- Os resultados das análises estão muito alterados.
Avaliamos o seu caso com todo o rigor e cuidado e, nos próximos dois meses,
iremos começar com um tratamento hormonal – o fim do mês de Novembro tinha
chegado e os resultados das análises que Ania havia feito também. Começava a
nova etapa da vida do casal, começa o tratamento que poderia fazer com que Ania
pudesse ter filhos.
- Como é que esse tratamento se faz? – Perguntou
Marcos, um pouco impaciente. Ania olhou-o ficando admirada com o interesse do
namorado…és tão especial.
- Bom, durante estes dois meses a Ania terá de,
semanalmente, levar uma injecção com uma elevada dose de hormonas que,
esperemos nós, vão permitir o desenvolvimento de mais hormonas, de células que
possibilitem a fertilização.
- E…ao fim desse tempo ficará tudo bem? – Ania achava tudo
aquilo muito estranho…não deveria ser assim tão rápido.
- Ania…vamos com calma – Marcos agarrou
na mão da namorada e os dois olharam-se…ele tinha razão, Ania não poderia já
pensar que tudo iria ficar bem.
- O seu companheiro tem razão…ao fim deste tempo do
tratamento, voltamos a repetir análises, fazemos vários exames para ver em que
estado está.
- Poderei fazer tudo normalmente durante esses dois
meses?
- Sim. Claro que sim. Aliás deve mesmo fazer a sua
vida normalmente, com tudo. E não se assuste se não tiver menstruação ou se
esta for um pouco irregular. Faz parte do tratamento. Com as mudanças
hormonais, os ciclos mudam.
- Certo. E…eu peço desculpa tanta pergunta mas, qual
poderá ser o cenário com maior probabilidade de acontecer ao fim do tratamento?
- Ania, não lhe posso dar grandes esperanças que
depois possam não ser a realidade. Mas é jovem, mesmo com o seu historial
clínico, o aborto que teve…é uma pessoa saudável que poderá ter muito sucesso
neste tratamento.
Seguiram-se mais
algumas perguntas, outros esclarecimentos e Ania acabou por levar a primeira
injecção. A partir de agora…são dois
meses que nos separam de saber se poderemos ter um filho ou não. No fim de
levar a injecção, Ania olhou a sua barriga, imaginando-a crescer e com um bebé
no seu interior. Sorriu...esperançosa, com a esperança que esse dia aconteça.
Mais tarde ou mais cedo…o importa é que seja possível que aconteça.
- O médico tinha razão… - comentou Marcos.
- No que?
- Já viste que ainda não paraste de comer? – o médico de Ania
tinha avisado que era provável que, nos dois dias seguintes à injecção, o
apetite de Ania aumentasse.
- Tenho fome, aquilo fez-me ficar com fome e eu
preciso de me alimentar.
- De mim não te queres alimentar tu…
- Isso é que tu te enganas! O teu perfume está mais
intenso, os teus braços estão mais forte, o teu corpo todo está diferente.
Estás a deixar-me com imensa vontade sim e era aqui e agora, mas as nossas mães
acabariam por chegar a qualquer momento – Marcos gargalhou com imensa
vontade, quase que lhe faltando o ar. Estavam os dois sentados no sofá, Ania
tinha uma tigela de cereais na mão que Marco decidiu retirar-lhe – o que é que tu estás a fazer, Marcos
Rojo?
- Vamos só… - Marcos levantou-se, colocando-se
sobre as pernas de Ania de frente para ela. Beijou-a sem qualquer preocupação,
como se estivessem sozinhos em casa. Marcos beijava-a, passando as suas mãos
pelo corpo dela. Ania fez o mesmo, levando as suas mãos ao interior da camisola
de Marcos. Aquela proximidade era boa, quando menos esperavam havia uma
iniciativa por parte de um ou outro que mexiam com todas as forças de ambos.
- Meninos! – a voz de Carina ecoou na sala. Marcos
deixou-se ficar no colo de Ania, enterrando a sua cabeça no pescoço dela. Ania
riu-se e, mantendo as mãos nas costas de Marcos abraçou-o – Desculpem…mas, também, podiam namorar noutro sítio…
- Madre! –
falando
com um tom de voz doce, Marcos tentou que a sua mãe não continuasse.
- Pronto, pronto. Só queria dizer-vos que a
Valentina ligou e nem quis que eu vos passasse o telefone.
- Mas aconteceu alguma coisa, sogrinha?
- Não, não meu anjo. Ela quer que nós os quatro
jantemos em casa deles. E nem coloca pergunta que é para irmos mesmo.
- Sim, sim. Nós vamos, mami!
- Marcos, filho, daqui a nada partes a Ania toda com
o teu peso. E depois…não há sexo para ninguém – ao ouvir o que a
sua mãe dizia, Marcos olhou-a de imediato completamente surpreendido com
aquilo. Ele, aliás eles…porque Ania também, estavam chocados – devem pensar que eu tive cinco filhos e
acredito que eles vêm da cegonha! Eu e a Ortencia vamos fazer um bolinho para
levar, vocês…vão arranjar-se que estão de pijama desde manhã! – as folgas
de Marcos eram aproveitadas ao máximo em casa. Normalmente passavam o dia de
pijama, em família, e só quando combinavam um programa diferente é que saiam de
casa.
- A minha mãe anda muito saída da casca! – Marcos saiu de
cima de Ania, sentando-se ao lado dela.
- A tua mãe está é mais à vontade connosco. Porque
se tu és como és, a alguém tens de sair!
- A culpa é tua!
- Minha!? – Marcos levantou-se, estendendo a sua mão
na direcção de Ania.
- Vamos tomar banho e eu explico-te?
Ania não
contestou o pedido de Marcos agarrando apenas na mão dele, subindo até ao
quarto. Despiram-se, entrando no duche.
- Vais-me explicar…ou só me quiseste trazer para o
banho contigo?
- Quis trazer-te para o banho sim…mas eu passo a
explicar – Marcos
puxou Ania para o seu corpo, rodeando o corpo da namorada com os seus braços.
Abriu a água quente, que caia nas suas costas – eu não sou santo nenhum, não é? Mas tu…tinhas aquele ar inocente e
depois explodias com sensualidade e coisas porcas. E acabaste por me por à
vontade, muito à vontade.
- Então se te ponho à vontade…faz-me tua. Aqui e
agora.
Efeitos secundários da injecção: aumento do apetite.
Carina e
Ortencia na frente de Marcos e Ania, uma segurando o bolo e outra tocou à
campainha. Marcos e Ania iam atrás, de mãos dadas saboreando beijos
inesperados.
Viverem
frente-a-frente com Valentina e Valentín facilitava as coisas. Não precisavam
de carro, nem de se preocuparem com as horas. Pouco depois de terem tocado à
campainha, surge Valentina com Diego ao colo.
- Olá,
olá! Entrem – Valentina abriu mais a porta e Carina e Ortencia entraram
primeiro, cumprimentando-a. Marcos entrou com Ania do seu lado e cumprimentaram
Valentina também – Como é que estão? – Perguntou
aos dois, quando caminhavam até à sala.
- Não nos podemos queixar… - começou Ania por
dizer com a voz como se tivesse acabado de acordar. Acontecia-lhe várias vezes
ficar calma e relaxada demais quando a entrega que havia quando faziam amor era
carregada de paixão e romance.
- Ela está a ter todos os efeitos secundários da
injecção. Principalmente o aumento de apetite – esclareceu
Marcos.
- Eu nem comento isso…há aqui menores! – os três riram-se
chegando à sala. Cumprimentaram Valentín, puxaram duas cadeiras sentando-se
nelas. Já era habitual deles: escolher as cadeiras para ficarem perto da alcofa
de Diego – Ania…como é que tu consegues
andar com esses saltos!?
- Eu também não sei – disse Ortencia – é cada um mais alto que o outro e ela
nunca tropeçou neles.
- Tenho de usar algo mais alto agora que tenho o
Marcos – esclareceu
Ania – fico minorca ao lado dele sem
saltos!
- E depois usam os sapatos e toda a roupa a combinar
é? – Perguntou
Valentín.
- Não…cada um veste o que quer, porque?
- Porque vocês estão a combinar um com o outro…
Ania olhou para
os seus pés, olhando de seguida para os de Marcos. Fez o mesmo com as calças e
o resto da indumentária. Sem querer estavam a combinar.
- Não foi de propósito… - confirmou Marcos
– Até porque tivemos pouco tempo para
nos vestir.
- Vá-se lá saber o que é que estiveram a fazer…
- Ei, oh tem lá respeito. Pelo teu filho e pelas
senhoras – disse
Marcos para que Valentín não continuasse com a conversa.
Aproveitou para
partilhar algo nas redes sociais. Desde que as tinha criado, ficara agarrado a
elas e, a verdade, é que o aproximava dos seus seguidores.
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Até sem querer
conseguimos estar em sintonia. Te amo, mi gordita. |
O tempo passava
demasiado rápido aos olhos do casal. Agora estavam sozinhos em casa, as suas
mães haviam regressado a La Plata para, no Natal, Ania, Marcos, Martin e Romina
irem eles para solo argentino.
Ania andava a
arrumar a sala quando Marcos chega do treino, o último do ano.
- Boa tarde, gordita – Marcos rodeou a
cintura de Ania, dando-lhe um beijo. Olhou para ela, vendo que não estava bem – que se passa?
- Estou mal disposta…
- Já é a terceira vez esta semana Ania…
- É capaz de ser das injecções.
- O médico disse que só era normal nos dois
primeiros dias…e a tua injecção já foi à cinco.
- Marcos isto é normal… - assim que acabou
de dizer a palavra normal teve de
correr em direcção da casa de banho para vomitar.
Marcos foi atrás
dela, acabando por lhe agarrar os cabelos. Depois de algum tempo debruçada
sobre a sanita, Ania acabou por se levantar e lavar a boca. Marcos olhava-a
através do espelho e Ania percebia que algo o inquietava.
- Já passou…é só uma má disposição, Marcos.
- Juro que, se não soubesse de toda a situação,
dizia que estás grávida.
- Isso é impossível. Enjoos só os tenho por causa
das injecções porque ser mãe é algo que nunca vou ser – Ania disse-o com
alguma raiva, saindo da casa de banho. Marcos foi atrás dela, que preparava o almoço.
- Ainda vais a meio do tratamento…os médicos
disseram que só ao fim de dois meses é que se poderia ver a evolução.
- Marcos as minhas análises estão na mesma…não há
qualquer tipo de reacção do meu corpo às hormonas para além destes enjoos e das
mudanças de humor.
- Amanhã vamos para La Plata – Marcos agarrou
no pescoço de Ania, fazendo-a olhar para si – quando voltarmos fazes a última injecção e novas análises.
- E se estiver tudo na mesma?
- Vamos à procura de um novo tratamento. Não vamos
desistir à primeira tentativa.
- Já tive mais certezas de que não iria desistir…
- Eu não vou deixar. Vais realizar o teu sonho.
Ania nada disse,
dando apenas um beijo a Marcos. Continuou a tentar fazer o almoço mas a comida
enjoava-a. Teve de ser Marcos a terminá-lo.
- Filha, esses enjoos agora são todos os dias? – Ortencia, que já
estava à dois dias com Ania e sabia o que era em Lisboa, reparava que estavam a
ser apenas sobre a manhã mas muito intensos.
- São e começo a ficar cansada disto!
- Ania… - Ortencia pegou nas mãos da filha e as
duas olhavam-se nos olhos – não será
que…isso não seja das injecções?
- Então é do que? Eu não posso estar grávida, sabes
disso ou não?
- Sei…mas tu estás com todos os sintomas: enjoos
matinais, um humor diferente do habitual, desejos a meio da noite…já pensaste
que poderás ter engravidado?
- Isso é impossível mãe…os médicos teriam dado
conta, não?
- Pois…sim, tens razão. Talvez seja mesmo das
hormonas.
- Estou farta é de me enjoar com a comida…
- Tens de ter calma, meu anjo – Ortencia deu um
beijo à filha e continuou a preparar a ceia de Natal.
Iriam juntar-se
todos. A família de Marcos com a família de Ania.
Depois de falar
com a mãe, Ania subiu até ao seu quarto. Dirigiu-se à cómoda abrindo a primeira
gaveta. De lá retirou um teste de gravidez. A verdade é que ela começava a
colocar aquela hipótese, mas não queria acreditar que fosse possível os médicos
não detectarem nada nas suas análises.
Esperar 10 minutos pelo resultado.
Talvez os 10
minutos mais largos da sua vida. Estava concentrada no teste, esperando que
aparecesse o resultado, quando é surpreendida pela entrada de Marcos no quarto.
- Isso é…?
Os dois olhavam-se sem
saber ao certo o que falar. Ania precisava do resultado daquele teste…e os dez
minutos terminaram e a resposta apareceu. Aquilo que eles precisavam de saber
estava à vista dos dois…podendo desmoronar o que criavam à dois anos.