terça-feira, 20 de agosto de 2013

9 - "Agora eu só quero que contes comigo para todos os momentos"

Ania

Tive a "brilhante" ideia de ser independente, muito independente. 
Por-me a andar não foi nada boa ideia. É certo que tive um aborto, mas pensei que fosse capaz de andar calmamente. Não andei ao meu ritmo normal, mas cansei-me o dobro. E quando parei parecia que este cansaço não desaparecia. 
Parecia que, por muito que estivesse sentada, tinha andado a correr que nem uma maluca...e depois...tenho esta necessidade de estar com ele...tinha dormido bem graças a ele...tinha conseguido estar horas sem que aquelas imagens me passassem pela cabeça.
Quando lhe telefonei, a voz dele fez-me aliviar um pouco, era como se o cansaço tivesse sido um pouco dominado. Tudo...com a voz dele...assim que lhe pedi que viesse ter comigo não hesitou...aposto que descobrir onde eu estava não foi fácil, mas assim que o vi...foi fantástico. Deixou-me tranquila, fez com que surgisse a necessidade de lhe dizer que era dele que precisava. Que era do Marcos que eu preciso, eu preciso dele e admiti-lhe tal coisa frente a frente. 
Quando o fiz...senti-me leve, solta, com vontade de me agarrar a ele, mas depressa a barreira se levantou. Sei que quero estar com ele, mas o meu corpo não reage ao que o meu coração fala...se fosse pelo músculo que tenho a bombear todos os dias no meu peito, neste momento estaria agarradinha a ele, choraria e pedia-lhe mimo. Mas não, apenas estou sentada ao lado dele, com as mãos dele a agarrarem as minhas. 
- Era só isso que eu precisava de ouvir da tua boca...eu estarei aqui para tomar conta de ti.
- Marcos...o que nós estávamos a...
- Nós estávamos a avançar, sem o teu pai saber. Agora eu só quero que contes comigo para todos os momentos. Quer precises de falar, ou chorar...estarei sempre pronto para ti.
- Mas...Marcos, eu sinto que há uma barreira entre mim e qualquer homem no Mundo...até com o meu pai. Eu não sei quando é que podemos voltar a tentar...que haja um nós. 
- Cinderela... - foi inevitável não ficar rendida com a forma como ele me trata - somos amigos, não somos?
- Claro que somos...somos mais que isso, ambos sabemos. Iamos ser muito mais que amigos, estávamos a começar isso à duas noites. Mas agora...por um episódio do meu passado...
- Ania, não penses como é que podíamos ficar ou estar se isto não tivesse acontecido. Nós somos o agora. E agora eu quero cuidar de ti, pequenina. Pode ser?
- E quando eu estiver com as minhas crises? Não vai ser fácil para ti estar comigo, nem para mim estar contigo...eu não sei como é que reajo a ti. 
- A mim?
- Sim...eu sinto que te quero abraçar. O meu coração diz isso, mas o meu corpo não. O meu corpo rejeita o corpo de um homem...não é só o corpo...é a minha cabeça. Mas no meu coração, se fosse por ele eu já te tinha abraçado. 
- Queres que te abrace?
- Agora?
- Sim. 
- Mas...eu não sei...
- Queres ou não que eu tome conta de ti?
Olhei nos olhos dele...porque é que o nosso psíquico é tão problemático? Se não fosse aquele momento me ter afectado tanto eu estava a ser feliz, com o rapaz que me faz feliz. Desde que comecei a dar-me com o Marcos, e podem ser poucos os dias, sinto que ele é o tal. Eu sei que também só tenho 19 anos, mas são coisas que se sentem. 
Ele sorria-me. Sorria com os lábios, com os olhos, as bochechas dele faziam covinha...a cara dele estava iluminada...estava feliz. Fazia-me sentir calma. Ele é homem...e estar frente a frente com ele não me fazia ter pânico dele. 
- Sim. Marcos, eu quero que cuides de mim. Eu quero que sejas a pessoa que estará para mim sem ter medo de lidar comigo. Mas quando sentires que sou um peso para ti...avisa. 
- Vais ser a minha pequenina. Vou cuidar todos os dias de ti e quero que isto seja uma prova do que nós estávamos a criar. 
- Eu não sou assim tão pequenina...
- És sim. És a minha pequenina. Estás frágil, precisas de miminho, de carinho, de apoio, de proteção e eu estou aqui para tudo. Vou encher-te de mimo, ouvis-te? Eu estou aqui para ti...pequenina. 
- Mas, Marcos, sempre que quiseres ou precisares de te afastares de mim tens de estar à vontade com isso. 
- Isso não vai acontecer. E agora...um abraçinho meu?
- Importas-te...que não seja para já?
- Claro que não, quando achares que posso dar-te um abraço avisas.
- Mas tem se ser com calma. 
- Claro! Ania...porque é que vieste para aqui sozinha?
- Não me apetecia ir logo para casa...os meus pais vão fazer-me montes de perguntas e eu ainda não quero lidar com elas.
- Mas vais ter de o fazer...mais tarde ou mais cedo. Se eles forem ao hospital vão saber que já sais-te de lá. 
- Sim, eu sei - levantei-me e andei um pouco - mas eu não quero. Eles vão encher-me com perguntas e vão querer estar sempre ao pé de mim. E eu não quero lidar com eles.
- Mas eles são teus pais...querem o teu bem, não lhes podes esconder que já sais-te do hospital. 
- Marcos...lidar todos os dias com as mesmas perguntas, as mesmas conversas...cansa. Eu só queria um tempinho sozinha. 
- Mas agora não estás sozinha.
- Eu sei...porque eu afinal não quero estar sozinha. Eu estou confusa! Não quero ir para casa...talvez mais tarde, ao fim do dia. Não agora. 
- E até lá?
- Fico por aqui...podes ficar um bocadinho comigo?
- Podemos ficar aqui...mas tens de telefonar à tua mãe. Vais avisar que estás comigo e que vais mais tarde lá para casa.
- Digo?
- Sim...a tua mãe não ficará tão preocupada e se falar com o teu pai ele também entende. 
- Tudo bem...vou ligar à minha mãe.
Fui até à minha mala e retirei de lá o telemóvel, iniciando a chamada com a minha mãe. Depois de alguns bips ela atendeu:
"-Ania? Está tudo bem?"
- Sim, está tudo bem mãe. Já tive alta.
"- Já? Eu vou avisar o teu pai então, e vamos buscar-te."
- Não. 
"- Não?! Como não?"
- Mãe, eu já sai do hospital...à uma hora. Fui dar uma volta, sabes que precisava de estar sozinha. 
"- E foste te por a andar sozinha? Tu sofreste um aborto Ania!"
- Eu sei mãe...fiquei mesmo cansada. Mas eu agora já estou bem.
"- Onde é que estás?"
- Estou num jardim. Com o Marcos.
"- Estás...com ele?"
- Sim, eu só quero que saibas que só ao fim do dia é que vou para casa. Preciso de pouca gente à minha volta. 
"- Ania...os teus irmãos estão cá em casa."
- Por isso mesmo, mãe...eu estou com o Marcos, ao fim do dia vou para casa. 
"- Posso falar com ele?"
- Para que?
"- Ania...deixa-me falar com ele."
- Ok - virei-me para o Marcos e passei-lhe o telemóvel - a minha mãe quer falar contigo.
Ele pegou no telemóvel e eu sentei-me no banco do jardim.

Marcos

Sabia que a Ania tinha mesmo aquela vontade de estar sozinha, mas ela chamou-me e eu vou cuidar dela. Não a quero deixar sozinha. Quero que ela sabia e sinta que comigo pode contar sempre. 
Ela falou com a mãe e a D. Ortencia pediu para falar comigo. 
- Bom dia D. Ortencia. 
"- Bom dia Marcos, como estás?"
- Estou bem e a senhora?
"- Vai-se andando, há-de melhorar quando ela melhorar."
- Vai ver que esta recaída pode ser rápida, e ela tem boas pessoas à volta dela.
"- Quanto ao melhorar...temos de esperar, mas quanto às pessoas, isso eu tenho a certeza. Obrigada por estares com ela agora."
- Não me tem de agradecer nada. Sabe perfeitamente que a Ania é especial, nós estavamos a desenvolver uma relação bonita e eu agora só quero estar a apoiá-la como amigo que sou. 
"- Marcos...o que é que eu digo ao Hugo?"
- Se quiser diga-lhe a verdade. Diga-lhe que a Ania está comigo. Eu não tenho qualquer problema em ser confrontado com o seu marido. 
"- Penso que é o melhor, a Ania o que é que achará?"
- Ania - virei-me para ela - que é que achas de a tua mãe contar ao teu pai que estás comigo?
- Decidam vocês...neste momento ele não virá atrás de nós. 
"- Que é que ela disse?" - perguntou a Ortencia. 
- Para nós decidirmos. 
"- O que é que faço?"
- Diga a verdade. Assim fica tudo esclarecido. 
"- Acho melhor. Mais uma vez obrigada Marcos."
- Não tem nada que agradecer. 
"- Toma bem conta dela. E se ela não quiser vir para casa não a deixes sozinha."
- Fique descansada que ela não ficará sozinha. Nunca ficará. 
"- Podes passar-lhe de novo o telefone?"
- Claro. Beijinhos D. Ortencia.
"- Beijinhos e muito obrigada Marcos."
Passei o telemóvel à Ania e sentei-me ao lado dela no banco.
Ela ainda esteve alguns minutos a falar com a mãe até que deram a chamada por terminada e ela olhou-me. 
- Ela pediu-te para seres minha ama, não foi?
- Hã? 
- A minha mãe...ela pediu para tomares conta de mim, não foi?
- E eu não te tinha dito que ia fazer isso mesmo? 
- Tinhas...
- Ania, neste momento eu quero ser teu amigo, quero estar contigo quando precisares. O resto virá com o tempo.
- Se não fosses tu...eu não tinha aguentado a noite passada.
- Mas tu não querias. Até quase que me mordeste. 
- Desculpa...
- Nada disso. Eu percebo-te, eu não queria ter insistido contigo, mas queria mesmo dar-te mimo e que tivesses a certeza de que podias contar comigo. 
- Eu agora sei disso, com todo o meu coração Marcos.
- Espero que não seja só o coração a sentir...a tua cabecinha também tem de entender que a minha cabeça já quer viver com ela em sintonia. 
- Acho que elas já vivem...
- Achas?
- Tenho quase a certeza - levantei a minha mão na direcção da Ania, passando-lhe com o meu dedo indicador sobre a cana do nariz. 
Inicialmente parecia que ela se ia afastar, vi o medo invadir o seu olhar, todo o corpo dela estremeceu e algo deve ter acontecido na sua cabeça. Mas, em fracções de segundos, a Ania mudou. Vi...um brilhozinho no seu olhar, pequeno, mas que a fez mudar um pouco. Ela pousou a sua face na minha mão, como que pedindo carinho. E pouco depois tive a certeza disso:
- Dás-me um abraço? - pediu ela, quase em sussurro.
Tais palavras foram como que...uma ordem para mim. Sabia que se ela estava a pedir era porque precisava, sabia que ela queria que eu tocasse nela, que os nossos corpos estivessem juntos. 
Avancei com calma. Coloquei a minha mão no braço dela, avançando para junto do seu corpo. Foi ela que pedira o abraço, tinha sido ela que o tinha feito. Mas, mesmo assim, sabia que havia ali ainda alguma coisa que a impedia de avançar. 
Encostei a cabeça dela no meu peito e rodeei o seu corpo com os meus braços. 

Ania

Sinto-me bem com o Marcos a meu lado. Sinto-me bem quando ele me olha, quando ele fala tudo sem pensar muito, quando ele simplesmente é ele próprio, como se nada tivesse acontecido. Senti-lo a meu lado...dava-me a certeza de que ele é o ser humana mais compreensível à face da terra. Eu não tenho medo dele. Contrariamente ao que pensava. 
Não estou como estive nos meses a seguir à...ao que me aconteceu. Eu tinha medo que um homem se aproximasse de mim. Os meus irmão nunca me tocaram, o meu pai nunca me deu um beijo durante esse tempo...eu tinha medo deles, que são da minha família. 
Mas com o Marcos...não havia nada disso. Bom, ao inicio houve, mas porque não queria que ele me visse como uma coitadinha. Mas agora, quero o mimo dele, os abraços dele, as festinhas, quero-o juntinho a mim. 
Estar nos braços dele, fez-me ter medo, sim. Mas foi por milésimas de segundo. Aquele cheiro dele...era completamente o oposto do que senti. Era doce, um cheiro que antes não tinha cheirado...nunca me tinha apercebido do perfume dele nos últimos dias. 
O corpo dele recebeu o meu e eu sentia que pertencia ali, em certa maneira. Parecia que aquele espaço estava feito à minha medida, ele era feito à minha medida. Seria feito para mim? Merecia ele alguém como eu? Cheia de dúvidas, problemas e pai treinador de futebol no clube onde ele joga.
- O teu colinho é bom, Marcos. 
- Foi feito pelos meus pais, aperfeiçoado por mim e para todas as minhas mulheres. 
- E essa resposta veio de onde?
- Foi estranha não foi?
- Para o fim...sim. 
- As minhas mulheres são: as minhas irmãs e a minha mãe...e tu. 
- Marcos... - afastei-me um pouco dele, continuando a ser agarrada pelos seus braços, e olhei-o - eu não sou tua mulher. 
- Nunca tinha tido uma amiga rapariga como tu. Todas queriam sempre mais do que o normal. Queriam estar comigo por pensarem que eu tinha dinheiro. Tu não. Tu tens tudo. E procuras as pequenas coisas da vida, ou estou enganado?
- Estás certíssimo, Marcos. Como é que me entendes assim?
- Tem momentos que é mais difícil decifrar-te, mas és parecida com a minha irmã mais nova. Têm uma personalidade idêntica. A minha irmã é mais faladora do que tu...
- Isso não é difícil
- Pois não. Mas tu olhavas-me com os mesmos olhos que a Micaela olha. 
- Os teus olhos também mudaram quando falaste da tua irmã. 
- É provável - ele olhava-me, mas pensativo. 
- E agora estás a ficar pensativo...
- A Micaela...é quase como minha filha. Acho que ela sente que sou um pouco pai dela, e eu também me sinto responsável por ela. 
- Está relacionado com a morte do vosso pai...?
- Sim. O nosso pai morreu à um ano e a Micaela é a mais nova, tem treze anos, na altura tinha doze. E aproximamo-nos bastante. Ela ficou afectada com isso, mas desabafava comigo e eu com ela. 
- É tão lindo ver-te falar dela. 
- Fala-me de um irmão teu e eu digo-te a mesma coisa. 
- É diferente. Eles são rapazes. Eu tinha uma relação mais próxima com o a seguir a mim, mas desde que ele saiu de casa...falamos menos, e coisas mais parvas.
- Mas dás-te bem com eles?
- Claro. Mas acho que os rapazes a falar das irmãs é mais...bonito de se ver. 
- E eu tenho três meninas. 
- És o irmão galinha. 
- Galinha Ania? 
- Galo fica mal - desmachamo-nos os dois a rir e eu acabei por encostar a minha cabeça ao peito dele. 
- É lindo o teu sorriso. 
- Dizem que é o da minha mãe. 
- É impressão minha, ou a Ania está a responder-me como a minha Cinderela?
- Não...não é impressão tua - olhei-o de novo...porque é que isto acontecia ao pé dele? - fazes-me bem. 
- E tu a mim, Cinderela. 
Os nossos olhos estavam fixados um no outro, queriam algo mais, mas sabiam que não era para já. 
- E se fossemos até minha casa? A esta hora está toda a gente fora de casa, almoçávamos e descansavas um bocadinho...
- Eu não te quero dar trabalho Marcos...
- Não sou o teu cuidador e fornecedor de mimo?
- És?
- Sou.
- És.
- Então, não dás trabalho nenhum.
- Tens a certeza...que não está ninguém em casa?
- Acho que sim. A Sol está na escola, a Noelia e a minha mãe a trabalhar. 
- E a Micaela?
- Ela só tem escola de tarde, mas já não deve estar em casa. 
- Vamos então...?
- Sim - levantamo-nos os dois do banco e seguimos lado a lado até ao carro do Marcos. 

A viagem até casa dele tinha sido rápida. 
Era uma bonita vivenda, perto do centro de treinos, e eu se já por ali tinha passado não me recordava. Dirigimo-nos ao interior da casa, que estava bem mais fresco que na rua. Era uma casa linda, via-se perfeitamente que vivia com mulheres. Estava tudo arrumadinho e sem aquele ar de casa de rapaz jovem solteirão jogador de futebol. 
- Bem vinda à minha casinha. 
- Muito obrigada. 
- Vem - o Marcos levou-me até ao sofá e sentamo-nos - vais ficar aqui a descansar, enquanto eu preparo o almoço, sim?
- Marcos...eu não estou inválida, posso ajudar.
- Não, tu tens de descansar. 
- E...se entra alguém?
- Fica tranquila. 
- Tudo bem, mas eu não quero que andes por aí a ser meu escravo...olha, não tens treino?
- Tinha. Pedi o dia de folga. Tinha treino para a tarde e estava a pensar que te ia ver ao hospital...
- Devias ir ao treino. 
- Não. Quero ficar aqui contigo e descansar também. 
- Estou a ver...estás a usar-me como desculpa para te escapares a cansar-te. 
- Nada disso. Mas entre um treino com o teu pai e estar contigo...a escolha é bem fácil. 
- Marcos, não sabia que... - uma voz feminina fez ouvir. Na sala uma menina surgiu. Estava de avental e um pouco espantada. Deveria ser a Micaela...
- Ei...eu também não sabia que ainda estavas em casa - o Marcos levantou-se e eu também, colocando-me ao lado dele, um pouco atrás. 
- Podias ter telefonado, ou mandado mensagem. Assim eu tinha-me arranjado melhor para receber as visitas e tinha feito almoço a contar com vocês, seu bronco! - foi impossível não rir com a irmã do Marcos. Tinha mesmo respostas...fortes. 
- E tu podias moderar a forma como me tratas não?
- Só porque estás acompanhado queres que eu te trate bem, maninho?
- Ania...é a Micaela no seu estado normal. 
- Já me tinha apercebido. 
- E eu estou a ver que já falaram de mim - ela aproximou-se de nós, deu dois beijos ao irmão e olhou para mim - pensei que não te fosse conhecer tão cedo. 
- Eu também pensava que não estaria ninguém em casa...mas é bom conhecer-te - ela deu-me dois beijinhos, ao qual eu correspondi.
- Vocês queriam era a casa só para vocês. Eu vou só almoçar e depois saiu logo. 
- Micaela!
- Marcos! Não atrapalho mais...vou almoçar e tu tens de te safar com o almoço. 
- Força!
- Bom almoço, Micaela - disse-lhe. 
- Obrigada...como é que te chamas?
- Ania. 
- Obrigada Ania.
- De nada - a irmã do Marcos saiu da sala e nós ficamos os dois parados no mesmo sitio. Apenas o Marcos se movimentou para ficar de frente para mim. 
- Eu não sabia que ela estava em casa...
- Percebi...a tua irmã é um máximo!
- Só quando quer. 
- Não sejas assim. Ela é tudo para ti, bem vi. 
- Tudo bem, mas ela não precisa de saber.
- Estavas à espera que fosse eu a contar-lhe?
- Não...
- Então...
- Vamos esperar que ela saia para ficarmos mais à vontade. 
- Mais...à vontade?
- Para tu descansares e eu ir fazer o almoço, pequenina. 
- Claro. 
Ficámos os dois sentados no sofá, até que a Micaela voltou à sala, despedindo-se. Ia para a escola. O Marcos...depressa ditou as ordens. Ele ia para a cozinha inventar o nosso almoço, segundo ele, e eu ficava sentada no sofá a ver televisão. Boa! 
Estava à algum tempo sentada, quando me apeteceu ir ter com ele. Andei pela casa...como se a conhecesse. Fui direita ao sitio que queria, mas o Marcos não deu pela minha presença, o que me ajudou. Fiquei parada, junto da porta, simplesmente a contemplá-lo.
Ainda não me tinha apercebido do quão...bonito ele estava. Envergava o género de umas calças de treino, mas mais sofisticadas, justinhas nas pernas, algo largas na zona das cochas e voltavam a ficar...apertadinhas no rabo dele. Pretas...extremamente sexy's. Meu Deus...eu aqui parada, a olhar para o rabo do Marcos! Onde é que isto já se viu? Eu acho que nem me conheço...não me consigo conhecer a mim própria. Passam-me as imagens pela cabeça, mas ao mesmo tempo passa-me o Marcos e tudo passa.
Ele mexia em batatas e carne...era o que ele tinha inventado para o almoço. Percorri os braços dele...aqueles músculos  com aquelas tatuagens...e aquela camisola de cavas branca que lhe definia...todos os recantos do tronco dele...o Marcos está uma coisa de me arrepiar toda e eu só agora reparei? Depois de uma manhã com ele? Ania...tens de usar óculos de certeza!
Aproximei-me dele...e eu estremeci. Não de medo, não de receio, nem de sofrimento...eu estremeci pelo contacto que ia ter. Estar pertinho dele...fez-me despertar. Com a minha mão esquerda, percorri o braço esquerdo dele, beijando-lhe as costas. 
- Ei, ei! O que é que tu fizeste à minha Ania? De onde é que apareceste? - perguntou ele, fingindo-se de aflito. 
- Ai Marcos...és tu! És tu e essa tua maneira de estar. Eu nem sei o que estou a fazer...as minhas mãos simplesmente...agiram por elas. Desculpa. Talvez não devesse ter feito isto. 
Ele virou-se para mim e eu voltei a estremecer toda...
- Sabes que não são todas que têm a sorte de estar assim comigo. 
- E tu és um convencido!
- Sou?
- Não! Mas...ai Marcos, porra! Eu não sei o que é que estou a pensar, quanto mais o que é que estou a dizer!
- E...Ania, eu amo ver-te assim.
- Como?
- Com os olhos a brilhar, corada, a tremer sempre que te toco. 
- Como é que tu me fazes isto?
- Porque te sou especial?
- Achas que é isso?
- Não é?
- Será?
- Paras com as perguntas?
- Sim...eu paro. 
- E eu posso continuar o nosso almoço?
- Sim... - o Marcos virou-se para a bancada e continuou a preparar o almoço.
Eu coloquei-me do lado direito dele e...a minha mãe esquerda voltou a agir descontroladamente. Quer dizer...eu tenho bem noção do que é que estou a fazer. 
Percorri as costas do Marcos, até chegar junto do elástico das calças. 
- A tua mão hoje quer ir passear por sítios perigosos!
- Se fosse só a minha mão... - nisto toca o meu telemóvel, estava no meu bolso. Com a mão direita retirei-o do bolso e atendi, ao mesmo tempo que apalpei o rabo do Marcos. 
- Pai! - disse ao atender a chamada do senhor Hugo. 
"- Ania, filha, como estás?"
- Estou bem e tu?
"- Estou preocupado contigo."
- Papi, não estejas...a serio, eu estou bem melhor do que possas pensar, acho eu - tinha caminhado até à mesa e virei-me para o Marcos, que me olhava...ai santo Deus! A falar com o meu pai e ele...assim. 
"- Tu estás com o Faustino, não é?"
- Eu estou com o Marcos. 
"- Vai dar ao mesmo. Posso saber porque é que foste com ele e não com os teus pais?"
- Posso explicar quando chegar a casa? Iamos almoçar agora...e eu preciso de me alimentar, papi
"- Queres esquivar-te da conversa...mas logo à noite falamos. Porta-te bem"
- Fica descansado, paizinho. Besos para ti e para todos aí em casa. 
"- Beijinhos para vocês também."
Desliguei a chamada e o Marcos avançou na minha direcção. 
- Lá porque o meu pai já desligou a chamada, não tens o direito de avançar assim na minha direcção!
- Eu só estou a andar...normalmente. 
- Marcos, calma. 
- Tu apalpas-me o rabo e eu é que preciso de calma...acho que estás afetadinha.
- Não estou coisa nenhuma. Eu não sei como é que é possível, mas eu não quero saber do que é que aconteceu ontem. Quero o hoje e quero-te a ti porra! 
- Tu...tens a certeza do que é que estás para aí a falar ou isso é falta de comida no estômago?
- Eu tenho a certeza absoluta porra. A serio, Marcos. A serio, a serio!
- E eu posso ir até ti ou não?
- Já cá devias estar até... - ele aproximou-se e rodeou-me com os seus braços, beijando-me a testa. Eu coloquei as minhas duas mãos no fundo das suas costas - eu sei que sou confusa. Ainda à bocado te pedi para ires com calma e agora já estou louca por ti...é o que me fazes.
- A tua cabecinha teve uma quebra e agora está a recuperar...e está a puxar-te para mim, o que eu amo.
- Eu também, muito! 
- Ania...eu não te quero forçar a nada. 
- Não és tu que me estas a forçar. Eu é que quero, percebes isso e dás-me um beijo?
- Tu...o que é que acabaste de dizer?
- Faz só aquilo que te digo...disseste que ias cuidar de mim...não estou a ver nada disso.
- Com a sua licença, Cinderela - o Marcos simplesmente colocou as suas mãos no meu pescoço e colou os nosso lábios. Completamente coladinhos, encaixados na totalidade, super apaixonado. Sentia-me livre, sem complicações na minha cabeça, pronta para assumir que quero o Marcos como o homem da minha vida. Mesmo quando estava na minha crise...ele esteve lá para mim, aproximou-me dele e fez com que tudo fosse diferente. Mas...e fora daqui? Sem o Marcos? Como é que eu sou? "Esquece isso e enfia mas é a língua na boca do gajo" - a minha cabeça a pensar sozinha...pensa melhor que tu em estado consciente Ania! 
Ficamos simplesmente envolvidos num beijo que se prolongou pelo tempo que quisemos, da forma que quisemos. O beijo parecia não ter fim...mas o Marcos, se calhar o único mais consciente ali, interrompeu-o.
- E se fossemos almoçar, amor? Ainda não comeste nada desde que estás comigo e ainda estás fraquinha. 
- Estou fraquinha? 
- Sim...não neste beijo que acabou de acontecer, mas precisas de te alimentar bem e descansar. 
- Sim. Lá estás tu com a tua razão. 
- Serei o mais responsável que conseguir perto de ti. 
- Isso é uma indirecta para a minha irresponsabilidade?
- Eu não disse que era irresponsável, porque não és. 
- Acho bem.
- Almoçar?
- Sim...mas dá-me só mais um...
Devo ter feito o beicinho mais mal feito, porque o Marcos se desmachou a rir, mas lá...me deu um beijo. As minhas mãos...bem essas foram parar ao rabo dele e...aquilo é como sentir nem sei bem o que. O rabo do Marcos...mãe do céu, perdoa os meus pecados, mas este rabo! Louvado seja! 
Olhamo-nos, mas eu "esqueci-me" das minhas mãos nas nádegas dele. 
- Juro-te...as tuas mãos nunca andaram por sitio tão perigoso como hoje. 
- Quem te garante? Antes de ti...
- Antes de mim o que? Tu pensa bem no que vais dizer, Cinderela!
- Eu ia dizer...antes de ti, nunca nenhum rabo era tão apetecível.
- Tu andaste a beber?
- Não. Estado normal, puro, apaixonado e louco por ti. 
- És tão doidinha e tão perfeita.
- Sou parecida com o meu louco, que me diz para irmos almoçar mas continuamos aqui.
- Tens razão princesa...mas a culpa também é tua - o Marcos deu-me mais um beijo, para de seguida me puxar a cadeira da mesa para me sentar.
Almoçamos os dois tranquilos, sem pressa nenhuma, sempre com piadas e conversas sem nexo, mas...a planear o que seria a nossa tarde. 

5 comentários:

  1. Olá!!
    Adoorreiii!!!
    Este capítulo está simplesmente....maravilhoso! Es adoro este casal!
    Agora indo ao que interessa: quando li o início pensei ui coitado do Marcos vai ter de ter muita paciência mas depois afinal a Ania mudou.
    Adoreeii a parte com a irmã do Marcos!!
    Adorei ainda mais o efeito que o Marcos teve na Ania, mudou e muito, para quem não queria um abraço, a seguir jasus xD. Mas ainda bem! E espero que ela continue assim e que não haja mais recaidas e que queira o Marcos pertinho!
    Agora quero muito o próximo para saber como vai ser a conversa da Ania com o pai e para continuar a ler a história deste casal maravilhoso!!
    Próxximmoo Rápiddooo!!

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  2. Comecei a ler hoje e estou adorar.
    Quero o próximo rápido.bjs

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  3. Olá!...Adorei!
    Estes dois são um casal muito fofo...amo-os :)
    Espero que o Marcos tenha muita...masmuita paciência com a Ania porque ela mudou um pouco :)
    Amei a Maicaela...sempre com uma resposta pronta :P
    Estou curiosa pela conversa entre pai e filha...espero que corra bem :)
    Próximo sff :*

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  4. OMG! Estou apta a dizer isto: esta é a fic tua que mais gosto e esta no meu top5! Estou completamente apaixonada!! A tua forma de escrever está a evoluir a olhos vistos. A tua capacidade de expressao de sentimentos contraditorios, pensamentos, emoçoes! Este capitulo é prova disso!
    Estou completamente apaixonada por este capitulo. Estou fascinada com este capitulo em particular. Esta absolutamente fantastico na minha opiniao!
    Toda a historia agarra-nos! O romance "meio proibido" deles por causa do sr. Hugo. Todo o "tranbolhão" da vida da Ania. Nossa que triste :s E depois o Marcos... Uau (Ai Cinderela deixa-me derretida!!! xD)
    Adorei adorei adorei!
    Quero o proximo!!

    Beso
    Ana Santos

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  5. * Não te queixes do testamento *-*
    Olá , olá
    desde o inicio que digo , esta fic é simplesmente PERFEITA , MARAVILHOSA , LINDA , AMOROSA , APAIXONANTE , ESPETACULAR , posso estar aqui a enumerar muitos adjetivos , mas nao chegam para dizer o quanto maravilhosa é a tua escrita <33
    São o casal mais lindo , maravilhoso , querido , perfeito *-*
    Cada toque , cada momento que passam juntos é mesmo perfeito *-*
    Tu mereces um comentario destes á altura .
    Consegues passar todos os sentimentos cá para fora todas as emoçoes.

    Amei amei amei amei amei amei amei mesmo este capitulo , não há outra forma de o dizer *-*
    proximo rapidinho <33

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