseguia esquecer um pouco o medo que tinha. E era tanto. E se…algum dos embriões estivesse em risco? E se…estivessem os dois em perigo? E se…aquelas picadas que sentia na barriga…fossem consequência de um aborto?


Olá meninas!
Chegou ao fim o 34º capitulo...que tal? O que estão a achar de todas estas novidades e reviravoltas na história?
Fico à espera dos vossos comentários.
Muitos beijinhos e obrigada por estarem desse lado.
Ana Patrícia.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

33º Capitulo: “Ania, precisamos de ter certezas.”

- Ania…se estivesses grávida os médicos teriam dito algo… - Marcos ajoelhou-se à frente de Ania, agarrando-lhe nas mãos – Porque é que fizeste o teste…se já sabíamos que era negativo? – Marcos tentava obter uma reacção de Ania. Ela estava a chorar, tinha lágrimas grossas a caírem-lhe pela cara e Marcos já não sabia o que dizer…
- Não deu negativo, Marcos… - Ania falou, fazendo com que Marcos ficasse completamente atónito com o que ouviu – Eu não sei como, nem porque é que isto passou despercebido aos médicos…mas eu estou grávida.
- Tens a certeza?
- É o que diz no teste…
- E se for engano? O médico disse que esses testes erram muitas vezes. Vamos ao hospital.
- Não! Por favor não…
- Ania, precisamos de ter certezas.
- Esta é a certeza que eu quero ter…deu positivo, Marcos.
- Ania, gordita…se for certo, no hospital vamos ter as certezas absolutas.
- É Natal, não vamos para o hospital por causa disto… - Ania limpou a cara, metendo o teste dentro da caixa.
- Por favor…eu peço-te. Imploro-te!
- E…se for negativo? Se der negativo, Marcos?
- Eu vou estar contigo…mas precisamos mesmo de saber com certezas.
- Está bem… - Ania sabia que era o mais correcto a fazer…teria de ceder.
Marcos deu-lhe um pequeno beijo na testa e os dois saíram do quarto indo até à sala. Avisaram todos que iriam comprar uma ultima prenda…não queriam que se soubesse o que realmente iam fazer.
Enquanto faziam o caminho de casa até ao hospital, Ania ligou ao seu ginecologista em La Plata. O seu médico estava no hospital e pediu logo a Ania que, quando chegasse, fosse ter com ele.
Assim foi. Chegaram ao hospital e Ania foi ter com o seu médico. Fez logo análises que foram pedidas com a máxima urgência. Tiveram de esperar cerca de duas horas pelo resultado das mesmas.
- Menina Gottardi? – uma enfermeira chegou perto de Ania, despertando-a para a realidade – As suas análises estão prontas…
- Marcos…vai lá tu… - Ania olhou para o namorado com um certo receio de saber o que estava naqueles resultados. Marcos levantou-se, deu-lhe um beijo na testa indo com a enfermeira até ao consultório do médico.
Ania esperou, esperou e desesperou pelo regresso de Marcos. O namorado esteve quase meia hora com o médico e voltou com uns papéis na mão e uma cara que Ania não conseguia decifrar o que se tinha passado. Levantou-se, precipitando-se na direcção dele.
- Então? Porque é que estiveste lá dentro tanto tempo? Está tudo bem? Qual é o resultado? – Ania disparava perguntas na direcção de Marcos e ele não reagia – Joder! Habla conmigo! – Ania gritou quase em desespero. Ela precisava de saber o que se passava…
- Preciso de ar…podemos ir até lá fora?
- Marcos…
- Acalma-te…fica calma, por favor. Mas vamos até lá fora – Marcos agarrou na mão de Ania, caminhando com ela até ao exterior do hospital.
Caminharam até uns bancos e sentaram-se lado a lado.
- Eu estou calma…podes falar agora?
- Sim…bom, o teu médico daqui vai enviar muita informação ao teu médico de Lisboa…e não podemos passar cá a passagem de ano.
- Porque…? – Estava previsto passarem a passagem de ano em La Plata e, só depois regressarem a Lisboa.
- Temos de ir para Lisboa. Nas análises, o médico reparou que tens os níveis todos muito alterados. Nenhum está a bater certo, com as hormonas é normal. Mas…o médico disse que… - Marcos agarrou nas mãos de Ania, soltando uma lágrima – o médico disse que era recomendável irmos para Lisboa já, para fazeres mais análises, para o teu médico acompanhar de perto a nossa…gravidez. Estás grávida, gordita Marcos abriu um sincero sorriso, estava demasiado emocionado com lágrimas a caírem-lhe pela cara. Ania começava também a chorar e só conseguiu abraçar Marcos naquele momento.
- Eu…eu não acredito.
- Acredita que é verdade, gordita. Vamos ser pais…mas… - Ania sentiu o seu coração tremer…soltou Marcos, olhando-o – o médico diz que é uma gravidez de risco por causa das tuas hormonas. É um caso completamente estranho e raro...e os médicos, nestas ocasiões, aconselham todo o cuidado durante a gravidez. Neste momento é importante fazer ecografias para ver se o feto não está em perigo.
- Nós conseguimos Marcos… - Ania ouviu aquilo que Marcos lhe disse, estava consciente de que iria ser uma etapa complicada, mas só estava concentrada na felicidade que sentia naquele momento – nós vamos ser pais…
- Vamos sim, Cinderela. É só mais um passo rumo à nossa eterna felicidade – os dois beijaram-se, ainda com algumas lágrimas a escorrerem-lhes pela cara.


- Ania, dá-me o teu copo, filha – Hugo pedia o copo de Ania para o encher com vinho.
- Não posso pai…
- Ai desculpa, não sabia que não podias beber. É por causa das injecções?
- Não… - estavam todos reunidos naquela mesa. Os pais de Ania, os seus irmãos e cunhadas. Estava, também, a mãe de Marcos e os irmãos deles. Ania levantou-se, deu a volta à mesa indo ter com Marcos, que estava sentado na sua frente. De imediato ele afastou a cadeira da mesa, dando espaço a Ania para se sentar no colo dele – Quando nós saímos à tarde e dissemos que íamos comprar uma prenda…nós não íamos realmente comprá-la…mas acabamos por faze-lo… - Marcos pegou num embrulho que mantinha debaixo da cadeira, colocando-o em cima da mesa.
- Ania, as prendas só são para abrir amanhã! – disse Carina.
- Nós precisamos de abrir esta hoje…é uma prenda de todos. É uma prenda que…nos vai fazer mais felizes – Ania olhou para Marcos – podes abrir?
- Claro – Marcos sorriu, deu um pequeno beijo na bochecha de Ania e começou a abrir a prenda.
Todo o papel que cobria aquela pequena caixa foi retirado e, aos olhos de todos, estavam umas pequenas botinhas de bebé.
- Eu estou grávida… - tanto Ania como Marcos, perceberam que estavam todos surpresos com aquela novidade.
Tanto a mãe de Ania, como a mãe de Marcos choravam, todos os felicitaram e aquela notícia, tinha conseguido fazer com que aquele Natal ficasse, para sempre, marcado nas vidas de todos.



- As análises que pedimos que fizesses não estavam focadas nos níveis essenciais para detectar uma gravidez. O nosso objectivo era ver como estava todo o teu sistema hormonal.
- Compreendo – Ania já estava com o seu médico à quase uma hora. Já tinham feito uma ecografia, tinha repetido as análises e, neste momento, estavam a ter uma conversa sobre tudo o que se iria passar. Marcos estava presente e fazia todas as perguntas que tinha na cabeça.
- Terei de acompanhar a tua gravidez com mais cuidado do que qualquer outra. Com as injecções que fizeste, podem haver várias complicações. Não te posso esconder isto. Neste momento está tudo controlado, nem tu nem o feto correm perigos. Mas temos de estar alertas – Ania começava a perceber que se tratava, realmente, de uma gravidez de risco – o primeiro trimestre é o mais importante. Assim que atingirmos as 14 semanas de gravidez, podemos ficar um pouco mais descansados – Ania estaria grávida de cerca de duas semanas. Ainda era muito frágil aquele ser que se criava dentro dela, que também estava frágil.
- Há algum cuidado especial que devamos ter, nesse tempo? – Perguntou Marcos.
- Evitar stress, evitar o esforço físico prolongado…não digo para fazeres repouso absoluto porque estaria a exagerar, mas convém que não andes muito tempo em pé, não te canses muito. Temos de garantir que ficarás bem. E o feto também.
- Doutor… - Marcos queria fazer outra pergunta, mas não se sentia muito à vontade – Sabe, nós somos jovens…e apaixonados um pelo outro. E…os bebés não vêm da cegonha… - naquele momento tanto o médico como Ania riram-se, porque perceberam onde Marcos queria chegar.
- Podem fazer a vossa vida de casal normalmente, mas com mais calma. Estas semanas que se seguem são decisivas para a gravidez da Ania. Têm mais alguma questão? – tanto Ania como Marcos acenaram negativamente com a cabeça – Vocês têm o meu contacto, podem ligar-me a qualquer hora. Vamos ter de fazer análises e ecografias todas as semanas, até chegarmos às 14. -  Ficaram ainda algum tempo a agendar as próximas consultas com o médico e só depois foram para casa. Ania colocou uma imagem no seu instagram, divulgando a sua felicidade, sem dizer que estavam à espera de um filho.


É um novo começo para nós. Mas, do teu lado, sou a mulher mais completa do mundo! Te amo, gordi.



Ania estava já deitada quando Marcos chegou ao quarto.
- Que é que estiveste a fazer? – Perguntou-lhe.
- Estive a ver os resumos dos jogos do Estudiantes…
- Por momentos pensei que me fosses dizer que andavas a ver o manual do pai… -
Ania começou a rir-se sozinha, já Marcos deitou-se ao lado de Ania.
- Vais continuar a gozar por eu querer comprar um livro para os pais?
- Só acho que isso não seja necessário, Marcos… -
Ania aninhou-se nele, que lhe deu um curto beijo nos lábios.
- Mas eu preciso de saber certas coisas. Preciso de saber mais sobre a gravidez…
- Marcos…temos um médico que nos explica tudo. Basta perguntares-lhe.
- Mesmo assim…eu vou comprar.
- Como queiras, gordi. Se é isso que queres…
- É…tu não vais comprar nenhum para ti?
- Não…vou esperar mais uns tempos Marcos.
- Tens medo? –
Ania sentou-se na cama, deixando que Marcos colocasse a sua cabeça por cima das suas pernas. De imediato começou a mexer-lhe no cabelo.
- Tenho…não te vou mentir. Assusta-me um bocado a ideia de que este bebé possa não chegar a nascer…
- Temos de ir com calma, não é?
- Sim…
- Então compramos os livros quando estiver tudo estabilizado…
- Estou mesmo a ver: compras os livros e não os lês…
- Eu leio… -
Marcos olhou seriamente para Ania, que percebeu que ele queria perguntar-lhe algo.
- Que se passa?
- Nada…
- Queres perguntar-me alguma coisa.
- Esqueço-me que a minha namorada me conhece demasiado bem… -
Marcos riu-se, sentando-se na cama – Eu quero, realmente, perguntar-te uma coisa…
- Diz.
- Quer dizer, podem ser duas.
- Marcos, pergunta –
Ania ficava um pouco curiosa para saber o que ele lhe queria perguntar.
- Bom…eu posso perguntar-te se queres casar comigo?
- Marcos… -
Ania riu-se, agarrando na mão dele – Acabaste de perder um bocado do romantismo…mas podes.
- Posso? Tens resposta para mim? – desde a primeira vez que Marcos tinha pedido Ania em casamento, ela sempre lhe disse que ainda não tinha uma resposta para lhe dar àquela pergunta.
- Tenho...e sei que estás preparado para ouvi-la.
- Ania, tu queres casar comigo? –
Marcos sorriu ao fazer aquela pergunta, não se sentia um romântico naquele momento, mas sabia que o tinha de fazer.
Ania sorriu-lhe, dando-lhe a resposta que tinha para ele.
- Não. 

domingo, 12 de outubro de 2014

32º Capitulo: “Já viste que ainda não paraste de comer?”



- Os resultados das análises estão muito alterados. Avaliamos o seu caso com todo o rigor e cuidado e, nos próximos dois meses, iremos começar com um tratamento hormonal – o fim do mês de Novembro tinha chegado e os resultados das análises que Ania havia feito também. Começava a nova etapa da vida do casal, começa o tratamento que poderia fazer com que Ania pudesse ter filhos.
- Como é que esse tratamento se faz? – Perguntou Marcos, um pouco impaciente. Ania olhou-o ficando admirada com o interesse do namorado…és tão especial.
- Bom, durante estes dois meses a Ania terá de, semanalmente, levar uma injecção com uma elevada dose de hormonas que, esperemos nós, vão permitir o desenvolvimento de mais hormonas, de células que possibilitem a fertilização.
- E…ao fim desse tempo ficará tudo bem? – Ania achava tudo aquilo muito estranho…não deveria ser assim tão rápido.
- Ania…vamos com calma – Marcos agarrou na mão da namorada e os dois olharam-se…ele tinha razão, Ania não poderia já pensar que tudo iria ficar bem.
- O seu companheiro tem razão…ao fim deste tempo do tratamento, voltamos a repetir análises, fazemos vários exames para ver em que estado está.
- Poderei fazer tudo normalmente durante esses dois meses?
- Sim. Claro que sim. Aliás deve mesmo fazer a sua vida normalmente, com tudo. E não se assuste se não tiver menstruação ou se esta for um pouco irregular. Faz parte do tratamento. Com as mudanças hormonais, os ciclos mudam.
- Certo. E…eu peço desculpa tanta pergunta mas, qual poderá ser o cenário com maior probabilidade de acontecer ao fim do tratamento?
- Ania, não lhe posso dar grandes esperanças que depois possam não ser a realidade. Mas é jovem, mesmo com o seu historial clínico, o aborto que teve…é uma pessoa saudável que poderá ter muito sucesso neste tratamento.
Seguiram-se mais algumas perguntas, outros esclarecimentos e Ania acabou por levar a primeira injecção. A partir de agora…são dois meses que nos separam de saber se poderemos ter um filho ou não. No fim de levar a injecção, Ania olhou a sua barriga, imaginando-a crescer e com um bebé no seu interior. Sorriu...esperançosa, com a esperança que esse dia aconteça. Mais tarde ou mais cedo…o importa é que seja possível que aconteça.

- O médico tinha razão… - comentou Marcos.
- No que?
- Já viste que ainda não paraste de comer? – o médico de Ania tinha avisado que era provável que, nos dois dias seguintes à injecção, o apetite de Ania aumentasse.
- Tenho fome, aquilo fez-me ficar com fome e eu preciso de me alimentar.
- De mim não te queres alimentar tu…
- Isso é que tu te enganas! O teu perfume está mais intenso, os teus braços estão mais forte, o teu corpo todo está diferente. Estás a deixar-me com imensa vontade sim e era aqui e agora, mas as nossas mães acabariam por chegar a qualquer momento – Marcos gargalhou com imensa vontade, quase que lhe faltando o ar. Estavam os dois sentados no sofá, Ania tinha uma tigela de cereais na mão que Marco decidiu retirar-lhe – o que é que tu estás a fazer, Marcos Rojo?
- Vamos só… - Marcos levantou-se, colocando-se sobre as pernas de Ania de frente para ela. Beijou-a sem qualquer preocupação, como se estivessem sozinhos em casa. Marcos beijava-a, passando as suas mãos pelo corpo dela. Ania fez o mesmo, levando as suas mãos ao interior da camisola de Marcos. Aquela proximidade era boa, quando menos esperavam havia uma iniciativa por parte de um ou outro que mexiam com todas as forças de ambos.
- Meninos! – a voz de Carina ecoou na sala. Marcos deixou-se ficar no colo de Ania, enterrando a sua cabeça no pescoço dela. Ania riu-se e, mantendo as mãos nas costas de Marcos abraçou-o – Desculpem…mas, também, podiam namorar noutro sítio…
- Madre! falando com um tom de voz doce, Marcos tentou que a sua mãe não continuasse.
- Pronto, pronto. Só queria dizer-vos que a Valentina ligou e nem quis que eu vos passasse o telefone.
- Mas aconteceu alguma coisa, sogrinha?
- Não, não meu anjo. Ela quer que nós os quatro jantemos em casa deles. E nem coloca pergunta que é para irmos mesmo.
- Sim, sim. Nós vamos, mami!
- Marcos, filho, daqui a nada partes a Ania toda com o teu peso. E depois…não há sexo para ninguém – ao ouvir o que a sua mãe dizia, Marcos olhou-a de imediato completamente surpreendido com aquilo. Ele, aliás eles…porque Ania também, estavam chocados – devem pensar que eu tive cinco filhos e acredito que eles vêm da cegonha! Eu e a Ortencia vamos fazer um bolinho para levar, vocês…vão arranjar-se que estão de pijama desde manhã! – as folgas de Marcos eram aproveitadas ao máximo em casa. Normalmente passavam o dia de pijama, em família, e só quando combinavam um programa diferente é que saiam de casa.
- A minha mãe anda muito saída da casca! – Marcos saiu de cima de Ania, sentando-se ao lado dela.
- A tua mãe está é mais à vontade connosco. Porque se tu és como és, a alguém tens de sair!
- A culpa é tua!
- Minha!? – Marcos levantou-se, estendendo a sua mão na direcção de Ania.
- Vamos tomar banho e eu explico-te?
Ania não contestou o pedido de Marcos agarrando apenas na mão dele, subindo até ao quarto. Despiram-se, entrando no duche.
- Vais-me explicar…ou só me quiseste trazer para o banho contigo?
- Quis trazer-te para o banho sim…mas eu passo a explicar – Marcos puxou Ania para o seu corpo, rodeando o corpo da namorada com os seus braços. Abriu a água quente, que caia nas suas costas – eu não sou santo nenhum, não é? Mas tu…tinhas aquele ar inocente e depois explodias com sensualidade e coisas porcas. E acabaste por me por à vontade, muito à vontade.
- Então se te ponho à vontade…faz-me tua. Aqui e agora.
Efeitos secundários da injecção: aumento do apetite.

Carina e Ortencia na frente de Marcos e Ania, uma segurando o bolo e outra tocou à campainha. Marcos e Ania iam atrás, de mãos dadas saboreando beijos inesperados.
Viverem frente-a-frente com Valentina e Valentín facilitava as coisas. Não precisavam de carro, nem de se preocuparem com as horas. Pouco depois de terem tocado à campainha, surge Valentina com Diego ao colo.
 - Olá, olá! Entrem – Valentina abriu mais a porta e Carina e Ortencia entraram primeiro, cumprimentando-a. Marcos entrou com Ania do seu lado e cumprimentaram Valentina também – Como é que estão? – Perguntou aos dois, quando caminhavam até à sala.
- Não nos podemos queixar… - começou Ania por dizer com a voz como se tivesse acabado de acordar. Acontecia-lhe várias vezes ficar calma e relaxada demais quando a entrega que havia quando faziam amor era carregada de paixão e romance.
- Ela está a ter todos os efeitos secundários da injecção. Principalmente o aumento de apetite – esclareceu Marcos.
- Eu nem comento isso…há aqui menores! – os três riram-se chegando à sala. Cumprimentaram Valentín, puxaram duas cadeiras sentando-se nelas. Já era habitual deles: escolher as cadeiras para ficarem perto da alcofa de Diego – Ania…como é que tu consegues andar com esses saltos!?
- Eu também não sei – disse Ortencia – é cada um mais alto que o outro e ela nunca tropeçou neles.
- Tenho de usar algo mais alto agora que tenho o Marcos – esclareceu Ania – fico minorca ao lado dele sem saltos!
- E depois usam os sapatos e toda a roupa a combinar é? – Perguntou Valentín.
- Não…cada um veste o que quer, porque?
- Porque vocês estão a combinar um com o outro…
Ania olhou para os seus pés, olhando de seguida para os de Marcos. Fez o mesmo com as calças e o resto da indumentária. Sem querer estavam a combinar.
- Não foi de propósito… - confirmou Marcos – Até porque tivemos pouco tempo para nos vestir.
- Vá-se lá saber o que é que estiveram a fazer…
- Ei, oh tem lá respeito. Pelo teu filho e pelas senhoras – disse Marcos para que Valentín não continuasse com a conversa.
Aproveitou para partilhar algo nas redes sociais. Desde que as tinha criado, ficara agarrado a elas e, a verdade, é que o aproximava dos seus seguidores. 

 
Até sem querer conseguimos estar em sintonia. Te amo, mi gordita.

O tempo passava demasiado rápido aos olhos do casal. Agora estavam sozinhos em casa, as suas mães haviam regressado a La Plata para, no Natal, Ania, Marcos, Martin e Romina irem eles para solo argentino.
Ania andava a arrumar a sala quando Marcos chega do treino, o último do ano.
- Boa tarde, gordita – Marcos rodeou a cintura de Ania, dando-lhe um beijo. Olhou para ela, vendo que não estava bem – que se passa?
- Estou mal disposta…
- Já é a terceira vez esta semana Ania…
- É capaz de ser das injecções.
- O médico disse que só era normal nos dois primeiros dias…e a tua injecção já foi à cinco.
- Marcos isto é normal… - assim que acabou de dizer a palavra normal teve de correr em direcção da casa de banho para vomitar.
Marcos foi atrás dela, acabando por lhe agarrar os cabelos. Depois de algum tempo debruçada sobre a sanita, Ania acabou por se levantar e lavar a boca. Marcos olhava-a através do espelho e Ania percebia que algo o inquietava.
- Já passou…é só uma má disposição, Marcos.
- Juro que, se não soubesse de toda a situação, dizia que estás grávida.
- Isso é impossível. Enjoos só os tenho por causa das injecções porque ser mãe é algo que nunca vou ser – Ania disse-o com alguma raiva, saindo da casa de banho. Marcos foi atrás dela, que preparava o almoço.
- Ainda vais a meio do tratamento…os médicos disseram que só ao fim de dois meses é que se poderia ver a evolução.
- Marcos as minhas análises estão na mesma…não há qualquer tipo de reacção do meu corpo às hormonas para além destes enjoos e das mudanças de humor.
- Amanhã vamos para La Plata – Marcos agarrou no pescoço de Ania, fazendo-a olhar para si – quando voltarmos fazes a última injecção e novas análises.
- E se estiver tudo na mesma?
- Vamos à procura de um novo tratamento. Não vamos desistir à primeira tentativa.
- Já tive mais certezas de que não iria desistir…
- Eu não vou deixar. Vais realizar o teu sonho.
Ania nada disse, dando apenas um beijo a Marcos. Continuou a tentar fazer o almoço mas a comida enjoava-a. Teve de ser Marcos a terminá-lo.

- Filha, esses enjoos agora são todos os dias? – Ortencia, que já estava à dois dias com Ania e sabia o que era em Lisboa, reparava que estavam a ser apenas sobre a manhã mas muito intensos.
- São e começo a ficar cansada disto!
- Ania… - Ortencia pegou nas mãos da filha e as duas olhavam-se nos olhos – não será que…isso não seja das injecções?
- Então é do que? Eu não posso estar grávida, sabes disso ou não?
- Sei…mas tu estás com todos os sintomas: enjoos matinais, um humor diferente do habitual, desejos a meio da noite…já pensaste que poderás ter engravidado?
- Isso é impossível mãe…os médicos teriam dado conta, não?
- Pois…sim, tens razão. Talvez seja mesmo das hormonas.
- Estou farta é de me enjoar com a comida…
- Tens de ter calma, meu anjo – Ortencia deu um beijo à filha e continuou a preparar a ceia de Natal.
Iriam juntar-se todos. A família de Marcos com a família de Ania.
Depois de falar com a mãe, Ania subiu até ao seu quarto. Dirigiu-se à cómoda abrindo a primeira gaveta. De lá retirou um teste de gravidez. A verdade é que ela começava a colocar aquela hipótese, mas não queria acreditar que fosse possível os médicos não detectarem nada nas suas análises.  
Esperar 10 minutos pelo resultado.
Talvez os 10 minutos mais largos da sua vida. Estava concentrada no teste, esperando que aparecesse o resultado, quando é surpreendida pela entrada de Marcos no quarto.
- Isso é…? 
Os dois olhavam-se sem saber ao certo o que falar. Ania precisava do resultado daquele teste…e os dez minutos terminaram e a resposta apareceu. Aquilo que eles precisavam de saber estava à vista dos dois…podendo desmoronar o que criavam à dois anos.