MARCOS
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More? – quando ela está tanto tempo sossegada, é de estranhar. Regressamos há
pouco tempo de casa do André e da Iara já que a Morena tinha ficado lá enquanto
estive no treino – hija, donde estás?
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Escundida! – ouvi, quase num sussurro, a voz dela. Vinha da sala, ela estaria
aqui mas…onde? – procua papu, procua – tinha mesmo de a procurar, se ela me
está a desafiar para jogar às escondidas é porque quer alguma coisa. Mas, não
havia maneira de a encontrar. Nem debaixo da mesa estava, nem atrás do sofá, nem
das cortinas.
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More…eu desisto, eu não sei onde é que estás!
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Aqui – a porta do armário começou a abrir-se e ela saiu de lá. Com o seu jeito
de bailarina, rodopiou sobre o seu corpo batendo palmas – ahora esconde tu.
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Mas tens de tapar os olhos!
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Tá bom – escondi-me atrás do sofá, reparando que ela se mantinha de olhos
tapados – já podo?
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Já, já podes – ela, numa correria frenética, veio direta a mim saltando para o
meu colo – como é que sabias que eu estava aqui?
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Eu vi o cabelo! Não o escondeste!
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Ai eu não escondi o cabelo – comecei a fazer-lhe cócegas, parando só quando ela
já estava com soluços.
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Papu – ela sabe dizer pai e padre mas anda com aquele jeito de me chamar papu –
poque é que a mamã tá em casa do padinho?
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Uma pergunta difícil, garota! – levei as minhas mãos à cara dela, dando-lhe um
beijo na testa – a mamã precisava de…estar com eles. Só por uns dias.
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E yo vou ir lá todos os dias?
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Sim. Sempre que o pai não estiver em casa, vais ficar com a mamã.
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E o padinho não. Só com a madinha.
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O padrinho está com o pai nessas alturas – tocaram à campainha, fazendo com que
ela fosse a correr para a janela. Meteu-se em cima do banco que lá estava,
olhando para o exterior.
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É a tia Mina! – levantei-me do chão, indo abrir a porta. A Morena desatou a
correr para abrir o pequeno portão para que a Romina entrasse – tia Mina! – A
Romina pegou logo nela ao colo e as duas trocaram um abraço. Acabei por me
encontrar com elas a meio caminho, cumprimentando a Romina – a tia touxe
papinha!
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Obrigado, Romi.
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De nada, aproveitei que o Martín foi a uma formação e lembrei-me de passar para
vos ver.
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Obrigado, a sério – aproximei-me novamente dela, dando-lhe um beijo na testa –
vamos lá almoçar – peguei nos sacos que ela trazia consigo, dando-lhe passagem
para entrar em casa – eu vou buscar as coisas à cozinha – pousei os sacos em
cima da mesa de jantar, reparando que a Morena aproveitava para dar uns quantos
desenhos à tia.
Depois
de recolher pratos e talheres, fui colocá-los na mesa voltando à cozinha para
levar os copos.
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Papu! – a Morena correu na minha direção, agarrando-se às minhas pernas – vamos
papar?
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Vamos sim senhora, mi gordita!
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Tia Mina, anda! – como já era hábito dela, avançou na direcção da sua cadeira
subindo para a mesma. É impressionante o quanto ela já faz com pouco mais de um
ano – o tio? – perguntou, olhando para a Romina que se sentava ao lado dela.
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O tio foi aprender umas coisas. Foi à escola – esclareceu-lhe aquela dúvida,
fazendo com que a Morena se risse – vamos comer sopinha primeiro?
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Sopa no! – olhou para mim, fazendo beicinho...ela sabe que, comigo, consegue
sempre levar a melhor. É difícil dizer-lhe que não...
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More, tem de ser. Sopinha primeiro e depois mais qualquer coisa.
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No, eu no quiero.
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A tia dá só um bocadinho, sim? – ela voltou a olhar para o Romina, que dividiu
a sopa por duas tigelas mostrando-lhe aquela que tinha menos – pode ser este
bocadinho?
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Só esse?
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Sim, a tia promete.
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Bien – a Romina aproximou-se dela, começando a dar-lhe a sopa.
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Se quiseres eu faço isso... – acabei por lhe dizer.
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Não te preocupes. Tenho de aproveitar, enquanto posso, a minha sobrinha –
enquanto ela dava a sopa, abri uma garrafa de vinho para nós – pronto, a
sopinha já está! Agora, queres salsichas ou frango com batata?
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Fanguinho – respondeu-lhe olhando atenta para a Romina – qué isso? – apontou
para o pedaço de frango que a Romina acabara de colocar no seu prato.
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É o franguinho.
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Não queo! É aquio! – apontou para as salsichas e acabamos por nos rir os dois
com ela – não riam!
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Peço desculpa, peço desculpa minha flor – dei-lhe um beijo na bochecha,
servindo-me de alguma comida – vais comer sozinha e deixar a tia comer?
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Sí – agarrou na colher, começando a comer.
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Então, o Martín está numa formação? – perguntei, fazendo com que ela me
olhasse.
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Houve qualquer coisa da FIFA e ele foi lá. Acho que é por causa dos contratos
dos jogadores. Ele está a pensar voltar ao ativo com o trabalho dele.
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A sério? Isso é ótimo! Se ele quiser, ficas já a saber que sou um jogador
independente que está às ordens dele. É bom que o Martín não deixe o trabalho
dele de lado, sempre foi um grande agente e ajudou-me imenso.
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Vamos ver...estamos quase a terminar 2014 e queremos iniciar o ano da melhor
maneira possível.
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E vão conseguir.
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Acabei! – numa atitude muito despreocupada, a Morena acabou por empurrar com
alguma força o prato para o centro da mesa – perdón, foi sim querer.
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Já sabes, para a próxima não fazes isso.
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Sí, perdón papu – ela tentou aproximar-se de mim, algo que lhe era difícil
fazer já que estava presa na cadeira – posso sair e dar beijinho?
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Podes – a Romina riu-se e ajudou-a a sair da cadeira. Ela colocou-se a meu lado
e, depois de me baixar na sua direcção, deu-me um abraço e um beijo – muito
obrigado, filha.
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De nada. Panda?
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Vai lá ver o panda, vai – iríamos ter, com certeza, um momento de sossego. Com
o panda não haviam alternativa, ela petrificava a ver todos os desenhos
animados que dessem naquele canal.
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Ela está cada dia mais esperta.
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Nem tu imaginas o quanto! – olhei para a Romina, rindo-me – Tem, às vezes, com
cada pergunta...
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E aposto que, contigo, ela consegue tudo o que quer!
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Não é bem assim...
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Ah, não é! Tu és um pai babado, vê-se mesmo que seria incapaz de lhe recusar
alguma coisa.
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Eu só quero que ela seja feliz – confessei – sei que lhe tenho de colocar
barreiras, de a proibir de fazer algumas coisas mas, às vezes, eu não consigo.
Ela é demasiado persuasiva.
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Tu és é um coração mole com a tua bebé!
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Podemos dizer que sim – ela riu-se e acabou por beber algum vinho. Teria de
falar com ela sobre tudo o que tinha acontecido, ainda não tínhamos estado
juntos desde que a Ania lhes contou que não poderia engravidar nos próximos
tempos – Romi...como é que estás?
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Não te parece que estou bem, Marcos?
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Parece mas...
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Eu ainda não perdi a esperança de ser mãe – disse ela, super tranquila – o que
vocês iam fazer por nós é algo que me irá marcar para sempre. E, neste momento,
precisamos todos de uns tempos sem este peso de tentar ter um bebé. Porque vai
acontecer, eu sei que vai.
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E o Martín?
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Claro que ele ficou triste, ficamos os dois. Mas acho que não só por nós. Em
grande parte é por vocês também, pelo vosso futuro e por ela enquanto mulher.
Eu sei o que ela sente, eu só não sei é como ela está...a Ania não desabafa com
ninguém.
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Acredita que ela o faz com alguém.
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Contigo?
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Não. Nós pouco falamos. Mas ou com a Iara ou até mesmo com o André. Ela, com
eles, acredito que desabafe.
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O André nunca te disse nada?
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Nem vai dizer. E eu prefiro que assim seja. Acho que estamos, cada um, a
reencontrar-se e a tentar resolver não só o presente, como passado.
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E como é que vai ser o futuro?
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Uma pergunta para a qual eu não tenho resposta. Vamos ter que dar tempo ao
tempo, não é?
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Parece ser um bom plano.
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Foto, foto! – a Morena vinha com o meu telemóvel na mão e tinha a câmara
ligada. Provavelmente já teria andado a tirar fotografias a todos os cantos da
casa, algo que faz com regularidade enchendo-me a memória do telemóvel com
imensas fotografias.
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Está é na hora de dormires!
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Oh, no…
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Sí, sí. Já tomaste banho e já é muito de noite.
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Tá bem – ela entregou-me o telemóvel, saltando para o meu colo – vamos dormir
na cama gande?
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Eu acho que devias dormir na tua caminha…
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Quero domir contigo.
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Então vamos lá dormir – peguei nela ao colo, encaminhando-me para o meu quarto.
Assim que a coloquei na cama, tratou de retirar todas as almofadas que estavam
sobre a mesma e enfiar-se dentro dos lençóis – estás confortável?
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Sí. Deita, papu – ela fez sinal para que me deitasse ao lado dela, acabei por
tirar o boné e a camisola deitando-me ao lado da Morena – tá fio! – puxou os
lençóis para cima, tapando-me e tapando-se a si mesma – té amanhã.
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Até amanhã, filha – deu-me um beijo na boca, virando-se para o outro lado. Não
iria demorar muito para que ela adormecesse. Quando lhe dissemos que é hora de
dormir, ela acaba sempre por se deixar vencer pelo cansaço e adormecer mais
depressa que todos.
Vasculhei
o meu telemóvel, rindo-me sozinho. Como seria de esperar, haviam imensas
fotografias sem sentido nenhum, muitas fotografias dela mesma e a que ela tinha
tirado na sala. Acabei por a partilhar no meu instagram naquele momento.
A fotógrafa mais profissional de
todas antes de adormecer. Buenas noches!
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Depressa
percebi que ela estava a dormir. Já estava sossegada, a sua respiração estava
mais pesada. Tapei-a um pouco melhor, deixando-me ficar ali ao lado dela. O som
de mensagem no telemóvel fez-se ouvir. Ela não se mexeu, já estava mesmo
ferrada a dormir.
Ainda estás acordado?
Era
a Ania. Acabei por lhe responder que sim e receber, poucos segundos depois, uma
outra mensagem dela dizendo que estava à porta da nossa casa.
Com
algum cuidado, saí da cama rodeando a Morena com algumas almofadas para ela não
cair. Encaminhei-me, de seguida, até ao andar debaixo abrindo a porta de casa.
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Pensei que não fosses responder…
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Estive a rodear a Morena com almofadas, entra.
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Obrigada – ela passou para o interior da casa e acabei por fechar a porta – não
achas que devias vestir uma camisola…?
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Não me digas que ficas incomodada pela minha falta de roupa? – ela olhou-me,
rindo-se.
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Não me incomoda nada. Mas ainda te constipas.
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A casa está quente, não há problema. Não esperava ver-te aqui…
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Estava com imensas dificuldades em adormecer e vi a vossa fotografia…decidi
passar por cá.
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Ela já está a dormir. Mas podes ir vê-la, está no nosso quarto.
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Podemos…ficar aqui um bocadinho só os dois?
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Claro – ela sentou-se no sofá e acabei por ir ter com ela, sentando-me a seu
lado.
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Não temos falado muito…
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Ainda só passou uma semana desde tudo…pensei que quisesses o teu espaço
primeiro e, só depois, falar sobre alguma coisa.
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Eu estou tão confusa, Marcos. Se queres que te diga, eu acho que ainda não
dormi uma única noite como deve ser, eu não consigo deixar de pensar em tudo –
talvez me tenha enganado…talvez ela queira desabafar comigo – isto deitou-me
abaixo, eu não posso negar. Eu estava pronta para ajudar o meu irmão, eu estava
pronta para começar a pensar quando iria ter o segundo filho. E, depois de tudo
o que o médico e tu me disseram…eu não sei se aquilo que eu pensava era
realmente o que eu queria fazer.
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Estou a acompanhar.
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É isso. Acho que, ao decidir que os queria ajudar, eu acabei por deixar de me
preocupar com tudo o resto. Eu não vi os teus medos, eu não vi os meus próprios
medos. Foi tudo tão rápido, tudo tão alucinante…
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E agora? – não queria fazer demasiadas perguntas, não queria dar-lhe muito para
pensar. Acho que, neste momento, ela me deveria estar a ver apenas como alguém
em quem ela confia completamente para desabafar.
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Não sei. Eu sinto que não estou preparada para voltar para nós…mas também não
quero ficar nesta situação por muito mais tempo.
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Tenho a certeza de que vás conseguir encontrar-te a ti mesma… - ela sorriu,
acenando afirmativamente com a cabeça – precisas de tempo, assim como eu. Só
precisamos de nos respeitar um ao outro e saber que estamos sempre um para o
outro quando é preciso, como neste momento.
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Eu precisava mesmo de falar com alguém…e torna-se muito mais fácil quando é
contigo.
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E eu fico muito feliz por isso.
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Posso ir vê-la?
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Claro, fica à vontade – devo ter ficado a observá-la até que não a tive no meu
alcance de visão. Geralmente dizem-nos que só sabemos dar valor às coisas
quando as perdemos. Eu sei dar-lhe valor e dar valor ao que sinto por ela,
tendo em conta tudo o que já passamos.
Se
calhar, muitos homens já a teriam deixado. Se calhar eu mesmo já a teria
deixado se não a amasse tanto como amo. Mais do que ser minha mulher ou mãe da
minha filha, a Ania é já há dois anos e alguns meses a minha melhor amiga.
Antes de querer que as coisas entre nós fiquem 100% bem, eu quero que ela fique
bem.
Decidi
ir espreitar o quarto e ver se a Morena teria dado pela presença da mãe. Claro
que isso não aconteceu…ela dorme tão bem que a podemos tirar de uma cama e pôr
noutra sem que dê conta. Quem também adormece rápido é a Ania…tanto que
adormeceu ali ao lado da filha. E eu não a iria tirar dali, nem a acordar para
se ir embora. Limitei-me a tapá-la e ir dormir para outro quarto.
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A mamã domiu comigo! – disse a Morena, assim que entrou na cozinha ao colo da
Ania.
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Bom dia! – acabei por dizer, ouvindo um bom dia logo de seguida das duas –
então, a mãe agora também te dá o pequeno-almoço, sim? – olhei para a Ania,
pegando na minha garrafa de água – tenho de ir para o treino…achas que faz mal?
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Não, não. Vai descansado, eu depois posso ficar por aqui…até chegares.
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Obrigado – passei por elas, dando um beijo na testa a cada uma.
São
pequenos momentos que elas têm de aproveitar as duas. Pequenos momentos que eu
não posso contrariar, pelo contrário devo incentivá-las sem as pressionar. A
Morena consegue dar a volta à Ania, mesmo sem saber que o está a fazer. Se há
alguém que vá conseguir fazer com que a Ania se reencontre…esse alguém é a
nossa filha.
Olá meninas!
Aqui vos deixo mais um capítulo que espero que gostem. Fico a aguardar pelos vossos comentários.
Beijinhos,
Ana Patrícia.