terça-feira, 18 de junho de 2013

6 - "Eu nem estava a falar nisso, tu é que pensaste logo em sexo."

E...começaram os rótulos. As coisas têm de ser levadas com calma e ele já se intitula de namorado. 
- Marcos...há aqui uma coisa que tem de ficar esclarecida. Nós não somos namorados - senti que, talvez, tivesse sido demasiado fria com ele. Mas não havia outra maneira de se dizer a coisa. 
- Ania... - só para piorar o meu interior não conseguia decifrar o que lhe ia pela cabeça. 
- Nós temos de ir com calma e ver onde é que isto vai dar. Não podes começar já para aí a fazer filmes porque é para ter calma.
- Ania. Eu sei disso. 
- Sabes?
- Sei. Eu só disse aquilo porque me saiu, mas eu sei o que queres e estou de acordo contigo. Não te preocupes, guapa.
- Ah! Ainda bem - por um lado sentia que era o melhor a fazer. É melhor não termos esperança numa coisa que pode não ser nada no futuro. É viver cada dia e aproveitá-lo, aproveitar para que, no futuro, possa dar em alguma coisa. 
Decidimos que estava na hora de ir embora e o Marcos deixou-me à porta de casa. As luzes da sala estavam acesas, bem como as do quarto dos meus pais que ficava no segundo andar. 
- Achas que o teu pai ainda está à tua espera?
- Tenho quase a certeza que sim. 
- E...quando é que nos voltamos a ver?
- Não sei...mas terá de ser rapidinho - tomei a iniciativa e dei-lhe um selinho nos lábios - isto começa a ser perigoso, sabes?
- Ai é?
- É...eu tenho a sensação que eu e tu temos dois imans na boca. E pelo corpo todo! Ai Marcos...o que é que eu estou para aqui a dizer?
- Estás a dizer que me queres beijar e que não consegues estar fisicamente longe de mim?
- Acho que sim...nós só estivemos juntos hoje. E um bocadinho ontem à noite no estádio...como é que isto pode acontecer?
- Porque eu sou irresistivel.
- Sim! Não...não, nada disso. 
- Em que é que ficamos?
- Sim...sim, sim, sim! - voltei a beijá-lo. Para além de ser uma forma de não o encarar neste momento, era só mais uma maneira de aqueles lábios serem meus, só meus...pelo menos neste momento.
- Marcos... - parei o beijo, mantendo os nossos narizes juntos - eu tenho de ir antes que não queira sair deste carro. 
- Podias só sair daqui a uns tempos.
- Ainda é cedo para eu ir para a cama contigo! 
- Tecnicamente não estamos numa cama...
- Marcos! 
- Eu nem estava a falar nisso, tu é que pensaste logo em sexo.
- São as hormonas!
- Então estou para ver quando engravidares...vai ser lindo vai. 
- Tu estás a ouvir o que estamos para aqui a dizer?
- Nós estamos a falar do...futuro.
- Do nosso.
- E querias tu ir com calma. 
- E quero. Isto já é de estar à imenso tempo contigo. Vamos falando - antes de sair do carro...voltei a dar-lhe um beijo. 
Entrei em casa e dirigi-me à sala, onde estava a minha mãe.
- Boa noite - atirei-me para cima do sofá, enquanto que a minha mãe estava no seu cadeirão a ler um livro. 
- Divertiste-te?
- Sim. Foi muito divertido - foi mais, muito mais que isso! Mas agora não interessa nada. 
- E como é que está o Marcos?
- Quem? - olhei para a minha mãe que sorria, mesmo estando com os olhos pregados nas páginas do livro. 
- Eu não nasci ontem Ania...sei bem que não eram umas amigas de passagem. 
- Madre... - como é que era possível ela saber? Teria visto alguma coisa? Levantei-me e sentei-me no chão junto a ela, agarrando-a pelas pernas - como é que sabes?
- Ania...eu sou tua mãe - ela fechou o livro, olhando para mim sei ver quando me estás a mentir. 
- Notou-se muito?
- Só para mim. O teu pai não desconfia.
- Mãe...eu estou meio perdida. 
- Queres conselhos de mãe?
- Quero...
- Senta aqui - desde pequena que eu e a minha mãe temos uma relação muito próxima. Ela é a minha melhor amiga. É a única pessoa a quem consigo contar tudo. Sentei-me no colo dela, parecendo uma autentica bebé - que é que vai nessa cabeça?
- Mãe...o Marcos...eu estive com ele hoje à tarde, e agora à noite. Nós estamos a dar-nos bem e...ele é tão, mas tão divertido. Ai mãe...ele responde-me com perguntas, ele consegue fazer com que eu fale e me atrapalhe menos, consegue...que eu não pense muito no que tenho para dizer. Apenas digo-o. Mas...
- O que é que pode ser assim tão grave para vos impedir de avançar?
- O pai. 
- O teu?
- Sim...o pai do Marcos já morreu. 
- A serio?
- Sim...e ele tem o nome do pai e tudo, mas porque é o mais velho dos irmãos. 
- Mas o que é que o teu pai tem a ver com isto tudo?
- O pai é treinador dele e é meu pai. 
- Pois lá isso é Ania - ela riu-se...eu tinha atrapalhado um bocado.
- Tu entendeste! Sabes o que o pai pensa se eu namorar com um jogador...e tu também não deves ter uma opinião muito diferente!
- Ania...eu só quero que tenhas uma pessoa a teu lado que te respeite e que te ame, como tu mereces. É óbvio que se for jogador da bola, será complicado de te manter perto de nós, mas...se é para a tua felicidade que direito tenho eu de me meter na tua vida?
- Mãe...tens o direito porque só tu me sabes dar conselhos como deve ser. 
- Queres o meu conselho?
- Sim. 
- Aproveita o tempo que tens com ele e depois com o passar do tempo vais ver se é o que realmente queres. Se for, tens de o apresentar a mim, ao teu pai e aos teus irmãos e cunhadas como o teu namorado. 
- Gracias mamacita! - estas conversas com a minha mãe só me fazem bem. Ela entende-me, sabe o que me vai pela cabeça, sabe o que eu sinto, mesmo que não lho diga. 
Ficámos as duas na sala ainda a falar um bocadinho sobre o Marcos até que apareceu o meu pai reclamando que já era tarde. 
Fui até ao meu quarto, que era no sótão da casa. Já que fui a última a nascer e a não planeada, quando comecei a dormir num quarto sozinha, pedi para ficar no sótão, já que não haviam mais quartos por estarem ocupados pelos meus irmãos. 
Sinceramente não me importei. Sempre tive a minha independência e é o meu cantinho. Meio feito de improviso, mas é super confortável.


Preparei-me para me deitar, vesti apenas uma t-shirt mais larga, uma vez que estava imenso calor. 
Deitei-me sobre os lençóis ficando apenas a tentar digerir tudo o que tinha acontecido hoje. Estava mesmo quase a dormir quando o meu telemóvel dá sinal de mensagem.
Peguei nele e abri-a. 

DE: Príncipe
Dorme bem minha Cinderela. Poderei passar no café da tua família para tomar o meu pequeno-almoço?

Não pensei duas vezes e respondi-lhe à mensagem: 

PARA: Príncipe
Tu podes fazer o que te apetecer amanhã de manhã. Depois tens é de estar preparado para todos os cenários. Dorme bem. Besos. 

Coloquei o telemóvel na mesinha e virei-me para o outro lado. O telemóvel ainda deu sinal de mensagem, mas queria mesmo dormir e nem vi o que era. 

No dia seguinte: 
Acordei ligeiramente mal disposta...sentia-me prestes a vomitar a qualquer momento e com umas dores de barriga horríveis. Mesmo assim, levantei-me, tomei um duche quente, com a esperança de que iria melhorar. Vesti-me e desci até à cozinha para acompanhar o pequeno-almoço dos meus pais: 


- Bom dia! - cumprimentei-os aos dois e sentei-me à mesa, pegando no jarro de sumo, colocando um pouco no copo para, ao menos, beber algo. 
- Bom dia filha - disse o meu pai pregado ao jornal desportivo.
- Não vais comer nada Ania? - perguntou a minha mãe. 
- Estou mal disposta...
- Outra vez querida? - não era a primeira vez que isto acontecia esta semana. 
- Pois...parece que sim. Temos de ir para o café.
- Queres ficar cá em casa?
- Não, eu vou. Isto passa. 
A minha mãe terminou o pequeno-almoço dela, despedimos-nos do meu pai e fomos para o café. Preparamos tudo para quando começassem a chegar os clientes. 
Em vez de melhorar...só estava cada vez pior. Sentia-me ainda mais cansada do que o normal, mais mal humorada. 
- Ania, devias ir para casa, ou então beber um chá.
- Mãe...não consigo sequer pensar em cheiros ou comida. 
- Ania...sê sincera comigo.
- Porque?
- Apareceu-te o período?
- Claro mãe. Mas porque?
- Parece que estás com sintomas de grávida...e...com o que te aconteceu. 
- Achas que estou grávida? Não mãe, não - desfiz-me em lágrimas e a minha mãe abraçou-me. 
- Ania...tem calma. O que te aconteceu foi horrível eu sei, mas...pode muito bem ter tido mais consequências.
- Uma gravidez de um nojento? Ele é que fez a merda e eu é que tenho de sofrer com tudo?
- Ania tem calma filha.
- Mãe! Como é que é possível ter calma se o que me estás a querer dizer é que posso estar grávida do porco que me violou? - eu gritava com a minha mãe...não por ela ter alguma culpa, mas por me estar a sentir suja, horrível, usada...
- Ania...filha...
- Oh mãe...eu só queria que aquela noite não tivesse acontecido!
- Eu sei querida, eu sei! Mas aconteceu e tu parecias estar bem.
- Eu estava...mas poder estar grávida...
- Temos de ter as certezas. E tens de te acalmar. Estar nesse estado não te faz bem. Vou fazer-te um chá.

Ortencia - mãe de Ania:
Ver a minha filha na angustia que está é a pior coisa que me podem fazer. A Ania foi violada à dois meses, na primeira vez que foi a uma discoteca no sitio onde ficava a faculdade dela. Passou uns tempo horríveis e foi um processo difícil, mas ela tem andado bem e este Marcos só veio provar que ela estava mesmo estável. 
Podemos estar a fazer filmes onde não existem, mas também pode ser tudo verdade.
Fiz-lhe o chá, ela bebeu-o e passado algum tempo piorou ainda mais. Contorcia-se com dores abdominais. A nossa sorte era não termos muitos clientes. Ela estava na cozinha sentada num banco. 
Estava a tentar perceber como ela se sentia quando entra no café o tal Marcos.
- Bom dia senhora Gottardi. 
- Bom dia.
- Era...um café e uma torrada por favor. 
- É para já - saberia ele que a Ania estaria ali? Fiz a torrada para o rapaz e servi-lha, juntamente com o café.
Ele olhava-me e parecia querer falar ou perguntar algo. 
- Queres perguntar-me alguma coisa? - inquiri. 
- A Ania não está a trabalhar consigo?
- Ela está lá dentro só que não se está a sentir muito bem.
- Como assim?
- Está mal disposta e com umas dores abdominais. Podes olhar só pelas coisas enquanto vou ver dela?
- Claro.
- Obrigada - entrei na cozinha e ela estava toda suada, a contorcer-se e a chorar - filha, como é que te sentes?
- Mãe! Dói tanto!
- Vamos ao hospital, eu fecho o café e vamos porque temos de ver o que se passa. 
- Oh mãe...
- Espera, eu vou falar com os clientes e já te venho buscar - sai da cozinha e olhei para o Marcos - eu tenho de ir com ela para o hospital e tenho de fechar o café. 
- Quer que vá com ela?
- Fazias isso? Eu vou logo atrás de vocês, é o tempo de fechar o café. Esperava até fazê lo, mas ela está muito mal. 
- Claro - ele retirou a carteira do bolso, pronto para pagar a conta.
- Marcos, deixa isso. Ajuda-me a levar a Ania até ao teu carro. 
- Com certeza. 
Fui até à cozinha e ajudei-a a levantar-se, trouxe-a até ao balcão, onde já estava o Marcos. 
- O que é que estás aqui a fazer? - perguntou ela, surpreendida por vê-lo.
- Eu disse que vinha tomar o pequeno-almoço. 
- E agora vai levar-te para o hospital.
- Não! Mãe...eu quero-te a ti! 
- Eu vou logo atrás de vocês meu amor, é só o tempo de fechar o café. 
- Mãe...
- Filha, tens de ir - ela ficou reticente em relação a avançar para o Marcos, mas ele pegou nela ao colo, antes de ter tempo de alguma coisa. Fui com eles até ao carro e coloquei a mala dela junto do Marcos. 
- Levo-a para que hospital? - perguntou o rapaz, depois de a deitar nos bancos traseiros.
- Leva-a para onde vocês costumam ir, é lá que está o médico dela.
- Com certeza.
- Eu vou já ter com vocês.
- Fique descansada que eu tomo conta dela.
O Marcos meteu-se no lugar do condutor e partiu em direcção do hospital. Fiquei com o coração nas mãos, mas voltei para dentro do café para despachar tudo o que tinha a fazer.

Marcos:
Era horrível ver o sofrimento em que a Ania estava. Ela gritava com dores, chamava pela mãe, pelo pai, por mim, e chorava. Era completamente penoso ouvir o sofrimento dela, sentir que ela estava em completo sofrimento. 
Chegámos ao hospital o mais depressa que consegui. Abri a porta das traseiras e peguei na Ania ao colo, levando-a para as urgências. Assim que me viu, uma enfermeira chegou perto de nós:
- Que se passa?
- Ela está a queixar-se com dores na parte do abdómen e sentia-se mal disposta. 
- Traga-a até à maca - fiz o que a enfermeira me disse e ela levou-a para a sala de observação.
- Importa-se de me acompanhar? - perguntou uma outra enfermeira ou recepcionista - tem de preencher os dados da sua namorada.
- Talvez não seja a pessoa indicada...mas a mãe dela vem a caminho.
- Não tem documentos dela?
- Tenho.
- Então preencha o que sabe.
- Com certeza. 
A senhora deu-me os formulários e eu preenchi o que podia saber com os documentos que a Ania tinha na carteira. 
Entretanto chegou a mãe dela:
- Onde é que ela está?
- Foi para a sala de observação com uma enfermeira. Pediram-me foi que preenche-se estes papeis.
- Eu ajudo - nisto, somos abordados pela enfermeira que tinha levado a Ania.
- Foi o senhor que trouxe a Ania?
- Sim, sim. 
- Eu sou a mãe. 
- Há alguma hipótese de ela estar grávida? - grávida!? A Ania!?
- Sim...ela disse-me que tinha andado com a menstruação, mas é possível, sim. 
- E sabe dizer-me de mais ou menos quanto tempo?
- Dois meses...a última vez que a Ania teve relações foi à dois meses. 
- A senhora tem a certeza? Eu não quero estar a duvidar da sua palavra, mas precisamos de ter a certeza para saber que tipo de exames fazer.
- Tenho. Ela foi violada à dois meses e desde então que nunca mais se envolveu com ninguém - continuaram as duas a falar, mas eu perdi-me. 
A Ania...tinha sido violada. Pode estar grávida...e se está neste estado...algo mau está a acontecer-lhe.

4 comentários:

  1. Olá!!!
    Bem, que posso dizer? Nem sei por onde começar...mas cá vai.
    Gostei da conversa entre a Ania e o Marcos. Também gostei da conversa entre a mãe e a Ania.
    Tadinha da Ania...violada...:/. Espero que o Marcos a ajude nesta fase mã da vida dela.
    Próxima rapidinho...pq deixaste-me em pulgas ;)
    BJ

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  2. Adorei!
    Uiii que capítulo!!
    Como sempre adorei a conversa da Ania e do Marcos, adorei esta parte "-Porque eu sou irresistivel."/"- Sim! Não...não, nada disso."/"- Em que é que ficamos?"/- Sim...sim, sim, sim!".
    Gostei muito também da conversa da Ania com a mãe!
    E a parte que eu não estava nada à espera....a Ania foi violada? Não estava mesmo à espera....coitada, só espero que ela não esteja grávida. E coitado do Marcos, ficou a saber de tudo assim de repente, bem se ela tiver grávida além do apoio dos pais, acho que o Marcos também a vai ajudar muito.
    E agora quero muito o próximo para saber como vai reagir o Marcos e para saber como é que está a Ania.
    Próximmmoo Rááppiiidddooo!!

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  3. Adorei <3
    Mais por favor...
    Beijinhos :*

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  4. Olá.
    Estava a gostar tanto (como naquela citação que a Sofia fez) até que chegou a parte surpreendente: nunca pensei que ela tivesse sido violada.
    Espero que ela não esteja grávida, se não acho que ela vai ficar um pouco traumatizada...
    Estas dores podem ser apêndice, são quase parecidos os sintomas xb
    Independentemente do que seja, espero que o Marcos continue do lado dela.

    Próximo
    Beijinhos
    Daniela^^

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