domingo, 11 de setembro de 2016

51º Capitulo: “seria de esperar que ela falasse sobre irmãos.”

 - Como é que te estás a sentir? – perguntou a minha mãe, assim que me apanhou sozinha na cozinha. A verdade é que eu não sei como me estou a sentir. Nem sequer sei se estou a sentir alguma coisa neste momento.
- Porque é que o Lucas quis vir? – acabei por lhe perguntar, era algo que eu ainda não tinha compreendido.
- Ania, ele quis vir para ter a oportunidade de falar contigo. Mais do que resolver alguma coisa, o Lucas quer esclarecer as coisas e ficar de bem contigo.
- Mãe isso é quase missão impossível – olhei-a, vendo-a com aquele seu olhar de desilusão tão caraterística – eu sei que não é o cenário ideal, não é o que tu querias para os teus filhos. Mas, acredito, que não tenha sido aquela que te desiludiu mais – aproximei-me dela, agarrando-lhe as mãos – eu não sei como o olhar, quanto mais falar com ele mãe…
- Não precisas de falar com ele, sabes que o Lucas só quer ser ouvido.
- E tu achas que eu vou conseguir estar a ouvi-lo sem lhe dizer alguma coisa? Achas que vai ser fácil estar a ouvir alguma coisa que ele tenha para dizer sem me passar? Sem algo em mim explodir?
- Eu sei que não – passou com a mão dele pela minha cara – mas ver-vos aos dois assim é coisa que uma mãe não suporta.
- Eu acredito que não. Mas eu não sei se consigo – afastei-me um pouco dela, pegando na tigela que tinha a papa da Morena – e é melhor não o deixar muito tempo sozinho com o Marcos – voltei para a sala, vendo o Marcos sozinho naquele espaço, sentado no chão a brincar com a Morena – o Lucas? – perguntei, sentando-me ao lado dele.
- Foi à casa de banho – olhou-me, colocando uma boneca em frente da sua cara – está na hora do lanche, mamã Ania? – fez a voz mais fininha que conseguia, fingindo ser a boneca a falar. Quando tínhamos de meter a menina a comer era sempre disto. Ela é fácil de comer mas torna-se ainda mais fácil quando brincamos com ela.
- Está na hora do lanche sim senhora. A Sra Barbie quer o lanche da Sra. Morena?
- Quero pois! – respondeu o Marcos fazendo-me rir. Peguei num pouco da papa com a colher, começando a querer dá-la à boneca. Reparei que a Morena se levantou muito depressa vindo na nossa direção.
- É minha papa! – e lá comeu ela a colherada, rindo-se à gargalhada.
- Então e não partilhas com a Barbie? – perguntou-lhe o Marcos.
- Não! Papa só minha!
- Oh mas eu queria um bocadinho…
- Não, Papu! Não podes! É só de bebés! – ela comeu mais um bocado, agarrada às minhas pernas e a olhar para o Marcos.
- Então e eu? – olhou-me – posso comer um bocadinho?
- Tu podes, mami.
- Ai ela pode? – perguntou o Marcos como que chateado, fazendo-a olhar muito séria para o pai.
- Sim. Porque foi a mami que fez! Quando tu fizeres a papa também podes.
- Toma lá que já almoçaste! – disse, dando mais um bocadinho à Morena.
- Então não queres, mami?
- Não meu amor – dei-lhe um beijo na bochecha, olhando-a – a mami estava a brincar.
- Mami… - percebi que havia ali qualquer dúvida, aquela carinha não engana ninguém – porque tás zangada com o tio? – eu sabia. As expressões faciais dela denunciam-na. Ela estava confusa, estava mesmo cheia de dúvidas para fazer aquela pergunta.
Olhei para o Marcos, ficando não sei quanto tempo sem dizer nada. Acho que nem sei o que lhe dizer, não lhe poderei dizer que ele me faz mal a mim, não lhe poderei explicar tudo neste momento. Ela é pequena demais, não iria entender e não é uma coisa que se possa contar a uma criança que tem pouco mais de um ano.
- A mami e o tio estão zangados – começou o Marcos, despertando-me da minha tentativa de achar alguma resposta na minha cabeça – porque há coisas que os crescidos fazem que não são sempre boas.
- Tão…o tio portou-se mal? Ou a mami? – olhou para mim por breves segundos, voltando a olhar para o Marcos.
- O tio. Fez mal a duas pessoas e é por isso que a mami e ele estão zangados – ela olhou de novo para mim, colocando as suas pequenas mãos em cima das minhas pernas para se levantar.
- Mami, tu podes deixar de tar zangada com o tio – como se fosse assim tão fácil, meu amor… - ele é teu mano. Quando eu tiver uma mana eu vou ficar poucos dias zangada com ela – ela é a menina que eu conheço que deve ser desenvolvida demais para a idade que tem. Ela consegue, na sua inocência, dizer coisas que nos tocam no coração, que nos fazem pensar e mudar certas atitudes que temos. Agarrou na boneca que o Marcos tinha, indo brincar de novo e acabei por sentir a mão do Marcos agarrar a minha.
- Esta nossa filha… - disse ele quase em sussurro fazendo-me rir. Olhei-o, entrelaçando os meus dedos com os dele.
- É sobredotada. Quando deres por ti está na faculdade e ainda não fez os 18 anos – ele riu-se, olhando-a – mas ela tem razão. O Lucas é meu irmão – o Marcos olhou-me, esboçando um pequeno sorriso – ele merece, pelo menos, ser ouvido.
- Se achas que será o melhor…
- Acho que sim. Preciso de pensar, não é algo que eu vá fazer já daqui a cinco minutos…além do mais, o Martin vem cá e eu não sei como vai ser.
- O Martin acho que deve ser mais na boa. Ele deu um murro ao Lucas assim que soube, ele foi aquele que libertou a raiva que tinha…ele não a tem toda acumulada desde aquele dia.
- Tens razão – ele aproximou-se de mim, dando-me um beijo nos lábios. Demorou até os lábios dele saírem dos meus, demorou porque queria um bocadinho mais. Agora começa a saber-me a pouco, começo a querer estar sempre mais um bocadinho com o Marcos em vez de o afastar. Acho que não sabia que estava assim tão preparada para estar com ele como estou…
- E…ela tocou num assunto delicado, não foi? – perguntou o Marcos, passando a sua mão pela minha cara.
- Tocou. Delicado, complicado e que vai ser tema em várias conversas com ela pelo que já deu a perceber – coloquei a minha mão na cara dele, também, respirando fundo – seria de esperar que ela falasse sobre irmãos. Mas, por enquanto, estamos tranquilos. Ela não faz perguntas difíceis, nem pede ou diz que quer. Acho que ela fala nisso como algo que quer, sim, mas daqui a algum tempo. E…ter outro filho é algo que faz parte dos meus desejos e projetos do futuro – ele sorriu, fechou os olhos, procurando acariciar-se na minha mão – só é preciso tempo, muito tempo.
- E nós temos todo o tempo do mundo para ser felizes – olhou-me de novo, mantendo aquele sorriso intacto.
Sei perfeitamente que, com ele, a minha vida será ela toda muito mais simples, muito pensada mas sempre mais vivida. Só com ele é que a minha vida faz sentido.


MARCOS

- Olha a foto que a mãe tirou hoje – tinha de acalmar a Morena. As horas já iam bem avançadas e ela não havia meio de parar para dormir. Também…com a avó e os tios maternos por cá já seria de esperar.
- Mas essas não prestam! – ri-me à gargalhada e ela olhou-me – quero ver as dos fofinhos!

- Então espera lá – voltei a olhar para a fotografia que a Ania tinha partilhado nas redes sociais e…acho que é das mais bonitas que tenho com a Morena. 

Não há amor maior do que aquele que sinto por vocês, meus amores. Obrigada por fazerem de mim uma mulher melhor.
Passei o telemóvel para as mãos da Morena, para que ela pudesse ver as fotografias que estavam na galeria do telemóvel. Estávamos os dois sozinhos no quarto, a Ania estava com a mãe e o Lucas no andar debaixo enquanto o Martin e a Romina já tinham ido para sua casa.
- Precisas de fazer ó-ó, nena.
- Já?
- Sí. Já é muito de noite.
- Não quero.
- Então e se eu te contar uma história? – ela olhou-me, entregando-me o telemóvel.
- Pode ser.
- Então vá, deita aqui – ela encostou a cabeça no meu peito, metendo a chucha na boca – então, era uma vez uma cinderela.
- Essa eu sei! – disse depois de tirar a chucha, olhando-me quase zangada.
- Não, não. É diferente, eu prometo – ela, muito desconfiada, voltou a deitar-se – então esta Cinderela, era uma menina que sempre teve dois pais muito bonzinhos, três irmãos e assim se tornou a princesa da casa. O seu pai, um senhor com ar de resmungão, tinha uma equipa de futebol.
- Papu! – ela olhou-me, continuando com a chucha – tás a inventar!
- Não, não estou. A história é a sério. Sabes, o pai da Cinderela queria que a filha demorasse muito tempo até arranjar um namorado. Mas ela, sem perceber, apaixonou-se por um menino que jogava na equipa do pai.
- E o pai trancou-a em casa?
- Mais ou menos. O pai da cinderela não queria que ela namorasse com o menino, não queria mesmo. Só que, num dia, a Cinderela estava muito, muito doentinha e foi o menino que a levou ao médico.
- Ela tinha o quê?
- Então…a Cinderela tinha um feijãozinho na barriga, um bebé. Tu sabes como é, a mãe já te explicou.
- Sim. Era um bebé do menino?
- Não. Era de um outro menino que a Cinderela não gostava. Ela ficou muito triste, chorou porque não queria mesmo aquele bebé mas ele acabou por não nascer.
- Tadinho. E depois?
- Depois…o menino andou às escondidas em casa da Cinderela para a ajudar a dormir e a ficar mais feliz. Só que a mãe da Cinderela soube…
- E foi contar ao pai? – ela esbugalhou os olhos e eu acabei por me rir.
- Não, não. Foi a Cinderela que contou. O pai ficou zangado, muito mesmo. Mas depois o menino falou com ele e o pai da Cinderela acabou por deixá-lo namorar com a Cinderela.
- E eles tiveram um casamento?
- Só mais tarde. Eles continuam a namorar, dão muitos beijinhos e começaram a viver juntos – ela esfregava os olhos, deitada a meu lado e já mesmo cheinha de sono – eles têm um castelo, com piscina e um jardim cheio de flores. E nesse castelo vive a Cinderela, o seu menino…
- É príncipe, papu.
- Sim, o príncipe…e a sua bebé.
- Como é que tu sabes essa história? A mami nunca contou!
- Se calhar a mãe estava a pensar contar-te noutra altura…fecha os olhos, meu amor. Tens de fazer ó-ó.
- Não há mais história deles?
- Há. Mas eu conto-te amanhã – ela fechou os olhos, mantendo-se agarrada ao meu polegar – eu amanhã conto-te a história da Cinderela mais linda do mundo.
- Tu viste-a?
- Vi. Mas só te posso dizer quem é se prometeres segredo.
- Pometo.
- A Cinderela é a tua mami – por detrás da chupeta da Morena, um sorriso formou-se nos lábios da minha filha ao ouvir o que lhe acabei de dizer. Não lhe estava a contar daquelas histórias ficcionadas, criadas por grandes autores com direito a grandes filmes. Estava, apenas, a contar-lhe a história que mais feliz me faz.
Bastaram uns minutos em silêncio para ela adormecer e agora ninguém a acordava. Se há algo de bom desde que ela estabilizou o seu sono, é que basta adormecer que podemos até pôr música que ela não acorda. Coloquei-a no berço do quarto dela, voltando para o andar debaixo. Continuavam os três na sala, a Ortencia e o Lucas sentados no sofá maior e a Ania na poltrona.
- Ainda bem que chegaste – pela voz dela, dava para perceber que estaria, provavelmente, aliviada pela minha presença. Aproximei-me dela, sentando-me sobre o braço do cadeirão.
- Aconteceu alguma coisa?
- Não… - ela olhou-me, procurando a minha mão. Agarrou-a com as suas duas mãos – só que…sinto-me melhor contigo por perto para ouvir o Lucas – ela olhou para o irmão. Eles estiveram à minha espera para falarem? Acho que consigo perceber o porquê.
- Eu sei que não te posso pedir desculpa – realmente não podes…mesmo que isso seja um bom começo – seria pedir demais para o que te fiz. Eu vivo desde aquele dia assombrado por algo que eu não entendia o que era. Desde que saí da prisão que tenho andado no psicólogo…e tenho andado a conhecer melhor o que se passou comigo para ter feito o que fiz a duas pessoas. Desde que nasceu o Martin, desde que tu nasceste…eu nunca me dei conta disso mas o que eu queria era fazer as coisas para parecer o maior. Eu não sou o mais velho dos teus irmãos, mas tive esta atitude quando vocês dois nasceram – a Ortencia olhava-o atenta, até com as suas lágrimas a escorrerem-lhe pela cara. Já a Ania estava bastante atenta ao que o irmão lhe dizia, com um sorriso nos lábios e tranquila como eu não esperava vê-la – eu sei que nada justifica o que fiz. Mas eu tenho 26 anos e soube, depois de repetir o que te fiz, que precisava de ajuda. Porque eu voltei a fazê-lo exatamente pelas mesmas razões. Bastou uma aposta, uma boca de que eu não seria capaz de sair do bar com aquela rapariga para algo dentro de mim…se desligar e o monstro que eu fui sair ao de cima. Eu não consigo imaginar o que aquela rapariga sentiu e sente, muito menos o que tu sentes, Ania – ela segurava a minha mão com uma força natural, nada de muita força que a fizesse estar mais ansiosa. O Lucas tinha as suas mãos entrelaçadas uma na outra, o olhar bem fixo no da Ania e era visível a perturbação no seu rosto – eu sei que estraguei a vida a duas pessoas, eu sei que…poderia vir a estragar muitas mais, mas eu quero mudar. A conversa que estou a ter contigo, gostaria de ter com a outra rapariga mas eu não sei quem ela é…eu não quero o vosso perdão, não espero que uma conversa vos faça esquecer tudo…mas só iria conseguir avançar com a minha terapia depois de falar contigo. Tu, que és minha irmã, eras quem merecia esta conversa. Merecias ouvir da minha boca dizer que fui um monstro, que têm sido anos horríveis e que sinto muito todo o sofrimento que te causei.
A Ania respirou fundo. Mantinha-se bastante tranquila e tinha agora todos os olhos postos nela. Não sei se ela conseguirá dizer alguma coisa, este é o assunto que mais mexe com o seu passado, que mais a deixa desconfortável. É o assunto que nem eu mesmo consigo falar com ela. E eu sei que ela sofre com ele todos os dias.
- Eu não sei se estaria preparada para este dia. Nós já tínhamos falado, eu até consegui esquecer por algum tempo o que se tinha passado – surpreendentemente as palavras saiam-lhe da boca como se este assunto fosse bastante natural – mas depois de saber o que fizeste a outra rapariga…todos aqueles sentimentos daquela noite me assombraram de novo. Eu engravidei de ti…eu abortei de algo que resultou daquela noite. Talvez por isso eu também tenha tantos problemas em engravidar hoje em dia. De certeza que não foi apenas pelo tiro que levei… - não sabia que ela pensava nestas coisas. É claro que o tiro por si só deixou o útero da Ania muito mais fragilizado…mas também não nos podemos esquecer que ela abortou – mas eu não te culpo por isso. Aliás, eu não te culpo por nada. Se não fosses tu, poderia ter sido um outro homem qualquer. E eu não posso viver com esse sentimento quando consegui refazer a minha vida da melhor forma que consegui. Eu sou feliz, posso parecer uma miúda frágil…mas é porque até o sou. Eu perdi uma filha que seria uma irmã para a Morena, mas casei com o homem mais homem do mundo. Eu casei com o melhor homem do mundo, o homem que nenhum outro vai sequer chegar aos seus calcanhares – ela olhou-me, deixando-me mesmo sem palavras. Apenas lhe consegui sorrir, beijando-lhe a testa – eu vou ser feliz, mais do que já fui e daquilo que sou hoje – olhou para o irmão outra vez, encolhendo os olhos – apenas não olhando para ti como olhei até aos meus 20 anos.
- E eu aceito isso.
- Tu eras um irmão mais velho que eu via que me iria proteger. Hoje és apenas um irmão mais velho…que não o fez, bem pelo contrário. Mas eu não vivo presa a isso, disso não tenhas dúvidas.
- Eu só quero que sejas feliz, Ania. Muito feliz mesmo, com a família bonita que estás a construir. E espero mesmo que todos os problemas que tens tido em ter bebés…sejam ultrapassados quando procurares ter um irmão para a Morena.
- Eu também. E sei que isso vai acontecer porque, quanto menos pensamos mais fácil se torna – ela encostou a cabeça no meu braço, ficando apenas ali. Sossegadinha e com um sorriso nos lábios.
Ninguém se atreveu a dizer mais nada. Ficamos ali os quatro, ela acabou por se sentar nas minhas pernas e estava mesmo quase a dormir quando a mãe a beijou na bochecha para ir dormir.
- Como é que estás? – perguntei-lhe, vendo-a fechar os olhos novamente.
- Tranquila.
- Fico feliz por isso…e assim já posso acrescentar um capítulo na história da Cinderela mais linda do mundo para contar à Morena – ela olhou-me muito depressa.
- Que estás aí a dizer?
- Comecei a contar-lhe a tua e a nossa história. Tu enquanto Cinderela, claro. Ela sabe que és tu, que sou eu e a bebé é ela…mas é uma história linda para contarmos à Morena antes de dormir.
- Tu não és deste mundo – beijou-me sem qualquer pressa, ficando ali comigo enquanto quis.
O dia de hoje não poderia ter começado melhor mas também acabou ainda melhor. Hoje foi o dia em que tive a certeza que as coisas estão definitivamente a melhor na nossa relação, nas nossas vidas e, sobretudo, na Ania enquanto pessoa, enquanto mulher, mãe e minha esposa.


Olá meninas! 
Cá vos trago mais um capítulo! Espero que gostem pois foi um dos últimos que mais gostei de escrever, dado que tudo se começa a acertar na vida do casal. Fico a aguardar pelos vossos comentários. 
Muitos beijinhos,
Ana Patrícia. 

sábado, 9 de julho de 2016

50º Capitulo: “Eu não sei o que é que se está a passar comigo!”

- Então? – perguntava-me a Iara sentando-se ao meu lado no sofá – vocês…falaram?
- Sim.
- E…correu bem?
- Acho que sim.
- Ok – sabia perfeitamente que ela não estava nada satisfeita com aquelas minhas respostas e que, não tarda nada, estaria a insistir, de novo, com novas perguntas sobre o mesmo assunto.
- Vais dizer-nos como é que correu ou não? – perguntou muito depressa o André. Não estava à espera que ele estivesse a ouvir a conversa. Parecia demasiado concentrado no seu jogo no telemóvel.
- Correu mais ou menos. Ou bem, não sei – dobrei as pernas para o lado, deixando o meu corpo cair sobre as pernas da Iara – nós falámos sobre o que realmente se passa nas nossas vidas. Sobre possíveis soluções mas não é nada certo…precisamos de tempo para voltarmos a ser um casal, com responsabilidades e uma filha. Depois…depois olha beijamo-nos.
- Finalmente! – disse, em tom de euforia, o André acabando mesmo por me fazer rir – eu estava a ver que não chegava essa parte!
- Como se essa parte fosse a mais importante… - comentou muito depressa a Iara – então e…agora?
- Ele amanhã volta cá…acham que podia almoçar connosco? – perguntei-lhes, percebendo que os dois se riram ao mesmo tempo – eu não sei porque é que se estão a rir…
- Porque esta parte agora até tem piada, Ania – sentei-me como deve ser, olhando para os dois – agora é a parte em que vocês vão começar a namoriscar um com o outro – continuou a Iara – a fazerem surpresas, a reconquistarem-se de novo…já sabes, podemos ficar com a Morena sempre que precisarem.
- Mas também na abusem! Sobretudo se for de noite – atirou depressa o André.
- Obrigada pela vossa generosidade…mas vamos com calma. Além do mais…eu também preciso de reconquistar a Morena – admiti.
- A miúda ama-te! Não tem como negar isso…cada vez que ela te vê, aqueles olhinhos ficam enormes.
- Não sei, Iara. Sinto que tenho falhado imenso com a minha filha e, no que puder, quero que ela sinta que também estou a lutar por ela. E não só pela minha relação com o pai.


- Mami – a Morena veio ter comigo à cozinha, com as suas bonecas na mão – podes pôr? – vinha, também, com uns sapatinhos de boneca na mão – a dinha tá na rua.
- Pois está – sequei as minhas mãos, baixando-me para ficar do seu tamanho – a dinha estão a fazer a carne do almoço – no churrasco. E tínhamos deixado as portas fechadas para a Morena não se aventurar lá por fora.
- O papu come cá? – perguntou, entregando-me as bonecas – mesmo? – já lhe tinha dito que o Marcos vinha almoçar connosco e, para meu espanto, deu-me um abraço tão apertado como que a agradecer.
- Vem sim – coloquei os sapatos nas duas bonecas, entregando-lhe – e…qualquer dia, é a mami que vai lá comer a casa, sim?
- O dinho leva-te? Ele disse, um dia, que te levava lá para casa – dei-lhe um beijo na testa, abraçando-a a seguir.
- Pode ser o dinho a levar-me sim – soltei-a, vendo-a correr de volta para a sala. Tinha transformado o meio da sala numa casa de bonecas. Em cada canto havia uma divisão da sua suposta casa e era assim que ela ia brincando.
Continuei a preparar a alface para a salada, perdendo um pouco a noção do tempo.
- É preciso um par de mãos extra? – o voz do Marcos sobressaltou-me, acabando por me fazer rir ao mesmo tempo – estarei a notar um bom humor hoje?
- Um bocado… - olhei-o, reparando que se mantinha junto da porta – podes entrar. Eu, maior parte das vezes, não mordo… - ele riu-se, aproximando-se da bancada da cozinha.
- É bom ver-te assim.
- Vou fazendo o que posso, Marcos – acabei de temperar a salada, olhando-o – a felicidade no rosto da Morena quando lhe disse que almoçávamos todos juntos…é algo que eu quero proporcionar à minha filha. Senti, naquele momento, que a estava a fazer feliz pela primeira vez ao longo destes tempos.
- Isso não é verdade – colocou uma das suas mãos sobre o meu ombro, puxando-me para ele. Abraçou-me, deixando-me super aconchegada nos seus braços – cada manhã que estás com ela, deixas a nossa filha feliz.
- Não da maneira como eu a vi hoje.
- Isso, então, é um passo em frente…
- Espero que sim – senti-o beijar a minha cabeça e acabei por me afastar dele – ora, se tu já estás aqui, o Sr. André também já chegou – peguei na taça da salada, entregando-a ao Marcos – podem, os dois, ir meter a mesa!
- Sim senhora… - ele começou a ir na direção da porta da cozinha – Rojo – ele riu-se, deixando-me sozinha outra vez. Sim. Eu sou Rojo, tal e qual como ele e a minha filha.
Preparei o acompanhamento das carnes, indo também até à sala. Eles, pelo menos, já tinham posto a toalha.
- Estão muito prendados, não haja duvida – disse, colocando a taça do arroz em cima da mesa – é que nem vão ajudar a pobre Iara que está ali ao lume!
- Para nossa defesa, ela disse que não queria ajuda.
- Sim e vocês, em vez de serem amigos e ajudarem na mesma…
- Estás a ralhar connosco ou é impressão minha?
- Não, não é impressão tua André de meia tigela – respondi-lhe, abrindo o móvel da sala – vá, os pratos estão aqui. Ponham, pelo menos, a mesa. Eu vou ajudar a Iara – abri a porta de vidro que separava a sala do jardim, indo ter com a Iara junto do grelhador – eu não me estou a sentir muito bem.
- Então?  ela olhou-me, super preocupada – o que é que se passa?
- Eu não sei. Eu estou nervosa, estou a sentir a minha barriga num turbilhão e estou a suar das mãos…eu não sei o que é que se está a passar comigo!
- Isso são nervos de estar ao pé do Marcos?
- Não! Quer dizer, se calhar – sentei-me em cima da bancada ao lado dela – eu não sei!
- Ania, Ania. Ele é teu marido, por amor de Deus. Vocês já tiveram mais do que um almoço juntos, mais do que um beijo, mais do que cinco minutos de sexo! – ela riu-se – não há motivo para estares assim.
- Eu não sei – olhei para ele através do vidro. Estava a pôr a mesa com o André, enquanto a Morena andava de volta deles com os guardanapos na mão – eu só sei que estou nervosa.
- Não fiques, fofinha – abraçou-me, para depois colocar as suas mãos sobre os meus ombros – sê apenas a pessoa que és neste momento. Ninguém está à espera que sejas a Ania que todos conhecemos, que estejas a 100%. Mas estamos todos à espera dela.
- Vamos ver se ela ainda se lembra de como é viver…


- Obrigada por teres vindo.
- Eu tinha de vir, Marcos. Hoje está a ser o dia em que eu mais me estou a esforçar para ser a vossa Ania. O almoço correu normalmente e, se tu querias vir aqui em família…eu só poderia vir com vocês – estávamos no jardim zoológico. A Morena já tinha vibrado com o espetáculo dos golfinhos, ficou com medo dos macacos saltando do colo do Marcos para o meu. Ele riu-se nesse momento. Provavelmente pensou o mesmo que eu: é safada a rapariga!
- Papu! – ela veio a correr na direção do Marcos, que a pegou ao colo. Ele ficou, apenas, abraçado a ela, com os olhos fechados e, de certeza, que a estava a cheirar. Desde os primeiros dias da Morena que o Marco a cheira a cada vez que a tem no seu colo – num há patos! – tínhamos parado junto do espaço dos patos e ela já tinha feito uma corrida a tentar ver algum mas, pelos vistos, sem sucesso.
- Se calhar os patinhos estão a dormir – disse-lhe, aproximando-me deles – podemos ir ver as girafas, se quiseres – coloquei a minha mão nas costas dela, sentindo a mão que o Marcos também tinha nas costas da Morena em cima da minha.
- Não podemos ir ver os fofinhos? – tanto eu como o Marcos nos rimos os dois ao mesmo tempo. Ela ficou meio chateada mas acabou por se rir também.
- Os golfinhos agora também estão a dormir – disse-lhe o Marcos.
- Então mas tá tudo a domir?
- Não! Há por aí muitos acordados, anda – chamei-a para o meu colo e ela depressa se esticou na minha direção – vamos ver os que estão acordados.
- Ainda não tiramos foto! – disse ela muito depressa, fazendo com que o Marcos se risse.
- Ela adora fotos, como já deves ter percebido…e não faço ideia a quem é que ela foi buscar esse gosto – só me consegui rir. Sabia que o Marcos se estava a referir a mim.
- Vamos lá a uma foto! – sentei-a em cima do separador que havia entre o público e o lago dos patos – arranja aí alguém que tire a foto – disse, olhando para o Marcos – se há foto, é foto de família.
- Muito bem! – ele lá arranjou um senhor do jardim zoológico que se disponibilizou a tirar a foto. Em passo apressado veio na nossa direção, colocando-se ao lado da Morena. Passou o seu braço por trás dela, deixando a sua mão entre o meu corpo e o da menina – vamos a isto! – percebi que o senhor tinha tirado mais do que uma e, depois de lhe agradecermos, retomamos o nosso caminho.
A Morena ia no carrinho dela, eu levava-o enquanto o Marcos caminhava a meu lado.
- Já que estamos num dia cheio de Ania… - rimo-nos os dois e acabei por olhá-lo – achas que a Ania pode jantar connosco? Lá em casa e só os três?
- Acho que o marido da Ania quer que ela fique é lá em casa…mas Marcos – ele colocou a sua mão em cima da minha que ia em cima do carrinho da Morena.
- Eu não quero nada que tu não queiras. Se tu não quiseres ir, eu também não quero. Não te posso deixar desconfortável nem coisa parecida.
- Obrigada… - o telemóvel dele começou a tocar e acabou por tirar a sua mão de cima da minha para atender a chamada.
- Hum…é a tua mãe – ele levou o telemóvel ao ouvido – Ortencia? Como está? – ele lá foi falando com ela e ia rindo. Acabamos por parar junto das girafas e coloquei-me baixa, junto do carrinho da Morena, para puder ir falando com ela – parece que vamos ter um jantar juntos mesmo – olhei-o assim que ele disse aquilo – a tua mãe chegou a Lisboa. Aliás, ela está à porta de nossa casa.
- Wow. Calma lá – coloquei-me de pé, meio atordoada naquele momento – como assim?
- Ela disse que já te tinha dito que vinha cá…
- Sim. Mas não disse quando!
- Foi agora…
- E…veio só ela?
- Não – pelo tom de voz do Marcos só poderia ser uma pessoa a vir com ela – o Lucas veio com ela.
- Era só isso que me faltava – ele tinha conseguido pagar a fiança e a indemnização à sua outra vitima e estava em liberdade – porque é que ela veio com ele? Não sabia vir sozinha? Ou com o meu pai? O meu pai! Eu preferia mil vezes o meu pai – o Marcos puxou-me para ele, dando-me um beijo na testa – eu não consigo olhar para ele. Não depois de ele ter feito o que me fez a outra pessoa. A minha mãe sabe disso! Como é que ela foi capaz?
- Tem calma, gordita – passou com as suas mãos pelas minhas costas, aconchegando-me nos seus braços – isto, se calhar, é o melhor – ele afastou-me um pouco dele, levando as suas mãos ao meu pescoço de forma a que o olhasse – pode ser a tua oportunidade de, finalmente, fechar esse capítulo. De lhe dizeres tudo o que sentes e o que ainda não tiveste coragem de dizer.
- Eu não consigo.
- Já provaste que és capaz de imensas coisas. Só o farás se te sentires à vontade, se sentires que é isso que queres fazer. Mas era bom. Por vocês, por ti…hoje poderá, muito bem, ser o dia do teu recomeço – se calhar ele tinha razão. Se calhar o Marcos sempre me conheceu melhor a mim do que eu me conheço a mim própria. Se calhar ele sempre me ensinou como eu poderia ser a pessoa que quero ser.


- Avó! – assim que coloquei a Morena no chão só a vi correr na direção da minha mãe.
- Oh minha gordinha! – pegou nela ao colo e, depois de ajudar o Marcos a retirar as coisas dela do carro, encaminhamo-nos os dois até à porta de casa.
O meu irmão está diferente. Muito mais magro, com um ar cabisbaixo, sem qualquer tipo de emoção naquela cara. Caminhei um pouco mais atrás do Marcos. Como sempre, cumprimentou a minha mãe com um abraço e, surpreendentemente, deu um aperto de mão ao Lucas. Ele só o fez quando o conheceu, quando ainda não sabíamos de tudo o que tinha acontecido. Eu não o conseguia fazer. Cumprimentei só a minha mãe, colocando-me logo ao lado do Marcos.
- Não esperava que viesses…acompanhada – acabei por dizer, rodeando a cintura do Marcos com os meus braços. Precisava de o sentir, de o ter pertinho de mim como sempre acontecia.
- O Lucas quis vir… - pela cara, a voz e a frase da minha mãe deu logo para perceber que ela também não estava a gostar da ideia de ele aqui estar.
- Podemos, então, entrar… - disse o Marcos e acabamos por ir os dois até à porta e ele abriu-a – fiquem à vontade – a minha mãe e o Lucas sentaram-se no sofá e, claro, a Morena não aguentou nem dois segundos ao colo da avó – querem algo para comer ou beber? A viagem foi longa…
- Eu aceito um copo de água, querido – o Marcos colocou a sua mão sobre o ombro da minha mãe e olhava o Lucas.
- Queres alguma coisa?
- Não, não obrigado – só naquele momento é que o Lucas tinha retirado o seu olhar do chão. O Marcos assentiu com a cabeça, indo até à cozinha.
- Eu vou só dizer-lhe para fazer qualquer coisa para a Morena, sim?
- Claro. Eu fico de olho nela, não te preocupes – saí da sala, correndo na direção da cozinha.
- Eu não consigo ficar ali sozinha – ele olhou-me…a chorar? – Marcos…
- Não é nada – limpou depressa as lágrimas que lhe escorriam pela cara.
- Como não é nada? – aproximei-me dele, levando as minhas mãos à sua face – tu… - as lágrimas tinham parado de escorrer, mas ele tinha os olhos demasiado baços – eu assim vou chorar também. O que é que se passa, gordi?
- Olha, eu sinto-me mal. Por mais que ele seja da tua família, que eu tente agir bem com ele…mata-me por dentro fazê-lo. Desde o momento em que soubemos…o que soubemos que eu tenho vontade de lhe dar um murro. Tenho vontade de o fazer sofrer como tu sofreste…
- Não, não tens Marcos – era a primeira vez que ele me dizia algo deste género – tu não és assim – eu sabia que ele tinha essa vontade. Dá para perceber isso, neste momento, nos seus olhos – eu percebo que sintas isso e, se eu tiver a mesma vontade, posso sempre pedir-te ajuda – ele sorriu, dando-me um beijo na testa – mas tem calma. Não precisas de ser simpático com ele…podes ignorá-lo, não lhe ligar nenhuma…mas não fiques assim, por favor.
- Desculpa.
- Não me peças desculpa, tonto – coloquei a minha cabeça sobre o peito dele – obrigada, Marcos. Por nunca desistires de mim e estares a ser o que és neste momento.
- No bom e no mau, na saúde e na doença.
- Até que a morte nos separe – olhei-o, não resistindo e juntei os meus lábios com os dele.

Não sei o que me esperam as próximas horas deste dia. Não sei se vou ter de enfrentar o meu irmão, se será ele a falar comigo. Não sei como reagir caso haja essa conversa. Apenas sei que hoje, hoje voltei a ser a Ania que o Marcos e a Morena precisam que eu seja. 


Olá a todas! 
Quase dois meses depois cá estou eu de volta com um capítulo! Sei que não tenho trazido capítulos com regularidade a esta história, mas espero que não tenham desistido dela. 
Fico à espera dos vossos comentários com as vossas opiniões! 
Beijinhos, 
Ana Patrícia. 

terça-feira, 24 de maio de 2016

49º Capitulo: “Sinto que não há qualquer luz ao fundo deste túnel”

- Podo ir contigo, papu? – levava a Morena no carro em direção da casa do André e da Iara. Era mais um dia de treino, mais um dia em que ia deixar a minha filha com a mãe. Provavelmente mais um dia em que não a iria ver. Um dia em que a Ania não viria à porta para me ver.
- Já sabes que não pode ser, princesa do pai.
- Oh! Eu queo tar contigo! E não com a mamã.
- Porque é que não queres estar com a mamã?
- Porque ela tá tiste! – não podemos ser todos como as crianças? Acho que a Morena nos consegue ensinar mais do que qualquer outro adulto neste momento. Ela, mais do que ninguém, sabe perfeitamente o que a mãe sente. O que eu sinto ou o que qualquer um da família sente. Ela observa-nos, chega perto de nós para nos tentar consolar e faz de tudo para mudar o ambiente onde quer que esteja. Mesmo que isso seja a sua maneira de ser e não o faça conscientemente.
- Então…mas se tu não fores para ao pé da mamã, ela ainda fica mais triste.
- Fica?
- Claro, More – parei o carro junto da porta de casa do André, saindo do mesmo. Fui até à porta do banco traseiro, abrindo-a logo de seguida – se tu estiveres ao pé da mãe eu tenho a certeza que ela fica logo mais feliz.
- Tá bom – retirei-a da cadeirinha, levando-a ao colo até à porta de casa do André. A Morena tocou à campainha e depressa a Iara nos veio abrir a porta – dinha!
- Bom dia, meu anjo! – a Morena precipitou-se na direção dos braços da madrinha, dando-lhe um abraço – ai mas que abraço tão bom!
- A mamã? – perguntou, muito depressa, a Morena ficando a olhar para a Iara.
- A mamã está na cozinha a fazer papinha! – como combinado, a Morena vem sempre aqui tomar o pequeno-almoço. Torna-se mais fácil para mim e para elas são mais uns momentos bons desta fase meia complicada.
- Podo ir lá?
- Claro que podes – a Iara colocou-a no chão e a Morena desatou numa correria pela casa dentro, desaparecendo no momento em que entrou na cozinha – como é que estás? – perguntou a Iara, olhando-me séria.
- Acho que vou andando. Não há “bem” neste momento.
- Eu preciso de falar contigo… - a Iara parecia preocupada. Bastante, até. Fechou um pouco da porta, vindo para o exterior da sua casa – a Ania não tem andado a comer nos últimos dias – confessou – ela pensa que eu não percebo, mas ela anda sem ingerir comida há uns dois, três dias. Anda à base de água, chá e pouco mais. Não faz uma refeição connosco, diz que tem sono e fica sempre lá por cima.
- Isso não me parece bom…
- Eu não sei como abordar este assunto com ela e, para ser sincera, eu já não sei como falar com ela – os olhos da Iara estavam abatidos. Não imagino como seja um dia delas nesta casa, como será o estado de espírito da Ania neste momento. Nas últimas duas semanas não nos víamos. Ela não vinha até aqui à porta buscar a Morena, nem a vinha trazer a mim. Quando eu entrava, ficava na cozinha ou no seu quarto. Era como se andasse cada vez mais a fugir de mim e eu sem saber o que fazer para me aproximar dela – eu estou preocupada com a tua mulher, Marcos. Ela não pode continuar assim…
- Importaste que passe aqui depois do treino para tentar falar com ela? Só nós dois?
- Claro que não. Vem com o André que, depois, nós levamos a Morena connosco a almoçar fora e ficam à vontade.
- Obrigado – aproximei-me dela, dando-lhe um beijo na testa – vai ficar tudo bem, Iara. E obrigado por tudo o que estão a fazer por ela. Eu não imagino o quanto será difícil ficar com a Ania assim…
- É quase como se ela fosse uma pessoa totalmente diferente – o meu maior medo. Que, no final desta fase, ela não seja mais a Ania que todos nós estamos habituados a ter por perto.


O treino não estava a correr bem. Estava a ser difícil para mim concentrar-me, fazer um passe ou um corte como deve ser. E o mister já o tinha percebido. Eu não estava concentrado no que estava a fazer, mas não foi por isso que me deixaram de parte. É algo que eu agradeço.
Sei que, se saísse daqui a meio do treino por uma repreensão, iria ficar chateado comigo mesmo e não conseguiria, provavelmente, ir ter com a Ania a seguir.
- Não achas que precisas de te concentrar mais?
- Rui…
- Eu não faço ideia o que se anda a passar contigo – o André, o treinador e a direção eram os únicos que sabiam de todos os detalhes – mas tu precisas de te focar no que estás a fazer. Vamos ter jogos demasiado importantes e precisamos de ti Marcos.
- Eu vou tentar, Rui – o André olhava-me, do outro lado do balneário, quase com aquele ar de está tudo a perceber-te. Sabia que era difícil manter isto um segredo por muito mais tempo… - pessoal? – acabei por falar alto, recebendo a atenção de todos naquele momento – eu quero pedir-vos desculpa. Nestes últimos treinos e jogos eu sei que não tenho estado no meu melhor. Sei que vos parece que não ando focado no clube por causa das propostas que os jornais expõem todos os dias – sim, seria o mais normal. Que eu, com as proposta que recebo, andasse mais preocupado com isso do que com o meu trabalho – mas não é isso. É algo pessoal.
- Não precisas de falar se não te sentires à vontade – garantiu o William, quase como me interrompendo naquele momento a dar-me uma segunda oportunidade para continuar ou não com o meu discurso.
- Vocês conhecem-me há quase, pelo menos, cinco meses – os novos que tinham chegado – outros já há um ano - o caso do Maurício e do William – e outros desde que eu cheguei há duas épocas – o André e o Rui – sinto que vos devo esta explicação por todas as horas que passamos neste balneário, de todas as horas de viagem que fazemos e por serem tão bons companheiros de equipa. Eu e a Ania estamos a atravessar uma fase muito complicada. Há uns meses atrás ela quis ser barriga de aluguer para o irmão – ela visível o espanto nos olhos de todos – nós avançamos com essa decisão, conscientes de que seria complicado para todos. Que poderia ser uma coisa que afeta-se o nosso casamento mas, na última consulta, ela descobriu que não poderia voltar a ter uma gravidez e iria ter de passar por todo o processo de fertilização que fez quando foi da gravidez da Morena – pela primeira vez falava com todos sobre algo tão pessoal. Mas sentia-me bem, era como se falasse com família – ela não aceitou muito bem, como devem calcular, e está a viver com o André e a Iara há quase dois meses – naquele momento uns olharam para o André e outros continuaram a olhar para mim – por isso, tem sido tudo muito complicado de gerir e eu quero pedir-vos desculpa por isso. Sei que não devemos misturar a nossa vida pessoal com a profissional…
- Isso não tem lógica, não – interrompeu o Maurício – a sua vida virou toda ao contrário, moleque! Tem mais do que razões para não ter o foco em todos os momentos.
- O Mau tem razão – concordou o Rui – e desculpa se fui um bocado obcecado demais em querer que te concentrasses mas não fazia ideia do que se estava a passar.
- Não tem problema. Eu percebi que estavam a achar que seria por causa das propostas…e é melhor saberem a verdade. Eu gosto muito de estar aqui, acreditem.
- Vai tudo ficar bem, moleque – num gesto super inesperado para mim, o Maurício foi aquele que primeiro se aproximou de mim, levando as suas mãos à minha cabeça – qualquer coisa que tu precisar, nós vamos estar cá pra você – cada um deles veio ter comigo, abraçando-me. Não tenho palavras para lhes agradecer por, simplesmente, serem uma segunda família para mim.


ANIA

- Mamã, não queres um cadinho?
- Não, meu amor, a mãe não tem fome. Come tu, vá – meti-lhe mais um bocadinho de bolo no prato, vendo-a comer.
- Depois podemos ir para a rua?
- Está a chover, princesa – respondeu-lhe a Iara – mas a dinha tem lá na sala umas coisinhas para ti!
- Tens?
- Tenho sim senhora! O pai natal dos dinhos chegou um bocadinho mais cedo com algumas prendas.
- A sério? – a Morena ficou surpreendida com aquela afirmação da Iara – porquê?
- Ele disse que te portas tão bem que merecias duas prendas antes do Natal! Já viste que sorte tens?
- Mãe – olhou-me – eu vou ter prendas do pai natal dos dinhos! – os olhos dela brilhavam imenso e mais pareciam que iam sair da sua cara.
- O pai natal sabe perfeitamente que a minha menina é muito bem comportada – levantei-me, dando-lhe um beijo na bochecha – a mãe vai à cozinha e já volta.
Olhei para a Iara antes de sair…sabia que ela está preocupada comigo. Não pára de olhar para mim a cada segundo, espreita-me de noite pensando que estou a dormir e, o mais importante de tudo, faz tudo o que consegue para manter a Morena ocupada enquanto aqui está. Algo que eu não consigo fazer.
Fui até à cozinha…não sei bem porquê. Acho que precisava de estar sozinha por um bocadinho. Como é que eu quero estar sozinha quando a minha filha está cá? Bom…porque eu não sou mais eu. Pelo menos não me sinto a ser aquela Ania que era a mãe da Morena. Aquela mãe que demorou tanto tempo a construir…simplesmente parecia não existir dentro de mim.
Onde e como é que eu conseguirei encontrar esse Ania? Será possível encontrá-la? Não queria ser assim, não queria passar a sentir-me como aquela Ania de há poucos meses atrás.
- Ela já comeu – a Iara entrou na cozinha com alguns pratos na mão – está a brincar na sala – ficou de costas viradas para mim, mas sabia perfeitamente que ela queria dizer mais qualquer coisa.
- Obrigada – acabei por ser eu a dizer algo…acho que a Iara só irá dizer qualquer coisa quando estivermos sozinhas.
- Precisas de te orientar – virou-se para mim, olhando-me bastante séria – não podes ficar assim por muito mais tempo. Eu sei que não te sou nada, que nem deveria ser eu a dizer estas coisas mas não dá simplesmente para não nos preocuparmos contigo. Não tens comido nada nos últimos dias – encostei-me à parede, acabando mesmo por baixar o olhar – deverias procurar ajuda, poderia fazer-te bem – ela aproximou-se de mim, abraçando-me – nós só queremos o teu bem.
- Eu sei… - que mais lhe poderia dizer eu? – obrigada…
- Tenta…pelo menos estar ali ao pé dela um bocadinho, sim? – assinalei que sim com a cabeça, vendo a Iara sair da cozinha. Por mais que eu queira…é tão difícil!

Já não ouvia ninguém há algum tempo. Foi como se tivessem simplesmente adormecido. Será que adormeceram? Não faltava muito tempo para o Marcos estar aí…dentro de pouco tempo a voz dele iria fazer-se ouvir nesta casa, todo o meu corpo ia vacilar sem reagir a nada. Iria continuar aqui, dentro deste quarto, olhando estas paredes sem querer estar ao pé dele.
A porta do quarto depressa se abriu e apressei-me a fechar os olhos. Provavelmente seria a Iara, dizendo-me que o Marcos tinha chegado…como o faz todos os dias. E todos os dias eu me deixo ficar aqui. Sentou-se ao fundo da cama, provavelmente olhando para mim. A respiração era mais pesada do que o habitual, o perfume diferente…era o do Marcos.
- Eu sei que não estás a dormir… - ouvi-lo assim tão perto era quase surreal. Parecia estar quase a ouvi-lo pela primeira vez em que nos conhecemos.

- Mister! - ouvimos um grito vindo do outro lado da garagem. 
O meu pai estava a ajudar o treinador do Estudiantes, neste inicio de época. Era uma espécie de motivador e treinador adjunto, mas só ia quando sentia que o tinha de fazer.
Vinha um jogador na direcção dele, com a pasta do meu pai na mão. 
- Faustino! - o meu pai largou-me e eu virei-me para esse tal jogador...que eu não estava a reconhecer pelo nome. Não há nenhum jogador com o nome Faustino...mas...é o Rojo. Deverá ser Faustino o primeiro nome dele.
- Mister...não me chame Faustino...
- Não é esse o teu nome rapaz?
- É...mas ninguém me trata assim. 
- Trato-te eu - o meu pai abraçou-o - bom jogo rapaz.
- Obrigado mister. Esqueceu-se da sua pasta à tarde. 
- Obrigado por ma teres trazido. 
- Ora essa...não tem de me agradecer - os nossos olhares trocaram uma faísca por uns momentos.
- Estou a ver a razão de teres sido tu a vir entregar-me a pasta...mas nem penses Faustino!
- Mister...não é nada disso. 
- Ai não? Vamos ver... Ania este é o Rojo, o nosso defesa central; Faustino... é a minha filha, Ania. 
- Filha!? Mister...
- Como eu pensava... mas pensava também que a cumprimentasses à mesma. 
- Claro...que sim - avançamos os dois na direcção um do outro e ele deu-me dois beijos, um em cada bochecha - Muito gosto, Ania. 
- Igualmente...Marcos - ele ficou a olhar para mim...posso não saber quem é o Faustino...mas sei perfeitamente quem é o Marcos Rojo, ou não fosse eu aficionada ao Estudiantes. 
- Estou a ver que não é com a sua filha que aprendeu o hábito de me chamar Faustino...
- Estás tão espantando quanto eu... - enquanto o meu pai ficou a falar com o rapaz por uns minutos, eu e a minha mãe fomos indo para o carro. 
Estávamos as duas no interior do mesmo e dei por mim a olhar para o Faustino...Marcos ou Rojo.

- Podes olhar para mim? – não sei quanto tempo estive sem abrir os olhos. Para ele provavelmente uma eternidade mas para mim foi o tempo que precisei até o fazer. Não foi o tempo suficiente para estar preparada para o encarar…acho que isso nunca iria estar mesmo que isto fosse combinado – obrigado – não sei se o deveria ter feito. A vontade de chorar apoderou-se de mim, mas ao mesmo tempo havia mais vontade de me aproximar dele – achas que podemos falar um bocadinho? – não lhe consegui dizer que sim…limitei-me a abanar com a cabeça, sentando-me na cama de seguida – eu vou precisar mesmo de te ouvir, Ania… - boa… - eu sei que nada disto é fácil para ti, que deve ter trazido à tona imensas emoções e memórias que não deveriam ser relembradas. Mas eu estou cansado…eu não quero que passemos a resolver as coisas com afastamentos – ele parou de falar, ficando a olhar para mim. Deveria eu dizer qualquer coisa neste momento? O que é que eu lhe digo? – tenho falado com a Iara sobre ti e eu sei que não tens comido nos últimos dias. Fala comigo, por favor.
- Creo que no sé lo que te decir confessei es muy difícil. Yo no soy la misma.
- Fala comigo… - pediu, aproximando-se mais de mim – diz-me tudo o que queiras e no fim veremos o que tu conseguiste dizer. Mais do que teu marido eu só quero perceber como é que tu estás neste momento.
- Sinto que não há qualquer luz ao fundo deste túnel – comecei – sinto que por cada vez que eu me tento reerguer há algo que me bloqueia. Eu não sei o que é…ou se calhar sei. Eu sei que desde que perdemos a Arya…eu não sinto que possa vir a ser a mesma – sentia o meu corpo a tremer e os olhos a encherem-se de água – eu nunca a conheci, nunca estive com ela nos meus braços mas eu tinha amor para dar às duas. Eu queria ter dado amor às duas, Marcos. Eu queria ter tido essa possibilidade na minha vida – se teria de falar com ele…que fosse sobre tudo o que se passa dentro de mim – achei que fosse conseguir isso trazendo ao mundo o meu sobrinho. Ele poderia despertar tudo o que está apagado em mim…ele iria ser um rebento tão pequeno que eu iria querer proteger e amar como se fosse meu filho. Mas depois eu penso: e se me fizesse pior? E se eu ficasse de tal forma ligada a ele que não aguentasse se mo tirassem? – o Marcos olhava-me atento…sabia que ele me iria deixar falar sobre tudo e só depois me ia dizer qualquer coisa – nunca será possível estar preparada para que me digam que não posso ter filhos se não fizer tratamentos – limpei as lágrimas que me tinham começado a escorrer pela cara…dói tanto falar sobre isto – é como se todos os teus sonhos desaparecessem. O sonho de ser mãe de uma família grande, de ter mais do que um filho…esse sonho desaparece mesmo que possam existir possibilidades. E depois para tentares ser mãe outra vez precisas de passar por todos aqueles tratamentos e voltas a lembrar-te da filha que perdeste… - ele deixou escapar uma lágrima…sabia que para ele também seria difícil, sabia que nada disto seria fácil para ninguém – eu…posso reagir da pior forma, eu não reajo de uma forma que seja justa para ti. Eu só penso em mim, eu só me preocupo comigo e não penso em ti, na nossa filha e na nossa vida – fiquei a olhar para ele…tinha terminado, eu não consigo mais.
- Tens de comer – disse-me, com aquela sua calma tão caraterística na voz – não podes deixar de comer.
- Não tenho tido apetite.
- Precisas de comer. De procurar ajudar para ti mesma…
- Eu não consigo falar disto com ninguém. Eu não quero ter de recordar tudo vezes e vezes sem conta…eu queria pôr uma borracha sobre tudo e apagar o que aconteceu.
- Não poderias fazê-lo. Nunca. Ao apagares o que aconteceu irias apagar toda a história que nós temos, todos os momentos que foram duros mas estivemos lá um para o outro.
- Mas era melhor! Era melhor porque eu não sofreria, tu não sofrias e não estavas nesta situação de ser pai e mãe da Morena quando eu não o consigo ser – destruía-me por dentro dizer tudo em alta voz…era melhor sempre que não o fazia. Ao menos conseguia não refletir sobre aquilo que dizia – eu não sou uma mulher capaz de estar a teu lado, não estou a conseguir cumprir aquilo que juramos um ao outro quando nos casamos. Por muito que eu queira eu simplesmente não sei quando conseguirei ser a tua esposa, a tua mulher e companheira. Eu não sei se alguma vez o fui…
- Não digas isso – aproximou-se de mim, levando as suas mãos ao meu pescoço. O toque dele gerou quase que um choque elétrico em todo o meu corpo. Arrepiou-me, fez-me sentir cada batimento do meu coração no fundo da minha garganta. Era o toque dele, aquele que sempre me deixa confortada – desde o primeiro dia que nos conhecemos foste minha mulher. Tu procuraste sempre o meu melhor, estiveste a meu lado nos tempos mais difíceis e em todos os mais bonitos. Deste-me a melhor filha do mundo, o nosso anjinho. Como te disse no dia do nosso casamento tu és a peça que faltava na minha vida, eu sou feliz contigo junto a mim…eu só te quero comigo – recordar o nosso casamento…tínhamos tanto medo naquele dia. Pelos nossos dois bebés – eu amo-te todos os dias. Desde o amanhecer até ao amanhecer seguinte. Sempre. Agradeceste-me, naquele dia, todos os miminhos que te dou…e eu quero continuar a dar-te – passou com o seu polegar sobre a minha bochecha sorrindo – agradeceste-me por tanta coisa, Ania…que não devias fazê-lo. Tu trouxeste o melhor de mim ao de cima, fizeste com que eu acreditasse no amor. Queres mulher e esposa melhor que tu? – encolhi os ombros não sabendo o que dizer – és a minha mulher. Nada mudará isso mas, por favor, volta para mim. Traz de volta a minha Ania…nem que seja aos pouquinhos. Eu tenho tantas saudades tuas… - juntou a sua testa com a minha, fechando os olhos.
Levei as minhas mãos à cara dele fechando também os meus olhos.
- Obrigada por teres vindo… - abracei-o. Acho impressionante como todas as palavras dele conseguem mexer com cada pedacinho do meu cérebro, do meu coração e de tudo em mim. Ele sempre o conseguiu fazer, sempre conseguiu chegar bem fundo dentro da minha alma.
- Olha para mim – afastei-me um pouco dele fixando o meu olhar no dele – vem comigo para casa. Só hoje. Só nós dois.
- A Morena…
- Eles cuidam dela. Creio que não se importam. Vamos ficar só nós dois sossegados. Não serão precisas palavras, nem gestos. Bastaria ficares nos meus braços só por hoje…
- Não pode ser…só hoje não será suficiente – levei as minhas mãos à sua cara – eu sei que, se for contigo, vou precisar de muito mais. Vou querer tudo mais. E eu preciso, primeiro, de assentar. De me sentir eu.
- Mas eu quero ajudar-te – levou as suas mãos à minha cintura, puxando-me para ele – diz-me, explica-me como é que o vamos fazer os dois. Vamos ficar juntos, os dois, a resolver tudo o que se passa contigo.
Sentir as mãos dele pelo meu corpo despertava aquelas sensações boas que há tanto tinham desaparecido. Sentir a respiração dele tão perto da minha arrepiava-me…mas aquela sensação de estar completamente quebrada por dentro mantinha-se.
Os lábios dele juntaram-se aos meus. Num ato tão rápido que eu não soube como reagir a ele…pelo menos nos primeiros segundos. Deixei-me envolver por aquele beijo, pelo desejo que ele começava a demonstrar…por mais que não fosse daqueles beijos tão intensos como muitos dos nossos, que fosse calmo conseguia despertar o desejo no Marcos…e em mim. Começava a ter esse efeito também em mim.
Levei as minhas mãos à camisola dele, livrando-me dela depressa demais. Talvez depressa demais para aquilo que ele esperava. Ficou a olhar-me, eu sei que ficou…mesmo que eu olhasse para o seu corpo, percorrendo cada pedaço da sua pele. Era o meu Marcos. Serei eu a sua Ania?  


Olá a todas! 
Ao fim de 49 capítulos, 211 comentários e mais de 11.100 visualizações no blog, chegou o dia de celebrar com vocês o terceiro aniversário da Your Love! Pois é...cumpre três anos hoje. O capítulo já vem um pouquinho tarde mas não poderia deixar passar a data em branco. 



Obrigada a todas vocês que estiveram aí ao longo deste tempo, àquelas que já desistiram e às que começaram a ler quando a fic já ia com alguns capítulos publicados. Sei que, ultimamente não tenho publicado com tanta frequência...peço desculpa por isso. Mas, às vezes, a nossa imaginação parece bloquear! 
Espero que não tenham desistido da história e que ainda haja alguém desse lado. Um grande beijinho a todas e fico a aguardar os vossos comentários. 

Ana Patrícia.