-
Podo ir contigo, papu? – levava a Morena no carro em direção da casa do André e
da Iara. Era mais um dia de treino, mais um dia em que ia deixar a minha filha
com a mãe. Provavelmente mais um dia em que não a iria ver. Um dia em que a Ania
não viria à porta para me ver.
-
Já sabes que não pode ser, princesa do pai.
-
Oh! Eu queo tar contigo! E não com a mamã.
-
Porque é que não queres estar com a mamã?
-
Porque ela tá tiste! – não podemos ser todos como as crianças? Acho que a
Morena nos consegue ensinar mais do que qualquer outro adulto neste momento.
Ela, mais do que ninguém, sabe perfeitamente o que a mãe sente. O que eu sinto
ou o que qualquer um da família sente. Ela observa-nos, chega perto de nós para
nos tentar consolar e faz de tudo para mudar o ambiente onde quer que esteja.
Mesmo que isso seja a sua maneira de ser e não o faça conscientemente.
-
Então…mas se tu não fores para ao pé da mamã, ela ainda fica mais triste.
-
Fica?
-
Claro, More – parei o carro junto da porta de casa do André, saindo do mesmo.
Fui até à porta do banco traseiro, abrindo-a logo de seguida – se tu estiveres
ao pé da mãe eu tenho a certeza que ela fica logo mais feliz.
-
Tá bom – retirei-a da cadeirinha, levando-a ao colo até à porta de casa do André.
A Morena tocou à campainha e depressa a Iara nos veio abrir a porta – dinha!
-
Bom dia, meu anjo! – a Morena precipitou-se na direção dos braços da madrinha,
dando-lhe um abraço – ai mas que abraço tão bom!
-
A mamã? – perguntou, muito depressa, a Morena ficando a olhar para a Iara.
-
A mamã está na cozinha a fazer papinha! – como combinado, a Morena vem sempre
aqui tomar o pequeno-almoço. Torna-se mais fácil para mim e para elas são mais
uns momentos bons desta fase meia complicada.
-
Podo ir lá?
-
Claro que podes – a Iara colocou-a no chão e a Morena desatou numa correria
pela casa dentro, desaparecendo no momento em que entrou na cozinha – como é
que estás? – perguntou a Iara, olhando-me séria.
-
Acho que vou andando. Não há “bem” neste momento.
-
Eu preciso de falar contigo… - a Iara parecia preocupada. Bastante, até. Fechou
um pouco da porta, vindo para o exterior da sua casa – a Ania não tem andado a
comer nos últimos dias – confessou – ela pensa que eu não percebo, mas ela anda
sem ingerir comida há uns dois, três dias. Anda à base de água, chá e pouco
mais. Não faz uma refeição connosco, diz que tem sono e fica sempre lá por
cima.
-
Isso não me parece bom…
-
Eu não sei como abordar este assunto com ela e, para ser sincera, eu já não sei
como falar com ela – os olhos da Iara estavam abatidos. Não imagino como seja
um dia delas nesta casa, como será o estado de espírito da Ania neste momento.
Nas últimas duas semanas não nos víamos. Ela não vinha até aqui à porta buscar
a Morena, nem a vinha trazer a mim. Quando eu entrava, ficava na cozinha ou no
seu quarto. Era como se andasse cada vez mais a fugir de mim e eu sem saber o
que fazer para me aproximar dela – eu estou preocupada com a tua mulher,
Marcos. Ela não pode continuar assim…
-
Importaste que passe aqui depois do treino para tentar falar com ela? Só nós
dois?
-
Claro que não. Vem com o André que, depois, nós levamos a Morena connosco a
almoçar fora e ficam à vontade.
-
Obrigado – aproximei-me dela, dando-lhe um beijo na testa – vai ficar tudo bem,
Iara. E obrigado por tudo o que estão a fazer por ela. Eu não imagino o quanto
será difícil ficar com a Ania assim…
-
É quase como se ela fosse uma pessoa totalmente diferente – o meu maior medo.
Que, no final desta fase, ela não seja mais a Ania que todos nós estamos
habituados a ter por perto.
O
treino não estava a correr bem. Estava a ser difícil para mim concentrar-me,
fazer um passe ou um corte como deve ser. E o mister já o tinha percebido. Eu
não estava concentrado no que estava a fazer, mas não foi por isso que me
deixaram de parte. É algo que eu agradeço.
Sei
que, se saísse daqui a meio do treino por uma repreensão, iria ficar chateado
comigo mesmo e não conseguiria, provavelmente, ir ter com a Ania a seguir.
-
Não achas que precisas de te concentrar mais?
-
Rui…
-
Eu não faço ideia o que se anda a passar contigo – o André, o treinador e a
direção eram os únicos que sabiam de todos os detalhes – mas tu precisas de te
focar no que estás a fazer. Vamos ter jogos demasiado importantes e precisamos
de ti Marcos.
-
Eu vou tentar, Rui – o André olhava-me, do outro lado do balneário, quase com
aquele ar de está tudo a perceber-te.
Sabia que era difícil manter isto um segredo por muito mais tempo… - pessoal? –
acabei por falar alto, recebendo a atenção de todos naquele momento – eu quero
pedir-vos desculpa. Nestes últimos treinos e jogos eu sei que não tenho estado
no meu melhor. Sei que vos parece que não ando focado no clube por causa das
propostas que os jornais expõem todos os dias – sim, seria o mais normal. Que
eu, com as proposta que recebo, andasse mais preocupado com isso do que com o
meu trabalho – mas não é isso. É algo pessoal.
-
Não precisas de falar se não te sentires à vontade – garantiu o William, quase
como me interrompendo naquele momento a dar-me uma segunda oportunidade para
continuar ou não com o meu discurso.
-
Vocês conhecem-me há quase, pelo menos, cinco meses – os novos que tinham
chegado – outros já há um ano - o caso do Maurício e do William – e outros
desde que eu cheguei há duas épocas – o André e o Rui – sinto que vos devo esta
explicação por todas as horas que passamos neste balneário, de todas as horas
de viagem que fazemos e por serem tão bons companheiros de equipa. Eu e a Ania
estamos a atravessar uma fase muito complicada. Há uns meses atrás ela quis ser
barriga de aluguer para o irmão – ela visível o espanto nos olhos de todos –
nós avançamos com essa decisão, conscientes de que seria complicado para todos.
Que poderia ser uma coisa que afeta-se o nosso casamento mas, na última
consulta, ela descobriu que não poderia voltar a ter uma gravidez e iria ter de
passar por todo o processo de fertilização que fez quando foi da gravidez da
Morena – pela primeira vez falava com todos sobre algo tão pessoal. Mas sentia-me
bem, era como se falasse com família – ela não aceitou muito bem, como devem
calcular, e está a viver com o André e a Iara há quase dois meses – naquele
momento uns olharam para o André e outros continuaram a olhar para mim – por
isso, tem sido tudo muito complicado de gerir e eu quero pedir-vos desculpa por
isso. Sei que não devemos misturar a nossa vida pessoal com a profissional…
-
Isso não tem lógica, não – interrompeu o Maurício – a sua vida virou toda ao
contrário, moleque! Tem mais do que razões para não ter o foco em todos os
momentos.
-
O Mau tem razão – concordou o Rui – e desculpa se fui um bocado obcecado demais
em querer que te concentrasses mas não fazia ideia do que se estava a passar.
-
Não tem problema. Eu percebi que estavam a achar que seria por causa das
propostas…e é melhor saberem a verdade. Eu gosto muito de estar aqui,
acreditem.
-
Vai tudo ficar bem, moleque – num gesto super inesperado para mim, o Maurício
foi aquele que primeiro se aproximou de mim, levando as suas mãos à minha
cabeça – qualquer coisa que tu precisar, nós vamos estar cá pra você – cada um
deles veio ter comigo, abraçando-me. Não tenho palavras para lhes agradecer
por, simplesmente, serem uma segunda família para mim.
ANIA
-
Mamã, não queres um cadinho?
-
Não, meu amor, a mãe não tem fome. Come tu, vá – meti-lhe mais um bocadinho de
bolo no prato, vendo-a comer.
-
Depois podemos ir para a rua?
-
Está a chover, princesa – respondeu-lhe a Iara – mas a dinha tem lá na sala
umas coisinhas para ti!
-
Tens?
-
Tenho sim senhora! O pai natal dos dinhos chegou um bocadinho mais cedo com
algumas prendas.
-
A sério? – a Morena ficou surpreendida com aquela afirmação da Iara – porquê?
-
Ele disse que te portas tão bem que merecias duas prendas antes do Natal! Já
viste que sorte tens?
-
Mãe – olhou-me – eu vou ter prendas do pai natal dos dinhos! – os olhos dela
brilhavam imenso e mais pareciam que iam sair da sua cara.
-
O pai natal sabe perfeitamente que a minha menina é muito bem comportada –
levantei-me, dando-lhe um beijo na bochecha – a mãe vai à cozinha e já volta.
Olhei
para a Iara antes de sair…sabia que ela está preocupada comigo. Não pára de
olhar para mim a cada segundo, espreita-me de noite pensando que estou a dormir
e, o mais importante de tudo, faz tudo o que consegue para manter a Morena
ocupada enquanto aqui está. Algo que eu não consigo fazer.
Fui
até à cozinha…não sei bem porquê. Acho que precisava de estar sozinha por um
bocadinho. Como é que eu quero estar sozinha quando a minha filha está cá?
Bom…porque eu não sou mais eu. Pelo menos não me sinto a ser aquela Ania que
era a mãe da Morena. Aquela mãe que demorou tanto tempo a
construir…simplesmente parecia não existir dentro de mim.
Onde
e como é que eu conseguirei encontrar esse Ania? Será possível encontrá-la? Não
queria ser assim, não queria passar a sentir-me como aquela Ania de há poucos
meses atrás.
-
Ela já comeu – a Iara entrou na cozinha com alguns pratos na mão – está a
brincar na sala – ficou de costas viradas para mim, mas sabia perfeitamente que
ela queria dizer mais qualquer coisa.
-
Obrigada – acabei por ser eu a dizer algo…acho que a Iara só irá dizer qualquer
coisa quando estivermos sozinhas.
-
Precisas de te orientar – virou-se para mim, olhando-me bastante séria – não podes
ficar assim por muito mais tempo. Eu sei que não te sou nada, que nem deveria
ser eu a dizer estas coisas mas não dá simplesmente para não nos preocuparmos
contigo. Não tens comido nada nos últimos dias – encostei-me à parede, acabando
mesmo por baixar o olhar – deverias procurar ajuda, poderia fazer-te bem – ela aproximou-se
de mim, abraçando-me – nós só queremos o teu bem.
-
Eu sei… - que mais lhe poderia dizer eu? – obrigada…
-
Tenta…pelo menos estar ali ao pé dela um bocadinho, sim? – assinalei que sim
com a cabeça, vendo a Iara sair da cozinha. Por mais que eu queira…é tão difícil!
Já
não ouvia ninguém há algum tempo. Foi como se tivessem simplesmente adormecido.
Será que adormeceram? Não faltava muito tempo para o Marcos estar aí…dentro de
pouco tempo a voz dele iria fazer-se ouvir nesta casa, todo o meu corpo ia
vacilar sem reagir a nada. Iria continuar aqui, dentro deste quarto, olhando
estas paredes sem querer estar ao pé dele.
A
porta do quarto depressa se abriu e apressei-me a fechar os olhos. Provavelmente
seria a Iara, dizendo-me que o Marcos tinha chegado…como o faz todos os dias. E
todos os dias eu me deixo ficar aqui. Sentou-se ao fundo da cama, provavelmente
olhando para mim. A respiração era mais pesada do que o habitual, o perfume
diferente…era o do Marcos.
-
Eu sei que não estás a dormir… - ouvi-lo assim tão perto era quase surreal. Parecia
estar quase a ouvi-lo pela primeira vez em que nos conhecemos.
- Mister!
- ouvimos um
grito vindo do outro lado da garagem.
O meu pai estava a ajudar o
treinador do Estudiantes, neste inicio de época. Era uma espécie de motivador e
treinador adjunto, mas só ia quando sentia que o tinha de fazer.
Vinha um jogador na direcção dele,
com a pasta do meu pai na mão.
-
Faustino! - o
meu pai largou-me e eu virei-me para esse tal jogador...que eu não estava a
reconhecer pelo nome. Não há nenhum jogador com o nome Faustino...mas...é o Rojo.
Deverá ser Faustino o primeiro nome dele.
-
Mister...não me chame Faustino...
- Não é
esse o teu nome rapaz?
- É...mas
ninguém me trata assim.
- Trato-te
eu - o
meu pai abraçou-o - bom jogo
rapaz.
- Obrigado
mister. Esqueceu-se da sua pasta à tarde.
- Obrigado
por ma teres trazido.
- Ora
essa...não tem de me agradecer - os
nossos olhares trocaram uma faísca por uns momentos.
- Estou a
ver a razão de teres sido tu a vir entregar-me a pasta...mas nem penses
Faustino!
-
Mister...não é nada disso.
- Ai não?
Vamos ver... Ania este é o Rojo, o nosso defesa central; Faustino... é a minha
filha, Ania.
- Filha!?
Mister...
- Como eu
pensava... mas pensava também que a cumprimentasses à mesma.
-
Claro...que sim - avançamos
os dois na direcção um do outro e ele deu-me dois beijos, um em cada bochecha - Muito gosto, Ania.
-
Igualmente...Marcos - ele
ficou a olhar para mim...posso não saber quem é o Faustino...mas sei
perfeitamente quem é o Marcos Rojo, ou não fosse eu aficionada ao
Estudiantes.
- Estou a
ver que não é com a sua filha que aprendeu o hábito de me chamar Faustino...
- Estás
tão espantando quanto eu... - enquanto
o meu pai ficou a falar com o rapaz por uns minutos, eu e a minha mãe fomos
indo para o carro.
Estávamos as duas no interior
do mesmo e dei por mim a olhar para o Faustino...Marcos ou Rojo.
-
Podes olhar para mim? – não sei quanto tempo estive sem abrir os olhos. Para ele
provavelmente uma eternidade mas para mim foi o tempo que precisei até o fazer.
Não foi o tempo suficiente para estar preparada para o encarar…acho que isso nunca
iria estar mesmo que isto fosse combinado – obrigado – não sei se o deveria ter
feito. A vontade de chorar apoderou-se de mim, mas ao mesmo tempo havia mais
vontade de me aproximar dele – achas que podemos falar um bocadinho? – não lhe
consegui dizer que sim…limitei-me a abanar com a cabeça, sentando-me na cama de
seguida – eu vou precisar mesmo de te ouvir, Ania… - boa… - eu sei que nada
disto é fácil para ti, que deve ter trazido à tona imensas emoções e memórias
que não deveriam ser relembradas. Mas eu estou cansado…eu não quero que
passemos a resolver as coisas com afastamentos – ele parou de falar, ficando a
olhar para mim. Deveria eu dizer qualquer coisa neste momento? O que é que eu
lhe digo? – tenho falado com a Iara sobre ti e eu sei que não tens comido nos
últimos dias. Fala comigo, por favor.
-
Creo que no sé lo que te decir –
confessei – es muy difícil. Yo no soy la
misma.
-
Fala comigo… - pediu, aproximando-se mais de mim – diz-me tudo o que queiras e
no fim veremos o que tu conseguiste dizer. Mais do que teu marido eu só quero
perceber como é que tu estás neste momento.
-
Sinto que não há qualquer luz ao fundo deste túnel – comecei – sinto que por
cada vez que eu me tento reerguer há algo que me bloqueia. Eu não sei o que é…ou
se calhar sei. Eu sei que desde que perdemos a Arya…eu não sinto que possa vir
a ser a mesma – sentia o meu corpo a tremer e os olhos a encherem-se de água –
eu nunca a conheci, nunca estive com ela nos meus braços mas eu tinha amor para
dar às duas. Eu queria ter dado amor às duas, Marcos. Eu queria ter tido essa
possibilidade na minha vida – se teria de falar com ele…que fosse sobre tudo o
que se passa dentro de mim – achei que fosse conseguir isso trazendo ao mundo o
meu sobrinho. Ele poderia despertar tudo o que está apagado em mim…ele iria ser
um rebento tão pequeno que eu iria querer proteger e amar como se fosse meu
filho. Mas depois eu penso: e se me fizesse pior? E se eu ficasse de tal forma
ligada a ele que não aguentasse se mo tirassem? – o Marcos olhava-me atento…sabia
que ele me iria deixar falar sobre tudo e só depois me ia dizer qualquer coisa –
nunca será possível estar preparada para que me digam que não posso ter filhos
se não fizer tratamentos – limpei as lágrimas que me tinham começado a escorrer
pela cara…dói tanto falar sobre isto – é como se todos os teus sonhos
desaparecessem. O sonho de ser mãe de uma família grande, de ter mais do que um
filho…esse sonho desaparece mesmo que possam existir possibilidades. E depois
para tentares ser mãe outra vez precisas de passar por todos aqueles
tratamentos e voltas a lembrar-te da filha que perdeste… - ele deixou escapar
uma lágrima…sabia que para ele também seria difícil, sabia que nada disto seria
fácil para ninguém – eu…posso reagir da pior forma, eu não reajo de uma forma
que seja justa para ti. Eu só penso em mim, eu só me preocupo comigo e não penso
em ti, na nossa filha e na nossa vida – fiquei a olhar para ele…tinha
terminado, eu não consigo mais.
-
Tens de comer – disse-me, com aquela sua calma tão caraterística na voz – não podes
deixar de comer.
-
Não tenho tido apetite.
-
Precisas de comer. De procurar ajudar para ti mesma…
-
Eu não consigo falar disto com ninguém. Eu não quero ter de recordar tudo vezes
e vezes sem conta…eu queria pôr uma borracha sobre tudo e apagar o que
aconteceu.
-
Não poderias fazê-lo. Nunca. Ao apagares o que aconteceu irias apagar toda a
história que nós temos, todos os momentos que foram duros mas estivemos lá um
para o outro.
-
Mas era melhor! Era melhor porque eu não sofreria, tu não sofrias e não estavas
nesta situação de ser pai e mãe da Morena quando eu não o consigo ser – destruía-me
por dentro dizer tudo em alta voz…era melhor sempre que não o fazia. Ao menos
conseguia não refletir sobre aquilo que dizia – eu não sou uma mulher capaz de
estar a teu lado, não estou a conseguir cumprir aquilo que juramos um ao outro
quando nos casamos. Por muito que eu queira eu simplesmente não sei quando
conseguirei ser a tua esposa, a tua mulher e companheira. Eu não sei se alguma
vez o fui…
-
Não digas isso – aproximou-se de mim, levando as suas mãos ao meu pescoço. O toque
dele gerou quase que um choque elétrico em todo o meu corpo. Arrepiou-me,
fez-me sentir cada batimento do meu coração no fundo da minha garganta. Era o
toque dele, aquele que sempre me deixa confortada – desde o primeiro dia que
nos conhecemos foste minha mulher. Tu procuraste sempre o meu melhor, estiveste
a meu lado nos tempos mais difíceis e em todos os mais bonitos. Deste-me a
melhor filha do mundo, o nosso anjinho. Como te disse no dia do nosso casamento
tu és a peça que faltava na minha vida, eu sou feliz contigo junto a mim…eu só
te quero comigo – recordar o nosso casamento…tínhamos tanto medo naquele dia. Pelos
nossos dois bebés – eu amo-te todos os dias. Desde o amanhecer até ao amanhecer
seguinte. Sempre. Agradeceste-me, naquele dia, todos os miminhos que te dou…e
eu quero continuar a dar-te – passou com o seu polegar sobre a minha bochecha
sorrindo – agradeceste-me por tanta coisa, Ania…que não devias fazê-lo. Tu trouxeste
o melhor de mim ao de cima, fizeste com que eu acreditasse no amor. Queres mulher
e esposa melhor que tu? – encolhi os ombros não sabendo o que dizer – és a minha
mulher. Nada mudará isso mas, por favor, volta para mim. Traz de volta a minha
Ania…nem que seja aos pouquinhos. Eu tenho tantas saudades tuas… - juntou a sua
testa com a minha, fechando os olhos.
Levei
as minhas mãos à cara dele fechando também os meus olhos.
-
Obrigada por teres vindo… - abracei-o. Acho impressionante como todas as
palavras dele conseguem mexer com cada pedacinho do meu cérebro, do meu coração
e de tudo em mim. Ele sempre o conseguiu fazer, sempre conseguiu chegar bem
fundo dentro da minha alma.
-
Olha para mim – afastei-me um pouco dele fixando o meu olhar no dele – vem comigo
para casa. Só hoje. Só nós dois.
-
A Morena…
-
Eles cuidam dela. Creio que não se importam. Vamos ficar só nós dois
sossegados. Não serão precisas palavras, nem gestos. Bastaria ficares nos meus
braços só por hoje…
-
Não pode ser…só hoje não será suficiente – levei as minhas mãos à sua cara – eu
sei que, se for contigo, vou precisar de muito mais. Vou querer tudo mais. E eu
preciso, primeiro, de assentar. De me sentir eu.
-
Mas eu quero ajudar-te – levou as suas mãos à minha cintura, puxando-me para
ele – diz-me, explica-me como é que o vamos fazer os dois. Vamos ficar juntos,
os dois, a resolver tudo o que se passa contigo.
Sentir
as mãos dele pelo meu corpo despertava aquelas sensações boas que há tanto
tinham desaparecido. Sentir a respiração dele tão perto da minha arrepiava-me…mas
aquela sensação de estar completamente quebrada por dentro mantinha-se.
Os
lábios dele juntaram-se aos meus. Num ato tão rápido que eu não soube como
reagir a ele…pelo menos nos primeiros segundos. Deixei-me envolver por aquele
beijo, pelo desejo que ele começava a demonstrar…por mais que não fosse
daqueles beijos tão intensos como muitos dos nossos, que fosse calmo conseguia
despertar o desejo no Marcos…e em mim. Começava a ter esse efeito também em
mim.
Levei as minhas mãos à
camisola dele, livrando-me dela depressa demais. Talvez depressa demais para
aquilo que ele esperava. Ficou a olhar-me, eu sei que ficou…mesmo que eu olhasse
para o seu corpo, percorrendo cada pedaço da sua pele. Era o meu Marcos. Serei eu
a sua Ania?
Olá a todas!
Ao fim de 49 capítulos, 211 comentários e mais de 11.100 visualizações no blog, chegou o dia de celebrar com vocês o terceiro aniversário da Your Love! Pois é...cumpre três anos hoje. O capítulo já vem um pouquinho tarde mas não poderia deixar passar a data em branco.
Obrigada a todas vocês que estiveram aí ao longo deste tempo, àquelas que já desistiram e às que começaram a ler quando a fic já ia com alguns capítulos publicados. Sei que, ultimamente não tenho publicado com tanta frequência...peço desculpa por isso. Mas, às vezes, a nossa imaginação parece bloquear!
Espero que não tenham desistido da história e que ainda haja alguém desse lado. Um grande beijinho a todas e fico a aguardar os vossos comentários.
Ana Patrícia.